Teoria e Metateoria Da Terapia Cognitiva

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1Teoria

1\ tcorla cognitiva arUcnla a rnaneir;\ atrav("s da qual os processoscognitivos esl rIO envolvidos !li! pstcopalol().~ia e na psicolerapia efe­tiva, Embora a csl rutu ra "blopsl<'ossol'ia I" seja n,:cOI1 hccida 1'01110

útil !la ('on('t'itn;l!izal,,;jo de sistelllas conlpkxos. (I foco da teoriacognitiva incide primariamente sobre os fatores cognitivos dapsicopatologia c da pstcoterapla, Além disso IIS ('on('Cilos cognlllvoscomplemenlam (e podcllI Illesmo subordinar) i(\('-ias ('01110 "JllOtivaÇ10 inconsclente" na (corla psicanaliUca, e "reforço" ou "condicio·namento" no Iwhavlorlslllo.

Na teoria da lerapi;1 cognitiva, a natureza e a fUl1Ç;lO do proces­samentu de InforIllal,:üo (I.e., a atribuiçüo (k significado) constitui achave para entt~nd('r o comportamento l11aladaptativo e os proces­sos terapéutlcos positiv()~, A teoria cognltivn da psicopatologla eles··creve especifkamente a natureza de COI1C(~ltosque, quando ativadosem certas sil.u<l(:õcs, sao lllaladaptaUvos ou dlsfunclonals. é:stas('OIll'Cit ualizuções Idlosslncróslcas podem ser consideradas ['orllO

teorias Informais, pessoais. A concclt uallzaçüo cognitiva da psicote­rapia fornece estratégias para corrigir esses conceitos, Portanto, aestrutura teórica da terapla ('ognlUva l'ol\slilui uma "teoria de teo­l"ias": é Uma teoria formal dos efeitos de (eorlas pessoais (informais)ou construções de realtdade. Neste sentido, a teoria cognlUva dllli­Ctl coincide em algum ~rau com a teoria de construclos pessoais deGeorge Kel1y (Kelly, 1955).

A teOlia é essencial para a prátIca clinlca, Tem sido debatidoultimamente que n teoria cognitiVa conslllulullI;l tCOIin unificadorapara a pslcotnapla e a pslcopatnlogta (i\lJ(mi &. Nor(Toss, I~m I;Beck, 199 ta). Conforme explicamos na Parte li, ;Jncl1itillllos qllt' ;\sestruturas teóncas dn pskott'rnpia efetiva c1evl'1I1 organizar os COI1l

pOllcntes terapi~u(jl'()S (trnlalll('ntos) (' as vari;h.'('is psil'nlógic\s IT

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..22' A.rem T. e.ck • Brnd A. Alford.A1<'_•••.• '.1'_.. ~ .. _, .., .... ,~· .••. ""'h-""'_'

lt.."'Ylilntc8 dentro de UIl1 sistema de psicoterapia que conslltutI ummodelc) coerente para a prática clinlca geral. Diferentemente daste(~nologlasmédicas. as práticas pskoterapêutteas dc\'em ser teorl­(~amente consistentes se um terapeuta quiser administrar Interven­çôes de uma maneira que facilite H colaboração e a autorlzaçào dopaciente. Esta colaboração perl11lte que o terapeuta entre no nllm­do do paciente. usandu a linguagem e o contexto cultural deste.enquanto cOl11panilha a pe~pectiva cognitiva. Desta maneira. a te­rapia cogntllVa perlllll<: que a pessoa (através de exercicios paracasa conjuntamente dcsenvolvidos) teste a teoria cognlllva no con­texto de seu ambiente natural (' de seu sistema de crenças.

Para que haja colaboraçl\o é necessário haver estnllura. Ospacientes devem aprender como a melhora e conseguida a fim deverem fi si próprios conú) parceiros colaboradores no empreendl­mcnto terapêutico. Para ensinar Isso a seUs pacientes. os terapeutasdevem possuir UI11 aporte teórico para técnicas de tralamento espe­cificas. De outro modo. nüo há estrutura sobre a qual basear o pru­cesso de colaboração. Por outro la,do. sem a teoria fi prática depsicoterapia se torna um exercíciO puramente téenlco. destituídode qualquer base clentlflca. Essa qUestão preocupa os mala rlgoro­50S conselhos de especlnllstas quando se trata de conferior habili­dade avançada na prática clínica. Por exemplo. o Marwalfor OralExamlnaltollsdu Amerienn Board of Professlonal Psychology (ABPP}declara explicitamente que para obter o diploma da ABPP. um psi­cólogo deve tratar Oll fazer recomendações ~de uma maneira slgnifl·cutlvu e consistente .0; apoiado por um suporte racional coerente~

(A13PP. 1966. p. 3), (Embo!"a um ~8uporte racional" seja diferente delima teoria formal. é dlficllltnagtnar como UiTl suporte radullal coe·rcnte possa desenvolver-se separadamente das teorias cientificascmplricamente validadas de pslcopatologla e psicoterapia. Este cer­tamente seria o caso na prática clínica padrão dentro do modelocientista/profissional.)

A terapia cognitiva é a aplicação da teoria cognitiva de pslcopá­tologla ao caso Indivld ual. Ateoria cognitiva relaciona os vários trans­turnos pslqUlútlicos n variáveis cognitivas específicas. e InclUI umcOl~llInto formal e abrangente de princípios ou axiomas (delineadosa seguir). l':ste capítulo abrange os segultltes aspectos da terapia eda teorta cognlUvus: (1) desenvolvimento IniciaI. (2) lIl11a nflrtl1Uçãnformal da teoria. (3) problel1las e orientações teóricas, e (4) tendên­cias futuras.

o podor integrador da terapia cognitiva 23.,._••••_~._••__•• A.

De.envolvlmento Iniciai da Teoria Cognitiva

As origens históricas da terapia cognitiva. datando de 1956.podem ser resumidas como segue. Aaron Beck. na tentativa de for­necer apolo empírico para certas formulações psicodlnâmlcas dedepressão (que Beck achava serem cotretas na époc.~al. encontroualgumas ui10mullas - fenômenos Inconsistentes com o moc.lelo psl­canallllco. Especificamente, a conccltuallzaçào psicanalítica (fo'reud.)9 t 7/1950) afirma que os pacientes deprinUdos mAntfestam hosti­lidade rctroncUda. expressada como "mAsoqUIsmo" oU uma "neces­sidade de sofrer", Contudo. ein resposta a experiências de sucesso(atrtbulções de tarefa graduada em um ambiente de laboratório), ospacientes deprimidos pareciam mdhorar em vez de reststlr a taisexperiétlcias (Beck. W64; Loeb. Beck. & Dtggory. 1971). Isto levouBeck e seUs cole~fis fi novos estudos empiricos e obseiVações clini­cas, na tentativa de entender aR anomalias. O eventual resultado foia reformulação da depressão como um transtorno caracterizado poruma profunda tendência negativa. O conteúdo fenomenal desta ten­d'~ncla Incluía expectattvas de resultados negnttvos (conseqüt'nctasdo comportamcnto)nH esfera pessoal. e uma vlsào negativa de se/f."contexto e objetivos. Colwol1lltanlellll"nte. foram feitas tentativas detnodlflcar o conteúdo c as dlst.orçôeR cognitivas negativas. resultan­do em desenvolvimento e avallaçüo de estratégias terapêuticas. Sub·seqüentemente. () modelo foi aplicado n outros transtornos paratestat- os limites da nova formulação.

A partir desse resumo capsular, pode-se ver que a teoriacognitiva orlgínou-se de tentativas de testar os prtncíplos teóricosespeclficos da psicanálise. Quando tal evld(~neln não surgia. outrasexplicações eram consideradas. Portanto. a terapia ('ognil tva descieo começo fot Impulsionada por Interesses teóricos. (Ver Arnkoff &.Gluss. 1992. para um levantamento hlslórico mais completo.)

Apreeentação Formal da Teoria Cognitiva

A teoria cognitiva de pslcopatologta e psicoterapia considera aeognlçüo a chave para os transtornos psicológicos. ~Cognição~ édefinida como aquela funçúo que envolve deduçücs sobre nossasexperiências e sobre a ocorrência e (J controle de eventos futuros. f\koria cognitiva sugere o Importfmcia da pcrc~epção fenomenológll'ados rehlçàes entre os eventos: na teoria cognitiva clfnlcn. a cognlçúoInclui o processo de IdenUflcur e prever relações complexas clIln;

eventos, de modo a faCilitar a adaptação a ambientes passíveis demudança. Rc1at05 mais antigos do desettvolvimenlo e da elahoraçllo

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o leste rigoroso de um sistema pressupõe que ele está naquele momento suficientementedefinido e em sua forma final para tornar impossível que novas pressuposições sejamintroduzidas clandestinamente Em oulras palavras, o sistema deve ser formulado com sufi­ciente clareza e definição para tornar cada nova pressuposição facilmente reconhecível peloque é: uma modificação e, portanto, uma revisão do sistema (ênfase no original)

POJlJler ( ISl5D, p_ 7 J -721 sugere que poucos r.unos' da c1htcl;tal/-(ulll dia desenvolveralll UIll sistema teórico elaborado e bemconslruido. Ele descreve as cxig('ncias desse sistema rigoroso: queele denomina de "sistema axlomalizado", C0ll10 segue: Os axll)lnaselevem estar livres de cont radição. devem ser independentes. de mn<!( I

que al1rmal,'ücs axiomáticas nflo sl~jarn dedul.ivcis de oul ras d('nt rodo sistema: os axiomas devem ser suficientes para permitir ,I dedução de todas as aflnnaçücs pertencentes flteoria; e. finalrnente. osaxiomas devem ser IH'cessúrlos para a derivaçào das afinll;)l,'<"Iesperlel1ecntes Ú tcoria. Ik acordo com csles critl~lios, os axiolll;)sformais d;) teoria en.~l1iti\'a são os seguintes:

1_ () I'rirllipal caminho do ft IIlclonamento ou da adaptac:üopsicológica consiste c1e estruturas de eogniçüo com significado, de­nominadas esquemas. "SI~nif1cado" refere-se à interpretaçáo da pes­soa sobre UI11 elc:lcrmlnndo contexto c da rclaç.lo duqudc l~oniextlJ

com o seI f.2. A fune;:io da atn'bufção dl' sign{jlcado (tunto n nivel aulomú·

Ut'o como deliberat ivo) I' controlar os vürtos sistemas pstcológicos((l.e.'" comportamenlal. emocional. aten<,~üo. e memória). Portanto.li signjficado ativa estratégias para adaptação.

:1, As inl1uênf'ias (,lltlT sistemas cognitivos e outros slslemasS,'IO interativas.

·1, Cada calegorla de significado tem imp\lcaçôl~s que sãotraduzidas etn padrôes espel"ilkos de ernol,;ão. utenc;i'in. nll.~lIlória e

o podor integrador do tOtl",piB cogniliva 25

c'Olllportal1lenlo. Isto (~ denominado I",<,/)('('íjici(/nrlt' rio ((Jfl/('lÍdo

('(}qllilil '(l,

5. Emhora os significados sejam constnlielos pela pesso;). emvez ele sert'rl1 ('ollll'0ncnles preexistl.'nte:s da rcaliebde. eles sào cor­retos ou 1iH'(.rrctos em rdaçüo a um detcnninado contexto ou obJe­tivo. Quando ocorre di:"Iorção cogllitli'Cl ou pwcol1cepçôo. os signlrt­caltos são disfunclonais ou llIaladaptativos (em kl'll1OS de ativa(;üode sistemas). I As cllston:;úes cognit ivas incluem eITos no conleúdocognlUvo (signilkado). no processamenlo co):!nitivo (elaboração dt~

significado), 011 ambos.6_ Os individuos súo predispostos a fazer (:onst nlçües cognil i­

vas falhas espedficas (distorções cognitivas), Estas predisposiçücsa distor(,'ôes espcci!1cas são denominadas l'uIJll'mbl/idades cognitivas.As vulnerahilidades cognitivas espccilkas pl'cdispóCllI as pcssoas usindromes espet'ificas: espl'cificic:hdc cognitiva e vulnerabilidadecognitiva eslúo inlel' relacionadas.

7. /\ psicopatologla resulta de slgnllkaclos malaclaptallvosconstruiclos em relaç{1O ao se(/ ao contexto <lml>il'l1tal (experiênciu).e ao fuluro (ohjet ivos), que Junlos <10 del101nill;tdos de a lriade Ct !f/fliti­v(/. C;Hl" sindrolllt' C'iillil';1 tc:'lll Si,~llilkadosmaladaptati\'os caracte­rist il'os assl1('iados com os COll1pOIlI~lltl~Sda Iriade cogllil iva. Todosos três ('<.lmpOIH'ntcs S;!O interpretados Ill'gallvanwntc na depn.'s­S;"lO_ N;I ansiedade. () ser/c' visto como inadcquado (devido a rccur­sos dclicienl<.'sl. o contexto ê cOllsiderado perigoso. e o fuluro pare·ce illcerfo. Na raivH c IlOS transtornos parallúidcs. () sf'!li" visto COlHO

scndo maltratado ou abusado pelos outros. I' o mUlldo e visto I'omoInjusto e em oposlçüo aos inlt'resses da pessoa. A espet'ilkidade doconteúdo eo~nlt Ivo está relacionada e1esta mandra ;-\ triade cognillv;l.

H. ltil dois níveis de signilkado: (a) (I s{l}fI{/irmlo público Oll

obJet ivo de um evento, que pode ler poucas implle;)ções signilkat i·vas para UI1l individuo: e (b) () sfg"{!lcndo pessoal 0/1 privar/o. O sig­nificado pessoal. ao ('ontrário do stgnlflcado públlt:o, inclui lmplil'a­çôcs. significação, ou generallzu(;õcs extraídas da ocom!ncla cio evell­lo (Beck. 1976. p, 48). O nível de slgnllkado pessoal corresponde aoconceito dt~ "domlnio pessoal" (Beck. H176. p. 56).~

9, Hú três níveis de cognlçáo: (aI o pr(~-consclente. o núo-intenetona\. o uutomálico ("pensamentos nutomnl1cos"): (h) o nivl'lconsciente: c (e) o nívelmelacognlt ivo. que inclui respostas "realisl i­cas" ou "racionais" (adaptativas); Estas têm funções útets, mas ()~.

níveis conscientes são de Interesse primordial para a melhora clíni­ca em pstcoterapta. (Ver a subseção "Três Sistemas Cognitivos" noCapítulo 3.1

10, Os esquemas evoluem pam facilllar a aclaptat,'{1O da 1)('5'soa ao amblenle. e siio neste sentido estnJluras (c/eoflállllf·{lS. !'\lr'

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dli teoria eo~nlllva podem ser encontrados em Inúmeras publlca­Çõ<'~E; (r, ex.. (Jed\. 1964. 1984b. !H87a. 1991b: Bcck. Frecman, &Msoclados. 1990: D, A. Clark. 1995: Holloll & Beck. 1!:>94: Lcahy.1995: Young. 1990),

A apresentação formal (' ahrangente da tcorla co~nltlva aquiexaminada Im~luj todas as prcssuposi(,'ões necessárias t~ suficientespara o sIstema teórico, e forma o v('rl ice do sistema (vt'r Popp~~r.

19591. Portanlo. toelas as aflrl1l<lçfles teóricas podem ser derivadaslo~leaUlentc dos axIOIll;'IS (post U!;lc!OS ou proposições primitivas),Nenhuma ale~ac;i\o de verdade l' sugerida pdo termo -'axioma". An­tes. a redução de uma teorta a axiomas serve à importante fum;üode esclarecer c definir urna leoria clenliJka. Nas palavras de Popper(1959. p, 71).

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..28 Aarori T. 8eck _ Srad A. Alford

blnl:o. um determinado estado psicológico (cot1slltuldo pcln ativa­ção d(~ sistemas) mIo é nem adaptativo nem maladaptattvo em si.apenas em relação a ou no contexto do ambiente social c físico maIsamplo nu qual a pessoa está.

Estes 10 axiomas constituem a ufitmaçõo formal contempo­rânea da teotla cognitiva. Vários pontos de esc1arcchnento podemser úteis. Prunelro, Inúmeras hipóteses especificas e/ou modelospodem Ser detivados dos axiomas formais (p.ex.. Beck. 1987a). Alémdisso. os axiomas süo Inter-relacionados, e podem ser combinadospara gerar hipóteses específicas. Por exemplo. especificidade do con­teúdo cognitivo (axioma 41 e vulnerabilidade cognlUva (axJotnB 6)foram combinados para gerar hlpóteees de pesquisa em relação àprevisão da Instalação da depressão (Alford. Lester. Patd. 8uchnnan.& Glunta. 1995; Haaga. Dyck. & Ernst. 1991). Um último aspecto êque a teoria cognlUva evolui lp.ex.. Beck, 1996): obvIamente. os axi­omas não são concebidos como ptincíplos estáticos. Antes. nas pa­lavras de Poppet (1959. p. 281): MA ciência nunca petsegue o objeti­vo ilusório de tornar SllflS respostas finais ... Seu avanço é. prefeti­veltnente, em direçõo ao objetivo Infinito, contudo alcançável. desempre deseobtir problemas novos. mais profundos. e mais gerais cde submeter sUas respostas sempre expeticnclals a testes continua­mente renovados e Invatiavelmente mais tigorososM.

Problema. e OrlentaçOes Te6rlcos

Diversos principias da teoria cognitiva InclUídos nas afirma­ções formais al~ln1U sõo bem conhecIdos. tais como a ttiade cognitiva.especificidade do conteúdo cognItivo, vulnerabilidade cognitiva. eos vártos "erros de processamento" ou distorções cognitivas. Outros'aspectos tmportantes da tcotia sào menos conhecidos ou estão atual­mente em processo de desenvolvimento ou retlnamento. e sno. por­tanto, aqUI aprcsetltados. Estes Incluem tI naturC1.R do processn­menta Inconsciente (Ilutomátleo) de Inforlnaçiio; causas dlstnls eprox1maJs de fixação de recursos de atenção; e questões contempo­rflneas com relução à natureza "construtlVlstaMda pslcopatologla.Esses são reVistos resUinldall1ente nas subscções a seguir.

Proc•••llm.nto COl1nltlvo Automíltlco

A "revoluçãu cognlllvu' na psicologia gerou Inúmeros achados(e conceitos) t~mplric()s que pareccm corresponder a multas obscr-

o r>oder integrtlldor da terapia cognitlvlI 27

vações dlnl(:as de processamento ('o/o!nltlvo nul.o01.lIlco. Além disso,a própria teoria cognitiva Incorpura Impllcltamcnk alguns dos COIl·

ecll.os relevanks. 1.411.5 ('01110 processamento prê-nlclU:lonal. <'lIpad

dade cognitiva c pr()(.'t$SUllwnto Mlnconsclente,' Por exemplo. n psleologla cognitiva conlemporânea tem usado o termo "IllconselentccognitiVO· para clescrever estruturas e processos mentais que ope'ram fora da cdnsclêncla fcnomenal. contudo determinam expcrlén­cta consciente. pensamento. e ação (Klhlstrom. 1987. p. 1445:Melchenbaum &. Gllmore, 1984).

Não há razão tcótica para que os processos cognitivos rele­vantes à psicopatologla devam operar Inteiramente dentro da per­('epção fenomenal consdente. COllslderetnos a segtllnl.e seqüência:situação parn crença para Interpl't~taçüopara afeto pAra comporta­mento (vel' Figura 1.1). Para a elaboraçüo. estruturas ou esquemasde crença cxlstentl:s são ativanos por C'irl'll\1stánclas ambientais. ()l>tocessamento csquematlco (de stgnllkado), quer consciente ou in­consciente. ~cm uma Interprclaçün. A tnlerpretaçáo especin('~l levaao afeto. que é seguido pelo C'omp0l1,amento especiJko, que por suavez modttlca a slluaçflo origina\.

Os conccltos "pensamentos aulolllútlcos" e "IJlconscicntccognitivo" poss\lem muitos aspcC'tos comuns, !'::tnbora a observ(l<;ãoclinico lenha revelado qUl~ os pensamentos nutomútlcos sào COI11

freqÜência multo facilmente adlnlUdos ft perccpçüo wnsclenle (l3eck.1976: Beck, t{ush. Shaw, & Emery, 1979). a sltuaçào teórica danoção de Mautomatlsmo" sugere que esse processamento cognitivotalvez seja melhor denominado rle "pré-consciente". Visto que a per­cepção eonsclente é um pré-requisito lógico para o controle cons­clente (ver Klhlstrom. 1987, p. 1448). os terapeutas cognltlvos 11<1­

turallTll'nte empregam léclllcas designadas para tornnr os pensa­mentos automáticos (Inicialmente) largamente Iilcons(~lcntes(p.('x..atribuições falhas) mais sujeitos à percepção consciente nlnwés detécnicas cognitivas. taIs como distração ou reorientação dos recur­sos de atenção (ver Ueck cl aI.. 1979). Esta abordagem e..1ta tenta,tlvas diretas de ~controlar·os pensamentos. uma vez que taIs tentaUVas freqüentemente resultam el11 cfcltoi'l OpOi'lt05 nos 11I'etendidll[-'(ver Wcgner. 1994).

Embora a situação empírica do processamento não-conscien­te nu psleopatologtn seja no momento Inconduslvu. várias linhas depesqUisa têm apoiado a prescI1ça de processamento automático pn'concebido nos transtornos de am;ledl1dc (roa. lIal. McCarthy. Shoyer.& Murdock. 1993; Logan. L.,rklll, & Whlttal. 1992; MncL~_'od. IH91:MacLeod & Mathews. 1991: McNalIy. 1990), bem como na depn'ssão (Mitteka & Sutton. 1992). Além disso. um recente estudo COII,

trulado sobre a prcdlsposh;i'io da memória para fazel' assocla<;út·s

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FIGURA 1.1 Processamento esquemático de informação.

Recursos d(C.! Atençào Transfixados

o podor intogrorlor do tarflplll cognitivo 29

normal de ()rganl7.élç~io ['o~t1ltlva ocorre IHl transtortu) d.. P<'IIlIt·o C'

J.)l'ovavelmente t.ullIlx'tn em outros transtornos lp.ex.. clepress;'1O l'

t.rlmstorno blpolar), t~ que esse pn:luiJ'.o It~va Ü redução na capacidadede f()(:all.7.ar a 'lt(~IlÇ()() adequadamente ou de concentrar-se (I'. 14~I:l).

Dois outros fatores podem também ajudar a explicar corno osrecursos de aten(;ào se tornam Ibmdos no transtorno d{~ pânico.Ptimc1ro. a presença de processmnento cognitivo inconselentc, con·forme discutido acima, pode explicar isso em pnJ1(~. Na medida ('11I

que o conleúdo coglJltivo existe el1l um nível inacessível ú perccpc"';tnconsdcnte. pan'('l~rla que li ('oITet:i-lll de dlslonJll's não seria possí­vel (Klhlstrolll. 1!l87). t\ Instalaçuo dos processos de atençáo a esti­mulas de amea~'a. c dos processos e1aboralivos e interpretativos fItemas de ameaça. pode ser explic:1do em termos ele automalisllIu:estes processos s<io automáticos no senl.1do de quc são incolJscien­tes, (Deveria ser observado que MeNal1y. 1995. expressou tri's dlfe·rentes slgn111cndo~ do termo "autolllútlco" 110 cOll!C1(lu dos Ir.. tns·

tornos de ..msied'HIl'. Os pnl<.TSSOS <llltOtll:'t! it.'os JlodcllI ser "Iivn'sde capacldadt~."sigllllicalldo tple e!t's pruSSl'L!;lIl'III desel nharaçlda·mente e selll interferi'lJela de proccssos eUIH'IlITC'nlcs: I'I('S podcllIser "iIlI'ollsC!enles:' ou 1'01':1 ela ('ollsckllt'i:l; ('/Oll elc's podelll :,wr~lnvolllntãri()s," sigllilkanch> fora do controle consciente. lV\('N;lllyconclui que os pro('(~ssos autom;illcos nos transtornos de ansieda·de nunca sào livres de eapactdade, são às vezes Inconscientes, l' s;'1f)sempre Involuntários.) Entretanto. o fato de que tais processos slIoinconscientes não signllka que eles m30 possam ser modificados naterapia. O tratmnento de processus Inconsdcntes na terapia cogntt ivafoi descrito antcliormenle: "O paciente comcc,:a a rcconhecer em nível experimentai rllw ('onstrlJill errOfll'H Illl'n Ie a slhliU,';-\() ... I'sle 1111'

canlsmo t: talvez unúlogo no que os psicanalista~chamam de torn;lro inconsdente ee)llscientc" (Bcck. 19H7b. p, 162).

Segundo. acredita·se que existe uma tendéncia inata c geral·mente adaptativa a estabelecer e ampliar a ·orientaçüo." ou o árnbito de fenômenos aos quais um organismo Ilc:a atento (ver Krelller &.KrelUer. 1982. 1990), Assim. seria adaptativo que tal pnwcsso dI'oricntue;ão fosse desativado em slluaçôcs catastlúfic:as, lima vez q! \I'

é geneticamente adaptativo concentrar todos os recursos cle atelJçào disponíveis ern ameaças ú sobrcvlb'll'ia Imediata. Asslrn. du·rante este pro('(~sso a telldi~nl'ia inat.a e genllmente ,Hlaptati\'a .1

ampliaI' a OI-icntaçào (LI' .. elaborar e co/,(itar outr()s significados) s,'ria Impedida. De acordo com ?l j eorla cognil iva, ;l pessoa sofl'f'wlode ansiedade lka "presa" ;1 IIIll estilo (Tlll'ia! t);inr a s()hrevI\'{"n~ iaem sltuaç()('s cle- alll(',H;a n'a\. c a capacidadc' de ('o~ilar olllr;I~; illterprclaçiks fic(\, pOl-tanto, bloquead;l (lkel\. EItHTV. <'V. Grt·(·l!l11'n~,.

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Comportamento

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catastróficas (p.ex .. "tollto"·"deslllaio") 110 tr'lIlstortlO de pánicn ell'

controu memória prt~"con('ebida 110S processos de memória ('on5·cienles (explil'iIOS) l' n;~IO-const'ienles (implícitos) (Cloitre. Sllear.Canciclllle. c~ Zc·illill. l!m2),

Uni dos prOIJ1<:lIlas n<'io·rcsoivic\os na p(~squisa ('ognili\'a IJúsl­ca experimentai é t'OI1Hl l'xplir';lr ;1 liX;ll;ÜU de recursos ele atellf,:üo,particularllll'l1le IIOS transtornus de allsicc!;)ck. Ikd, (Hl85;1) apresenlilll uma teoria gr~raJ ele qllC' 1I111 prt~jllizo fllnt'iollal lia atividade

2. "'l'onT. 84tClk ti Brad A. Alford~;_...;... .....,...~,.,...~ .""'H__ ..~_~" ,.,~" ..,.h"'""""h._~" ...."

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A Nlltu,.•• Con.trutlvl.tll do Slgnlflclldo

Urna edição do Journat of ConsutUng anel CllnlcaJ Psyrholo1{Yfoi dedicada em gralllJe parte a abordagens psleotempéuUcaseotlstruUvtstas (Mahoney. lH93). Naquela série de artigos. teóticoscognitivos de vanguarda trataram da Ilnportãnda de abordagenseOf1stnlUvtstas à psicoterapia c à pslcopatotogla. Por exemplo. Ellls(l993) comparou a ptimclra teotia racional-emotiva com lóm1Uluçôesmais recentcl'l. que etc descrevia como "distintamente construUV1sla ehumanística" (p. 199); e Melchenbaum (1993) sugeria que oconstruUvismo é -uma terceira metáfora que está orientando o atualdesenvolvimento de terapias eogniUvas-comportamentals" (p. 203).

Meichenbaurn (1993) definiu a perspectiva consttutlvista como"a Idéia de que os sere!'> humanos constroem ativamente suas reali­dades pessoais e cliam seus próprios modelos repfe§ehtafu:os domlmdo;' (p, 203). Similarmente. Nelmeyer (]993) afirma que o CTn·tm da teoria construlivtsta ê "uma visão de seres humanos ('omoagentes ativos que, indivlclual e colellvamente, constroem o slglllfi­('ado de seus mundos cxpcrienciais" (p. 222). De acordo com isto.Beck et aI. (1979) escrcvpu: "Percepção e experiência em geral súoprocessos nltvos que envolvem dados Inspcctivos e Introspectivos"Ip. 8: ênfase no orlglni1I). O significado que uma pessoa atribui auma situação, ou a forma ('orno um evento é estruturado (ou cons­truído) por uma pessoa. teorlcmnente determina como aquela pes­soa se sentirá c se comportará (ver Beck. I~H5a). Por outro lado. ateotia cognitiva não apenas sugere a -construção" da realldadc: elatambém postula a especificidade do conteúdo cognitivo. no qualrespostas emocionais espccífic'as (normais e anormais) são associa·das com diferentes tipos de construções (l3cck. 1976. 1985a).

Em termos m.ús simples. o compoti.amcnto humano norrúaJteoricamente depende da capacidade de a Ix:ssoa compreender a na­turCí'.a do ambiente s()(:lal e flslco dentro do qual ela está situada. Aterapia cognlUva é freqüentemente mal-Interpretada como adotandoapenas uma perspecttva -realista." Entretanto. a perspecttva cognitivapostula ao mesmo tempo a dupla l'Jdstendu de uma realidade obJet!­va e uma realidade pessoal. subjetiva. fenomenológica. Desta manei­ra. a vtsão cognitiva é conslslente com as lemias de condicionamentocontemporâneas. que postutanltanto l~aracterísticasde estimulo Iisl­co externo quanto mediações cognitiVas destas (Davey, 1992).

Uma questão Importante foi expressada por Mahoney (1989.p. 188), que manlfeslava preocupação com a dtcotomlzaçõo da teo­ria -construtlVlsta": "As pessoas. na verdade. co-produzem suas re­alidades. assim como sUas realidades as co-produzem, O futurodas teorias heurísticas na psicologia deve. entretanto, libertar -se

o poder Integrador da terl!lpla cognitiva 31-. o _.~__ ~~ ~"_~"_._.o--,..-N__ ~ ".

das oscUac,'Ões pendularcs daquele dualismo e de algum modo abran·ger a complexidade de nOSSll posição como Indivíduos e objetos de:construção-o Mahoney filZ uma diferença entre -construtlvlslas cri­Ucos." que não negam a exJsténcia de um mundo real. e "consttll­UVlstas radicais," que são Idealistas (no sentido filosóllco do termo)e sustentam que não há realidade além da expeliêncla pessoal.

Em contextos sociais onde as realidades fenomenológlws se(:n.tzam; há múltiplas realldndes pessoais bem como uma realidadeou contexto fis!co objetivo dentro do qual residem as realidadessubjetivas. Estas -realidades" são Igualmente reais. 110 sentido deque são parte do que existe. Multo obviamente. esse tema levanta uquestão da naturcr..a da consciência humana e da metacognição.

Quando uma pessoa experimenta estresse ou um translornopsicológico. a Informação relevante aos esquemas prepotentes serúabstraída seletivamente, e a pessoa basem'á sua InteqJfetaçào dasituação Inteira nesta abstruc,'úo seletiva (ver Dalgleish & Walts, 1990:Logan et aI.. 1992; MucLeod & Mathews. 1991). Além disso. supon­do a mesma entrada de dados. o estado pslcopatológico moldará asinterpretações muito mais sistematicamente do que o estado não·pslcopatológlco.

Uma pessoa com um transtorno psicológico está eln um esta­do puramente construtlvlsta. Entretanto. 110 estudo mais normal.uma pessoa é tanto um construtivlsta quanto uln emplrista/realis­ta. P0I1anto, quando urna pessoa está reagindo Ilormalmente. a rc­açâo/cognlçúo Inslanl1irwa a. digamos, unta clor no peito pode serInduzida pelo esqllema rf<~stoll tendo UI\I ataque canliaco"): entre­tanto. sob rápida reflexão (metacognlção). a pessoa clescalia t:stahipótese. O tempclIta cognitivo. quando na terapia com um paclen·te. oscila entn~ dois estados:

1. Empatia compreensiva envolve um estado construtlvlsta.2. Como realista/empltista. o terapeuta leva o paciente a focali­

zar-se Olais no 4ue está aeonteecnt!o (desse modo lívnUldo o pacientt'dadotnlllãncia dos esquemas disfunclonals). a buscar mais Inforllla·ções, e a gemr cxpllcaçôes alternativas para um evento parlicular.

111 (. I.tllo.) da Persona/ldllde

Uma Importante dirt'lri/. para a !eoria cognitiva estúno ckst'lI­volvlmento adicionai da teoria da personalidade. A personalldadt'

>& a ~xr-.2T'TI 7ft 3Wwr 7prsWenZEI r-· r .. os .,

•• 3ltMron T. Beck e Brad A. Alford

talvez s(~Ja () mais complexo c Idlográfico dos construdos.cognltlvos.Condizente com uma visão de personalidade como comportlUnentoblológleo eomplexo. Ross (1987. p. 7) sugeriu a seguinte definição:"um constructo composto que representa [l soma total das açôcs.dos processos de pensamento. das rca(;óes emocionais. e das ne­cessidades moll\'acionais da pessoa. através dos quais ela. comoorganismo biológico genetleamcnte programado. tnterage com seuambiente. Inl1uenctando-o e sendo Inl1uenciada por ele," Portanto."personalidade" é o termo que aplleamos a padrôes específicos deprocessos sociais. motivaclonals e cognitivo-afetivos. cujos estudosIndividuais constituem as diferentes áreas de espcclalizaç{lO da pcs­quisa pslcológJca.

Além de fornccer uma del1nlçào de personalidade que é con­sistente (pelo menos em princípio) com a ciência psicológica básica.a formulação acima expressa uma visào um tanto nova de quaiselementos devem ser incluídos em uma conceUuallzação científicaconlemporânea de personalidade como um constructo unlf1cadorou organizador para comportamento humano complexo. Uma teu­ria abrangente incluiria os vários sistemas de comportamento 11II­mano complexo. tais como siskmas comportamental. cognitivo.motivaclonnl e emocional. e estes devem estar relacionados a ambi­entes biológicos e sociais. Essa teoria teria que descrever como ossistemas componentes inter-relacionam-se e Inl1uenclam uns aosoutros. como eles evoluíram para adaptar-se ao ambiente. e comoos mecanismos de estabilidade e mudan~'a operam. Hoss (1987. p.~33<~4) afirma que embora existam "miniteorlus" relativas a. r<~spec­

tivamenle. ansiedade. aprendizagem. motivação. memótia. compor­tamento interpessoal. emo(,~ão. e outros sistemas. nenhum teóricocontudo desenvolveu uma teoria abrangente de personalidade. Abai­xo. descrevemos um passo Importante em direção ao desenvolvi­mento de tal teoria abrangente.

Teoria Cognitiva de Personalidade

Ikck e colaboradores (1990) sugeriu que os processos cogniti­vos, afetivos, e motlvaclonals são determinados pelas estruturas.ou esquemas. ldlosslncrásicos. que constituem os elementos bási­cos da personalidade. Espera-se que os esquemas sejam normal­mente operativos. bem como nos transtornos do Eixo I e Eixo 11.Excetuando-se o retardo mental. os transtornos do Eixo n são ostranstornos da personalidade. que incluem as variedades anti-soci­al, esquiva. borderlille. dependente. histriônica. narcisista. obseSSI­vo-compulsiva. paranólde. csqulzóide. esqulzoüpica. e k scm outraespeclflcaçãok (Amctican Psychiatric Associatlon. 1994). Os esque-

o podor intfiJQrndur da terapia cognitiva :13

mlls t ip1l'os dos transtornos da persollalldade I t~OrIGIIl\l.'l1te o(lenllll

em uma hase mais conlinuil do que (. tlplco nas slIHlrollws c1illi(·;IS.l':sta I\OÇÚO pode oferecer UIlI conccito Integrador a\(' ('111;'10 ausentedas teorias de personalidade (' de 1ranstorno da persoll;J!idadl'.

Com rdm;úo ao papel central do construeto de esquema nateoria cognitiva dos transtornos da personalidade. é interessantcnotar que vários ieórlcos (p.ex .. Horowitz. 1991: Kazdin. 1984) obscrvaram que os conceitos de psicologia cognitiva incluem ou cxplicum a operação de Inúmeros sistemas (afeto. percepção. comport.1n1(~nto). e. portanto. podem servir para fornecer uma linguagem comum que factllte a intcgraçiio de c(~rtas abordagens psicoterapêutleas(conforme afirmado em Alford & Norcross. 1991. e Beck. W9Ia).Além disso. a própria personalidade pode ser cOIH'ebida como umconceito integrador. A tardú de Identifkar uma linguagem ellcazpara explicar as inler-relaçóes entre vários sistemas é análoga llOpresente contexto ao prolJlellla de integrar os vários sistemas deU"vos de pskoll'rapl;L 1'01' isso. a o1JSl:'Iv;l(,'ào de que conceitos cognitivoscsüw ellvolvidos em amb;ls as áreas de Intcgra(;üo nào é surpreen"dente.

O conceito de esquema !(JI adaptado como uma estrutura emtorno da qual se organiza e entende a opcnH;üo dos v;irios sislt'lllaspsicológicos. e parece sugerir 11Ina universalidade na funç,lo etoló/2.icadestes sistemas. Quundo os ddistlIrbios de personalidade podcllIser vistos como padrües de sistemas idiosslncrálicos que cronica­mente ativam esquemas llIaladaptatlvos. entende-se que I)

processamento esquemático ou de slgnilkaçflo está controlando aoperaçüo cios sistemas psicológicos_

A dt'ilnil,'{\() cognitiva de personalidade inclui pro('('ssos l'squcmúlit'os ltlclividlL"llS. (lile Icuricalllt'lllL' til'IITIIliIldlll a fl(l<T<lI,';-IlJ dospl-inclpals sistemas de análise psicológica (p.ex.. motiva(,',-lU, l'ogIJil:<lll.emoção. ('(c.). A perspectiva cognilivól enfalizaria padrões ("amelcrísUcos do desenvolvimento e diferenciação de uma pessoa e SUd

adaptação a ambientes sociais e biológicos. Estes padrôes são compostos de organlzól(;ôes de esquemas relativamente estáveis. que rcspondem pela estabilidade dc sistemas cognitivos. afetivos. ('comportamcntais alnwés do tempo. Estes sistemas de esquemasespeclali:zados süo conceitualizados como os componentes básicosda personalidade. Sl.Ib-organlzaçôcs eSJlccíficas dest cs sistenl<l.o.;básicos sào denominadus estilos (Bcck. lUDO). Os cstilos consls\clIIde esquemas que cOlllêm as mcmórias especificas. us algoritmospara resolver os problemas específicos. c as represenlaçôcs (51)('('1

ficas em imagens e linguagens que formam as perspectlvas. Os tr:lIIStornos da personalidade süo cOllceltualizados simplesmente ('01110

opcraçücs ele sist.emas hlpervalcn\(~smaladaptatlvas (nlOrdelHHI,m

......

••

M~n T'. 1lItuk • Brad A. Alford;.......~__._.........._~__ ~.•_~ "~F""""~ _.,.. '~" •.•. ,., ~ ••. _'· __,v

como estllos1 que sào espcciOeas de estratégias prlmIUv~ls.A opera­çào de estUos disfunclonais. embora presentemente rnaladaptaUva.provavdmente servia em contextos mais primitivos para asseguraradaptaçào/sobrevlvência. Os vários estilos ativam estratégias pro­gramadas para realizar categorias básicas de habilidades de sobre­vivência. tais como defesa de predadores. o ataque e a derrota deinimigos. a procrlaçéi.o. e a conservação de energia (Barkow. Cosml­des. & Tooby. 1992: Banm-Cohcl1. 1995. Cal" 2).

Essa perspectlva pode parecer a princípio uma abordagemóbvia. até que a comparemos <:0111 aquela que tem sido comumenteproposta. Teóricos psicológicos tanto cognitivos como não-cognitivos(p.ex.. Skinnerianos) têm aplicado os principias Darwinianos desobrevivência genética para Incluir evoluções de cornportamento ousistemas cognitivos complexos. Os primeiros (e mais radicais) escri­tos comporlUincntals de Sklnncr fazem analogias expUcltas entre aseleção de caracterisllcns de lIlna cspccle e a seleção do comporta­mento de um Indivíduo por suas conseqüências. Similarmente. Becke colaboradores (1990,) post ulava que a evolução da organizaçãoeslnItural (esqucrmitlca) dos estilos de personalidade tradlêlonalsespecíficos (esquiva. anti-social. dependente. etc.) estava baseadaem prindplos-clológicos.

De acordo eom Hoss (1987). essa visào de personalidade es!úconceitualmente Incompleta. assim como a clencla básica dos res­pectivos sistemas psicológicos ou esferas de análise, Entretanlo. osavanços no entendimenlo dos transtornos da personalidade COlTes­ponderão a avanços no entendimento daqueles aspectos de proces­samento esquelll<1UCO na memória. na compreensào. e na atcnçüo/percepção (como exemplos) <Iut' podem variar de uma pessoa paraoutra. e que podem constituir vulnerabilidade a transtorno de per­sOllalldade (ver MacLeod & Mathews. 1991). Uma atividade esque­mática específica. consciente ou inconsciente. tal eomo interaçfiointell'lessoal. t:'1ll0çüo. ou cogniç:io. foi seleCionada (por processosevolueionálios) para facilitar tipos específicos de processamento. Otipo de pr<)(~essall1entoselecionado é aquele com maior probabilida­de de ser adaptativo sob as cond[c,:ôes ambientais que atlvmn nqueleestilo particular.

A ativaçào ele urn esUlo (p.('x .. raiva. ataque) através de cllfe­H'nks sistemas psie()ló~k()slellloç~lO. mollvaçiio) é determinada pclopnll'('sSall1ento csquemútlco Idlosslnçrásico derivado da programa­~.:üo gCJll·tlca de um Individuo c suas crenç;,\s' culturais/sociaisinternallzadas. Para dar um exemplo de pcrcepção. l~studos l('lIl

demonstrado que o olfato envulve diversos sistemas neuronals. in­cluindo os padrões ele atividade espacial da célula receptora nasal.o córtex olfativo. e o córtex cnforinal (que eOlnblnn sinais de outros

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o podar lntegredor dI' ttuepla cClgnltiv8 36__ .~." _ .. _'~_~""_' _._ •• _.• _•._ •.,.•. _.,." .•..•.__~ •.,._••.•..•• ,_ ",0' _, _.

sistemas sensoriais). A IlIcllls<'lo de outros sistemas sensoriais re·sulta em lima perc'('pç-ào que tem lIlll significado único. lima vel.que () odor percebido está associado com memórias espeC'Íflcas alima d(~terminada pessoa (Freeman. 1991). A personalidade é slml·larmente Idlossincrásica e baseada em alivaçi"lo de sistemas a ní·vels (;ort.lcais "superiores." De acordo com eSS;l qUCSt:10. Flalla~al1

(1992. p. 222) observa qu<' a Iwrsollalidadc (nu :';1'111

é a produção conjunta do organismo e do mundo SOCial complexo no qual ela vive sua Vida.Provavelmente. seria perda de tempo procurar mapas neurais idênticos das auto-representa­çoosde diferentes indivíduos. Não porque aauto·represemação nao seja realizada neuralmente,mas porque aparticularidade fenomenológica da identidade auto· representada sugere particu­laridade neural.

Colocado ele outra forma. cmbora o sl'l/n:io possa existir se­parado dos neurônios. a singularidade da vivência cio .<,-c1(sugereque padrôes neurais caraclcristkos constituem a personaltcladt' decada Individuo. Além disso. a personalidade IÚO poele de forma al­guma ser entendida por sua "n:c1ução" ao nivel nsiológleo (I.e .. pa­drões de neurônios). uma vez que o signllkaclo Intrinsceo destespadrões neurais podcm apt~nas ser descobertos dentro da cxperlbl­ela fenomenológica pessoal.

Em resumo. a lcoria co~nlliva c'onsldera que a personalidadebaseia-se na operaç:io coordenada de sistemas complexos que fo­ram seleCionados ou adaptados para assegurar sobrevivencia bioló­gica, Os v<írlos sistemas apresentam conllnuidade atravcs do tem­po e das s(luaçôes de vida e foram desc-rilos tom escritos psit'okl~i-

...cos como os Inúmeros "tra(,~os" c "transtornos" da personalidade.Mais abstratamente. t'sses atos coordenados ('(mslslcntes sào con­trolados por pro('(~ssl)S ou eslrutUI'llS gl'nd lea c ;unbil'nt a\mentedeterminados. denominarias "esquemas." Os esquemas sào t'SSl~n­

c1almente UestrutunlS de sl/,(nilk:lclu" C(HlSCÍelltcs t' Incollsl'ienles:eles st'rvelll a fUIll.;iws clt' sohrevivl'tl(·ia. P:lra Sl.-r I"/\:!ivo. o processa

.mento esqut'IIlúti('o deve ~,er adaptativo a demandas sociais ('ambientais imediatas por melo da coordenaçiio e de operaçôes dI'slst(~llIas adaptativos. Quando as cirnlllst:ll1cias amhienlais IlIlI

d,am muito rapidamente (como ele sociedades pré- para plis-IndustJiaUzação. ou ele caça para agnc:olas), cstral('gias anlerlorlncnll'adaptativas ('ontlnU:lI11 a 0lwrar. de modo que ullIa adapl;u....11J

Insatisfatória pode se desenvolver. Por \~xelllplo. lrac;ns :Hlequadw,para a caçad'l agressiva de animais selvagens podcIIl núo sc· ajllstara um alllhit'ntt' sodal qlll:' valoriza II cllllivo P;\('j('1l1t' dI" prodlllw.agric\)las. Milito do que nos referimos corno ··transtortlo de persllnalldade" provavdmclit (' telll sua origem na evolul,';1o de ('sl ral<':glas

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• ....... T.e 8rad A. Alford, _.,...... ,."fU..,.:••,.., ""', ,~ ~,,- -""',''',''$'~~ ~ ,_ .. , •.. ,., '•... ' .•.• ' ,

pum sobrevivência que süo n:laUvalllcllte menos efcUvus .. 011 na ver·dnde malndaptaUvas. nos ambientes atuais 113cck ct aI.. 1990. Capo2: Gllbert. 1989). Novos arliculaçôt:s da natureza da personalidadesão diretrizes futuras Imporlantes para a teorIa cognitiva (ver tam­bém Prelzer & Beck. 19913).

A Naturszs Evolutiva ds Teor/s Cognltlvs

Os componentes especíJkos da teorta cognitiva cmpregadosna terapia com uln delennlt1ado paciente s:io espedlkos aos objeti­vos ou propósitos cio lerapellt.a. dada a sHuação contextual (I.e.. ascaracteJistlcas do paciente, tal corno personalidade c rcsponslvldadeafetlvil). Portanto, a teoria eognillva rdativa a estratégias para tra­tament.o de um caso particular depende dos objetivos. do terapeutacognlUvo, conforme derivado da eonceituallzaçáo do caso Individual.

Em sua forma geral. a temia cognitiva especltlça qUÇ"iJ melho­ra siniomálica no transtorno psicológico n:sulta ela modlij~~a(;;\o dopensamento disfuncionaJ. e que a melhora durável (reQu(;ào derelapso) resulta da modirh.'[\~'<iode crenças lIlwadaptatlvas. Dentrodessa ampla dt:filllçüo de terapia cognitiva. a aplicação de formula­çôes \eólicas se!t'd()nadas apoladn por pesquisa cognitiva básicaexperimental seria (,ollsiderada pskuter,lpia cognitiva. I'ortall(o, oterapeuta cognlt.lvo. no modificar o pensamento e as crelH;as do pa­ciente. é livre para tomar empreslados concdtos teóricos de pesquisas cognitivas empíricas búslcas sem violar os prlnciplos funda­ment.ais da terapIa cognitiva. Dessa maneira. a teorta cognitiva evo­luljllntamente com a pesqllisa büslca sobre a natureza da cognlç<'io.

Notas

V(~r Ilaaga e Beck (19D51 para lima revisão das Cllll1plexlc/ad(~s (' situaçüoernpirlcu do conceito 'dlslorçflo cognitiva",Este nível 1'01 denominado dI' 'slgnll1cadn gl'nórlco Inferem·tal" (Teasdale lli.UCl'II<lJ·d. 199:3. p. 217)

-mSfW3 lX6FY' TF-'T'-T'~~rç*rs-"-''5'@"' ,...• j,.... ~ < ._ Y' $ t

2Metateoria

Cert.as concepções errôneas sohn~ teraptn ('ogntlJv<l da part.e deterapeutas int.egracloJllstas (e outros) lC'1I1 eontribuído para oInsUcesso em perceber a natureza int('~ranorana t<'orln (' da terapiaL'ognltlvas (ver Gluhoskl. 1994). Na revisão de 11111 dos prinelpalslivros edltar:los sobre Inlegração da psicoterapia. A. A. LaZaT'llS(l995b) obselvoll o seguinte: "Parccia-me que orientações especill­(~as eram COI1l fr('ql'li~n('ia apresentadas Incorretamente e jlllg<ldasIn.lusianwnte, que (,(,I-tn8 abordagens eram apresentadas C0ll10 ca·rlcaturas. que !loIlH'lIS de palha (ou seriam pessoas?) eramcOhstruídos c destruidos" ((l. 401). Portanto, este capítulo c o Capi­tulo 3 esclarecem outros aspectos rnetaleór!<'os e teóricos específl·(~os da terapia cognlUva.

A l1\osofla. historicamente. ocupa-se de questôes e problemasaos quais lalta uma dellnição adequada. Assim sendo. a perguntacerta é tão Importanle quanto jl resposta certa. Na verdade. sem apergunta correta ou urna pergllnt.a sIgnificativa. não se pode c!legara uma resposta <1dequada. Muitas pergunlas ou concepções errüheas sobre terapia cognitiva parecem ser malsucedidas por trata·rem o assunt.o de uma maneira clenJasindamenlc simplista.reducIonista. 011 dlco\óllIica (ou-ou). Por (~xemplo, (; obvlamentf'simplista perguntar. "Um :wlão voa porque tem asas, ou porque vaimuito rápldo?~ Entretanto. pode não parecer t<io simplista pergun­tar. "Uma pessoa expertrnent:l púnlco devido a fatores cognitivos.ou a fatores fisiológicos'?" Contudo as duas perguntas são Igual·mente Inadequadas.

Além desse tipo ele rlleotomlzaçflO. Inlllllcras OlltroS questões.Inter-relacionadas. relativas às bases filosóflcas da terapia cognitIvadeveliam ser esclarecidas. Essas Incluem (J) a natureza da teoria:{2J tipos de ·causas"; (~'IJ a natllrf'za da cognição; (4) cognlçüo ('OIJIII