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JAMILE RUTHES BERNARDES CHÁCARAS PARA LAZER: UMA EXPRESSÃO DO “NOVO RURAL BRASILEIRO?” LONDRINA 2005 Universidade E ESTADUAL DE L LONDRINA

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JAMILE RUTHES BERNARDES

CHÁCARAS PARA LAZER: UMA EXPRESSÃO DO “NOVO RURAL BRASILEIRO?”

LONDRINA 2005

Universidade

EESSTTAADDUUAALL DDEE LLOONNDDRRIINNAA

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JAMILE RUTHES BERNARDES

CHÁCARAS PARA LAZER: UMA EXPRESSÃO DO “NOV0 RURAL BRASILEIRO?”

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina, como exigência parcial à obtenção do título de Bacharel em Geografia. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ideni Terezinha Antonello.

LONDRINA

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2005

JAMILE RUTHES BERNARDES

CHÁCARAS PARA LAZER: UMA EXPRESSÃO DO “NOVO RURAL BRASILEIRO?”

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Geografia.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

Prof.ª Dr.ª IDENI TEREZINHA ANTONELLO Universidade Estadual de Londrina – UEL

Prof.ª Dr.ª ELOÍZA CRISTIANE TORRES Universidade Estadual de Londrina – UEL

Prof.ª Msª. JEANI DELGADO PASCHOAL MOURA Universidade Estadual de Londrina – UEL

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os geógrafos, que, como eu, carregam dentro de si,

paixão por analisar o espaço sócio-construído e modificado.

Dedico ainda, à ciência como um todo, pois a produção de trabalhos como este,

permitem que a gama de conhecimentos e referências disponíveis, seja cada vez

maior.

Por fim, dedico ao Sr. Odorício Onofre, o qual me ajudou muito na reconstrução da

história do Loteamento Recanto Santa Andréa, pessoa maravailhosa de muita

sabedoria.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente ao nosso PAI, pelos momentos de inspiração e inteligência que

me proporcionou para realização deste trabalho;

A minha orientadora, Ideni Terezinha Antonello, que além de ajudar-me com empenho

mostrou-se uma grande amiga;

A minha família, irmã, namorado, amigos e em especial aos meus pais, que souberam

entender minhas dificuldades enquanto produzia este trabalho apoiando-me sempre;

A todos que de alguma forma contribuíram para meu sucesso, sem esquecer dos

maravilhosos autores que utilizei como base, pois sem eles isso não teria sido possível.

A própria Universidade, por ser o local onde iniciei minha trilha no caminho do

conhecimento científico.

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A grande originalidade do presente período

histórico é a visibilidade, em todos os cantos

do mundo, das novas possibilidades

oferecidas por ele e a consciência de que é

possível uma multiplicidade de combinações.

Estas não têm que ser obrigatoriamente

condutoras de alienação, podendo construir-

se a partir de um modo de ser característico

da nação considerada como um todo, uma

edificação secular onde as mudanças não

suprimam a identidade, mas renovem o seu

sentido a partir das novas realidades. Não se

trata, assim, de recusar o mundo, mas de

assegurar um movimento conjunto, em que o

país não seja exclusivamente tributário, mas

soberanamente partícipe na produção de uma

história universal.

MILTON SANTOS.

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BERNARDES, Jamile Ruthes. Chácaras para lazer: uma expressão do “novo rural brasileiro?”. 2005. 81 f. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2005.

RESUMO

Como “novo uso do rural” basileiro, as chácaras para lazer surgem cada vez mais como opção para residência, segunda residência e/ou lazer entre as pessoas que buscam esse tipo de ambiente. Nesse sentido, buscamos nesse viés entender como se dá o processo de extensão dos limites urbano sobre o rural, utilizando como objeto de estudo o loteamento de chácaras Recanto Santa Andréa, localizado na cidade de Cambé – Pr. Nossa análise permeou as questões relacionadas a viabilidade em manter em funcionamento essas propriedades direcionadas ao lazer, além de buscar compreender as mudanças ocorridas no espaço onde hoje encontra-se o loteamento. Nosso estudo de caso teve com sujeitos de pesquisa os proprietários de chácaras do Recanto Santa Andréa e os caseiros que prestam serviço nas mesmas. Ressaltamos que nossos objetivos foram obtidos, pois realizamos uma análise sobre a organização sócio-espacial da área em questão e levantamos aspectos como os sócio-econômicos dos sujeitos de pesquisa, bem como a descoberta de peculiaridades que organizam a história de cada entrevistado. Para completar a análise, finalizamos este trabalho com a certeza de termos conhecido e desvendado as singularidades desse empreendimento denominado Recanto Santa Andréa. Dessa forma, enriquecemos nosso conhecimento e ao mesmo tempo disponibilizamos o resultado dessa investigação a quem possa se interessar pela temática trabalhada. Palavras-Chave: chácaras, lazer, caseiros, espaço, modificações, viabilidade econômica.

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BERNARDES, Jamile Ruthes. Mansions for leisure: an expression of the "new agricultural Brazilian?". 2005. 81 f. Work of course conclusion (Bacharelado in Geography) - State University of Londrina, Londrina, 2005.

ABSTRACT As "new use of agricultural" the brasileiro, the mansions for leisure appear each time more as option for residence, second residence and/or leisure between the people who search this type of environment. In this direction, we search in this bias to understand as if it gives the process of extension of the limits urban on the agricultural one, using as study object the land division of mansions Hidding place Andréa Saint, located in the city of Cambé - Pr. Our analysis permeou the related questions the viability in keeping in functioning these properties directed to the leisure, besides searching to understand the occured changes in the space where today the land division meets. Our study of case it had with research citizens the proprietors of mansions of the Hidding place Andréa Saint and the caretakers who give service in the same ones. We stand out that our objectives had been gotten, therefore we carry through an analysis on the partner-space organization of the area in question and raise aspects as the partner-economic ones of the research citizens, as well as the discovery of peculiarities that organize the history of each interviewed. To complete the analysis, we finish this work with the certainty of terms known and unmasked the singularidades of this called enterprise Hidding place Andréa Saint. Of this form, we enrich our knowledge and at the same time we disponibilizamos the result of this inquiry to who can be interested for the thematic one worked. Words-Key: mansions, leisure, caretakers, space, modifications, economic viability.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 01 – População rural da Região Sul 1981...................................................32 FIGURA 02 – População rural da Região Sul 1992.....................…………................33 FIGURA 03 – População rural da Região Sul 1997................………….....................33

FIGURA 04 – População paranaense urbana/rural 1950 a 2000...............................40 FIGURA 05 – Município de Cambé e suas divisas municipais...................................43 FIGURA 06 – Localização do Recanto Santa Andréa no município de Cambé.........47 FIGURA 07 – Estrutura do Loteamento Recanto Santa Andréa................................54 FIGURA 08 – Usos atribuídos às chácaras................................................................60 FIGURA 09 – Rua Defendente Mazzei no Recanto Santa Andréa............................62 FIGURA 10 – Condições das vias públicas Recanto Santa Andréa...........................63 FIGURA 11 – Lote vazio Recanto Santa Andréa........................................................64 FIGURA 12 – Rede de alta tensão Recanto Santa Andréa........................................65 FIGURA 13 – Chácara pouco estruturada Recanto Santa Andréa............................66

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FIGURA 14 – Chácara de alto padrão Recanto Santa Andréa..................................67

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LISTA DE TABELAS

TABELA 01 – Distribuição da população segundo a situação do domicílio no município de Cambé de 1970 –2000..............................................................................44 TABELA 02 – Perfil sócio-econômico dos proprietários de chácaras........................57 TABELA 03 – Perfil sócio-econômico dos caseiros...................................................70

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................13

CAPÍTULO I ..............................................................................................17

ESPAÇO RURAL BRASILEIRO: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E SUAS

IMPLICAÇÕES...........................................................................................17

1.1 Delimitando os espaços: urbano e rural................................................19 1.2 O processo de periferização urbana: face mercantil do capital

imobiliário........................................................................................................25

CAPÍTULO II .............................................................................................29 CHÁCARAS PARA LAZER: UM COMPONENTE DO “NOVO RURAL BRASILEIRO”.............................................................................................29 2.1 Preservação ambiental: sustentabilidade e bem-estar.............................36

CAPÍTULO III ............................................................................................39 MESORREGIÃO NORTE-CENTRAL PARANAENSE: ASPECTOS SÓCIO-ESPACIAIS................................................................................................39

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3.1 Aspectos gerais do Município de Cambé.................................................42 3.2 Recanto Santa Andréa: um estudo de caso.............................................45 3.2.1 Histórico do loteamento de chácaras Recanto Santa Andréa....................47

3.2.2 Organização sócio-espacial do loteamento Recanto Santa Andréa...........52

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................75

REFERÊNCIAS..........................................................................................77 ANEXOS.....................................................................................................80

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INTRODUÇÃO

Há algum tempo, antes da década de 50/60 do século XX, num período

anterior à explosão das tecnologias que tomaram conta de nossas vidas, o ambiente

rural mostrava-se organizado de tal forma que as atividades agropecuárias eram seu

sustentáculo. Longos trechos de terra eram destinados à plantação de produtos

agrícolas e ao desenvolvimento da pecuária leiteira ou de corte, ou seja, os

estabelecimentos agrícolas brasileiros obtinham seus rendimentos econômicos

vinculados diretamente à produção agropecuária.

Essa realidade manteve-se durante muito tempo, pois, além da falta de

opção, por não existirem novos segmentos a serem implantados no campo e em

função da falta de acesso à tecnologia por parte da grande maioria dos agricultores,

esses não conseguiam partir para novas áreas de investimentos.

Podemos dizer, em linhas gerais, que a partir de 1970, o Brasil passou

por um grande processo de modernização do campo, gradativamente possibilitando

aos agricultores que dispunham de capital para investimento, a fazer, do seu negócio,

um empreendimento promissor, pois, com o auxílio de máquinas modernas, as

colheitas tornaram-se mais rápidas e com menos perdas, o que resultou num maior

lucro ao final do processo. Tal fato proporcionou mudanças profundas na base técnica

produtiva agrícola, as quais desencadearam transformações na organização sócio-

espacial no rural nacional, principalmente, na estrutura do mercado de trabalho rural.

Isso ocorreu, devido à presença da tecnologia no meio rural ter levado à substituição

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da mão-de-obra de milhares de trabalhadores agrícolas pela máquina. Essa situação

foi marcada pelo intenso movimento migratório em direção ao espaço urbano, o qual se

constitui na principal seqüela do processo de modernização da agricultura brasileira.

Esse processo desenvolveu-se de forma seletiva, no sentido em que abarcou

determinados grupos de produtores e de produtos, isto é, foram os médios e grandes

proprietários latifundiários que conseguiram se apropriar dos subsídios governamentais

para colocar em prática a modernização da produção direcionada para os produtos

destinados à exportação, particularmente, a cultura do soja.

Nosso propósito, ao relembrar, de forma superficial, esse processo de

modernização do rural brasileiro, tem o intuito de apreender as transformações

ocorridas nesse meio para que compreendamos as mudanças presentes na atualidade

no espaço rural. Salientamos que muitas pessoas utilizam-se dos novos usos do solo

nas áreas rurais, mas não percebem o processo de transformação que o alterou, o qual

recriou e criou um espaço visando uma finalidade diferenciada da produção

agropecuária, ou seja, as pessoas que usufruem dessa reorganização espacial não

possuem consciência da sua forma anterior. Essa reorganização sócio-espacial diz

respeito ao que está sendo designado de “Novo Rural Brasileiro” e que se constitui em

atividades como: ecoturismo, chácaras para lazer, loteamentos residenciais,

restaurantes ecológicos, entre muitas outras atividades. Estas atividades imprimem um

novo sentido ao espaço rural, pois, há algum tempo, o mesmo apresentava um

desenvolvimento que não se vinculava a estes fins.

Podemos dizer que, atualmente, o rural tornou-se flexível, abrigando

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tanto atividades não agrícolas, bem como dedicando-se às atividades agropecuárias.

No momento em que as atividades não agrícolas são desencadeadas no espaço rural,

ocorre um interesse por elas, não somente por parte de participantes de atividade de

lazer, mas também de agentes que farão, desse espaço, um instrumento de utilidade

pública. Esse termo é empregado não no sentido de que a propriedade será do Estado,

mas quer dizer, que, onde o Governo vê possibilidades de obter lucro, investe, nem

sempre em infra-estrutura, como gostaríamos, mas em mudanças de legislação para

beneficiar-se por meio da cobrança de impostos, como IPTU, por exemplo. Esse ponto

será abordado em nosso estudo, no intuito de mostrarmos as várias interfaces do “novo

rural brasileiro”.

A presente investigação tem como foco central de estudo as chácaras

para lazer, na tentativa de encontrar possíveis soluções aos problemas ambientais,

visando analisar suas vantagens como: unidade de lazer; possibilidade de oferta de

emprego à população local e unidade de pequena produção voltada a produtos da

fruticultura e horticultura. Esse último ponto pode se constituir em um mecanismo no

processo de preservação ambiental. Destacamos que o objeto central do estudo, as

chácaras de lazer, focalizará uma área denominada Recanto Santa Andréa, loteamento

de chácaras localizado na cidade de Cambé – PR. Este loteamento é composto por 95

chácaras, as quais são voltadas para fins de segunda moradia e lazer. Essa área,

antes localizada no espaço rural, pois é fruto de uma única propriedade agrícola,

adquiriu uma nova classificação, segundo a legislação do município de Cambé,

passando a ser considerada urbana, a partir da implantação do loteamento, fato

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ocorrido no ano de 1980. Uma análise qualitativa sobre o Recanto Santa Andréa pode

dizer como ocorreu esse processo de urbanização do campo e ainda verificar as

relações entre moradores, trabalhadores locais, usos das chácaras entre outras

abordagens. Como instrumento de coleta de dados utilizamos entrevistas semi-

estruturadas, pois, estas possibilitam registrar observações sobre a aparência, o

comportamento e as atitudes do entrevistado, favorecendo uma complementação dos

dados, junto às características do mesmo. Ressaltamos ainda, que realizamos um

levantamento bibliográfico, o qual nos proporcionou embasamento teórico para

prosseguirmos e efetivarmos nosso trabalho de investigação.

Dessa forma, nossa proposta, como geógrafo, é analisar as mudanças

ocorridas no espaço, tanto no âmbito físico como no social e suas conseqüências, isto

é, apreender as transformações sócio-espaciais colocadas em ação com a implantação

do loteamento Recanto Santa Andréa no espaço rural de Cambé.

Este trabalho foi estruturado em três capítulos. No primeiro referimo-nos

ao espaço rural brasileiro, mais precisamente, tratando da delimitação dos espaços

urbano e rural, do uso e ocupação do solo e do processo de periferização urbana,

quanto à face mercantil do capital imobiliário. No segundo capítulo, iniciamos a

discussão sobre as chácaras para lazer como novo uso do rural brasileiro, focalizando

a preservação ambiental e o bem-estar. No terceiro e último capítulo, dispomos os

aspectos gerais do município de Cambé, bem como o de nossa área de pesquisa, o

Recanto Santa Andréa. Neste capítulo, encontram-se ainda os procedimentos

metodológicos que nortearam nossa pesquisa, bem como a pesquisa em si, a

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discussão dos dados e a análise da organização sócio-espacial do Recanto Santa

Andréa. A finalização do trabalho dá-se nas considerações finais sobre a totalidade da

pesquisa.

CAPÍTULO I

ESPAÇO RURAL BRASILEIRO: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E SUAS

IMPLICAÇÕES.

As questões relacionadas a terra no Brasil ainda hoje são foco de

discussões e desentendimentos. Há algum tempo, ouvimos falar em reforma agrária,

modernização do espaço rural, êxodo dos trabalhadores do campo para as cidades,

falta de estrutura no campo e percebemos que nada foi realmente resolvido, ou seja,

na falta de soluções por parte do Governo, alguns agricultores buscam novas formas

de superar as dificuldades. Muitos lugares já apresentam uma estrutura mais bem

organizada, como é caso das cooperativas, onde, num trabalho integrado, os

cooperados buscam uma melhor produção, num sistema de agricultura familiar

bastante promissor, desenvolvendo assim variadas produções como: apicultura,

floricultura, horticultura, sericicultura, entre outras, como forma de atividade principal ou

complemento de renda na tentativa de garantir a compra de sua produção pelas

cooperativas por um preço negociável. Em contrapartida, sabemos que, em muitos

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lugares, o espaço rural continua sendo motivo de conflitos, como é o caso das lutas

dos sem-terra pela reforma agrária, ou mesmo dos que já possuem sua terra, mas que

passam por dificuldades, como falta de incentivos para desenvolver suas lavouras,

problemas com acidez no solo, a falta de irrigação, entre outras.

É pertinente ter essa visão de conjunto do espaço rural brasileiro, para

que se possa analisar como a modernização, no sentido de tecnologia implantada no

campo e de desenvolvimento de novas atividades estão fazendo deste espaço rural o

que se denomina, segundo GRAZIANO (2000 p. 3) “Novo Rural Brasileiro”.

A procura por atividades ligadas ao turismo, às questões ecológicas,

segunda residência e ao lazer, multiplicam espaços destinados às chamadas chácaras

de lazer, desencadeando uma crescente valorização da terra. Tal fato vincula-se a

busca de alívio do estresse das atividades diárias pela população que reside nas

cidades, que tem procurado lugares disponíveis para lazer e com isso, auxiliam no

processo de mudança do antigo rural, que era caracterizado por desenvolver atividades

eminentemente agrícolas passando então a esse “novo rural”, ou seja, um espaço para

novas finalidades e funções.

Existem, ainda, outras modalidades que estão fazendo do espaço rural

instrumento passível de grande valorização como é o caso da procura, por indústrias,

de terrenos localizados próximos de suas fontes de matéria-prima no intuito de diminuir

seus custos e ainda fugir dos congestionamentos e da poluição das cidades. Citamos

esse fato somente para deixar claro que outras atividades também estão modificando o

rural brasileiro, mas o tema central deste estudo serão as chácaras de lazer.

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Podemos nos perguntar se essas mudanças que estão ocorrendo no

campo restringem-se à escala espacial, ou seja, às modificações no território, ou se

estão refletindo em outras atividades, como por exemplo, no próprio trabalho das

pessoas que estão residindo no espaço rural atualmente. Afirmamos que as mudanças

ocorrem em sentido bilateral. Vejamos desta forma: o avanço nos meios de transporte

permite que as pessoas desloquem-se com mais facilidade dos centros para a periferia

urbana, que, em alguns casos constitui-se na transição para o rural, sendo o sentido

inverso, também verdadeiro. Dessa forma, muitos trabalhadores que antes dedicavam-

se somente às atividades agrícolas, passaram a procurar, nas cidades, uma fonte de

renda para complementar seu orçamento. Geralmente, esses empregos são buscados

por membros da família rural, que passam a constituir um grupo denominado de

trabalhadores não-agrícolas que residem em propriedade rural e assim, proporcionam

uma renda não-agrícola para a manutenção do grupo familiar na unidade de produção

agrícola, ou, em determinados casos, na propriedade rural, no sentido de que a

principal renda não advém das atividades agropecuárias. Ocorre, ainda, a presença de

trabalhadores sem-terra que trabalham, tanto na agricultura, como nas atividades

oferecidas no espaço urbano, obtendo renda dupla e favorecendo seu orçamento. Essa

renda dupla, tanto de trabalhos não-agrícolas como agrícolas viabilizam a

sobrevivência desses trabalhadores pluriativos.

Nos próximos sub-capítulos, discutiremos as questões ligadas à

delimitação do espaço urbano/rural, ao processo de periferização induzida do campo e

à face mercantil do capital imobiliário.

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1.1 DELIMITANDO OS ESPAÇOS: URBANO E RURAL

Freqüentemente, referimo-nos à área urbana e à área rural sem saber

qual é o critério utilizado para classificar determinada área como urbana ou como rural.

Em muitos países, o critério utilizado para determinar se uma área é

urbana ou rural diz respeito ao número de pessoas que residem no lugar analisado.

Conforme diz Wanderley (1994, apud SILVA e GROSSI, 2000 p. 9) nos EUA, por

exemplo, “população rural é a que não reside em aglomerado com mais de 10 mil

habitantes ou nos limites externos de uma cidade de mais de 50 mil habitantes, com

densidade populacional inferior a 100 habitantes por milha quadrada”.

Outro critério utilizado para delimitar áreas como urbana ou rural é o do

peso econômico na ocupação de mão-de-obra da agricultura, como diz Abramovay

(2000, p. 4) que em Israel, são urbanas as localidades onde 2/3 dos chefes de família

exercem ocupações não-agrícolas. No Chile, além do patamar populacional (1.500

habitantes), a localidade rural deve ter menos de 50% de seus habitantes ocupados em

atividades secundárias.

Para realizar a delimitação em urbano/rural, é possível ainda fazê-la

segundo a PEA (População Economicamente Ativa) por setor de atividade. Para

Fredrich; Brito e Rocha (1983, apud SILVA e GROSSI, 2000 p. 9), “aglomerados onde

mais de 2/3 dos chefes de família tenham ocupações não-agrícolas são classificados

como urbanos.”

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Salientamos que os critérios, antes fundamentais para caracterização

do espaço urbano como acesso à energia elétrica, água encanada e infra-estrutura

como asfalto, escolas, entre outros, não podem mais ser utilizados para esse fim, visto

que o espaço rural, algumas vezes, tem recebido essas benfeitorias.

Diante disso, o IBGE1 criou sua categoria de delimitação, segundo a

localização geográfica definida pela legislação municipal vigente na data da coleta, ou

seja, são as leis dos municípios que demarcam o que é urbano e o que é rural. Nesse

sentido, o IBGE (1998, apud SILVA e GROSSI, 2000, p. 10) salienta:

Na situação urbana, consideram-se as pessoas e os domicílios recenseados nas áreas urbanizadas ou não, correspondentes às cidades (sedes municipais), às vilas (sedes distritais) ou às áreas rurais isoladas. A situação rural abrange a população e os domicílios recenseados em toda a área situada fora desses limites, inclusive os aglomerados rurais de extensão urbana, os povoados e os núcleos.

Com base na definição do IBGE, é possível analisar, a partir dos

Censos Demográficos, a situação de domicílio das pessoas. Um problema que pode

ser discutido refere-se à falta de dados nos períodos intercensitários, ou seja, entre um

censo e outro (período aproximado de 10 anos), pois os dados permanecem

inalterados, mas sabemos que as mudanças nos meios rural e urbano são uma

constante. Diante dessa situação, foram criadas as PNADs2, que são responsáveis por

coletar um grande número de informações sobre a realidade sócio-econômica brasileira

anualmente.

1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo agropecuário 1995-1996. Rio de Janeiro: IBGE, 1998. 2 Pesquisas Nacionais de Amostra por Domicílio.

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Para que as informações coletadas pelas PNADs apreendessem as

alterações que viessem a ocorrer nos meios rural e urbano, o IBGE (1991, apud

GRAZIANO e GROSSI, 2000, p. 10) criou alguns desmembramentos nas delimitações

nessas áreas conforme exporemos a seguir:

• Áreas Urbanas: áreas efetivamente urbanizadas dentro dos limites

do perímetro urbano dos municípios;

• Áreas Urbanas Não Urbanizadas: áreas localizadas dentro do

perímetro urbano que não apresentam efetiva urbanização e

ocupadas com atividades agropecuárias ociosas;

• Áreas Urbanas Isoladas: casos de vilas e distritos, consideradas

legalmente como áreas urbanas, mas não contíguas ao núcleo do

município;

• Áreas Rurais – Extensão Urbanas: áreas urbanizadas adjacentes ao

perímetro urbano dos municípios (com distância inferior à 1Km),

resultado do crescimento horizontal das cidades, e que ainda não

foram incorporadas legalmente ao perímetro urbano do município;

• Áreas Rurais – Povoados: aglomerações no espaço rural que se

caracterizam por não estarem vinculadas a um único proprietário

possuírem um conjunto de edificações permanentes e adjacentes,

formando área continuamente construída, com arruamentos

reconhecíveis, ou dispostos ao longo de uma via de comunicação, e

com serviços para atender aos seus moradores;

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• Áreas Rurais – Núcleo: é o aglomerado rural isolado (com mais de

10 e menos de 51 domicílios), cujo solo pertence a um único

proprietário (empresa agrícola, indústria, usina etc.) e que dispõe ou

não de serviços ou equipamentos definidores dos povoados. É

considerado, pois, como característica definidora deste tipo de

aglomerado o seu caráter privado empresarial;

• Áreas Rurais – Outros: são os aglomerados que não dispõem dos

serviços definidores de povoado e não estão vinculadas a um único

proprietário;

• Áreas Rurais – Exclusive: áreas que não atendem a nenhum critério

de aglomeração, existência de serviços ou densidade populacional,

caracterizando-se assim como áreas rurais propriamente ditas.

Segundo o IBGE (1995, apud GRAZIANO e GROSSI, 2000, p. 11)

esses desmembramentos podem solucionar os problemas que as PNADs estavam

encontrando e assim fornecer dados mais completos e confiáveis para análises, tanto

no meio rural como no urbano.

Como salientamos, anteriormente, são as administrações municipais

que diante de suas legislações alteram os limites do que consideram área urbana e a

área rural. Muitas vezes, estamos andando pela cidade e, após sair um pouco do

centro em direção à periferia, notamos a paisagem mudar. Podemos observar que, no

centro das cidades, a infra-estrutura geral é mais presente, se compararmos com as

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periferias, salvo exceções, fato explicado em parte, por ali haver maior concentração de

capital, comércio, pessoas, além de ser a sede da administração municipal. Quanto à

paisagem rural, podemos dizer que a mesma também muda muito de acordo com o

local e a atividade ali desenvolvida. Isto quer dizer que, se observarmos uma área rural

que fica bem próxima da cidade, é possível que nela haja maior presença de comércio,

talvez asfalto e dependendo da atividade, se for uma área destinada ao lazer,

provavelmente contará com uma boa infra-estrutura como telefones públicos, asfalto,

como já dissemos, restaurantes, pousadas, hotéis, chalés para acomodar turistas,

entre outros. Quando observamos uma área rural onde o uso do solo é destinado à

agricultura, vemos que há ausência da infra-estrutura que citamos acima. Talvez, isto

se deva ao fato da administração municipal não vir como rentável a aplicação de

investimentos em áreas rurais com atividades eminentemente agrícolas visto que para

o município essas áreas não dariam retorno como uma área de lazer por exemplo.

Consideramos necessário fazer essa exploração para elucidar porque,

algumas vezes, áreas que visualmente, parecem ser classificadas como rurais, são, na

verdade, urbanas.

A delimitação rural e urbano envolve diretamente as prefeituras, as

quais necessitam de renda para garantir que o orçamento mensal ou mesmo anual

consiga manter seus compromissos com a população no caso do atendimento à

saúde, educação, moradia, luz, asfalto, entre outros. Essa receita provém,

principalmente, do IPTU3 que é cobrado dos donos dos imóveis em área urbana e

3 Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana.

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remetidos à prefeitura, enquanto que o ITR4 é um imposto Federal. Portanto, é possível

entender porque, muitas vezes, a prefeitura estende a faixa que compreende a área

urbana para muitas áreas que deveriam constar como rurais, pois, visam, o aumento

do recolhimento das taxas do IPTU para, assim, gerar mais receita. Se essa

transformação, automaticamente, garantisse à população desses locais a implantação

de toda a infra-estrutura dos centros urbanos, tal classificação valeria a pena, mas não

é isto que, de um modo geral, ocorre. Portanto, observamos que a discussão sobre a

questão dos critérios sobre as delimitações deverá ficar mais clara para a população

municipal para que seja possível a esta reivindicar seus direitos em prol de seu bem-

estar social.

1.2 O PROCESSO DE PERIFERIZAÇÃO URBANA: FACE MERCANTIL

DO CAPITAL IMOBILIÁRIO

A reflexão que Miranda (2000) desenvolve em sua pesquisa, inserida no

Projeto Rurbano, tem, por finalidade analisar os dados das novas PNADs para assim

explorar as relevâncias e as possibilidades do corte rural/urbano proposto pelo IBGE.

Podemos observar que nos últimos anos as faixas de terra onde se localizavam as

áreas urbanas aumentaram muito, abrangendo parte da área rural, conforme já

observamos. Tal fato aconteceu em função das prefeituras permitirem que conjuntos

habitacionais, indústrias e outros tipos de loteamento fossem instalados em áreas

rurais por meio da alteração da legislação de uso e ocupação do solo, como

4 Imposto Territorial Rural.

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apontamos nos casos do IPTU. Esse processo foi denominado, segundo Miranda

(2000, p. 1) de “periferização induzida”.

O capital imobiliário, seduzido pelas possibilidades rentáveis, agiu muito

no sentido de se aproveitar das alterações dos limites das áreas rurais, em prol das

urbanas, com o intuito de garantir, por meio de loteamentos, a promessa de lucro no

futuro, mediante a valorização dos imóveis. Essa situação pode ser confirmada ao se

fazer uma breve análise sobre os condomínios horizontais residenciais e os destinados

às chácaras para lazer e mesmo sobre os imóveis que venham a fazer parte desta

categoria que está em alta e é muito procurada por pessoas de classe média, média

alta e alta, com o objetivo de promover o lazer, a moradia, o descanso e a segurança,

tudo pautado no conforto, alicerçado particularmente no deslocamento reduzido, pois,

geralmente, encontram-se próximos dos centros urbanos. Miranda (2000, p.3, grifo da

autora) resume muito bem este assunto:

As alterações recentes nos padrões de urbanização do campo, não significam que este processo de pressão sobre as áreas rurais tenha se esgotado. Na verdade, a área rural próxima aos grandes centros urbanos, continua a ser ocupada por usos rurais não agrícolas, ou mesmo por usos urbanos, como condomínios de luxo e chácaras de lazer, muitas delas em situação legalmente irregular, em áreas mais valorizadas, ou por loteamentos clandestinos, invasões e/ou ocupações pela população de baixa renda em áreas mais desvalorizadas.

A denominação “face mercantil do capital imobiliário”, segundo Lessa

(1981, apud MIRANDA, 2000, p. 9) trata-se de uma transmutação do espaço, no qual o

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capital especulativo imobiliário obtém lucros a partir de privilégios públicos,

transformando estas áreas através de atrativos e benfeitorias e, posteriormente,

vendendo-as.

Essa transferência de unidades habitacionais, chácaras para lazer ou

mesmo de residências para as áreas rurais, desencadeiam outros problemas, visto que

a extensão dos serviços públicos, principalmente, os de infra-estrutura devem ser

aumentados acarretando maiores gastos para as prefeituras que, certamente, deixarão

de atender algumas áreas em prol de outras. Outro ponto a ser analisado, refere-se

aos vazios urbanos, que são áreas dentro da delimitação urbana que não estão sendo

utilizadas para nenhum fim, a não ser, em alguns casos, pela especulação imobiliária

na espera de valorização. Essas áreas poderiam ser ocupadas e assim ocorreria o

aproveitamento da infra-estrutura já instalada no local. Mas a resolução deste problema

não parece ser tão simples assim. Normalmente, os preços dos terrenos em áreas

urbanas, principalmente nas centrais, são mais elevados, o que dificulta a aquisição

destes por um público de baixa renda. Dessa forma, nota-se que as ocupações de

áreas rurais, pela população desprovida de uma renda elevada, é diferente da que

possui recursos e este parece ser um movimento que tende a continuar. Caberá às

prefeituras e ao próprio Estado oferecer melhores condições de emprego, moradia

entre outras coisas, para a população de baixo poder aquisitivo, para que esta consiga

manter-se nas cidades sem acarretar maiores problemas para o município. É evidente

que a questão da “periferização urbana” torna-se um problema público, principalmente

no momento que esse processo é colocado em marcha por uma população sem

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recursos, no sentido de que a reorganização espacial rural será marcada por impactos

ambientais e sócio-econômicos negativos tais como: falta de saneamento básico,

degradação do meio ambiente e, principalmente, problemas de ordem social, pois, as

pequenas propriedades rurais, que se encontram próximas do avanço da

“urbanização”, sofrerão no sentido de perderem a segurança de sua produção e de sua

família.

Nesse sentido, observamos que a “periferização urbana” apresenta, na

sua essência, a “segregação sócio-espacial”, pois são perceptíveis as diferenciações

que existem no interior das grandes cidades. Um simples olhar sobre a paisagem

urbana, acompanhando seu traçado de uma extremidade a outra, é capaz de revelar

significativas diferenças em sua estrutura. Para Sogame (2001, p. 97) “essas cidades

comportam uma grande diversidade de usos (público/privado, trabalho/moradia,

deslocamento/descanso etc.) e funções (residencial, comercial, industrial, cultural,

política, administrativa).” Essa variedade de usos e funções desencadeia no território

uma espacialidade diferencial, com especialização e concentração de atividades em

determinados lugares da cidade.

Dessa forma, algumas áreas da cidade são caracterizadas,

especificamente, para moradia, enquanto que outras, unem comércio e moradia, lazer

e comércio, indústrias, entre outras combinações. No nosso caso, o interesse é

ressaltar a segregação sócio-espacial a favor do capital imobiliário. Como nosso estudo

refere-se às chácaras para lazer, é necessário compreender que alguns locais

destinados ao lazer, como loteamentos de chácaras normalmente localizam-se nas

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periferias das cidades por constituírem grandes lotes de terra. Há, neste ponto um uso

do solo comum entre alto e baixo poder aquisitivo, pois, é normal encontrarmos

ocupações por favelas dessa mesma periferia, bem como da população de alto poder

aquisitivo que refugia-se nos luxuosos condomínios residenciais ou em chácaras para

lazer. É visível que a segregação espacial ocorre, principalmente, com a população

mais carente, pois, como já dissemos, essa não dispõe de capital para investir em

moradia no centro da cidade sendo “colocada” nas periferias onde o poder local, via de

regra, considera ser seu lugar.

CAPÍTULO II

CHÁCARAS PARA LAZER: UM COMPONENTE DO “NOVO RURAL

BRASILEIRO”

O termo o “Novo Rural Brasileiro” traduz um processo que está

acontecendo na atualidade no espaço rural. O espaço rural mudou, é novo, no sentido

de que novas ocupações estão acontecendo neste meio e é a partir delas que daremos

ênfase nas chácaras para lazer.

As chácaras para lazer são pequenas e médias unidades de terra entre

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2.500 m² a 2 hectares (20.000 m²), não podendo ultrapassar, portanto, o módulo rural5

instituído pela cidade de Cambé, e são utilizadas para fins de lazer. Normalmente, os

proprietários dessas chácaras são pessoas que moram nas cidades, pois, acreditam

que, naquele espaço, terão um recanto para aliviar o estresse diário, aumentando

assim sua qualidade de vida e a de sua família. Essas chácaras localizam-se nas

periferias das cidades, podendo estar em área urbana ou rural.

As atividades desenvolvidas nessas chácaras são as mais diversas,

partindo desde horticultura, piscicultura, pequenas criações, até uso exclusivo como

segunda moradia de seus donos ou ainda como locação do espaço para usos festivos.

As atividades que são desenvolvidas nas chácaras, dependem muito da área onde as

mesmas estão localizadas, porque muitas delas, que pertencem à periferia da zona

urbana, não podem, pela legislação municipal de Cambe, manter ali, por exemplo, uma

granja, fato que afetaria enormemente os vizinhos devido ao mau cheiro, entre outros

incômodos. Contudo, sabemos que muitas pessoas infringem a lei criando esses

transtornos em meio a tantos outros que estão presentes no dia-a-dia dos moradores.

Quando as propriedades estão localizadas em áreas rurais, a situação

mostra-se diferente. No espaço rural, as atividades a serem desenvolvidas têm uma

amplitude maior, visto que a área é apropriada para tal. Dependendo do tamanho das

chácaras, os proprietários constroem pesque-pagues ou mantêm pequenas culturas

como flores, hortas, criam coelhos, aves, entre outras atividades, as quais se voltam

para “nichos de mercado”, principalmente de produtos que não demandam grandes

extensões de terra e ao mesmo tempo, são valorizados. Há aqueles que fazem de seu

5 Um módulo rural equivale a 12 hectares segundo o INCRA da prefeitura municipal de Cambé.

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espaço de lazer, um negócio, construindo alguns chalés e os locando para usos em

finais de semana. Dessa forma, o proprietário consegue retirar, de sua propriedade,

dinheiro para mantê-la, ou ainda, auferir lucro.

Silva; Vilarinho e Dale (2000, p. 43) analisam este assunto do seguinte

modo:

O impacto da proliferação das chácaras de fim de semana tem sido notável sobre a paisagem rural. Primeiro, contribuem para manter as áreas de preservação/conservação do que restou da flora local e, muitas vezes, dão início a um processo de reflorestamento, mesclando espécies exóticas e nativas. Segundo, expulsam as “grandes culturas”, que, em geral, utilizam-se de grandes quantidades de insumos químicos e de máquinas pesadas nas periferias das cidades. Terceiro, dão novo uso as terras antes ocupadas com pequena agricultura familiar, até mesmo assalariando antigos posseiros e moradores do local como “caseiros”, jardineiros e outras práticas de preservação e principalmente guarda do patrimônio aí imobilizado na ausência dos proprietários.

De acordo com estudiosos da questão agrária, há um fator muito

importante embutido nesse novo uso do rural. As chácaras, a partir do momento em

que passam a existir, necessitam de mão-de-obra para que elas se mantenham bem

estruturadas. Os caseiros podem ser considerados trabalhadores importantes neste

meio, pois, quase sempre, necessita-se de ajuda para manter a limpeza e a segurança

do lugar. Assim, essas pessoas são convidadas a morar nas propriedades mediante

diversos acordos firmados com seus patrões como, por exemplo, ganharem uma cesta

básica, um salário mínimo e a moradia, em troca dos seus serviços. Esses caseiros,

algumas vezes, podem até plantar em alguma parte das chácaras e extrair de lá

complemento para sua alimentação. Existe ainda, a possibilidade de esses caseiros

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poderem manter suas esposas ou filhos durante um período nos afazeres da chácara,

enquanto ele se dedica a outra atividade, que pode ser um emprego na cidade. Essas

relações constituem-se uma abertura de obtenção de renda não agrícola no espaço

rural.

É provável que, ao redor das chácaras, existam alguns sítios ou

fazendas, dos quais podem ser oriundos trabalhadores para atuarem nessas chácaras.

Dessa forma, podemos considerar a possibilidade da população local obter uma

atividade não agrícola no espaço rural. Assim, as chácaras de lazer, além de

oferecerem bem-estar para seus usuários, tornam-se fonte de renda ou moradia para

pessoas que precisam, cristalizando um processo de mão-dupla no qual os dois lados

ganham.

As figuras abaixo darão uma melhor visualização sobre as atividades

agrícolas e não-agrícolas que estão sendo desenvolvidas pela população das áreas

rurais da Região Sul do Brasil. Salientamos que os dados foram retirados de estudos

realizados por Graziano (2000, p. 3) no projeto RURBANO, o qual analisa as

transformações e os novos usos que estão sendo feitos do meio rural ou do meio

urbano, como extensão sobre o rural.

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3.000.000; 83%

600.000; 17%

agrícola não-agrícola

FIGURA 1 – População rural (em milhões de pessoas) segundo atividade agrícola e não-agrícola da Região Sul em 1981.

Fonte: GRAZIANO, J.S. (2000) A Evolução das rendas e atividades rurais não-agrícolas no Brasil. Projeto RURBANO. Organização: BERNARDES, J.R. 2005.

2.600.000; 81%

600.000; 19%

agrícola não-agrícola

FIGURA 2 – População rural (em milhões de pessoas) segundo atividade agrícola e não-

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agrícola da Região Sul em 1992.

Fonte: GRAZIANO, J.S (2000). A Evolução das rendas e atividades rurais não-agrícolas no Brasil. Projeto RURBANO. Organização: BERNARDES, J.R. 2005.

2.100.000; 72%

800.000; 28%

agrícola não-agrícola

FIGURA 3 – População rural (em milhões de pessoas) segundo atividade agrícola e não-agrícola da Região Sul em 1997.

Fonte: GRAZIANO, J.S.(2000) A Evolução das rendas e atividades rurais não-agrícolas no Brasil. Projeto RURBANO. Organização: BERNARDES, J.R. 2005.

Podemos observar que, em 1981 (figura 1), a população

economicamente ativa, com residência no espaço rural voltava principalmente a sua

ocupação para atividades agrícolas, abrangendo grande parte dessa população,

contudo, em 1992 (figura 2), ocorreu uma redução na oferta de ocupação agrícola com

a eliminação de 400.000 postos de trabalho junto com o avanço tecnológico na base

produtiva rural. Essa mudança acentuou-se em 1997 (figura 3) passando de 2.600.000

postos de trabalho agrícola para 2.100.000. Entretanto, percebemos um aumento

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significativo das ocupações não-agrícolas: de 600.000 postos de trabalho, em 1992,

para 800.000, em 1997.

Analisando os gráficos, podemos visualizar que com o passar dos

anos, houve um aumento do exercício das atividades não-agrícolas, em detrimento das

agrícolas, pela população rural residente na região sul do Brasil. Isso vem confirmar o

que já dissemos quanto à procura de empregos não-agrícolas, tanto na cidade, como

em propriedades rurais não relacionados à agricultura. Os trabalhadores que se

enquadram nessa realidade são chamados de pluriativos, pois, ao mesmo tempo em

que desenvolvem atividades agrícolas, beneficiam-se de oportunidades de emprego

não-agrícola para complemento da renda mensal familiar, os quais podem ser obtidos

tanto no espaço rural como no urbano. Tal transformação no perfil do mercado de

trabalho rural na Região Sul ganhou força com um estudo realizado sobre essa

temática, no estado do Paraná, no qual o autor esclarece que:

Pode-se afirmar que a evolução da PEA rural envolvida em atividades não-agrícolas no espaço rural paranaense foi mais importante que a PEA evoluída em atividades agrícolas. Esta mudança de ramos de atividades, de um lado indica que já não é mais tão simples a separação das atividades urbanas das rurais, posto que o espaço rural não pode ser pensado unicamente como o local de produção agrícola e de oferta de mão-de-obra. (SOUZA, 2000, p.8)

A carência de empregos e de moradia na cidade faz com que, muitas

vezes, pessoas dirijam-se do centro urbano para a zona rural empregando-se,

possivelmente, em chácaras de lazer, pousadas, hotéis, restaurantes, locais que

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necessitam de mão-de-obra para conservação de jardins, piscinas, limpeza domiciliar,

entre outras atividades. Esse redimensionamento das ocupações é verificado em nível

nacional, pois:

No plano nacional, o avanço das atividades não-agrícolas no meio rural vem removendo o prévio predomínio exercido pelas atividades agrícolas quanto à geração de empregos, pois no binômio 1996-1997 o total de pessoas com empregos não-agrícolas perfez, aproximadamente, 51% do total da categoria dos empregados com domicílio rural. (LAURENTI; DEL GROSSI, 1999, p.48).

Ressaltamos que essa mudança de uso do solo vem se processando

com a implantação das chácaras e trouxe algumas vantagens para o meio ambiente,

pois a necessidade de um lugar com ar puro e belezas naturais é o principal atrativo

desses espaços. No sub-capítulo a seguir, faremos uma breve explanação sobre esse

assunto, permitindo apresentar a presença da preservação ambiental que vem

ocorrendo, intensamente, com as novas funções que assumem o espaço rural na

contemporaneidade.

2.1 PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E BEM-ESTAR

As questões relacionadas ao meio ambiente sempre fazem parte das

análises realizadas sobre a organização do espaço, seja rural ou urbano. O geógrafo,

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profissional que busca compreender as modificações e as vivências que ocorrem no

espaço através dos aspectos sociais, econômicos, físicos, entre outros, insere, em sua

análise, os problemas relacionados à degradação ambiental para completar suas

considerações sobre sua área de estudo.

Sabemos que a utilização não planejada dos recursos ambientais pode

trazer conseqüências desastrosas às gerações atuais e futuras que, certamente,

dependerão deles para sua sobrevivência. E para piorar a situação, a cada dia que

passa, muitas pessoas e as próprias atividades industriais descarregam toneladas de

lixo e resíduos químicos, sólidos, líquidos, entre outros, em rios, terrenos baldios, no ar

e assim por diante.

Nesse contexto, as chácaras de lazer tornam-se uma alternativa quanto

à preservação do meio ambiente. Tal fato é respaldado pela questão de que, nesses

lugares, o que as pessoas buscam é a natureza no seu estado natural, pois querem

sentir o cheiro de mato, o ar puro, ver a natureza de perto, o que é quase impossível de

se ver em grandes cidades. Portanto, a preservação nesses espaços é uma

preocupação e muitos proprietários resolvem plantar muitas árvores em suas terras na

tentativa de fazer um pequeno reflorestamento, ajudando o meio ambiente.

A troca das atividades agrárias, como as plantações de grãos, pelas

chácaras de lazer, contribui fortemente para que grandes quantidades de inseticidas e

herbicidas não sejam lançados, tanto no solo como ao ar.

Uma ressalva a fazer diz respeito aos males dessas ocupações nesses

loteamentos de chácaras, pois, devido ao grande número de lotes e,

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conseqüentemente, de pessoas que os ocupam há uma grande produção de lixo e o

consumo de água é elevado, o que acarreta danos à natureza. O ideal é que se tenha

rede de esgoto nesses lugares para que não se contamine o solo e os possíveis

lençóis d’água que possam existir nas sob ele. Como isso quase não existe,

principalmente no espaço rural, o importante é cuidar o máximo possível de onde se

deixam os lixos, consumindo somente o necessário dos bens naturais como água e

tomando providências quanto ao esgoto /lixo produzidos.

Cientista preocupado com as novas funções que o espaço rural

assume, Graziano (2002, p. 171) diz que é necessário estabelecer algumas normas

para implantação dessas residências no meio rural quanto à coleta de lixo, acesso à

água potável e saneamento básico, como condição de habite-se, ou seja, se não

houver o que é necessário para que tal residência possa existir, a mesma não deverá

ser construída. Assim, ganha o meio ambiente que não sofre com as ações insanas

dos seres humanos e ganhamos nós mesmos, que necessitamos deste mesmo

ambiente para sobreviver.

É nessa perspectiva que esperamos que as chácaras para lazer

consigam cumprir o seu papel no intuito de preservar o meio ambiente, mas para que

isso aconteça, é necessário que os moradores, juntamente com o órgão/entidade

responsável pelo loteamento, trabalhem em favor da natureza, resolvendo os

problemas com a implantação de rede de esgoto e toda infra-estrutura pertinente.

Posteriormente, esse ponto será enfocado a partir da área de estudo objeto da

presente investigação.

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CAPÍTULO III

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MESORREGIÃO NORTE-CENTRAL PARANAENSE: ASPECTOS

SÓCIO-ESPACIAIS.

A Mesorregião Norte Central Paranaense está localizada, em sua maior

porção, no Terceiro Planalto Paranaense, e o restante do seu território, no Segundo

Planalto Paranaense, abrangendo uma área de 2.453.216 hectares, o que corresponde

a cerca de 12% do território estadual. Esta região faz fronteira, ao norte, com o Estado

de São Paulo, pelo rio Paranapanema, e possui como principais divisas o rio Tibagi, a

leste, e o rio Ivaí, a oeste. É constituída por 79 municípios, dos quais se destacam

Londrina e Maringá, em função de suas dimensões populacionais e níveis de

polarização.

O Estado do Paraná, a partir da década de 70 do século XX, foi

marcado pela introdução maciça, no campo, de avançadas tecnologias de cultivo, de

substituição da cultura cafeeira pela produção de commodities (o soja) e ampliação das

áreas de pastagens, e de alterações radicais nas relações de trabalho, todos estes

elementos altamente poupadores de mão-de-obra. Desse modo, a região

experimentou, rapidamente, um processo intenso de urbanização, estimulado

particularmente pelo êxodo rural. Entre 1970 e 1980, a população rural da Mesorregião

Norte Central decresceu a um ritmo expressivo, conforme nos mostra a Figura 4.

Observamos na Figura 4 como esse movimento deu-se no estado do

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Paraná.

FIGURA 4 – Distribuição da população paranaense segundo a situação de domicílio

urbano e rural nos anos de 1950 a 2000.

Partindo da análise dos dados da Figura 5, reafirmamos que no Estado

do Paraná ocorreu, de forma crescente, o êxodo rural, de modo que, de 1950 a 2000, a

população rural caiu de 64% para apenas 18,8%. Em contrapartida, a população

urbana cresceu de 36%, em 1950, para 81,2%, em 2000, o que acarretou alguns

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problemas nas cidades que foram planejadas, no ato de sua implantação, para

acomodar parcelas menores de população. Este fenômeno causou, além do avanço da

faixa urbana sobre a rural: desemprego, falta de saneamento básico em conjuntos

habitacionais mal planejados ou mesmo em áreas invadidas pela população carente,

dificuldades no acesso a serviços médico-hospitalares, entre outros.

Se voltarmos o olhar para a mesorregião Norte-Central, na qual se

encontra localizado o município de Cambé, perceberemos que, conforme dados

apontados pelo IPARDES (2004), acompanhando o padrão médio do Estado, até 1970

mais de 90% dos municípios da mesorregião registravam proporções superiores a 50%

da população vivendo no meio rural, índice reduzido em 2000, para 16,5% (29% no

Estado). Por outro lado, em 2000, proporção idêntica de municípios (16,5%) do Norte

Central apresentava mais de 90% da população no meio urbano – enquanto no Paraná

(estado todo) essa proporção atingia apenas 9,3% – e mais de 40% dos municípios da

mesorregião apresentavam, naquele ano, graus de urbanização entre 75% e 90%.

Esse processo, além de ter provocado grande transformação na distribuição geográfica

da população, causou intensos impactos na estrutura urbana e nas condições de

gestão das cidades, que passaram a administrar um abrupto crescimento das

demandas. Alguns dos municípios da mesorregião situam-se, desde os anos 70, entre

aqueles que vêm crescendo mais do que a média do Estado (como Londrina, Maringá

e Cambé, desde 1970, e Arapongas, Ibiporã, Paiçandu e Sarandi, desde 1980). O que

se destaca é a configuração de conjuntos de municípios vizinhos que reproduzem o

padrão de elevado crescimento, dando origem às duas principais aglomerações

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urbanas do Estado, depois da metropolitana de Curitiba.

3.1 ASPECTOS GERAIS DO MUNICÍPIO DE CAMBÉ

O Município de Cambe localiza-se na região Norte do estado do Paraná,

na Mesorregião Norte Central Paranaense, conforme expusemos no sub-capítulo

anterior. Este município encontra-se aos 23º 16’ 00” de latitude Sul e 51º 17’ 00” de

longitude Oeste e, segundo dados do Censo Demográfico de 2000 (IBGE),

compreende uma extensão de 495 Km, sendo que 25Km² compõem o espaço urbano

(anexo C), e conta atualmente com uma população estimada de 88.186 habitantes.

Cambé mostra-se atualmente como uma cidade que se fortalece no

ramo industrial, visto que alguns incentivos são oferecidos aos empresários para que

tragam, para a cidade, suas indústrias. O comércio e a prestação de serviço, também

mostram-se bem presentes neste município, o qual tem como atividade fortalecida a

agricultura, visto que a sua área rural é bem abastada. Culturas como soja, café, milho,

entre outras, podem ser vistas pelo perímetro rural desta cidade.

O município de Cambé, quando analisado em suas dimensões

espaciais, surpreende-nos pela extensão da área rural que compreende, pois são

470Km². Essa área destina-se, principalmente, à atividades agropecuárias,

principalmente ao cultivo do café e do soja além de criação de gado. A Figura 5 nos

mostra o município de Cambé e suas divisas municipais. O ponto em preto, localiza na

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área urbana o centro da cidade de Cambé assim como os centros dos municípios

vizinhos.

FIGURA 5 – Município de Cambé e divisas municipais. Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Disponível em: http://webgeo.pr.gov.br/website/gestao/viewer.htm. Acesso em 18/05/2005.

Como nossa área de estudo, o loteamento denominado Recanto Santa

Andréa localiza-se na área urbana da cidade de Cambé, exporemos, a seguir na

Tabela 1, como se efetivou a redistribuição da população rural e urbana entre 1970-

2000 para que se possa ter idéia do que ocorreu no município durante estas 3

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décadas. Nosso objetivo é entender o deslocamento da população da área rural para

urbana durante esse período de tempo e estabelecer uma correlação com a área de

estudo. Como fonte, utilizamos os Anuários Estatísticos do Paraná de 1970, 1980 e o

Censo Demográfico do IBGE de 2000.

Tabela 1 – Distribuição da População segundo a situação do domicílio no município de

Cambé de 1970 -2000.

Município Cambé

Ano

População Urbana

absoluta

% População Rural

absoluta

% Total

1970 13.510 37,92 22.111 62,08 35.621

1980 44.814 83,19 9.054 16,81 53.868

1991* 66.817 90,40 7.025 9,60 73.842

2000 81.942 92,92 6.244 7,08 88.186

Fonte: Anuário Estatístico Paraná 1978/1982. Censo Demográfico IBGE – 1991/2000. * No ano de 1990 não foi realizado o Censo Demográfico no Brasil, por isso utilizamos os dados do ano de 1991. Organização: BERNARDES, J.R, 2005. A partir da análise da Tabela 1, fica claro perceber o êxodo rural que

ocorreu no município de Cambé nos períodos assinalados acima, principalmente na

década de 70 para 80 do século passado. Houve uma inversão, e o que antes era

eminentemente rural, tornou-se urbano. No início da década de 80, nossa área de

estudo foi declarada como zona urbana, confirmando, mais uma vez, que, nessa

época, o rural passou por transformações e a cidade tomou grande importância

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atraindo muitas pessoas do campo.

Podemos dizer que o município de Cambé passou por mudanças

significativas em relação ao crescimento populacional ao ganhar, entre 1970 e 2000,

52.565 habitantes, os quais não são oriundos simplesmente do crescimento vegetativo

populacional, mas se vinculam a própria dinâmica de desenvolvimento do norte do

Paraná, particularmente ao processo de urbanização e “periferização induzida”

comandado pela cidade de Londrina. Nesse processo, insere-se a criação do LRSA

(Loteamento Recanto Santa Andréa), nossa área de estudo, na década de 80, bem

como o avanço de conjuntos habitacionais destinados à população do município de

Londrina, localizados nas áreas limites entre este município e Cambé. Dessa forma, o

processo de “periferização induzida” pode aclarar a causa do crescimento da

população urbana de Cambé, que, de um município predominantemente rural, na

década de 70, quando possuía 62,08% da sua população no espaço rural, chegou, em

2000, com 92,92% da população localizada no espaço urbano (Tabela 1).

Destacamos que, especialmente a partir dos anos 70, a região

integrou-se rapidamente ao movimento mais amplo de expansão da agricultura

moderna que se instaurou no Norte do Paraná, conforme já expusemos.

3.2 RECANTO SANTA ANDRÉA: UM ESTUDO DE CASO

O loteamento de chácaras Recanto Santa Andréa foi elencado como

objeto da pesquisa empírica da presente investigação. Torna-se pertinente esclarecer a

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metodologia de pesquisa utilizada para o desenvolvimento da investigação, a qual se

pauta no viés teórico Sócio-crítico permeado na pesquisa qualitativa. A mesma permite

trabalhar com diversidade e flexibilidade, exigindo um mínimo de estruturação prévia,

deixando para que o foco central da pesquisa seja definido no decorrer do processo de

investigação.

Em nossa pesquisa utilizamos o estudo de caso que segundo as

considerações de Cervo e Bervian (2002, p. 67) tem, como base, a “pesquisa sobre um

determinado indivíduo, família, grupo ou comunidade que seja representativo do seu

universo, para examinar variados aspectos de sua vida”.

Nesse tipo de pesquisa (estudo de caso), a coleta dos dados pode ser

feita utilizando, como instrumentos, a observação, a entrevista, o questionário e o

formulário. Na presente pesquisa, o instrumento utilizado para coletar dados foi a

entrevista semi-estruturada que segundo Rubin e Rubin (1995, apud MAZZOTTI;

GEWANDSZNAJDER, 2004, p. 168) trata-se de o apresentador (pesquisador) fazer

perguntas específicas sobre o assunto, deixando, contudo, que o entrevistado

responda com seus próprios termos.

Salientamos o apontamento feito por Cervo e Bervian (2002, p. 46) no

que se refere à entrevista, ou seja, que a mesma não é uma simples conversa, pois é

orientada para um objetivo definido, que é recolher do informante, por meio do

interrogatório, dados para a pesquisa. Nessa perspectiva, desenvolvemos a

investigação, entrevistando proprietários de chácaras e caseiros, visando compreender

se as chácaras para lazer são viáveis economicamente ou se apenas são destinadas

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ao lazer familiar e se proporcionam oportunidades de empregos para pessoas

residentes próximo ao loteamento. Assim por meio de observações no loteamento em

geral, verificamos se essas atividades de lazer preservam ou degradam o meio

ambiente, isto é, as entrevistas foram direcionadas para atingir o intuito da pesquisa.

Nesse sentido, o tópico seguinte direciona-se para a compreensão do processo

histórico da formação do loteamento Recanto Santa Andréa.

3.2.1 Histórico do loteamento de chácaras Recanto Santa Andréa

Um pesquisador ao decidir qual será seu objeto de estudo, necessita de

dados que digam algo sobre esse objeto. Quando os dados inexistem, a pesquisa

torna-se um desafio, visto que a busca pela história do objeto é um importante

procedimento para que o estudo consiga prosseguir.

Tal fato cristalizou-se quando foi proposto estudar essa área

denominada de Recanto Santa Andréa, que consiste em um loteamento de chácaras

localizado a sudoeste da cidade de Cambé, município componente da Mesorregião

Norte Central do Estado do Paraná, tendo, como acesso principal, a Rodovia Melo

Peixoto (BR 369) no Km 163. A Figura 6 ilustra a localização da área de estudo

Recanto Santa Andréa (localização também no anexo C).

FIGURA 6 – Localização do Recanto Santa Andréa no município de Cambé – PR.

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Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Disponível em: http://webgeo.pr.gov.br/website/gestao/viewer.htm. Acesso em 18/05/2005. Conforme já exposto, a história do Recanto Santa Andréa inexiste

oficialmente na cidade de Cambé e, por esse motivo, foi aplicada a técnica de Memória

Viva com o Sr. Odorício Onofre, ex-proprietário das terras onde se localiza o Recanto

Santa Andréa, na tentativa de buscar, via discurso oral dos sujeitos de pesquisa, a

apreensão do processo histórico que revele fatos para a compreensão da

transformação de uma propriedade rural em um loteamento. Contudo, antes de se

voltar para a análise, é necessário tecer alguns comentários sobre o que se considera

história oral ou história de vida.

A chamada História Oral ou História de Vida difere da chamada

Memória Viva que, como já dissemos, se constitui o nosso instrumento para reconstruir

a história do Recanto Santa Andréa. Para Mazzotti e Gewandsznajder (2004, p. 168)

na história oral, “o pesquisador procura reconstituir, através da visão dos sujeitos

envolvidos, um período ou evento histórico”. Enquanto que nas histórias de vida, “o

pesquisador está interessado na trajetória de vida dos entrevistados, geralmente com o

CAMBÉ

Recanto Santa Andréa

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objetivo de associá-la a situações presentes”. Por outro lado,

Por memória viva podemos entender as imagens conservadas na memória. É voltar a sentir sensações de alegria e tristeza de fatos vividos. É conhecer, recriar, reconstruir e retratar os fatos ocorridos no passado e, com visão crítica e de análise, associar mudanças do meio no decorrer dos tempos. (CETESB, Apud: CALVENTE; MOURA; ANTONELLO, 2003, p.392)

Por se tratar de uma técnica mergulhada na subjetividade do

entrevistado, devemos ater-nos a uma reconstrução cuidadosa da história do

loteamento Santa Andréa, pois as idéias e valores sobre aquele espaço pertencem ao

entrevistado, podendo ou não ter acontecido na ordem e da maneira expostos por ele.

Salientamos que a entrevista realizada com o principal ator social (sujeito de pesquisa)

ocorreu fundamentada nas considerações colocadas acima. Nesse sentido, a

entrevista feita com o Sr. Odorício Onofre6 (sujeito de pesquisa) permitiu-nos saber

particularidades sobre o Recanto Santa Andréa, pois tínhamos necessidade de

conhecer como era o local antes de ser transformado em loteamento. Exporemos,

abaixo, as questões feitas ao Sr. Odorício, com as respectivas respostas. A entrevista

não foi colocada na íntegra, visto que em muitos momentos a história contada pelo Sr.

Odorício era sobre outros acontecimentos de sua vida, em outros lugares, mas foi

transcrita e melhorada a fim de preservar suas idéias principais.

• Nome do entrevistado: Odorício Onofre.

6 Ressaltamos que o senhor Odorício Onofre autorizou a utilização de sua identidade, o qual se constitui no principal sujeito de pesquisa, pois, o mesmo vivenciou o processo de transformação da área de estudo. A entrevista foi realizada em sua residência no dia 11/04/2005.

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• Idade: 81 anos (Nascido em 27 de novembro de 1923)

• Naturalidade: Taiúva – SP

• Filiação: Elízio Onofre e Joana Elvira Dal Negro

Odorício Onofre mudou-se para Nova Dantzig (hoje Cambé) ainda

criança. Estudou até a 4ª série do ensino fundamental. Morava com seus pais, Sr.

Elízio e Sra. Joana, os quais tinham um açougue no centro da cidade. Odorício sempre

trabalhou com seu pai no açougue, alternando a esse trabalho, a atividade de peão e

de sócio de um circo com seu irmão Elídio Onofre.

Em 1942, Odorício casou-se com Luiza Dallapria e adquiriu 5 alqueires7

de terra próximo ao Bratislava, loteamento de chácaras para lazer também localizado

na cidade de Cambé, a qual se tornou a sua residência. A atividade desenvolvida pelo

Sr. Odorício era a de leiteria, pois em seu pequeno sítio, criava vacas holandesas e

vendia o leite, em Cambé, para obter sua renda mensal. A necessidade de ter mais

espaço para o rebanho de gado leiteiro, fez com que o Sr. Odorício adquirisse, em

1945, mais 5 alqueires de terra e, em 1947, mais 17 alqueires. O pagamento dessas

terras foi sendo feito com o lucro que obtinha com a venda de leite. Perguntamos se ele

se lembrava do nome da pessoa que lhe vendeu as terras, mas, infelizmente, não

lembrou. Quanto ao preço pago pelas terras, a informação que ele nos passou foi de

ter sido pago em Réis, mas o valor ele também não se lembrou. “A terra era muito cara

naquela época”, disse o Sr. Odorício.

7 Um alqueire paulista corresponde a 24.200 m² de terra.

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A atividade de leiteria começou a enfraquecer quando a empresa Cativa

foi implantada em Londrina, por volta dos anos 70. Devido às diferenças nos preços do

leite da Cativa e do leite do Sr. Odorício, a atividade leiteira foi trocada pela agricultura,

na esperança obter mais lucro com as vendas. As variedades plantadas nas terras que

antes eram somente pastagens foram: milho, arroz, feijão e soja tanto para consumo

como para a comercialização.

Durante 5 anos (1974 a 1979), aproximadamente, o Sr. Odorício

trabalhou com agricultura, mas uma forte geada ocorrida nos anos 70 do século XX,

desanimou o produtor e assim ele resolveu parar com essa atividade. Em 1980, um

amigo do Sr. Odorício deu-lhe a idéia de transformar seu sítio num loteamento de

chácaras para lazer. Ele, como já estava desanimado com a atividade agrícola,

percebeu nessa idéia a resolução de seus problemas. O amigo citado por ele, era um

agente do setor imobiliário de Londrina que nessa época, trouxe para o Sr. Odorício o

planejamento de como seria o loteamento, os preços para cada chácara, a infra-

estrutura que deveria ser feita, entre outras coisas. Nesse mesmo ano (1980), saiu a

planta do loteamento que era composto por 95 chácaras compreendendo

aproximadamente 5.000 m² cada.

A infra-estrutura foi feita pelo próprio senhor Odorício e compreendeu a

implantação de rede elétrica (iluminação), meios-fios, terraplanagem, entre outras.

Segundo o senhor Odorício, a tramitação legal para que o loteamento

fosse feito ficou sob responsabilidade do amigo citado por ele. “Ele (amigo) conversava

comigo e falava que seria um ótimo negócio fazer esse loteamento e eu fui na dele.

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Como me arrependo. Ele pegava minhas assinaturas nos papéis em branco e

preenchia tudo a favor dele. Ele me passou pra trás”. (Sr. ONOFRE, 2005).

Conforme essas declarações, podemos perceber que houve um

aproveitamento do agente imobiliário sobre o Senhor Odorício. O que aconteceu foi

que as vendas dos lotes foram feitas muito rapidamente, pois nesse período muitas

pessoas de Londrina adquiriram lotes para fins de lazer nessa área. O preço cobrado

por lote de 5.000 m² era de Cr$ 250,00 (cruzeiros) no ano de 1981-82.

A prefeitura, ao aprovar o projeto para loteamento da área, rapidamente

incluiu-a nos domínios urbanos da cidade de Cambé para que assim fosse possível a

cobrança de IPTU. Conforme vimos, a infra-estrutura não foi feita pela prefeitura.

Atualmente não se observa a presença do poder público na área do loteamento.

O arrependimento é visível na fala do Senhor Odorício, visto que a

valorização daquela área cresceu muito. “Hoje um alqueire naquela área vale uns R$

60.000,00. Imagine o quanto eu não teria se não tivesse feito essa besteira”. (Sr.

ONOFRE, 2005)

A Eletrosul (Companhia de Energia Elétrica) utilizou 2 alqueires das

terras do loteamento para passar uma rede de alta tensão. Segundo as informações

fornecidas pelo Sr. Odorício, os donos das chácaras foram indenizados e só podem

utilizar as terras para plantar culturas baixas.

Esse é um breve histórico sobre o loteamento de chácaras Recanto

Santa Andréa, que, por sinal, recebeu este nome em virtude da única filha do Senhor

Odorício chamar-se Andréa. Veremos, adiante, maiores detalhes sobre as chácaras

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mediante a análise das entrevistas feitas com proprietários de chácaras e com os

caseiros.

3.2.2 Organização sócio-espacial do Loteamento Recanto Santa

Andréa.

Destacamos que o presente estudo pauta-se na pesquisa empírica

realizada com os seguintes sujeitos de pesquisa:

• Proprietários das chácaras para lazer e caseiros e/ou jardineiros, funcionários

que cooperavam na manutenção das mesmas, no período de 10/05/2005 a

20/07/2005.

As entrevistas realizadas com os proprietários tinham o objetivo de

coletar informações suficientes para verificarmos se é viável manter as chácaras para

lazer em funcionamento, além de compreender as modificações ocorridas no espaço

onde encontra-se o loteamento.

Entrevistamos, no total, 24 pessoas, sendo 14 proprietários de chácaras

e 10 caseiros, os quais contribuíram enormemente com nosso estudo. As entrevistas

foram realizadas em horários e locais disponíveis e que favorecessem aos

entrevistados. A média de duração foi de 01 hora por entrevistado, sendo que muitas

informações extrapolaram o nosso objetivo inicial, enriquecendo o nosso estudo. As

estruturas das entrevistas encontram-se nos Anexos 1 e 2

A seguir, podemos visualizar, na Figura 7, quais as chácaras tiveram

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seus proprietários entrevistados. Nessas chácaras, entrevistamos também os caseiros,

com exceção de 04, que não os possuíam. Ressaltamos que o asfalto foi feito pela

propriedade privada do loteamento com ajuda da prefeitura da cidade de Cambé. Em

marrom, podemos ver as ruas não asfaltadas e em cinza e amarelo, vemos o asfalto

feito pelo GOLF CLUB8 que se localiza próximo ao loteamento Santa Andréa. Em

verde, expusemos a rede de alta tensão da ELETROSUL que está presente em alguns

lotes do loteamento. Nesses lotes, é proibida a construção de casas ou similares e

ainda que sejam plantadas culturas altas, permitindo-se, portanto, cultivar somente

plantas e/ou culturas baixas. Conforme a SEPLAN (Secretaria de Planejamento de

Cambé), os donos desses lotes foram indenizados pela Eletrosul em dinheiro ou em

permissão para arrendar as terras por alguns anos sem terem que pagar os impostos

sobre elas.

FIGURA 7 – Estrutura do Loteamento Recanto Santa Andréa – Cambé- Pr.

8 Clube de Golf mantido pela entidade privada, a qual realiza benfeitorias que favoreçam ao clube e consequentemente aos associados, além dos proprietários de chácaras do Loteamento Recanto Santa Andréa que utilizam parte desse asfalto como acesso para suas chácaras.

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Fonte: Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Cambé. Organização: BERNARDES, J.R. 2005. Analisando as respostas que obtivemos, conseguimos perceber uma

certa homogeneidade entre as falas dos proprietários das chácaras, pois muitos deles

são donos dos lotes há bastante tempo. Dos 14 proprietários entrevistados, apenas 02

LEGENDA: Chácaras onde os proprietários foram entrevistados Asfalto do loteamento Arruamento sem asfalto Rede Elétrica - Eletrosul

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adquiriram as chácaras a menos de 5 anos. Esse referencial é importante, pois,

inicialmente, questionamos há quanto tempo os proprietários adquiriram as chácaras e

todos disseram que foi a partir da década de 90, do século XX, que passaram a fazer

parte do Recanto Santa Andréa.

Durante as entrevistas, pudemos observar que muitos desses

proprietários viram as chácaras valorizarem-se muito durante os anos em que estão ali,

pois, um dos entrevistados, por exemplo, pagou por um lote de 5.000 m² o valor de R$

14.000,00 sendo que o pagamento foi feito em 14 vezes de R$ 1.000,00. Isso ocorreu

no ano de 1998, segundo o proprietário, que é um empresário residente na cidade de

Londrina, o qual utiliza sua chácara para lazer nos finais de semana.

Um outro proprietário afirmou que comprou sua chácara, também de

5.000m², no ano de 1998, num leilão, e pagou a quantia de R$ 8.000,00 mais uma

dívida de IPTU no valor de R$ 1.200,00, ou seja, a chácara saiu por um valor de R$

9.200,00. Esse proprietário pode aproveitar-se da valorização ocorrida na área pois, em

1999 vendeu-a para um conhecido pelo valor de R$ 35.000,00 após ter feito apenas

muro ao redor do lote. Podemos observar a valorização do espaço dessa chácara em

79,19% do valor original, ocorrido durante apenas 01 ano no Recanto Santa Andréa.

Nesse período, ainda não existia asfalto, como atualmente, em frente a essa chácara.

Com o passar do tempo, esse ex-proprietário comprou-a novamente pelo valor de R$

38.000,00 e hoje construiu casa, piscina, pomar, entre outros, e disse que não a vende

por menos de R$ 200.000,00.

As outras entrevistas também nos deram a idéia de valorização

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crescente das terras do loteamento, apesar de saber que hoje em dia quem adquire um

imóvel nesse loteamento já não faz um negócio tão bom como fizeram os proprietários

mais antigos. Acreditamos que o Loteamento, assim que foi liberado para venda, não

se mostrava como algo tão interessante como é atualmente, pois, foi na década de 90

que se consolidou, como estilo de vida, o afastamento da cidade para obter qualidade

de vida, bem-estar e lazer.

O loteamento Recanto Santa Andréa, segundo o Sr. Odorício Onofre,

antigo dono da área, foi quase totalmente vendido para pessoas que residiam em

Londrina, cerca de 70% dos proprietários eram londrinenses. Hoje, o que percebemos

diante das entrevistas, é que a maioria dos entrevistados reside em Cambe. Podemos

explicar este fato por existir hoje, na cidade de Londrina muitos locais que podem ser

adquiridos para lazer, sendo desnecessário adquirir um lote em outra cidade. Percebe-

se, principalmente na década de 90 em diante, que ocorreu um aumento expressivo

pela procura de moradias ou chácaras para lazer em lugares retirados da cidade, que

ofereçam paz e tranqüilidade, a fim de aliviar tensões e os desgastes causados pelas

atividades citadinas. Os agentes imobiliários, percebendo essa necessidade, iniciaram

uma estratégia de marketing para atrair cada vez mais compradores para esses lotes,

tanto em condomínios fechados como em chácaras para lazer. Salientamos que o

público que esses empreendimentos visam constitui-se de pessoas com poder

econômico para poder usufruir das potencialidades de lazer, descanso e tranqüilidade

que uma chácara pode proporcionar.

Para analisarmos com mais atenção o perfil de nossos entrevistados,

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colocamos, na Tabela 2, dados que propiciam observar um panorama geral das

entrevistas realizadas com os 14 proprietários das chácaras no Recanto Santa Andréa.

TABELA 2 – Perfil sócio-econômico dos proprietários de chácaras.

Profissão Escolaridade Salário médio Cidade residente

Empresário Sup. Incompleto R$ 3.000,00 Cambé

Comerciante Fund. Incompleto R$ 3.000,00 Cambé

Auditor Fiscal Sup. Completo R$ 15.000,00 Londrina

Empresário Sup. Completo _ Londrina

Empresário Sup. Completo _ Cambé

Comerciante Sup. Incompleto _ Cambé

Autônomo 2º Grau completo R$ 3.200,00 Cambé

Empresário Sup. Completo R$ 4.500,00 Londrina

Comerciante 2º Grau Completo R$ 3.500,00 Cambé

Empresário Sup. Completo _ Londrina

Empresário Sup. Incompleto _ Cambé

Comerciante 2º Grau Completo _ Cambé

Comerciante 2º Grau Completo _ Londrina

Comerciante Superior Completo - Cambé

Fonte: Entrevista “in loco”. Recanto Santa Andréa – Cambé PR.. Data: 10/05/2005 a 20/07/2005. Organização: BERNARDES, Jamile Ruthes. Lembramos que os entrevistados reservaram-se o direito de não

responder a algumas questões, motivo pelo qual nossa tabela encontra-se incompleta

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quanto ao salário médio de cada um.

Analisando a tabela, percebemos que a maioria dos entrevistados

reside em Cambé e tem como atividade: 43% são comerciantes, 43%, empresários,

7%, autônomos e 7% auditores fiscais. Percebemos que o perfil sócio-econômico dos

entrevistados situa-se entre um padrão médio a médio-alto de acordo com os salários

que nos foram passados. Alguns entrevistados não quiseram divulgar a renda mensal,

como dissemos, motivo pelo qual não podemos afirmar, com certeza, se o padrão

manter-se-ia em médio a médio alto, como dissemos. O que pudemos perceber é que

em determinadas chácaras as casas são bem mais estruturadas que em outras, ou

seja, evidenciam um padrão econômico elevado o que demonstra que a renda é mais

alta. Nestas chácaras, a estrutura é melhor que onde o dono não dispõe de tanto

recurso financeiro. Alguns proprietários de chácaras constroem, em seus lotes uma

área para churrasco, piscina, campo de futebol e dão menos atenção à residência, que,

algumas vezes, são dois grandes cômodos onde existem beliches, cozinha e

banheiros, o que indica que estes lotes foram obtidas com o principal objetivo de lazer

familiar, no sentido de que a atenção e os recursos materializados no lote voltam-se

para atividades de bem-estar. Nas chácaras de alto padrão, as casas são mais

luxuosas bem como toda a estrutura.

Outra abordagem que fizemos foi em relação à utilidade das chácaras,

se são usadas para lazer, moradia e ainda quanto aos investimentos e rendimentos

que as mesmas proporcionam. Observamos que, para a grande maioria, 93% dos

entrevistados, as chácaras são usadas para lazer ou segunda moradia. Somente dois

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entrevistados, comerciantes da cidade de Cambé, moram nas chácaras e estes nos

disseram que o “espaço é tão maravilhoso que não compensa morar na cidade, e

relataram ainda que pelo valor do investimento o espaço precise ser mais bem

aproveitado”.

A viabilidade de manter as chácaras funcionando foi uma questão

bastante importante, pois um dos nossos objetivos, nessa pesquisa, é analisar a

viabilidade de se manter uma área, que traga ou não retorno financeiro, em

funcionamento. Todos os entrevistados disseram que a viabilidade deve ser vista de

duas maneiras. Primeiro, para quem utiliza as chácaras somente para lazer, a situação

é a de que o dinheiro gasto naquele empreendimento não traz retorno financeiro algum,

mas, em contrapartida, alimenta a alma contra o estresse vivido no dia-a-dia. Outra

situação é a de que algumas chácaras são utilizadas como área de recreação para

locação, onde qualquer pessoa pode passar um dia ou até mesmo um final de semana,

podendo aproveitar da infra-estrutura oferecida por valores que giram em torno de R$

250,00 ao dia. Nessa situação, os cinco proprietários que alugam as chácaras

disseram que os custos para mantê-las são altos e que pouco sobra como lucro.

Assim, temos no loteamento, entre as chácaras, cujos proprietários foram

entrevistados, as seguintes situações: somente a utilizam para lazer, lazer e aluguel ou

lazer e moradia. No gráfico abaixo podemos analisar essa disposição do uso realizado

pelos proprietários.

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14%

36%

50%

Residência Aluguel e lazer Lazer Familiar

FIGURA 8 – Usos atribuídos às chácaras.

Fonte: Pesquisa “in loco” Recanto Santa Andréa – Cambé PR. Data: 10/05 a 20/07/2005. Organização: BERNARDES, Jamile Ruthes.

Conforme a Figura 8, percebemos que as chácaras de 50% dos

entrevistados são utilizadas para lazer próprio e da família. Em segundo lugar ficam as

chácaras para lazer e locação, somando 36%, e, em terceiro, as chácaras utilizadas

para residência, com 14%. O fato de poucas chácaras estarem sendo utilizadas como

residência pode ser explicado pela falta de segurança que existe no loteamento, salvo

em algumas chácaras onde os muros são altíssimos e existem sistemas de alarme

monitorado, entre outros. Isto é, aqueles que dispõem de recursos para implantar um

sistema de segurança, fazem-no. Durante as entrevistas, observamos que nem todos

acham que o local é perigoso, mas quando perguntamos por que o uso não é feito

diretamente para moradia, essa questão foi citada algumas vezes. Outros motivos

como dificuldade em deslocar-se do loteamento para a cidade, também foi apontado,

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mas somente pelos proprietários de chácaras que possuíam apenas um carro

dificultando o acesso do restante da família ao centro urbano.

Das 14 chácaras que visitamos, apenas 4 não tinham caseiro. Tal fato

explica-se, segundo os proprietários, por não haver necessidade dos serviços visto que

o próprio dono tem a possibilidade de cuidar sozinho de sua chácara, contratando

temporariamente os serviços de jardineiro e de pessoas que realizam a manutenção

em piscinas. Aos proprietários que disseram possuir caseiros, perguntamos sobre o

relacionamento existente entre eles, ou seja, como se dava em termos de salários e

acordos trabalhistas. Percebemos que cada um faz um acordo diferente, mas os

requisitos básicos se repetem, como ceder a casa para residência do caseiro e de sua

família. Falaremos mais adiante, durante as entrevistas com os caseiros sobre esses

acordos.

A última questão que levantamos durante as entrevistas foi em relação

às mudanças percebidas pelos proprietários de chácara no loteamento Recanto Santa

Andréa desde que adquiriram o imóvel até a atualidade. Todos os entrevistados

responderam que houve uma mudança significativa, principalmente nos últimos dois

anos, desde quando foi feito o asfalto em duas ruas do loteamento. Houve ainda a

instalação de telefone público e melhoria geral no aspecto visual das chácaras, ou seja,

pintura de muros, portões, entre outros. Mas as falas mais expressivas referiam-se ao

espaço em si, a natureza, aos amigos que estão ali presentes convivendo quase em

todos os finais de semana.

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FIGURA 9 – Rua Defendente Mazzei, localizada no Recanto Santa Andréa – Cambé – Pr. Data: 05/08/2005. Fotografia: Bernardes, 2005.

Na Figura 9, podemos visualizar uma rua do loteamento. Essa rua foi

asfaltada, como dissemos, numa parceria entre os proprietários das chácaras e a

prefeitura municipal de Cambé. Há também um telefone público e coleta de lixo no

local. Notamos que, de um lado da foto, temos uma chácara em reforma e, do outro

lado, apenas uma cerca, pois, há ainda alguns lotes vazios no Recanto Santa Andréa.

Na foto a seguir, observamos uma rua que ainda não foi asfaltada, mas

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que possui chácaras muito bem estruturadas. Provavelmente logo seja estabelecido

um novo acordo com a prefeitura para asfaltar essa área, pois, segundo os

proprietários, já existe o projeto pronto para este objetivo. Há presença de energia

elétrica em todo o loteamento como é possível visualizar também na Figura 10.

FIGURA 10 – Condições das vias públicas do Loteamento Recanto Santa Andréa. Data: 05/08/2005. Fotografia: Bernardes, 2005.

Como podemos observar, nesta rua encontramos algumas chácaras de

médio/alto padrão, o que nos leva a concluir, que, os proprietários pressionarão a

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prefeitura municipal para que o asfalto seja implantado rapidamente, para que, suas

chácaras sejam valorizadas, como ocorreu com as chácaras da rua Defendente Mazzei

(Figura 9).

FIGURA 11 – Lote vazio no Recanto Santa Andréa. Os tamanhos são próximos de 5.000m² e, como vemos, ainda existem alguns que não foram transformados em chácara de lazer.

A questão da presença de lotes vazios, com tamanhos próximos a

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5.000m² e que ainda não foram transformados em chácaras de lazer, também pode

ser abordada como no caso dos lotes vazios nos centros urbanos. Como no Recanto

Santa Andréa existe infra-estrutura pronta para a utilização das chácaras, seria

desnecessário que novos loteamentos fossem implantados antes que todos estes

estivessem ocupados. Nesse sentido, a mesma situação ocorre nos centros urbanos,

onde os proprietários ficam à espera de valorização dos imóveis, impedindo a

ocupação dos mesmos e, por esse motivo, novos investimentos são destinados a

novas áreas para a abertura de novos loteamentos.

FIGURA 12 – Visualização da Rede de Alta Tensão no interior dos lotes do Recanto Santa Andréa. Data: 05/08/2005. Fotografia: Bernardes, 2005.

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Ao fundo, vemos a rede de alta tensão da ELETROSUL que passa em

alguns lotes do Recanto Santa Andréa. Nesses lotes só é permitida a plantação de

pequenas culturas, como soja, trigo, e não pode ser construído qualquer tipo de

edificação, pois, o risco de acidentes nessas áreas é grande.

A estrutura das chácaras também difere muito umas das outras. Há

chácaras que são utilizadas por pessoas que moram, mas não são donos nem

caseiros, como é o caso de um rapaz com o qual conversamos durante as entrevistas

pelo loteamento, mas o mesmo como não era dono nem caseiro, não se enquadrou em

nenhuma dessas categorias. Esse rapaz mora em um chácara que é de um conhecido,

mas lá existe somente a casa e nada mais. Ele disse que mora lá pela gentileza do

amigo que lhe cedeu a casa sem cobrar aluguel e que assim, com o pouco que ele

ganha na cidade, pode sustentar a família sem gastar com aluguel.

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FIGURA 13 – Diferenciação do padrão econômico das chácaras do Loteamento Recanto Santa Andréa. Data: 05/08/2005 Fotografia: Bernardes, 2005. Na Figura 13, vemos uma chácara simples, onde existe a casa e poucas

árvores. No loteamento ainda existem muitas chácaras como essa e outras que ainda

são somente lotes, como já dissemos

Como exemplo de uma chácara bem estruturada, apresentaremos, a

seguir, uma foto que mostra como existem lugares belíssimos dentro do loteamento

Recanto Santa Andréa. Percebemos que os padrões realmente são muito diferentes,

sendo que cada proprietário investe nos lotes da maneira que acha conveniente.

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FIGURA 14 – Chácara localizada no Recanto Santa Andréa. Podemos visualizar que a estrutura do imóvel é boa propiciando o que os proprietários procuram, bem-estar em um recanto de lazer. Data: 06/08/2005. Fotografia: Bernardes, 2005. O outro foco da pesquisa voltou-se para os trabalhadores presentes nas

chácaras, os denominados caseiros. Esses profissionais têm como características

principais, a prestação de serviços de jardinagem, limpeza de piscina, pequenos

consertos, entre outras atividades. Para que seja possível essa prestação de serviço,

esse profissional estabelece um acordo com o dono da chácara visando favorecer as

duas partes envolvidas. Normalmente, o que se estabelece é a cessão de uma casa e

de um espaço para cultivo de horta e frutas, além de energia elétrica para o caseiro e

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sua família. Algumas vezes é estabelecido um salário que gira em torno de R$ 250,00

a R$ 300,00, mais uma cesta básica, mas isso depende de cada patrão e colaborador.

Graziano (2004, p. 181) aponta, em recente estudo sobre os caseiros de

Vinhedo-Sp, que é possível constatar uma diversidade muito grande, em termos de

salário, além das exigências dos patrões em relação às atividades que serão

desenvolvidas pelos caseiros nas chácaras.

Dessa forma, prosseguindo com nossa pesquisa, entrevistamos 10

caseiros que prestam serviços no loteamento. Nossa primeira questão para os caseiros

foi em referência à origem dos mesmos para que possamos saber de onde vieram e

por quais motivos. Dos 10 entrevistados, 8 disseram ter vindo de cidades vizinhas de

Cambé, como Jataizinho, Porecatu, Rolândia e Londrina. Ao entrevistarmos esses

caseiros, que na verdade são 8 caseiros e 2 caseiras, percebemos que todos

nasceram no meio rural, e que alguns moraram na cidade, sendo que as atividades

que já exerceram foram: pedreiro, diarista, marceneiro e auxiliar geral. A dificuldade em

conseguir um trabalho rentável existe devido à falta de capacitação, ou seja, essas

pessoas freqüentaram poucas séries escolares, sendo que, apenas 2 conseguiram

concluir o ensino fundamental. A opção por trabalharem como caseiros reflete o

pensamento dos mesmos que disseram ser esta profissão um trabalho que não

necessita de alta capacitação e, por isso, eles não procuram a escola novamente,

muitos, por falta de oportunidades. Sendo assim, os caseiros vêem nas chácaras, em

que trabalham, a oportunidade de manter o emprego estável, além, de ter como

garantia a moradia para ele e sua família.

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Graziano9 confirma essa idéia quando aponta que:

Se o ser caseiro pode ser considerado apenas uma atividade transitória para alguns, há um número significativo de entrevistados para os quais a profissão de caseiro é considerada alternativa mais viável de emprego e não existe muita perspectiva em abandoná-la.

Na ótica dos caseiros que entrevistamos, as atividades que exercem

são muito importantes como um deles ressaltou muito bem: “se não fosse nós, os

patrão não teria a casa limpa, a piscina cuidada, a grama cortada. Eu acho que nosso

trabalho é importante sim, mais até que o de doméstica que a mulher faz pra eles,

porque lavar louça não deixa um ambiente bonito como o jardim tando bem cuidado”

Prosseguindo com nosso trabalho, é necessário fazer uma breve

exposição do perfil sócio-econômico dos caseiros, afim de que, se possa entender a

realidade vivida pelos entrevistados. A Tabela 3, apresenta alguns dados referentes

aos caseiros e às suas famílias, no que tange a idade, ocupação, renda familiar, sexo e

quantidade de pessoas que as compõem.

TABELA 3 – Perfil sócio-econômico dos caseiros entrevistados.

Sexo Idade Estrutura familiar Ocupação Renda familiar

Masc 53 4 pessoas Caseiro R$ 300,00

Masc 45 4 pessoas Caseiro/aux. Geral R$ 450,00

Masc 42 5 pessoas Caseiro R$ 280,00 + cesta bás

9 Ibid., p.180

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Fem 39 5 pessoas Caseira R$ 850,00

Fem 55 4 pessoas Caseira R$ 1.000,00

Masc 38 4 pessoas Caseiro/pedreiro R$ 650,00

Masc 47 2 pessoas Caseiro/aux. Geral R$ 500,00

Masc 53 3 pessoas Caseiro/marceneiro R$ 600,00

Masc 42 4 pessoas Caseiro/pintor R$ 750,00

Masc 48 5 pessoas Caseiro/aux. Geral R$ 650,00

Fonte: Pesquisa “in loco” Recanto Santa Andréa – Cambé Pr. Data: 10/05 a 20/07/05. Organização: BERNARDES, Jamile Ruthes.

Analisando a Tabela 3, percebemos que nem todos os entrevistados

são somente caseiros, pois devido aos baixos salários pagos pelos patrões, os

caseiros procuram, nas cidades, um emprego para aumentar a renda mensal da

família. Esses trabalhadores são os chamados pluriativos que, segundo Graziano e

Grossi (2000, p. 4) são trabalhadores que combinam atividades entre campo e cidade

durante o ano. No nosso caso, as atividades são em chácaras dentro do limite urbano,

mas as atividades que são realizadas podem ser consideradas, em parte, como

agrícolas, visto que os caseiros plantam frutas, verduras e cuidam da vegetação de um

modo geral. Esses trabalhos conseguidos na cidade trazem, para as famílias dos

caseiros, uma renda adicional e com ela, é possível fazer compras nos mercados da

cidade de Cambé e, segundo alguns entrevistados, ainda sobra para o lazer.

A partir da pesquisa com os trabalhadores que encontram nas chácaras

as suas ocupações, é possível constatar que a totalidade das famílias que sobrevivem

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dessa atividade corresponde ao conjunto de 60 pessoas, o que demonstra a

importância da presença de novos usos da terra no espaço rural, ou, como no caso do

nosso estudo, uma área de transição entre o centro urbano e o rural do município de

Cambé. Ressaltamos que são exatamente nessas “novas ocupações” geradas no

espaço rural que vários teóricos acreditam ser o modo de manter a população nesse

espaço. Essa afirmativa pode ser observada num estudo realizado por Graziano e Del

Grossi (2000, p.2) sobre o espaço rural brasileiro, ao colocarem que:

[...] o que segurou gente no campo brasileiro não foram as atividades agropecuárias “strictu sensu”, mas sim as ocupações não-agrícolas. Cerca de um milhão de pessoas residentes em áreas rurais encontraram em ocupações diversas de atividades não-agrícolas, novos postos de trabalho entre 1981 e 1997.

Dispusemos as rendas na Tabela 3 para que possamos visualizar o

salário médio das famílias dos caseiros. Lembramos que estes salários envolvem toda

a família, pois alguns entrevistados possuem filhos adultos que contribuem na renda

mensal com o trabalho que desempenham. Os filhos dos caseiros que trabalham,

preferem dedicar-se a estudar e empregar-se na cidade, pois, os comentários feitos

pelos entrevistados mostram a falta de perspectiva que os filhos vêem na profissão dos

pais. Um caseiro disse-nos que seus filhos moram na cidade de Cambé e que vêm

visitá-los nos finais de semana. Eles orgulham-se dos filhos por procurarem uma vida

melhor, mas dizem que não trocam o ambiente da chácara pela cidade, como podemos

conferir na fala de um dos entrevistados. “Aqui é maravilhoso. Apesar da chácara não

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ser minha, gosto de viver aqui. Não sei o que meus filhos fazem na cidade que é um

lugar tão barulhento e aqui só tem passarinho cantando, cachorro latindo, flor....”

Segundo Graziano (2004, p.192) os caseiros muitas vezes demonstram

o desejo de conseguir comprar um espaço como as chácaras em que trabalham o que

fica muito claro no trecho abaixo:

Em outras palavras, morar nas chácaras não significa simplesmente ter moradia gratuita. Significa ter moradia num espaço onde a qualidade de vida é extremamente valorizada. Por essa razão, é interessante ressaltar que com relação ao projeto de futuro desses caseiros, para aqueles em que o acesso à terra se coloca como relevante, adquirir uma chácara semelhante àquela em que trabalham, inclusive no mesmo local, é um desejo bastante mencionado.

A própria falta de oportunidades nas cidades faz com que muitas

pessoas procurem empregos em áreas como essas, na busca de uma vida mais

tranqüila, visto que o problema da moradia fica resolvido de imediato. Uma das

caseiras que entrevistamos é, ao mesmo tempo, dona e caseira de chácaras. Ela

explicou que um antigo patrão não lhe pagou férias e 13º salário por 11 anos e que ela

foi indenizada por ele com 3 chácaras do loteamento, onde duas ficaram para ela e

uma para o advogado, como pagamento de honorários. Essa caseira é proprietária de

chácaras, reside em uma delas e presta serviço como caseira em outra chácara, na

qual faz serviços de secretária doméstica e cuida da piscina, enquanto seu marido faz

a parte de jardinagem. Sobre a regularização do trabalho de caseiro, conversamos com

6 caseiros que disseram trabalhar sem registro em carteira profissional. Isso ainda é

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um grande problema, pois essa profissão, bem como a de secretária doméstica, são

pouco reconhecidas. Dessa forma, os patrões, geralmente, não registram e nem

pagam os direitos aos funcionários. Nesse loteamento já houve muitos problemas

envolvendo questões trabalhistas, segundo relatos de entrevistados, como pudemos

constatar no caso da caseira que recebeu as chácaras como pagamento de seus

direitos. Como vimos, existem muitas relações que permeiam a vida dos caseiros,

assim como a de qualquer profissional.

Uma outra questão refere-se aos filhos pequenos que muitos caseiros

possuem. Para as crianças, a prefeitura dispõe de uma van que faz o transporte das

mesmas até a escola. Além disso, a 500 metros do loteamento, existe um ponto de

ônibus que faz a linha Brastislava-Cambé e que auxilia os pais e os filhos caso queiram

fazer cursos ou tenham alguma atividade para desempenharem no centro da cidade.

Um outro aspecto que levantamos durante as entrevistas foi sobre cursos gratuitos que

existem no bairro ao lado do Recanto Santa Andréa. As atividades são de aeróbica e

artesanato para mulheres. Uma entrevistada disse ter muita vontade de freqüentar

esses cursos, mas, como seu marido não concorda ela prefere não se matricular.

Durante nosso estudo, percebemos que esse loteamento de chácaras

possui várias relações, pois, além de opção para trabalho, são ambientes para

descanso e reflexão. Um espaço como esse não poderia ter sido descrito tantas vezes,

tanto por caseiros como por proprietários, como maravilhoso se realmente não o fosse.

Finalizamos com a certeza de que pudemos realizar uma análise das

relações sociais e espaciais que compõem o Loteamento Recanto Santa Andréa,

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sabendo que, acima de tudo, contribuímos para com a ciência, em especial, a ciência

geográfica.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O empenho que é posto diante de uma pesquisa faz com que o

pesquisador sinta que está realizando um esforço para compreender o que lhe

incomodou em algum momento em relação ao objeto de estudo proposto. Foi nessa

perspectiva que trabalhamos, empenhando-nos ao máximo, para compreender as

mudanças sócio-espaciais, ocorridas no Loteamento Recanto Santa Andréa.

Acreditamos ter ficado claro, que as mudanças foram significativas, tanto ao ver dos

caseiros, como dos proprietários das chácaras, em relação às mudanças na infra-

estrutura geral do loteamento, assim como, da diferença de padrões existentes entre as

chácaras, que compõem esse loteamento. Quanto à parte social da pesquisa,

concluímos ter sido de grande valia ouvir os caseiros, pois estes, na maioria das vezes

nos trouxeram informações sobre a realidade do loteamento, pois a vivência deles é

diária naquele espaço, diferentemente dos proprietários que não residem nas chácaras.

Uma outra abordagem muito válida de termos trabalhado, foi em relação

às mudanças que o rural brasileiro vem passando nas últimas décadas. As chácaras

para lazer, são apenas uma categoria dessas mudanças, mas muitas outras dão um

novo tom ao antigo rural, como o turismo rural, hotéis fazenda, pesque-pagues, entre

outros, o que designou-lhe uma nova denominação: “novo rural brasileiro”.

O surgimento dessas novas atividades no meio rural concedeu-lhe

novas formas, como pudemos verificar em relação à ocupação dos caseiros em

atividades agrícolas e não-agrícolas. No loteamento Recanto Santa Andréa, os

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caseiros tanto trabalham nas chácaras, como na cidade adquirindo, portanto, a

denominação de trabalhadores pluriativos, conforme relatamos neste trabalho.

Em relação ao setor imobiliário, podemos dizer que é um segmento que

está em incessante procura por áreas que possam tornar-se objeto de consumo, ou

seja, procura-se por terras afastadas dos centros urbanos, constrói-se uma infra-

estrutura, a qual é capaz de atrair muitos compradores com a promessa de obter um

espaço totalmente seguro, com muito verde, que auxilie no alívio das tensões diárias,

entre outras. As pessoas, seduzidas pelo anúncio, acabam adquirindo esses lotes a fim

de destinar-lhes ao lazer familiar.

Quanto à satisfação, em relação ao empreendimento chácaras para

lazer, os proprietários entrevistados salientaram que não existe lugar melhor para

passar momentos agradáveis com seus amigos e familiares, mesmo que os custos

sejam altos, além de outros fatores, como falta de segurança e ausência de infra-

estrutura necessária para incidir na valorização dos imóveis. Sendo assim, percebemos

que, mais que um lote, esse espaço criou referências pessoais com seus proprietários,

e a partir disso, surgiu o vínculo e o sentimento em relação ao lugar em que vivem.

Outra perspectiva a ser considerada, é a de que, até o presente

momento, não existem trabalhos sobre a área estudada, fazendo de nossa pesquisa,

portanto, uma fonte de dados para eventuais estudos. Nessa perspectiva, encerramos

nosso trabalho, certos de que não esgotamos as abordagens possíveis em relação a

este tema, mas otimistas por termos contribuído para com o saber comum e em

especial, sistematicamente, com a ciência geográfica.

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de professor Titular – UFRJ. Rio de Janeiro, 1978. MAZZOTTI, A.J.A; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 4.reimpr. da 2.ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. MIRANDA, Z.A.I de. A urbanização do campo e seus impactos sócio-espaciais. Disponível em: <http://www.eco.unicamp.br/projetos/SOBER&IRSA00477.html> Acesso em: 28 nov. 2000. SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS. Disponível em: <http://webgeo.pr.gov.br/website/gestao/viewer.htm> Acesso em 18 maio 2005. SOGAME, M. Rudimentos para o exame da urbanização em sua fase crítica: uma aproximação ao conceito de segregação sócio-espacial. Geografares, Vitória, ES, n° 2, p. 97, jun. 2001. SOUZA, M. de. Caracterização e evolução das ocupações das pessoas e das famílias agrícolas e rurais no contexto paranaense: uma análise a partir dos dados das PNADs. Disponível em: <http://www.eco.unicamp.br/projetos.html> Acesso em 10 maio 2000. WANDERLEY, M.N. Uma categoria rural esquecida: os desafios permanentes da sociologia rural brasileira. In: V Jornada de Ciências Sociais. Marília, 1994, 32p.

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ANEXO 1

As questões que nortearam as entrevistas feitas com os donos de chácaras foram as

seguintes:

1) Há quanto tempo têm a chácara (adquiriu em função de que? Lazer? investimento? Moradia? Valor que pagou? 2) Reside aqui? Usa para 2ª Moradia, planta alguma coisa? 3) A chácara lhe dá algum tipo de renda? Há muitos gastos? Compensa tê-la? 4) Qual a sua atividade (profissão), idade, escolaridade, filhos, esposa? 5) Relação com os profissionais que cuidam das chácaras (caseiros)? 6) O que acha desse espaço? Quais as principais mudanças que você notou aqui desde que adquiriu a chácara até hoje?

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ANEXO 2

As questões que embasaram as entrevistas feitas com os caseiros foram as seguintes:

1) Há quanto tempo reside aqui (se ele residir ali, claro) Origem do local... se era rural ou urbano.. (seus pais, o q faziam, e se ele o ajudava? 2) Quais os motivos que o trouxeram para cá (financeiros, gosta de trabalha em áreas rurais? 3) Qual a sua atividade (caseiro, jardineiro, trabalha fora)? 4) Renda (recebe salário do dono da chácara, quanto)? Ajuda de custo (cesta básica, pomar, horta)? 5) trabalha na cidade (atividade externa à chácara, mesmo em meio rural)? 6) Você pode plantar aqui, cultivar uma horta, etc? 7) Escolaridade, idade, filhos, esposa, e salários deles se trabalha fora também, etc 8) O que acha desse espaço? Quais as principais mudanças que você notou aqui desde que veio trabalhar na chácara?