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O Crisântemo e a Espada Ruth Benedict

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O Crisântemo e a Espada

Ruth Benedict

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Devedor dos séculos e do mundo

O que conhecemos como culto dos ancestrais é um reconhecimento do ritual do débito da geração atual com tudo o que já passou.

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Um reflexo na cultura é a presença de diversas palavras para obrigação, mas cada uma com um sentido diferente. A mais abrangente é Onque pode ser traduzida numa série de palavras como obrigações e lealdade até bondade e amor. Esse sentido pode acabar ficando um pouco deturpado.

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Em todos seus empregos quer dizer carga, débito, ônus que se carrega o melhor possível.Quando se diz “Tenho um on com relação a ele” querem dizer “tenho um monte de obrigações para com ele”.Mas “Lembrar-se do seu on” pode significar um extravasamento de mútua devoção.

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A moral da história de Hachi é a fidelidade, que é outro nome para amor.A devoção também é on.

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On Imperial = é o débito para com o Imperador, que se deve aceitar com extrema gratidão. Se sentir privilegiado pela situação do país e a própria vida.Exemplo: os pilotos kamikaze estariam retribuindo o seu on imperial.

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On que se tem para com os pais = Os pais têm uma posição de autoridade em relação aos filhos. É expresso em termos de débito que os filhos têm para com eles e que se esforçam para pagar.

Ditado Japonês: “Somente depois que se é pai é que se tem noção do débito contraído para com os próprios.”

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Sua cultura enfatiza a dependência nos pais (na geração anterior) durante a infância e, por isso, a valorização dos ancestrais.

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Nushi = onespecial que se tem para com um professor ou patrão.

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“Levar uma pessoa a dever um on” = tem relação com fazer gentileza a alguém. Os japoneses não fazem gestos gratuitos de bondade para estranhos, para evitar as consequências do On.Exemplo: quando ocorre um acidente no Japão, não-oficiais não se envolvem, porque qualquer interferência levaria o recebedor a dever um on.

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Ai significa amor, mas quer dizer, mais especificamente, amor de um superior para com seus dependentes.

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Existem também diversas palavras para dizer “Obrigado”. Quando um estranho age com gentileza, por vezes responde-se com a expressão Kino doku, que significa “obrigado”, mas também algo como “me sinto um patife recebendo essa gentileza”.Exemplo: Alguém te oferece uma bala na rua.

Outra palavra é Katajikenai que significa tanto “sinto-me insultado” quanto “sinto-me grato”. É usada quando se recebe um “favor extraordinário” e, por isso, sente-se envergonhado porque não é digno do benefício.

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Arigato = usado principalmente em lojas tem um sentido parecido com “Oh, essa coisa difícil”, se referindo ao grande e raro favor concedido à loja pelo freguês ao comprar. Também pode ser usado quando se recebe um presente e em outras situações do dia a dia.

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Sumimasen = Usado por lojistas muitas vezes com o sentido de “Estou aceitando on do senhor e segundo os modernos ajustes econômicos jamais lhe poderei pagar. Lamento estar colocado numa posição dessas”. Usa-se também em relação às gentilezas vindas de estranhos. Exemplo: Algo nosso cai no chão e a pessoa se abaixa para catar.

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A questão do on pode fazer com que os japoneses sintam-se insultados ou briguem por coisas simples como receber um copo de água de alguém.Para entender como funciona esse sistema, podemos fazer uma analogia a um empréstimo com juros, onde se deve àquele que te empresta. E isso se aplica ao amor, afabilidade, generosidade, que, no Japão, são doados com compromissos.

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SALDANDO UM DÉcIMO MILÉSIMO

O on,como débito, precisa ser saldado.Dizem “aceitar um on”, “dever um on”, issosignifica que são obrigações do ponto de vistado recebedor passivo.

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Os vários tipos de on:Ko on,Oya onNishi no onShi no onOn,

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Conceitos como amor familiar e patriotismo sãotratados da mesma forma que os ocidentais

tratam dívidas financeiras.

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Gimu”Jamais se paga um décimo

milésimo do (deste) on”.

Há dois tipos de gimu:Ko.Chu.As duas formas de gimusão absolutas

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Casamento, escolha dos pais.Conflito nora x sogra.Transformação da nora em sogra.Cuidado com os filhos seencaixa nesta categoria.O Ko não exige harmonia.Os conflitos do Ko nãoaparecem no Chu.

Ko, o devotamento filial

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Chu, fidelidade para o Imperador

Por sete séculos o Imperador foi uma figurasecundaria, sendo o chu devido ao Xogum.Conflitos entre a fidelidade par com o Xogume a fidelidade para como suserano.

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O chu foi transferido ao imperador com ajudado folclore.Kami, literalmente cabeça, o topo da hierarquiaO imperador é transformado em símbolo

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Raras aparições eram encenadasSilêncio nas multidões.Janelas fechadas.Contatos hierárquicosImperador como símbolo de lealdade

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Rendição na 2ª Guerra Mundial,uma demonstração do Chu

Os ocidentais não acreditavam em rendição.Possibilidade de resistência após a vitória.Os japoneses não sofreram grandes derrotas durantea guerra e eram combatentes ferrenhos.

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Após a rendição:Fim imediato dos combates.Não houve resistência.Mesmo na derrota a leisuprema ainda era o chu.

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O PAGAMENTO MAIS DIFÍCIL DE SUPORTAR

Assim como o gimu, o girié uma série de obrigações que devem ser pagas, só que de fundamento diferente. O giri carrega consigo uma ideia de “a contragosto”, de “obrigação”, gerando ressentimento quanto a necessidade de ser pago.

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O giri é característico da cultura japonesa. Ele não provém nem do confucionismo chinês e nem do budismo oriental. Seu entendimento para o ocidental é difícil, ele abrange uma lista extremamente heterogênea de obrigações.

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Giri para o mundo: “Pagar o giri”. É a obrigação de se pagar aos semelhantes o on.Pode ser descrito como o cumprimento de relações contratuais. Tais como o casamento, tanto no papel de noivo, como no papel de noiva para com a sogra/sogro e a nova família.Quando alguém procura cumprir seus deveres para com os parentes de seu cônjugue, por exemplo, ele o faz porque deve evitar a todo o custo a temível condenação: “o homem que não conhece o giri”.

A fidelidade devida por um homem honrado ao seu superior e aos colegas de classe também é giri. Porém, na época do Japão Feudal, o giri era honrado e não carregava ressentimento, sendo considerado como de coração. Hoje em dia, não o é mais.Hoje em dia, o giri é feito contra a vontade do indivíduo, mediante o levantar de alguma questão relativa a pagamento devido a um on. Por isso, se ouvem as seguintes frases: “estou arranjando este casamento somente por giri”,, “ele coagiu-me com giri”, etc...

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O homem deve fazer o giri porque se não o fizer, vão considerá-lo uma pessoa que não conhece o giri, o que gera enorme vergonha para o nome de alguém. O giri é regulado para um equivalente exato, ou seja, a retribuição do giri deve ser no mesmo nível do favor original. Mas se a devolução ultrapassa o devido prazo, ela aumenta, como se acrescida de juros.

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LIMPANDO O NOME

O “giri ligado ao nome” é o dever de considerar imaculada a reputação. A palavra giri é uma só, mas podendo assumir diferentes significados em diferentes contextos.

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O “giri ligado ao nome” se relaciona com o indivíduo e sua honra, e seria a obrigação em pagar as ofensas. Elas sujam o nome do indivíduo, e ignorar o que é comprometedor não é aceitável. Na cultura japonesa, as ações ou difamações de terceiros contribuem para manchar um nome tanto quanto as ações do próprio indivíduo, e por isso as provocações são levadas com tamanha seriedade.

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Há a ideia de que “um homem decente deve tentar pôr o mundo novamente em equilíbrio”. Para os japoneses, um nome manchado é como um dos termos de uma equação que deve ser resolvida e equalizada. Por isso a vingança é vista não como uma agressão, e sim como o certo a se fazer, para que a situação retome o equilíbrio ideal.

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A obrigação japonesa de limpar o nome contrasta com outras práticas de vingança em outras sociedades. Mesmo em relação a outras culturas asiáticas, a sensibilidade à ofensa dos japoneses é singular. Entretanto, não se deve reduzir o giri à simples vingança. Esta é apenas uma das faces do cumprimento dos deveres para com a honra.

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O giri ligado ao nome, ou seja, ligado à reputação individual, também se relaciona à conduta equilibrada e a outras práticas como o autocontrole.O autocontrole relaciona-se com o amor-próprio, ao mesmo tempo que gera a repressão dos sentimentos. A aceitação de sua classe social também faz parte do giri,sendo a mudança de classe vista como suspeita.

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O giri também está relacionado com os compromissos assumidos, como empréstimos. A impossibilidade de se admitir erros, fracassos ou ignorância na vida profissional também está ligada ao cumprimento do giri, havendo nesse caso uma identificação entre o indivíduo e a própria obra ou empreitada, quando as críticas ao trabalho são levadas para a vida pessoal.

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Apesar da necessidade em limpar o nome, a sensibilidade à ofensa na cultura japonesa é tão grande que a competição direta é evitada em todos os níveis. A etiqueta japonesa também cumpre o papel de evitar ofensas e situações constrangedoras, como nas regras de hospitalidade e corte para casamento. Esta característica de preservação do povo japonês é contrastante com muitos outros povos que também apresentam o hábito de “limpar o nome”, mas que não evitam as situações que podem levar a tal necessidade.

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Os japoneses apresentam naturalmente uma grande polidez, mas podem chegar a situações extremas no caso em que restaurar a honra se faça necessário. Após a era Meiji, entretanto, com a instituição de ordem, leis e economia mais rígidas, além da influência ocidental, o hábito em limpar o nome com a vingança sangrenta se tornou mais raro.

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Na atualidade é mais comum a “vingança particular”, que pode assumir aspecto sutil, ou se voltar para a própria pessoa. A vulnerabilidade a fracassos leva a maltratar mais a si mesmo. Isso faz com que depressão, tédio, melancolia e estagnação sejam comuns, emuitas vezes não tenham as suas causas investigadas, por serem consequências da repressão dos sentimentos.

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Por isso, no Japão moderno é cada vez mais comum recorrer ao suicídio. Uma das causas é justamente a tendência em favorecer a autodestruição ao invés de voltá-la para o outro. Outra causa é a glorificação do suicídio que existe impregnada na cultura como forma de limpar o nome e morrer de forma honrada.

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No Japão feudal, o suicídio era mais comum como uma escolha de meios, ou seja, a morte já era certa e optava-se pelo modo mais corajoso de morrer. Hoje, no Japão mais emocionalmente formal e reprimido, é uma forma de livrar-se das frustrações e poupar o outro de vingança ao escolher a autodestruição.

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A canalização do sentimento de manter ahonra imaculada provavelmente foi uma das

causas do fanatismo militar japonês na Segunda Guerra Mundial. Mas, diferentemente da impetuosidade que demonstraram durante a batalha, aceitaram a derrota com boa vontade, em mais uma demonstração de contradição na visão dos ocidentais.

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Essas aparentes contradições se dão pelo fato de que no Japão o objetivo constante é a honra. Os japoneses rapidamente traçam novas rotas para se manterem no caminho da honra, se necessário. O objetivo deles era conquistar o respeito do mundo, primeiro através da guerra, e depois como potência industrial e tecnológica.

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Apesar da grande fama da honra dos samurais, o giri é comum a todas as classes da sociedade japonesa. Para os japoneses, ser respeitado em seu mundo é recompensa suficiente. E aquele que não conhece o girié desprezado.

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O círculo dos sentimentos humanos

Os japoneses consideram os prazeres físicos bons e dignos de serem cultivados, e não condenam a auto -satisfação, apesar de o Japão ser uma das grandes nações budistas.

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O banho quente é um dos prazeres menores mais apreciados no Japão. O ritual do banho no Japão é menos sobre lavagem e mais sobre relaxar no final do dia de trabalho, mantendo-os quentes no inverno.

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Se entregam prazerosamente ao sono, dormem inteiramente relaxados em condições que consideramos impossíveis.

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• Comer além de prazer

é visto como uma disciplina.

• Os japoneses demoram-se

em refeições com infindáveis

pratos e a comida é apreciada

tanto pelo aspecto quanto pelo

sabor.

• É necessário para conservar

a vida, portanto deve ser da forma

mais breve possível.

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O amor romântico é outro sentimento humano que os japoneses cultivam. Duplos suicídios por amor são temas favoritos de leitura e de conversa.

Como qualquer outro sentimento humano, consideram o sexo bom , ocupando um lugar secundário na vida.

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Os japoneses mantêm as obrigações de família e os “sentimentos humanos” separados. Deve haver uma relação de formalismo entre os casais e os filhos não hão de ver nenhum gesto de emoção erótica entre eles.

A maioria dos homens vez por outra visitou gueixas ou prostitutas, entretanto, somente a classe alta pode arcar com o sustento de amantes.

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Companhia de gueixas não constitui assunto sexual. Suas danças, canções e gestos são tradicionalmente sugestivos para expressarem tudo o que uma esposa não pode oferecer. Elas pertencem ao “circulo dos sentimentos humanos” e proporcionam alivio do “círculo de ko”.

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As satisfações homossexuais também fazem parte dos “sentimentos humanos” tradicionais. No Japão antigo era comum a prática por homens de posição elevada, como sacerdotes e samurais. No período Meiji tornou-se ilegal, num esforço de aprovação dos ocidentais. Se enquadra, no entanto, entre aqueles “sentimentos humanos” a respeito dos quais as atitudes moralistas são inadequadas.

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A embriaguez é outro dos “sentimentos humanos” permissíveis. Porém, o álcool é uma das diversões menos importantes e nenhum se deixaria dominar-se por ele.

Saquê é uma bebida fermentada tradicional do Japão, fabricada pela fermentação do arroz; tomada geralmente quente e em grandes comemorações, como Ano Novo e cerimônias xintoístas de casamento. No Japão, o termo saquê é mais abrangente e pode significar qualquer bebida alcoólica, distinguindo-se frequentemente a bebida japonesa como “nihonshu” (literalmente saquê do Japão) ou “seishu”.

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Na filosofia japonesa desfrutar dos prazeres da carne não constitui pecado. O espírito e o corpo não são forças opostas e o mundo não é o campo de batalha entre o bem e o mal. Consideram o supremo empreendimento da vida o cumprimento das próprias obrigações.

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A felicidade é uma distração a que a pessoa se entrega quando pode, a busca da felicidade como finalidade na vida é para eles uma doutrina imoral. O fato de ser tão raro “final feliz” nas novelas e peças japonesas é coerente com essa posição.

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O DILEMA DA VIRTUDE

No ponto de vista japonês, o “dever total” do homem é como se fosse repartido em regiões separadas de um mapa:

Chu Ko Giri

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Já para os ocidentais as pessoas agem segundo um caráter: leais ou traiçoeiras, por exemplo, esperamos que aja novamente de acordo com o que agiu antes. Se tem uma ideologia política liberal consequentemente irá combater o conservadorismo. Se o indivíduo muda de lado , a mudança será devidamente rotulada e uma nova personalidade será criada para se ajustar a ela.

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Não existe um “círculo do mal” não consideram a vida humana um palco onde as forças do bem lutam contra as do mal, apenas a vida é um drama que implica num cuidadoso equilíbrio das exigências de um círculo com as de outro.

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Todas as almas brilham de virtude como uma espada nova, mesmo assim se não forem limpas, ficam enferrujadas. Sob a ferrugem ainda jaz a alma gloriosa e cintilante, basta apenas limpá-la novamente.

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O Herói antigo

OCIDENTAISO heróis são bons não porque escolheram o lado “melhor” . Enfrentam adversários que são maus, a virtude triunfa e deverá haver um final feliz.

JAPONESESO herói que salda duas dívidas incompatíveis: uma para com o mundo e outra com o seu nome, escolhendo a morte como solução. EX: A Epopéia japonesa –Os 47 Rônin

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O Herói moderno (1946)

Existe um destaque para o conflito entre : Obrigações X Sentimentos humanos. Os japoneses quando passam em julgamento as suas vidas ou de outras pessoas, consideram um homem fraco se ser atenção aos desejo pessoais quando em conflito com o seu código de obrigaçõesMesmo quando um casamento é feliz, uma esposa não está no centro do círculo de obrigações. Um homem não deve elevar a sua relação de modo a que nivele com os seus sentimentos voltados para os pais ou pátria

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O Culto do Imperador

Assim como os estadistassimplificaram a hierarquia colocando o Imperadorno ápice, eliminando o Xógum e os senhores feudais, igualmente no âmbito moral promoveram a simplificação do sistema de obrigações arrolando sob a categoria de chu e exaltando o chu ao máximo.

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Edito Imperial aos Soldados e Marinheiros

Pode ser considerado uma verdadeira Escritura Sagrada.

O Edito inteiro revela uma tentativa oficial de minimizar o giri e elevar o chu.

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O Grande Caminho do Céu e da Terra e a Lei universal da humanidade

(1) A virtude suprema é cumprir as obrigações do chu. Um soldado ou marinheiro, por mais hábil, em quem não seja forte o chu, não passa de um boneco. Um grupo de soldados carentes de chunão será mais do que uma turba. “Portanto, não vos deixeis perturbar pela opinião geral, nem vos metais em política e sim, com sinceridade, praticai o chu, lembrando-se de que o gi(integridade) é mais pesado do que uma montanha, ao passo que a morte é mais leve do que uma pena.”

(2) A segunda recomendação é considerar uma aparência exterior e uma conduta, isto é, com relação ao posto no Exército. “Acate as ordens dos superiores como se emanassem diretamente de Nós” e trate os inferiores com consideração

(3) A terceira é a coragem. A verdadeira coragem é posta em contraste com “atos bárbaros de arder o sangue” , sendo definida como “jamais desprezar um inferior ou temer um superior. Os que assim prezam a verdadeira coragem deverão nas suas relações diárias pôr em primeiro lugar a bondade e procurar conquistar o amor e a consideração dos outros”.

(4) A quarta recomendação* é a advertência contra “manter o compromisso nas relações privadas(5) A quinta é a admonição por ser frugal. “Se não fizerdes da simplicidade o vosso objetivo, tornar-

vos-eis efeminados e frívolos e adquirireis gosto pelos hábitos sabaríticos e extravagantes; acabareis por vos tomardes egoístas e sórdidos e mergulhareis no último grau de baixeza, de modo a que nem a lealdade nem a coragem adiantarão para salvar-vos do desprezo do mundo . . . Atormentados de angústia, temerosos de que ela se desencadeie, nestes termos reiteramos Nosso aviso.”

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MakotoAo tentarem fazer preponderar sobre todos os círculos uma virtude, os japoneses geralmente escolher a “sinceridade”. Tanto que ao final do Edit, “a alma” desses cinco preceitos “é a sinceridade”. Se o coração não for sincero, as palavras e os atos, por melhores que sejam, não passam de ostentação e de nada valem. É só o coração ser sincero que tudo poderá ser realizado.

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Princípio da virtude É como se houvessem organizado suas éticas como em um jogo de cartas, o bom jogador é o que aceita as regras e joga de acordo com elas. Distingue-se do que não o é pelo fato de ser disciplinado nos seus cálculos, sendo capaz de secundar as mãos dos outros jogadores com inteiro conhecimento do seu significado, segundo as regras do jogo.

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Respeitar-se : Consiste sempre em revelar-se o jogador cuidadoso.Ex: Um empregado diz “Devo respeitar-me(jicho)” , o que significa não que ele deva firmar-se

nos seus direitos e sim que nada deva dizer aos patrões que lhe possa causar problemas.

Em japonês uma das expressões mais violentas é "dobrar dignidade com dignidade” e significa ser ponderado no mais alto grau, jamais saltando para uma conclusão precipitada, calculando meios e modos no sentido de que nem mais nem menos esforço seja despendido do que o estritamente necessário para atingir o objetivo.

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Sanção ao indivíduo

VERGONHAAs culturas de vergonha enfatizam as sanções externas para a boa conduta, O importante é a sua má conduta não “transpire para o mundo

CULPAAs culturas de culpa, interiorizam a convicção do pecado.Num país onde a honra significa viver de acordò com a imagem que se tem de si próprio, pode-se padecer de culpa, ainda que todos ignorem

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A vergonha, dizem eles, é a raiz da virtude. Quem ésensível a ela cumprirá todas as regras de boa conduta. “Um homem que conhece a vergonha” é por vezes traduzido por “virtuoso” ou "honrado” . A vergonha ocupa o mesmo lugar de autoridade na ética japonesa que uma “consciência limpa”