BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

154
POEMAS DE CHARLES BUKOWSKI

description

 

Transcript of BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

Page 1: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

POEMAS DE

CHARLES

BUKOWSKI

Page 2: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

ÍNDICE

01 HIPÓDROMO (tradução: desconhecido)

02 A DEUSA DE UM METRO E OITENTA (tradução: Pedro Gonzaga)

03 PARA A PUTA QUE LEVOU OS MEUS POEMAS (tradução: desconhecido) 04 O CORAÇÃO RISONHO (tradução: desconhecido)

05 VIAGEM À PRAIA (tradução: Pedro Gonzaga)

06 SOZINHO COMO TODO MUNDO (tradução: desconhecido)

07 O LUGAR NÃO PARECIA MAL (tradução: desconhecido) 08 QUANDO ME PENSO MORTO (tradução: Pedro Gonzaga)

09 VACAS NA AULA DE ARTE (tradução: Jorge Wanderley)

10 ALGUMA COISA (tradução: desconhecido) 11 JÁ VI MENDIGOS DEMAIS COM OS OLHOS VIDRADOS BEBENDO

VINHO BARATO DEBAIXO DA PONTE (tradução: Pedro Gonzaga)

12 A BOA VIDA (tradução: desconhecido) 13 É O MODO COMO VOCÊ JOGA O JOGO (tradução: desconhecido)

14 SANDRA (tradução: Pedro Gonzaga)

15 APRISIONADO (tradução: desconhecido)

16 UMA ASSASSINA (tradução: desconhecido) 17 A MÚSICA SUAVE (tradução: Pedro Gonzaga)

18 ELA SAIU DO BANHEIRO COM SUA CABELEIRA RUIVA FLAMEJANTE E DISSE...

(tradução: desconhecido) 19 A MORTE ESTÁ FUMANDO OS MEUS CHARUTOS (tradução: Athos Tazinaffo)

20 COMO UMA FLOR NA CHUVA (tradução: Pedro Gonzaga)

21 SENTADO NUMA LANCHEIRA (tradução: desconhecido)

22 O JEITO QUE ISSO É (tradução: desconhecido) 23 VELHO LIMPO (tradução: Pedro Gonzaga)

24 COMUNHÃO (tradução: desconhecido)

25 CHOPIN BUKOWSKI (tradução: Pedro Gonzaga) 26 DEPOIS DA LEITURA (tradução: desconhecido)

27 QUERIDA (tradução: desconhecido)

28 SOCIAL (tradução: desconhecido) 29 LAMENTANDO E SE QUEIXANDO (tradução: desconhecido)

30 PAZ (tradução: Athos Tazinaffo)

31 BARATA (tradução: Pedro Gonzaga)

32 UMA ABELHA (tradução: desconhecido) 33 AMOR (tradução: desconhecido)

34 CAVALO ARDENDO (tradução: João Tomaz Parreira)

35 PEQUENOS TIGRES POR TODA PARTE (tradução: Pedro Gonzaga) 36 BONS TEMPOS (tradução: desconhecido)

37 COMO VOCÊ NÃO ESTA FORA DA LISTA? (tradução: desconhecido)

38 O SEGUNDO ROMANCE (tradução: Pedro Gonzaga) 39 CONFISSÃO (tradução: Jorge Wanderley)

40 O PÁSSARO AZUL (tradução: Athos Tazinaffo)

41 HOMENS E MULHERES LIBERADAS (tradução: desconhecido)

42 ESTA NOITE (tradução: Pedro Gonzaga) 43 LIBERDADE (tradução: desconhecido)

44 QUANTO A LIGAR PARA UMA MULHER QUE NÃO VÊ HÁ 20 ANOS

(tradução: desconhecido) 45 UM POEMA DE AMOR (tradução: Jorge Wanderley)

46 UM SORRISO PRA RECORDAR (tradução: desconhecido)

47 OH SIM (tradução: desconhecido)

48 QUATRO E MEIA DA MANHÃ (tradução: desconhecido) 49 AOS FAZEDORES DE POEMAS RÁPIDOS E MODERNOS (tradução: Jorge Wanderley)

Page 3: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

50 PACÍFICO TELEFONE (tradução: Pedro Gonzaga)

51 A NOITE SERÁ DEVAGAR (tradução: desconhecido)

52 OUTRA CAMA (tradução: Pedro Gonzaga) 53 462-0614 (tradução: Pedro Gonzaga)

54 MEUS CAMARADAS (tradução: Pedro Gonzaga)

55 LEMBRANÇA (tradução: desconhecido) 56 SPLASH (tradução: Fernando Koproski)

57 BRINCOS ENORMES (tradução: Pedro Gonzaga)

58 TÃO LOUCO COMO SEMPRE FUI

59 NOVA GUERRA (tradução: desconhecido) 60 CERVEJA (tradução: desconhecido)

61 SEM CHANCE DE AJUDA (tradução: Fernando Koproski)

62 CORCUNDA (tradução: Fernando Koproski) 63 FOI ISSO QUE MATOU DYLAN THOMAS (tradução: Pedro Gonzaga)

64 CAIXÃO DA CRIAÇÃO (tradução: desconhecido)

65 A BELA RESISTÊNCIA DE EZRA (tradução: João Tomaz Parreira) 66 SE VAI TENTAR... (tradução: desconhecido)

67 O SOL É DOMINANTE, COMO UMA TOCHA LÁ NO ALTO

68 LANÇAR OS DADOS (tradução: desconhecido)

69 DINOSAURIA, NÓS (tradução: desconhecido) 70 VOCÊ (tradução: Pedro Gonzaga)

71 NA NOITE EM QUE EU IA MORRER (tradução: desconhecido)

72 O HOMEM COM BELOS OLHOS (tradução: desconhecido) 73 O HOMEM AO PIANO (tradução: desconhecido)

74 OS ÚLTIMOS DIAS DO GAROTO SUICIDA (tradução: desconhecido)

75 ARANHA (tradução: desconhecido)

76 ESTILO (tradução: desconhecido) 77 QUANDO O ESPÍRITO SE DESVANECE, APARECE A FORMA (tradução:

desconhecido)

78 O BANHO (tradução: desconhecido) 79 GAROTAS CALMAS E LIMPAS EM VESTIDOS DE ALGODÃO (tradução:

desconhecido)

80 NOITE DE NATAL (tradução: desconhecido) 81 EVENTO (tradução: desconhecido)

82 MANICÔMIO (tradução: desconhecido)

83 A TRAGÉDIA DAS FOLHAS (tradução: Leonardo de Magalhães)

84 A GERAÇÃO PERDIDA (tradução: Adriano Scandolara) 85 O MUNDO CHEIO DE JOÃO (tradução: Bettina Becker)

86 SEJA BONDOSO (tradução: Athos Tazinaffo)

87 CONVERSA ÀS TRÊS E MEIA DA MADRUGADA (tradução: Jorge Wanderley) 88 TANTA SORTE (tradução: Athos Tazinaffo)

89 POEMA NOS MEUS 43 ANOS (tradução: Jorge Wanderley)

90 UM POEMA É UMA CIDADE (tradução: desconhecido) 91 CONVERSA NUM TELEFONE (tradução: desconhecido)

92 TERREMOTO (tradução: desconhecido)

93 ORGULHOSOS, MAGROS, MORRENDO (tradução: Renata Lopez)

94 TELA (tradução: desconhecido) 95 UM POEMA QUASE FEITO (tradução: Pedro Gonzaga)

96 MELANCOLIA (tradução: Alice Dias)

97 CANTEM COMIGO (tradução: Alice Dias) 98 A RETIRADA (tradução: Alice Dias)

99 UM CORTE DURANTE O BARBEAR (tradução: Alice Dias)

100 CAUSA E EFEITO (tradução: Alice Dias)

101 POEMA PARA O MEU QUADRAGÉSIMO TERCEIRO ANIVERSÁRIO (tradução: Alice Dias)

Page 4: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

102 ÀS RAPOSAS (tradução: Alice Dias)

103 MEU PAI (tradução: Alice Dias)

104 METAMORFOSE (tradução: Alice Dias) 105 SHOW BIZZ (tradução: Alice Dias)

106 VIAGEM INTERROMPIDA (tradução: Alice Dias)

107 OS GÊNIOS DA MUTIDÃO (tradução: Alice Dias) 108 OS ALIENS (tradução: Alice Dias)

109 SAPATOS (tradução: Alice Dias)

110 ELOGIO A UMA NOBRE MULHER DOS INFERNOS (tradução: Alice Dias)

111 QUAL É A ULTILIDADE DE UM TITULO (tradução: Alice Dias) 112 PEQUENO CONVITE (tradução: Alice Dias)

113 É ISTO, ENTÃO (tradução: Alice Dias)

114 PUXE UMA CORDA, UMA MARIONETE SE MEXE (tradução: Alice Dias) 115 UM DESAFIO À ESCURIDÃO (tradução: Alice Dias)

116 DORMIR (tradução: Alice Dias)

117 O FECHAR DE CORTINAS (tradução: Alice Dias) 118 AGORA (tradução: Alice Dias)

119E A LUA E AS ESTRELAS E O MUNDO (tradução: Alice Dias)

120 SOLUCIONANDO (tradução: Alice Dias)

121 LIBERDADE (tradução: Alice Dias) 122 SIM SIM (tradução: Alice Dias)

123 VACAS NA AULA DE ARTE (tradução: Alice Dias)

124 O QUE PODEMOS FAZER? (tradução: Alice Dias) 125 POEMA (tradução: desconhecido)

Page 5: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

HIPÓDROMO

Uma vez cheguei tarde ao hipódromo para a primeira corrida, mas não desisti. De repente percebi que aquela cerveja de merda me saia pelo cu.

Tive que ir ao banheiro. Baixei as calças e a cueca rapidamente.

E depois saiu tudo. Toda a fétida bosta. Quando me levantei depois de um tempo,

Percebi que minha carteira estava ali afundada.

Depois disto, meti minha mão e a retirei rapidamente.

Me lavei e sai dali justo quando o apresentador anunciava: “estão às postas”. Eu corri pela esquina procurando o guichê de apostas.

Saquei um bilhete de minha carteira e gritei: “10 no n°9, ganhador!”

O vendedor tomou o bilhete e olhou. “Vamos, vamos!”, eu disse. “É bom, apenas está um pouco molhado. Qual é a merda!”

O vendedor voltou a olhar-me, apertou o botão e tomou o ticket.

Depois fui para as grades ver a corrida e o 9 ficou fora.

Page 6: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

A DEUSA DE UM METRO E OITENTA

sou grande suponho que é por isso que minhas mulheres sempre

[parecem

pequenas mas essa deusa de um metro e oitenta

que negocia imóveis

e arte

e que voa do Texas para me ver

e eu voo ao Texas

para vê-la – bem, há nela o suficiente para

ser agarrado

e eu me agarro todo nela,

puxo-lhe a cabeça para trás pelos cabelos,

sou macho de verdade,

chupo-lhe o lábio superior sua xoxota

sua alma

monto sobre ela e lhe digo, “vou lançar suco quente e branco

dentro de você. não voei desde

Galveston para jogar

xadrez”.

depois nos deitamos enlaçados como vinhas humanas

meu braço esquerdo debaixo de seu travesseiro meu braço direito sobre o lado de seu corpo

aferro-me às suas mãos,

e meu peito barriga

bolas

pau

enroscam-se nela 19

e através de nós

no escuro passam raios

pra lá e pra cá

pra lá e pra cá até que eu desfaleça

e nós durmamos.

ela é selvagem mas dócil

minha deusa de um metro e oitenta

faz-me rir a risada do mutilado

que ainda precisa de

amor,

e seus olhos abençoados fluem para o fundo de sua cabeça

Page 7: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

como nascentes na montanha

ao longe

nascentes frescas e boas.

ela me resguardou de tudo o que não está

aqui.

Page 8: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

PARA A PUTA QUE LEVOU OS MEUS POEMAS

dizem que devemos afastar o remorso do poema manter-se abstrato, e há alguma razão nisto,

mas Jesus; doze poemas se foram e eu

não tenho cópias e você levou minhas pinturas também, as melhores; é sufocante:

você estar querendo me sacanear como os outros?

por que você não levou o meu dinheiro? sempre tiram

das calças dos bêbados largados na sarjetas. de outra vez leve meu braço

esquerdo ou uma nota de cinquenta

mas não meus poemas: eu não sou Shakespeare e daqui apouco simplesmente não haverá mais,

nem abstrato nem de jeito algum;

sempre haverá dinheiro e putas e bêbados até que caia a última bomba,

mas como disse Deus, cruzando as pernas,

eu vejo que deixei um monte de poetas

mas não muita poesia...

Page 9: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

O CORAÇÃO RISONHO

Sua vida é sua vida Não deixe que ela seja esmagada na fria submissão.

Esteja atento.

Existem outros caminhos. E em algum lugar, ainda existe luz.

Pode não ser muita luz, mas

ela vence a escuridão.

Esteja atento. Os deuses vão lhe oferecer oportunidades.

Reconheça-as.

Agarre-as. Você não pode vencer a morte,

mas você pode vencer a morte durante a vida, ás vezes.

E quanto mais você aprender a fazer isso, mais luz vai existir.

Sua vida é sua vida.

Conheça-a enquanto ela ainda é sua.

Você é maravilhoso. Os deuses esperam para se deliciar

em você.

Page 10: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

VIAGEM À PRAIA

os homens fortes os homens musculosos

lá na praia eles

se sentam bronzeados como chocolate

os pesos

espalhados ao seu redor e

intocados

ficam sentados enquanto

as ondas avançam e recuam

ficam sentados enquanto o mercado de ações

ergue e destrói

homens e famílias

ficam sentados enquanto

um apertar de botão

poderia transformar seus caralhos

em palitos de fósforos

pretos e enrugados

ficam sentados enquanto

suicidas em quartos verdes

os trocam por espaço

ficam sentados enquanto antigas

Miss Américas choram diante de espelhos

enrugados

ficam sentados ficam sentados com menos

vivacidade que macacos

e minha mulher para e os olha:

“uuuu uuuu uuuu”, ela

diz.

me afasto com

minha mulher enquanto as ondas

avançam e recuam.

“há alguma coisa errada

com eles”, ela diz, “o que é?”

“o amor deles só corre em

uma direção.”

Page 11: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

as gaivotas giram e

o mar avança e recua

e nós os abandonamos

lá atrás

desperdiçando o tempo que lhes resta

o momento presente

as gaivotas

o mar a areia.

Page 12: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

SOZINHO COMO TODO MUNDO

a carne cobre os ossos e colocam uma mente

ali dentro e

algumas vezes uma alma, e as mulheres quebram

vasos contra as paredes

e os homens bebem

demais e ninguém encontra o

par ideal

mas seguem na procura

rastejando para dentro e para fora

dos leitos. a carne cobre

os ossos e a

carne busca

muito mais do que mera carne.

de fato, não há qualquer chance:

estamos todos presos

a um destino

singular.

ninguém nunca encontra

o par ideal.

as lixeiras da cidade se completam

os ferros-velhos se completam os hospícios se completam

as sepulturas se completam

nada mais se completa.

Page 13: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

O LUGAR NÃO PARECIA MAL

ela tinha coxas colossais e uma risada muito gostosa

ria de qualquer coisa

e as cortinas eram amarelas e eu gozei

e rolei para o lado

e antes que ela fosse ao banheiro

puxou um pano de baixo da cama e me jogou.

estava duro

enrijecido pelo esperma de outros homens.

limpei-me no lençol.

ao retornar

ela se curvou

e pude ver todo seu traseiro

enquanto ela colocava um Mozart para tocar.

Page 14: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

QUANDO ME PENSO MORTO

quando me penso morto penso em automóveis estacionados

nas vagas

quando me penso morto

penso em panelas de fritura

quando me penso morto penso em alguém fazendo amor com você

quando não estou por perto

quando me penso morto

respiro com dificuldade

quando me penso morto

penso em todas as pessoas que esperam pela morte

quando me penso morto penso que nunca mais poderei beber água

quando me penso morto o ar fica completamente puro

as baratas na minha cozinha

tremem

e alguém terá que jogar

fora minhas cuecas limpas e sujas

Page 15: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

VACAS NA AULA DE ARTE

Bom tempo é como boas mulheres - não acontece sempre e quando acontece não dura para sempre. Um homem é mais estável: Se ele é ruim é mais provável que continue assim, ou se ele

é bom ele pode se fixar, mas a mulher se modifica para sempre pelos filhos, pela idade, pela

dieta, pela conversação, pelo sexo, pela lua, por haver ou não haver sol ou bom tempo. Uma mulher tem que ser ninada pra subsistir pelo amor, onde um homem pode se tornar mais forte

por ser odiado. Estou bebendo esta noite no Spangler's e me lembro das vacas que pintei certa

vez na aula de arte e pareciam bem, pareciam está melhor do que tudo ali. Estou bebendo no

Spangler's pensando em qual amar e qual odiar, mas já não há regras: amo e odeio somente a mim mesmo - os outros ficam além de mim.

Page 16: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

ALGUMA COISA

estou sem fósforos. as molas de meu sofá

estouraram.

roubaram minha maleta. roubaram minha tela a óleo de

dois olhos rosados.

meu carro quebrou.

lesmas escalam as paredes de meu banheiro. meu coração está partido.

mas as ações tiveram um dia de alta

no mercado.

Page 17: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

JÁ VI MENDIGOS DEMAIS COM OS OLHOS VIDRADOS BEBENDO

VINHO BARATO DEBAIXO DA PONTE

você se senta comigo

no sofá

nesta noite nova mulher.

você já viu os

documentários sobre animais carnívoros?

eles mostram a morte.

e agora me pergunto

que animal entre nós dois

devorará

primeiro o outro

física e por fim

espiritualmente?

nós consumimos animais

e então um de nós

consome o outro,

meu amor.

enquanto isso

prefiro que você vá primeiro e do primeiro jeito

se os gráficos de performance passadas significarem alguma coisa

eu certamente irei

primeiro e do último

jeito.

Page 18: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

A BOA VIDA

uma casa com 7 ou 8 pessoas vivendo ali

rachando o aluguel.

há um estéreo nunca utilizado e um par de bongôs

nunca utilizado

e há panos cobrindo as

janelas e você fuma

enquanto baratas vivas

escorregam sobre os botões de sua camisa e despencam no

chão.

está escuro e alguém vai em

busca de comida. você come

e dorme. todos dormem ao mesmo

tempo: no chão, sobre as mesas, sofás, camas, nas banheiras. há até

mesmo uma pessoa lá fora no mato.

então alguém acorda e

diz, “vamos lá, vamos fechar

um!”

alguns outros acordam.

“opa. é isso aí.”

“beleza. vamos lá, alguém aí

fecha dois. vamos nos

chapar!”

“isso. vamos nos chapar!”

fumamos alguns baseados e depois voltamos a dormir

trocando apenas de lugar

da banheira para o sofá, da mesa para o tapete, da cama para o chão, e um novo

sujeito desaba no mato

lá fora, e eles ainda não encontraram Patty Hearst e Tim não quer

falar com Alan.

Page 19: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

É O MODO COMO VOCÊ JOGA O JOGO

chame-a de amor coloque-a de pé sob a luz

imperfeita

ponha-lhe um vestido reze cante implore chore ria

apague as luzes

ligue o rádio

acrescente-lhe enfeites: manteiga, ovos crus, jornais de

ontem;

um cadarço novo, e então páprica, açúcar, sal, pimenta,

ligue para sua tia velha e bêbada em

Calexico; chame-a de amor,

espete-a bem, adicione

repolho e molho de maçã,

então a esquente primeiro no lado esquerdo,

depois no

direito, ponha-a numa caixa

livre-se dela

deixe-a nos degraus de uma porta

vomitando como você fará nas

hortênsias.

Page 20: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

SANDRA

é alta e magra donzela do quarto

de brincos

coberta por um longo vestido

está sempre alta

em sapatos de salto espírito

boletas

trago

Sandra se inclina

em sua cadeira inclina-se em direção a

Glendale

aguardo que sua cabeça bata na maçaneta

do guarda-roupa

enquanto ela tenta acender

um novo cigarro num

outro já quase

consumido

aos 32 ela gosta de

jovens limpos imaculados

com rostos semelhantes ao fundo

de pires recém-comprados

depois de se vangloriar

a não mais poder

acabou me trazendo seus prêmios para que eu desse uma olhada:

garotos nulos, loiros e silenciosos

que a) sentam

b) levantam

c) falam ao seu comando

às vezes ela traz um

às vezes dois às vezes três

para que eu os

veja

Sandra fica muito bem em

vestidos longos

Sandra pode partir provavelmente o coração de um homem

Page 21: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

espero que ela encontre

um.

Page 22: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

APRISIONADO

no inverno caminhando em meu teto meus olhos do tamanho de luzes de

poste. Tenho quatro patas como um rato mas

lavo minhas roupas íntimas – barbeado e de ressaca e de pau duro e sem advogado.

tenho cara de esfregão. Canto

canções de amor e carrego aço.

preferiria morrer a chorar. Não suporto

a matilha não posso viver sem ela.

inclino minha cabeça contra o refrigerador branco e quero gritar como

o último lamento de vida para todo sempre mas

sou maior do que as montanhas.

Page 23: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

UMA ASSASSINA

A consistência é impressionante: boca fedorenta

podre por dentro e

um corpo quase perfeito, uma longa e luminosa cabeleira loira -

que confunde a mim

e aos outros

ela segue de homem em homem

oferecendo carícias

ela fala de amor

então submete os homens à sua vontade

boca fedorenta

podre por dentro

vemos isso tarde demais:

depois que o pau é engolido o coração vai atrás

sua longa e luminosa cabeleira

seu corpo quase perfeito caminha pela rua

debaixo do mesmo sol

que banha as flores.

Page 24: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

A MÚSICA SUAVE

vence o amor porque nela não há feridas: pela manhã

a mulher liga o rádio, Brahms ou Ives

ou Stravinsky ou Mozart. ferve os ovos contando em voz alta os segundos: 56,

57, 58... descansa os ovos, os traz

para mim na cama. depois do café da manhã é

a mesma cadeira e ouvir a música clássica. A mulher está no seu primeiro copo de

scotch e no seu terceiro cigarro. digo-lhe

que preciso ir ao hipódromo. ela está aqui há 2 noites e 2 dias. "quando

voltarei a vê-la?" pergunto. ela

sugere que fique a meu critério. aceno com a cabeça e Mozart toca.

Page 25: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

ELA SAIU DO BANHEIRO COM SUA CABELEIRA RUIVA FLAMEJANTE E DISSE...

Os policiais querem que eu vá até lá e identifique um cara que tentou me estuprar.

perdi outra vez a chave do meu carro; tenho

a que abre a porta, mas não a que dá a partida na ignição.

essas pessoas estão tentando tirar minha filha de mim,

mas eu não vou deixar.

Rochelle quase tomou uma overdose, então foi até o Harry com um bagulho, e ele a pegou de jeito.

ela teve as costelas fissuradas, você sabe,

e uma delas lhe perfurou o pulmão. Ela está no hospital conectada a uma máquina.

onde está meu pente? o seu está sempre imundo.

eu lhe disse,

eu não vi o seu pente.

Page 26: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

A MORTE ESTÁ FUMANDO OS MEUS CHARUTOS

sabe como é: estou aqui mais uma vez bêbado

ouvindo Tchaikovsky

no rádio. Jesus, eu o ouvi há 47 anos

atrás

quando eu era um escritor que passava fome

e aqui está ele novamente

e agora faço um pouco de sucesso como

escritor e a morte está andando

para cima e para baixo

neste quarto fumando meus charutos

tomando tragos do meu

vinho

enquanto Tchaik toca ininterruptamente a Pathétique,

tem sido uma jornada e tanto

e qualquer sorte que tive foi porque rolei o dado

direito:

passei fome pela minha arte, passei fome para

ganhar malditos 5 minutos, 5 horas, 5 dias---

eu só queria

escrever; fama, dinheiro, não importava:

eu queria escrever

e eles me queriam em uma puncionadeira, na linha de montagem de uma fábrica

queriam que eu trabalhasse no estoque em uma

loja de departamentos.

bem, diz a morte, enquanto caminha,

eu vou te pegar de qualquer maneira

não importa o que você tenha sido: escritor, motorista de táxi, cafetão,açougueiro,

pára-quedista, eu vou te

pegar...

tudo bem querida, digo a ela.

nós bebemos juntos agora enquanto uma da manhã transforma-se em

duas da manhã e

somente ela sabe o momento, mas eu a

trapaceei: consegui meus

malditos 5 minutos

e muito mais.

Page 27: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

COMO UMA FLOR NA CHUVA

cortei a unha do dedo médio da mão

direita

realmente curta e comecei a correr o dedo ao longo de sua boceta

enquanto ela se sentava muito ereta na cama

espalhando uma loção por seus braços

face e seios

depois do banho.

então acendeu um cigarro: "não deixe que isso o desanime",

e seguiu fumando e esfregando a

loção. continuei tocando sua boceta.

"quer uma maçã?", perguntei.

"claro", ela disse, "tem uma aí?"

mas eu lhe dei outra coisa... ela começou a se contorcer

e depois rolou para um lado,

ela estava ficando molhada e aberta como uma flor na chuva.

então ela se voltou sobre a barriga

e seu cu maravilhoso

olhou para mim e eu passei minha mão por baixo e

cheguei outra vez na boceta.

ela se espichou e agarrou meu pau, virando-se e se contorcendo toda,

penetrei-a meu rosto mergulhado na massa

de cabelos ruivos que se alastrava feito enchente de sua cabeça

e meu pau intumescido adentrou

o milagre.

mais tarde tiramos sarro da loção e do cigarro e da maçã.

depois eu saí para comprar um pouco de frango

e camarão e batatas fritas e pão doce e purê de batatas e molho e

salada de repolho, e nós comemos. ela me disse

quão bem ela se sentia e eu lhe disse o quão bem eu me sentia e nós comemos

o frango e o camarão e as batatas fritas e o pão doce

e o purê de batatas e o molho e

também a salada de repolho.

Page 28: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

SENTADO NUMA LANCHEIRA

minha filha é a maior das glórias.

comíamos um lanche

para viagem em meu carro em Santa Mônica.

eu digo, “ei, filham

minha vida tem sido

boa, tão boa”. ela me olha.

baixo minha cabeça

contra o volante, tremo, depois

abro a porta de supetão,

finjo vomitar.

me endireito.

ela ri

mordendo eu sanduíche.

pego quatro

batatas fritas coloco-as em minha boca,

mastigo-as.

são 5h30 da tarde

e os carros passam voando por nós pra lá e pra cá.

lanço um olhar furtivo:

tivemos toda a sorte de que precisamos: seus olhos brilham

enquanto o dia

cai, e ela está sorrindo.

Page 29: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

O JEITO QUE ISSO É

o inferno está lotado ainda você sempre pensa que você está

sozinho.

e você nunca pode dizer

a ninguém que

você está no inferno

ou eles vão pensar que você está

louco.

mas ser louco é

estar no inferno

e ser sensato também.

aqueles que escapam do inferno

nunca falam sobre isso

e nada mais

incomoda eles depois

disso.

Quero dizer, coisas como

falta de uma refeição, ir para a cadeia,

bater seu carro

ou mesmo

morrer.

quando você perguntar-lhes,

"como as coisas estão

indo? "

eles vão responder: "bem, muito bem ... "

uma vez que você foi para o inferno e voltou

é o bastante, é a

mais silenciosa celebração conhecida.

uma vez que você foi para o inferno

e voltou, você não olha para trás

quando o chão

range. o sol está no alto a

meia-noite

e coisas como os olhos de ratos

Page 30: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

ou um velho pneu

em um terreno baldio

pode torná-lo feliz.

uma vez que você foi para o inferno e voltou.

Page 31: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

VELHO LIMPO

daqui a uma semana farei

55.

sobre o que

escreverei

quando ele não

levantar mais pela manhã?

meus críticos vão adorar

quando a minha diversão

passar a ser tartarugas

e estrelas-do-mar.

chegarão inclusive a dizer

coisas boas sobre

mim

como se eu tivesse

finalmente

alcançado a razão.

Page 32: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

COMUNHÃO

cavalos correndo com ela a milhas de distância

rindo com um

louco

Bach e a bomba de hidrogênio

e ela a milhas de distância

rindo com um louco

Page 33: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

o sistema bancário

guinchos de carro gôndolas em Veneza

e ela a milhas de distância

rindo com um louco

você nunca viu de fato

uma escada antes (cada degrau olhando

separadamente para você)

e do lado de fora o vendedor de jornais parecendo

imortal

enquanto os carros passam debaixo do sol

com um inimigo

e você se pergunta

por que é tão difícil enlouquecer-

se é que você já não está

louco até agora

você não tinha visto uma

escada que se parecesse com

uma escada uma maçaneta que se parecesse com

uma maçaneta

e sons como esses sons

e quando a aranha aparece

e olha você por fim

você já não odeia

por fim

com ela a milhas de distância rindo com um

louco.

Page 34: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

CHOPIN BUKOWSKI

este é meu piano.

o telefone toca e as pessoas perguntam,

o que você está fazendo? que tal encher a cara com a gente?

e eu digo,

estou ao piano.

o quê?

desligo.

as pessoas precisam de mim. eu as completo. se não podem me ver

por um tempo ficam desesperadas, ficam

doentes.

mas se as vejo muito seguido

eu fico doente. é difícil alimentar

sem ser alimentado.

meu piano me diz coisas em

troca.

às vezes as coisas estão

confusas e nada boas.

outras vezes consigo ser tão bom e sortudo como

Chopin.

às vezes me sinto enferrujado

desafinado. isso

faz parte.

posso me sentar e vomitar sobre as

teclas

mas é meu vômito.

é melhor do que sentar em uma sala com 3 ou 4 pessoas e

seus pianos.

este é meu piano e é melhor que os deles.

e eles gostam e desgostam dele.

Page 35: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

DEPOIS DA LEITURA

"...já vi pessoas em frente a

suas máquinas de escrever em tal aperto que faria com que seus intestinos explodissem

cu afora se estivessem

tentando cagar."

"ah hahaha hahaha!"

Page 36: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

"...é uma vergonha trabalhar assim

tão pesado só para escrever."

"ah hahaha hahaha!"

"a ambição raramente tem alguma coisa

a ver com o talento. é melhor ter sorte, e

deixar o talento vir manquejando logo

atrás da sorte."

"a haha."

ele se levantou e deixou o lugar com uma virgem de 18 anos,

a mais linda estudante entre

todas. fechei meu bloquinho

me ergui e manquejei

logo atrás dos

dois.

Page 37: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

QUERIDA

as espécies de crocodilo têm existido há

300 milhões de anos

e você extinguiu-se noite passada

Page 38: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

SOCIAL

o traçado azul da onda rasgos de estrada amarela

um volante

uma mulher insana sentada ao seu lado

reclamando enquanto o oceano faz espuma

Page 39: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

e pessoas em motor homes

amarelas e brancas

impedem sua passagem

por um tempo frenético

enquanto você escuta

culpado disso e

culpado daquilo

você admite

isso e aquilo mas nunca é o

suficiente

ela quer conquistas

esplêndidas

e você está escaldado por

essas conquistas esplêndidas

chegando lá ela desce

caminha em direção à

casa

você mija junto ao

pára-lamas do seu carro

bêbado de cerveja

pequenas gotas de você

pingando na poeira

na poeira

seca

depois de fechar o zíper você

se põe em marcha

para encontrar os amigos dela.

Page 40: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

LAMENTANDO E SE QUEIXANDO

ela escreve: você vai se lamentar e se queixar

em seus poemas

sobre como eu trepei com 2 caras na semana passada.

eu te conheço.

ela escreve para me

dizer que meu sensor estava certo -

ela recém tinha trepado

com um terceiro cara mas ela sabe que não

quero saber com quem, nem por que

nem como. Ela encerra sua carta, "com amor".

ratos e baratas

triunfaram novamente. aí vem ele correndo

com uma lesma em sua

boca, entoando velhas canções de amor.

feche as janelas

lamente

feche as portas queixe-se.

Page 41: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

PAZ

próximo à mesa de canto no restaurante

está sentado

um casal de meia idade. eles terminaram suas

refeições

e estão bebendo uma cerveja

cada um. são 9 horas da noite.

ela está fumando um

cigarro. então ele diz alguma coisa.

ela assente com a cabeça.

então ela fala. ele sorri, move sua

mão.

então eles ficam em

silêncio. através da persiana próximo à

mesa deles

um neon vermelho reluzente está

piscando.

não há guerra. não há inferno.

então ele levanta sua garrafa de cerveja.

ela é verde.

a leva até seus lábios, e vira.

é como um troféu.

o cotovelo direito dela está

na mesa

e em sua mão segura o

cigarro

entre o polegar e o indicador

e

enquanto o

observa as ruas lá fora

florescem

na noite.

Page 42: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

BARATA

a barata rastejou

sobre os ladrilhos enquanto eu estava mijando e

ao virar minha cabeça

ela enfiou o traseiro

numa fenda. peguei o inseticida e disparei o aerossol

e disparei e disparei

e finalmente a barata saiu

Page 43: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

e me lançou um olhar muito nojento.

então desabou dentro

da banheira e fiquei assistindo à sua morte

com um prazer sutil

pois eu pagava o aluguel e ela não.

recolhi-a com

um tipo de papel higiênico

azul-esverdeado e joguei-a na descarga. era tudo o que se

tinha a fazer, exceto que

nas redondezas de Hollywood e Western temos que seguir

fazendo isso.

dizem que algum dia essa tribo herdará

a terra

mas faremos com que

esperem mais alguns meses.

Page 44: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

UMA ABELHA

Suponho que como qualquer garoto Tive um melhor amigo na vizinhança.

O nome dele era Eugene e era maior

Do que eu e um ano mais velho. Eugene costumava me encher de porrada.

Estávamos sempre brigando.

Eu tentava vencê-lo mas sempre sem muito

Sucesso.

Uma vez pulamos juntos de cima do telhado da garagem

Para provar que éramos valentes. Torci meu tornozelo e ele saiu ileso

Como manteiga recém-tirada do papel.

Acho que a única coisa boa que ele fez por mim

Foi quando uma abelha me picou no pé descalço

E assim que me sentei para tirar o ferrão

Ele disse, “vou pegar a filha da puta!”

E foi o que ele fez Com uma raquete de tênis

Mais um martelo de borracha.

Estava tudo bem Dizem que de qualquer modo

Elas morrem.

Meu pé inchou e dobrou de tamanho

E eu fiquei de cama

Rezando para morrer

E Eugene seguiu em frente e se tornou um

Almirante ou comandante

De alguma coisa de vulto na marinha dos estados unidos E conseguiu passar por uma ou duas guerras

Sem se ferir.

Imagino-o envelhecido agora

Numa cadeira de balanço

Com seus dentes pórticos Bebendo seu leitinho...

Enquanto eu bêbado

Masturbo esta tiete de 19 anos Que divide a cama comigo.

Mas o pior é que (assim como naquele salto do telhado da garagem)

Eugene segue vencendo

Porque ele nem sequer esta pensando

Em mim.

Page 45: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

AMOR

amor, ele disse, gás beije-me todo

beije meus lábios

beije meu cabelo meus dedos

meus olhos minha mente

faça-me esquecer

amor, ele disse, gás

ele tinha um quarto no 3º andar

rejeitado por uma dúzia de mulheres 35 editores

e meia dúzia de agências de emprego,

olhe, não estou dizendo que ele era gente boa

ele ligou todas as bocas

sem acendê-las e foi pra cama

algumas horas depois um cara em seu caminho para o quarto 309

acendeu um charuto no

corredor

e um sofá voou pela janela

uma parede tremeu como areia molhada

uma chama púrpura ondulou no ar a 30 metros de altura

o cara deitado

não percebeu nem se importou mas eu tenho que dizer

ele foi muito bom

nesse dia.

Page 46: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

CAVALO ARDENDO

Traga, traga coisas concretas

como um cavalo ardendo.

Disse Ezra

escrever

de tal forma que um homem na África

Ocidental o entenda e ele pôs-se a escrever os Cantos,

cheios de línguas mortas,

recortes de jornais e cenas de amor no hospício;

traga, traga

coisas concretas: luz de pássaro, o medo de um rato,

braçadas de erva, grandes cabeças de pedra;

e ao ler o Canto 90

baixou o jornal,

Ez fê-lo, ( seus olhos estavam húmidos)

e disse a ela "entre os maiores poemas de amor

jamais escritos"

Ezra, há muitas classes de traidores, entre os quais

os políticos são de menor relevância

mas o auto-elogio, na poesia e no amor,

tem deixado em destaque os ignorantes

mais do que os rebeldes.

Page 47: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

PEQUENOS TIGRES POR TODA PARTE

Sam, o putanheiro,

tem sapatos que estalam e ele caminha pra lá e pra cá

pelo quintal

estalando e conversando com os gatos.

pesa 140 quilos,

um assassino

e conversa com os gatos. ele frequenta as mulheres na casa

Page 48: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

de massagem e não tem namoradas

ou automóvel

não bebe ou se chapa seus maiores vícios são

mastigar charutos e

alimentar todos os gatos da vizinhança.

algumas das gatas ficam

prenhes

e depois por fim aparecem mais e mais gatos e

toda vez que abro minha porta

um ou dois gatos entram correndo e algumas vezes acabo

esquecendo que eles estão ali e

eles cagam debaixo da cama ou me desperto no meio da noite

com sons estranhos

pulo da cama com minha faca

entro na cozinha e lá está um dos gatos de Sam, o putanheiro,

circulando em volta

da pia ou sentado sobre a geladeira.

Sam administra o puteiro

da esquina

e suas garotas ficam paradas na varanda ao sol

e o semáforo vai do

vermelho ao verde e todos os gatos do Sam

possuem parte do significado

assim como fazem os dias e as noites.

Page 49: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

BONS TEMPOS

fiquei cansado de ir aos bares e depois fiquei cansado até de

dirigir até a loja de bebidas,

comecei a encomendar por telefone.

eles me conheciam.

alguns tinham lido meus livros.

podia ouvi-los falando no fundo

através do telefone.

estavam discutindo sobre quem iria

entregar o pedido.

todos queriam entregar, eles queriam ver o

circo de horrores:

eu na porta

com cabelo na cara, minha barriga de cerveja sob a camiseta,

meus olhos vermelhos,

minha barba por fazer, as garrafas no chão,

as mulheres.

eles queriam ver

isso.

Page 50: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

COMO VOCÊ NÃO ESTA FORA DA LISTA?

Os homens ligam e me perguntam isto.

Você é realmente Charles Bukowski

O escritor?

Sou escritor de vez em quando, eu digo,

Na maior parte do tempo eu não faço nada.

Escute, eles dizem, eu gosto de suas

Coisas – se importa se eu aparecer aí

Com uma dúzia de latinhas?

Você pode trazê-las, eu digo

Desde que você não entre...

Quando as mulheres ligam, eu digo,

Ó, sim, escrevo, sou escritor

Apenas não estou escrevendo nada neste exato momento.

Me sinto tola ligando para você,

Elas dizem, e fiquei surpresa De achar você na lista telefônica.

Tenho meus motivos, eu digo,

A propósito, por que você não aparece Pra tomar uma cerveja?

Você não se importaria?

E elas chegam

Mulheres lindas Boas de corpo e mente e olho.

Frequentemente não há sexo

Mas estou acostumado Ainda assim é bom

Bom demais olhar para elas...

E em alguns raros momentos Tenho uma maré inesperada de sorte

Para variar.

Para um homem de 55 anos que não transou

Ate os 23

E não muitas vezes mais ate os 50

Creio que deva continuar listado Na Pacific Telephone

Ate conseguir o mesmo numero de mulheres

Que os homens normais conseguiram.

Claro, terei que continuar

Escrevendo poemas imortais

Mas a inspiração esta lá.

Page 51: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

O SEGUNDO ROMANCE

eles apareciam e

perguntavam

"já terminou seu

segundo romance?"

"não."

Page 52: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

"o que tá pegando? o que tá pegando

que você não

termina?"

"hemorróidas e

insônia"

"será que você não

perdeu?"

"perdi o que?"

"você sabe"

agora quando eles aparecem

eu lhes digo, "sim, já terminei.

sairá em setembro."

"você terminou o livro?"

"sim."

"bem, escute. tenho que ir."

nem o gato

aqui da vizinhança bate mais à minha

porta.

que beleza.

Page 53: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

CONFISSÃO

Esperando pela morte Como um gato

Que vai pular

Na cama

Sinto muita pena de

Minha mulher

Ela vai ver este

Corpo

Rijo e Branco

Vai sacudi-lo e Talvez

Sacudi-lo de novo:

“Henry!”

E Henry não vai

Responder.

Não é milha morte que me

Preocupa, é minha mulher

Deixada sozinha com esse monte De coisa

Nenhuma.

No entanto,

Eu quero que ela

Saiba Que dormir

Todas as noites

A seu lado

E mesmo as

Discussões mais banais

Eram coisas Realmente esplendidas

E as palavras Difíceis

Que sempre tive medo de

Dizer

Podem agora Ser ditas:

Eu Te amo.

Page 54: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

O PÁSSARO AZUL

há um pássaro azul em meu coração que deseja sair

mas sou muito durão para ele,

eu digo, fique aí, não vou deixar ninguém te

ver.

há um pássaro azul em meu coração que

deseja sair

mas eu derramo whiskey nele e inalo

fumaça de cigarro e as prostitutas, os bartenders

e os balconistas de mercado

nunca sabem que ele está

Page 55: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

lá dentro.

há um pássaro azul em meu coração que deseja sair

mas sou muito durão para ele,

eu digo, fique escondido, você quer me

atrapalhar?

quer estragar os

trabalhos? quer arruinar minhas vendas de livros na

Europa?

há um pássaro azul em meu coração que

deseja sair

mas eu sou muito esperto, só o deixo sair algumas vezes à noite

quando todos estão adormecidos.

eu digo, eu sei que você está aí,

então não fique triste.

então o coloco de volta, mas ele está cantando um pouco

lá dentro, eu ainda não o deixei

morrer

e nós dormimos juntos desse jeito

com nosso

pacto secreto e é belo o bastante para

fazer um homem

chorar, mas eu não choro, e

você?

Page 56: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

HOMENS E MULHERES LIBERADAS

Olhe lá Aquela por quem você pensou em se

Matar.

Você a viu no outro dia Saindo do seu carro

No estacionamento da Safeway.

Ela usava um vestido verde

Rasgado e botas velhas E sujas.

Sua face marcada pela vida.

Ela viu você. Então você andou até ela

E falou-lhe e aí

Ouviu. Os cabelos dela não brilhavam

Sua conversa e seus olhos eram

Apagados.

Onde ela estava? Para onde teria ido?

Aquela por quem você iria se

Matar?

A conversa terminou

Ela foi entrando na loja.

E você olhou para o automóvel dela E mesmo ele

Que costumava rodar e estacionar

Na frente da sua porta Com tanto entusiasmo e um espírito de

Aventura

Agora parecia um ridículo Ferro velho.

Você decide que não vai comprar na

Safeway Você vai dirigir mais seis quadras

A leste e comprar o que você precisa no

Ralph’s.

Entrando no carro

Você esta até contente que Não tenha

Se matado;

Tudo é encantador e

O ar esta claro. Suas mãos no volante,

Você alarga um sorriso enquanto checa o tráfego

Pelo espelho retrovisor.

Meu velho, você pensa,

Você se salvou

Para alguma outra pessoa, mas Quem?

Page 57: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

Uma jovem e esbelta criatura passa

Numa mini-saia e sandálias Mostrando pernas maravilhosas.

E vai entrar para comprar na Safeway

Também. Você desliga o motor e

Entra atrás dela.

Page 58: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

ESTA NOITE

“seus poemas sobre as garotas ainda estão por aí

daqui a 50 anos quando as garotas já tiverem ido”, meu editor me telefona.

caro editor: parece que as garotas já se

foram.

entendo o que o senhor diz

Page 59: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

mas me dê uma mulher verdadeiramente viva

nesta noite cruzando o piso na minha direção

e o senhor pode ficar com todos os poemas

os bons

os maus

ou qualquer outra que eu venha a escrever depois deste.

entendo o que o senhor diz.

o senhor entende o que eu digo?”

Page 60: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

LIBERDADE

ele tomou vinho a noite inteira, a noite do dia 28, e continuava pensando nela:

o jeito como caminhava e falava e amava

o jeito como lhe disse coisas que pareciam verdade mas que não eram,e ele conhecia a cor de cada um

dos seus vestidos

e seus sapatos - ele conhecia o barulho e a curva de

cada salto tão bem quanto a perna que lhes emprestava sentido

e ela havia saido outra vez quando ele chegou em casa, e

voltaria outra vez com aquele especial fedor,outra vez e aconteceu assim mesmo

ela chegou às 3 da manhã

imunda como uma porca comedora de merda e ele segurou a faca de açougueiro

e ela gritou

se encostando na parede do quarto

ainda assim linda,de algum modo apesar de que o amor se dissipava

e ele terminou o copo de vinho

esse vestido amarelo seu favorito

e ela gritou de novo.

ele segurou a faca

e afroxou o cinto arrancou a roupa na frente dela

e cortou as bolas fora.

e as segurou nas mãos como nozes as deixou cair na privada

e puxou a descarga

e ela continuava gritando enquanto a casa ficava ensanguentada

DEUS,OH,DEUS!

QUE É QUE VOCE FEZ?

ele se sentou segurando 3 toalhas entre as pernas

não mais se importando se ela ia ou

se ficava se vestia o vestido amarelo ou o verde nem

mais coisa alguma.

enquanto com uma mão sustentava as toalhas com a outra

se serviu de mais um copo de vinho.

Page 61: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

QUANTO A LIGAR PARA UMA MULHER QUE NÃO VÊ HÁ 20 ANOS

Consegui o numero dela com um amigo meu Ela estava no Texas e o numero tocava:

“alô” disse ela.

“oi, benzinho,” eu disse, “adivinha quem é.” “eu sei quem é,” ela disse.

Era a mesma voz de educação ríspida

Só que agora enrugada de ódio

“como vai?” perguntei. “indo bem,” respondeu.

“ainda sou o mesmo,” disse.

“sim” respondeu, “suponho que seja.” “bem,” disse, “só queria dizer oi.”

Ela não respondeu.

“bem,” disse, “boa sorte. Tchau.” “tchau,” ela disse.

Baixei o fone.

Bem, pensei, isso não vão sair muito caro na

Conta do telefone. Caminhei para o quarto e disse à minha

Namorada: “é impressionante, ela ainda me odeia

Após vinte anos” “você faz isso aflorar nas pessoas,” ela disse.

Caminhei para cozinha para verificar a lagosta

Azul do Maine. Estava fervendo bastante. E à essa altura ela também

Estava.

Page 62: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

UM POEMA DE AMOR

Page 63: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski
Page 64: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

todas as mulheres

todos os beijos delas as formas variadas como amam e

falam e carecem.

suas orelhas elas todas têm

orelhas e

gargantas e vestidos

e sapatos e automóveis e ex-

maridos.

principalmente

as mulheres são muito

quentes elas me lembram a torrada amanteigada com a manteiga

derretida

nela.

há uma aparência

no olho: elas foram

tomadas, foram enganadas. não sei mesmo o que

fazer por

elas.

sou

um bom cozinheiro, um bom

ouvinte mas nunca aprendi a

dançar — eu estava ocupado

com coisas maiores.

mas gostei das camas variadas

lá delas

fumar um cigarro olhando pro teto. não fui nocivo nem

desonesto. só um

aprendiz.

sei que todas têm pés e cruzam

descalças pelo assoalho enquanto observo suas tímidas bundas na

penumbra. sei que gostam de mim algumas até

me amam

mas eu amo só umas poucas.

algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas; outras falam mansamente da

infância e pais e

paisagens; algumas são quase

malucas mas nenhuma delas é desprovida de sentido; algumas amam

Page 65: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

bem, outras nem

tanto; as melhores no sexo nem sempre

são as melhores em outras coisas; todas têm limites como eu tenho

limites e nos aprendemos

rapidamente.

todas as mulheres todas as

mulheres todos os quartos de dormir

os tapetes as

fotos as cortinas, tudo mais ou menos

como uma igreja só

raramente se ouve uma risada.

essas orelhas esses

braços esses cotovelos esses olhos

olhando, o afeto e a

carência me sustentaram, me

sustentaram.

Page 66: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

UM SORRISO PRA RECORDAR

nós tínhamos peixes dourados que ficavam rodando e rodando no aquário sobre a mesa perto de panos de pratos encardidos

cobrindo a moldura da janela e

minha mãe, sempre sorrindo, querendo que fossemos todos felizes,me disse,"seja feliz Henry!"

e ela estava certa: é melhor ser feliz se você

pode

mas meu pai continuava a bater nela e em mim pelo menos uma vez por semana enquanto se pisava por dentro com toda sua altura porque ele não podia

entender o que se passava dentro dele.

minha mãe, pobre peixe, querendo ser feliz, apanhando duas ou três vezes por

semana, me dizendo pra ser feliz: "Henry, sorria!

por que você nunca sorri?"

e então ela pode demonstrar como sorrir, e foi o

sorriso mais triste que eu já vi

um dia os peixes dourados morreram, todos os cinco que havia,

flutuaram na água, de lado, com seus

olhos ainda abertos, e quando meu pai chegou em casa atirou eles pro gato

no chão da cozinha e nós assistimos enquanto minha mãe

sorria.

Page 67: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

OH SIM

há coisas piores na vida do que ficar sozinho

mas frequentemente leva décadas

para entender isso e mais frequentemente

quando você entende

é tarde demais

e não há nada pior do que tarde

demais

Page 68: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

QUATRO E MEIA DA MANHÃ

quatro e meia da manhã os barulhos do mundo

com passarinhos vermelhos,

são quatro e meia da manhã, são sempre

quatro e meia da manhã,

e eu escuto meus amigos:

os lixeiros e os ladrões

e gatos sonhando com

minhocas, e minhocas sonhando

os ossos do meu amor,

e eu não posso dormir e logo vai amanhecer,

os trabalhadores vão se levantar

e eles vão procurar por mim

no estaleiro e dirão: "ele tá bêbado de novo",

mas eu estarei adormecido,

finalmente, no meio das garrafas e da luz do sol,

toda a escuridão acabada,

os braços abertos como

uma cruz, os passarinhos vermelhos

voando,

voando, rosas se abrindo no fumo

e como algo esfaqueado e cicatrizando,

como 40 páginas de um romance ruim, um sorriso bem na

minha cara de idiota.

Page 69: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

AOS FAZEDORES DE POEMAS RÁPIDOS E MODERNOS

é muito fácil parecer moderno enquanto se é o maior idiota jamais nascido;

eu sei; eu joguei fora um material horrível

mas não tão horrível como o que leio nas revistas; eu tenho uma honestidade interior nascida de putas e hospitais

que não me deixará fingir que sou

uma coisa que não sou -

o que seria um duplo fracasso: o fracasso de uma pessoa na poesia e o fracasso de uma pessoa

na vida.

e quando você falha na poesia você erra a vida,

e quando você falha na vida

você nunca nasceu não importa o nome que sua mãe lhe deu.

as arquibancadas estão cheias de mortos

aclamando um vencedor

esperando um número que os carregue de volta para a vida,

mas não é tão fácil assim -

tal como no poema se você está morto

você podia também ser enterrado

e jogar fora a máquina de escrever

e parar de se enganar com poemas cavalos mulheres a vida:

você está entulhando a saída - portanto saia logo

e desista das poucas preciosas

páginas.

Page 70: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

PACÍFICO TELEFONE

vá atrás dessas piranhas, ela disse,

vá atrás dessas putas,

logo ficará de saco cheio de mim.

não quero mais fazer esse tipo de merda,

eu disse,

relaxe.

Page 71: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

quando bebo, ela disse, sinto dor na minha

bexiga, uma queimação.

deixe a bebida comigo, eu disse.

você está só esperando o telefone tocar,

ela disse,

você não para de olhar pro aparelho.

se uma dessas piranhas ligar você sairá correndo porta afora.

não posso lhe prometer nada, eu disse.

então - simples assim - o telefone tocou.

aqui é a Madge, disse a voz. preciso

ver você imediatamente.

oh, eu disse.

estou num aperto, ela continuou, preciso de dez

pratas - rápido.

logo estarei aí, eu disse, e

desliguei.

ela me olhou, era uma piranha,

ela disse, o rosto todo em chamas.

que diabos há com você?

escute, eu disse, tenho que ir.

você fica aqui. já volto.

vou embora, ela disse. eu te amo mas você é

louco, um caso perdido.

ela apanhou a bolsa e bateu a porta.

provavelmente é algum disturbio profundamente enraizado na

infância

que me faz assim vulnerável, pensei. então saí de casa e fui até meu fusca.

dirigi para o norte pela Western com o rádio ligado.

havia putas caminhando pra lá e pra cá

dos dois lados da rua e Madge parecia mais perdida do que qualquer uma delas.

Page 72: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

A NOITE SERÁ DEVAGAR

bem, aqui estou eu de novo

ouvindo as boas e velhas

músicas de novo,

sentindo tristeza,

a boa

tristeza à moda antiga

em que as lágrimas

não chegam a sair.

bom.

ouço mais um pouco.

a mente pode

consumir quantidades

mágicas de memória

enquanto a noite se

desdobra noite adentro,

enquanto outro charuto

é acesso,

como se pode ficar terrivelmente amuado

quando velhas

músicas seguem-se uma às

outras,

rostos são lembradas,

rostos jovens,

como fatias novas de uma

maçã, estão mortos

agora,

quase todos eles

mortos

agora.

a aparente

beleza e

a aparente bravura, se foram.

sentado aqui permitindo que meus

melhores sentidos

sejam diluídos pela

melancolia, um homem

Page 73: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

velho,

lembrando

de novo, olhando de cima

a baixo o bar imaginário

cheio de assentos vazios,

pensando naquela

criança com os loucos

olhos vermelhos

que sentava lá

enchendo o copo e enchendo e enchendo e

enchendo

de novo ao ponto da

imbecilidade,

agora lembrando,

ouvindo de novo,

permitindo a idiotice

entrar de novo,

somos todos

idiotas para sempre

idiotizados para sempre.

alegremente.

agora.

Page 74: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

OUTRA CAMA

outra cama outra mulher

mais cortinas outro banheiro

outra cozinha

outros olhos outro cabelo

outros pés e dedos.

todos à procura.

a busca eterna.

você fica na cama

ela se veste para o trabalho

e você se pergunta o que aconteceu à última e à outra antes dela…

é tudo tão confortável - esse fazer amor esse dormir juntos

a suave delicadeza…

após ela sair você se levanta e usa o banheiro dela, é tudo tão intimidante e estranho.

você retorna para a cama e dorme mais uma hora.

quando você vai embora é com tristeza mas você a verá novamente quer funcione, quer não.

você dirige até a praia e fica sentado em seu carro. é meio-dia.

- outra cama, outras orelhas, outros brincos, outras bocas, outros chinelos, outros

vestidos, cores, portas, números de telefone.

você foi, certa vez, suficientemente forte para viver sozinho.

para um homem beirando os sessenta você deveria ser mais sensato.

você dá a partida no carro e engata a primeira,

pensando, vou telefonar para Janie logo que chegar,

não a vejo desde sexta-feira.

Page 75: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

462-0614

agora recebo muitas chamadas de telefone. todas iguais.

"é Charles Bukowski, o escritor?"

"sim," eu lhes respondo. e eles dizem que entendem minha escrita.

alguns deles são escritores ou querem ser escritores

e estão em empregos estúpidos e horríveis

e não conseguem nem encarar a sala o apartamento

as paredes

essa noite... querem alguém com quem possam conversar,

não podem acreditar que não posso ajudá-los

que não conheço as palavras. não podem acreditar que agora mesmo me dobro em meu quarto

segurando minhas entranhas e dizendo. "Jesus Jesus Jesus, de novo não!"

eles não podem acreditar que as pessoas mal-amadas

as ruas a solidão

as paredes

também são minhas e quando desligo o telefone eles acham que escondi o jogo.

Não escrevo a partir da sabedoria.

quando o telefone toca eu também gostaria de ouvir palavras

que pudessem aliviar um pouco alguma dessas coisas. é por isso que meu nome está na lista.

Page 76: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

MEUS CAMARADAS

aquele ali ensina

aquele outro vive com a mãe.

e aquele outro é sustentado por um pai alcoólatra e rubicundo dono de um cérebro de mutuca.

aque ali toma boletas e vem sendo sustentado pela mesma mulher há 14 anos.

aquele outro escreve um romance a cada dez dias msa ao menos paga o próprio aluguel.

aquele ali vai de lugar em lugar

dormindo em sofás, bebendo e proferindo seus discursos.

Page 77: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

aquele ali imprime seus próprios livros numa máquina copiadora.

aquele outro vive num vestiário abandonado num hotel de Hollywood.

aquele parece saber como arranjar tostão depois de tostão, sua vida é um preencher de formulários.

aquele ali simplesmente é rico e vive nos melhores lugares enquanto bate às melhores portas.

aquele lá tomou café com Willian Carlos Willian.

e aquele ali ensina.

e aquele ali ensina.

e aquele ali publica livros de auto-ajuda sobre como fazer as coisas e usa uma voz dominadora e cruel.

eles estão em todo o lugar.

todos são escritores. e quase todo escritor é um poeta.

poetas poetas poetas

poetas poetas poetas poetas poetas poetas

a próxima vez que o telefone tocar será um poeta.

a próxima pessoa a bater à porta ser á um poeta.

aquele ali que ensina e aquele outro vive com a mãe

e aquele lá está escrevendo a história de Ezra Pound.

oh, irmãos, somos as mais doentes e as piores criaturas da raça.

Page 78: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

LEMBRANÇA

com um murro, aos 16 anos e ½, derrubei meu pai,

um filho da puta cruel com mau hálito,

e não voltei para casa por um tempo, só vez por outra para batalhar um dólar com a querida mamãe. Era 1937 e Los Angeles era uma grande Viena.

eu? Tenho 30 anos, a cidade está quatro ou cinco vezes maior

mas tão acabada quanto e as garotas ainda cospem quando passo, outra guerra se cria por outra razão, e não consigo emprego agora pela mesma razão de

outrora:

não sei fazer nada, não consigo fazer nada.

Page 79: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

SPLASH

[...] isto não é um poema. Poemas são um tédio, eles te fazem dormir. Estas palavras te arrastam para uma nova loucura.

Você foi abençoado, você foi atirado num

lugar que cega de tanta luz. O elefante sonha com você agora.

A curva do espaço se curva e ri.

Você já pode morrer agora. Você já pode morrer do jeito que as pessoas deveriam morrer:

esplêndidas, vitoriosas, ouvindo a música, sendo a música, rugindo, rugindo, rugindo.

Page 80: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

BRINCOS ENORMES

saio para buscá-la.

ela está em alguma missão.

ela está sempre cheia de missões muitas coisas pra fazer.

nunca tenho nada pra fazer.

ela sai de seu apartamento

vejo-a se aproximar do meu carro

Page 81: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

ela vem descalça

vestida de modo casual exceto pelos enormes brincos.

acendo um cigarro e quando ergo os olhos

ela está estirada no meio da rua

uma rua bastante movimentada

todos os seus 50 quilos

tão magníficos quanto qualquer coisa que você possa imaginar.

ligo o rádio e espero ela se levantar.

ela o faz.

abro a porta do carro.

ela entra. afasto-me do cordão da

calçada. ela gosta da canção que toca na rádio e aumenta o volume.

ela parece gostar de todas as canções

ela parece conhecer todas as canções

cada vez que a vejo ela parece ainda

melhor

200 anos atrás eles a teriam queimado

em um poste

agora ela passa seu

rimel enquato nosso

carro segue adiante.

Page 82: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

TÃO LOUCO COMO SEMPRE FUI

Bêbado e escrevendo poemas às 3 da manhã o que importa agora é mais uma boceta apertada antes que a luz se apague bêbado e escrevendo poemas as 3h15 da manhã algumas pessoas me

dizem que sou famoso.

o que estou fazendo sozinho bêbado e escrevendo poemas as 3h18 da manha? Sou tão louco quanto sempre fui eles não entendem que não parei de me pendurar pelos

calcanhares da janela do 4 andar - eu ainda o faço agora mesmo aqui sentado ao escrever estas

linhas estou pendurado pelos calcanhares vários andares acima: 68, 72, 101, a sensação é a

mesma: implacável, banal e necessária. Aqui sentado bêbado e escrevendo poemas as 3h24 da manhã.

Page 83: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

NOVA GUERRA

e pensar que, depois que eu me for, haverá mais dias para os outros, outros dias,

outras noites.

cães andando, árvores balançando ao vento

não deixarei tanto.

algo para ler, talvez.

um rebelde na estrada devastada

Paris às escuras.

Page 84: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

CERVEJA

Não sei quantas garrafas de cerveja consumi esperando que as coisas melhorasse. Não sei quanto vinho e uísque e cerveja, principalmente cerveja consumi depois de

rompimentos com mulheres

Esperando o telefone tocar Esperando o som dos passos, e o telefone nunca toca

Antes que seja tarde demais e os passos nunca chegam

Antes que seja tarde demais.

Quando meu estômago já está saindo pela boca elas chegam frescas como flores de primavera: "Mas que diabos você está fazendo? vai levar três dias antes que você possa me comer!"

A mulher é durável, vive sete anos e meio a mais que o homem, bebe pouca cerveja porque sabe

como ela é ruim para a aparência. Enquanto enlouquecemos elas saem, dançam e riem com caubóis cheios de tesão.

Bem, há a cerveja, sacos e mais sacos de garrafas vazias de cerveja e quanto você pega uma, as

garrafas caem através do fundo úmido do saco de papel rolando, tilinando, cuspindo cinza molhada e cerveja choca, ou então os sacos caem às 4 horas da manhã produzindo o único som

em sua vida.

Cerveja, rios e mares de cerveja, cerveja, cerveja, cerveja.

O rádio toca canções de amor enquanto o telefone permanece mudo e as paredes seguem paradas e estáticas, e a cerveja é tudo o que há.

Page 85: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

SEM CHANCE DE AJUDA

há um lugar no coração que nunca será preenchido um espaço e mesmo nos melhores momentos

e nos melhores tempos

nós saberemos nós saberemos mais que nunca

há um lugar no coração que nunca será preenchido

e nós iremos esperar e esperar

nesse lugar.

Page 86: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

CORCUNDA

eu fui amado por muitas mulheres e, para uma vida corcunda isso é uma sorte

tantos dedos adentrando meus cabelos

tantos abraços apertados tantos sapatos atirados sem cuidado no tapete do meu

quarto.

tantos corações em busca

agora tão nítidos em minha memória que caminharei para a morte, lembrando tenho sido tratado melhor do que deveria ser - não pela vida em geral

nem pelo mecanismo das coisas

mas pelas mulheres mas houveram mulheres que me deixaram plantado no quarto sozinho

encurvado

com as mãos no saco pensando por quê por quê por quê por quê?

mulheres vão para homens que são porcos

mulheres vão para homens com almas mortas

mulheres vão para homens que trepam pessimamente mulheres vão para sombras de homens

mulheres vão

vão porque precisam ir pela ordem das coisas.

as mulheres sabem mais

mas muitas vezes escolhem na confusão e desordem

elas podem curar com seu toque elas podem matar o que tocam e eu estou morrendo

mas não estou morto ainda.

Page 87: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

FOI ISSO QUE MATOU DYLAN THOMAS

...Mas não consigo deixar de pensar nos anos em quartos solitários, quando as únicas pessoas que batiam à minha porta eram as senhorias cobrando o aluguel atrasado ou o FBI. Vivia com

ratos e camundongos e vinho, meu sangue escorria pelas paredes em um mundo que não

conseguia compreender e ainda não compreendo. Em vez de levar a vida que eles levaram, eu passava fome. Fugia para dentro de minha própria mente e me escondia. Fechava todas as

cortinas e ficava olhando para o teto. Quando saía, era para ir a um bar onde eu mendigava por

bebida, andava a esmo, apanhava nos becos de homens bem-alimentados e confiantes, de

homens idiotas e com vida confortáveis. Bem, ganhei algumas lutas, mas só porque era louco. Fiquei anos sem mulher, vivia de manteiga de amendoim e pão amanhecido e batatas cozidas.

Eu era o idiota, o estúpido, o louco. Queria escrever, mas a máquina de escrever estava sempre

penhorada. Então eu desistia e bebia.

Page 88: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

CAIXÃO DA CRIAÇÃO

O caixão da criação, a capacidade de sofrer e resistir, isso é nobreza, amigo. A capacidade de sofrer e resistir por uma idéia, um sentimento, um

caminho, isso é arte, meu amigo. A capacidade de sofrer e resistir quando o amor falha, isso é o

inferno, velho amigo. Nobreza, arte e inferno, vamos falar sobre arte por uns instantes. Destino é a minha estropiada filha. Repara, é difícil, eu

contra eles,com eles.

Kafka, deixa-me entrar!

Hemingway acautela-te! Hegel, tens piada!

Cervantes, queres dizer que escreveste esse romance aos 80 anos? Grandes escritores são gente

indecente, eles vivem injustamente guardando a melhor parte para o papel. Bons seres humanos salvam o mundo para que patifes como eu possamos continuar a criar arte, tornar-nos imortais.

Se leres isto depois de eu ter morrido há muito significa que consegui. Portanto escritores do

mundo agora é a vossa vez de maltratar a vossa mulher abusar dos vossos filhos amarem-se a vós próprios viver dos fundos de outrem ter aversão a toda a arte criada antes e durante o vosso

tempo, e ter aversão ou mesmo odiar a humanidade um a um ou em massa. Patifes, mesmo que

leiam isto depois de ter morrido há muito esqueçam-me. Eu provavelmente não era assim tão

bom.

Page 89: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

A BELA RESISTÊNCIA DE EZRA

há uns milhares de ingleses licenciados em literatura

que pensam tomar o lugar de Ezra

ou cummings ou Eliot

quando a melhor coisa que lhes acontecerá

é acabarem como caixas

nas Lojas Safeway e a perguntar

(sob as diretrizes da gerência)

"Como está o sr. hoje?"

e não obterem resposta nenhuma.

Page 90: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

SE VAI TENTAR...

Se vai tentar siga em frente. Senão, nem comece! Isso pode significar perder namoradas

esposas, família, trabalho...e talvez a cabeça.

Pode significar ficar sem comer por dias, Pode significar congelar em um parque,

Pode significar cadeia,

Pode significar caçoadas, desolação...

A desolação é o presente O resto é uma prova de sua paciência,do quanto realmente quis fazer

E farei, apesar do menosprezo

E será melhor que qualquer coisa que possa imaginar. Se vai tentar,Vá em frente. Não há outro sentimento como este

Ficará sozinho com os Deuses

E as noites serão quentes Levará a vida com um sorriso perfeito

É a única coisa que vale a pena.

Page 91: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

O SOL É DOMINANTE, COMO UMA TOCHA LÁ NO ALTO

O sol é dominante, como uma tocha lá no alto. Os jatos cruzam ao seu lado

E os foguetes saltam feito sapatos.

A paz não é mais preciosa. A loucura circula como lírios em volta da lagoa...

Os artistas pintam suas cores

vermelhas, verdes, amarelas!

Os poetas rimam sua solidão, os músicos morrem de fome,

Os escritores erram o alvo,

mas não os pelicanos, não as gaivotas. Os pelicanos mergulham, sobem, arrepiados quase mortos

Com peixes radioativos em seus bicos.

O céu se acende de vermelho, as flores desabrocham como sempre,

Mas cobertas de uma fina poeira de combustível e cogumelos.

Cogumelos envenenados!

E em milhões de alcovas, os amantes se entrelaçam Perdidos e doentes como a paz!

Não podemos acordar?

Temos de continuar, amigos... A morrer enquanto dormimos?

Page 92: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

LANÇAR OS DADOS

Muito, muito pouco, muito gordo, muito fino ou ninguém. Estranhos com faces como as costas de uma tachinha.

O exército correndo através de ruas de sangue,

acenando com garrafas de vinho Atirando e violando as virgens.

Ou um homem velho em um quarto barato

com uma fotografia de Marilyn Monroe.

Há uma solidão nesse mundo tão grande Que você pode ver em câmera lenta,

nas mãos de um relógio

Pessoas tão cansadas, mutiladas por amor, ou não pelo amor.

As pessoas não são boas com as outras

Os ricos não são bons com os outros ricos E os pobres não são bons com os outros pobres

Nós estamos com medo.

Nosso sistema educacional nos mostra que todos

nós podemos ser malditos vencedores. Não nos foi dito sobre os marginais ou os suicidas

Ou o terror de uma pessoa que agoniza sozinha.

As contas vão balançar As nuvens serão nuvens e o assassino decapitará uma

criança como dar uma mordida num cone de sorvete.

Muito, muito pouco, muito gordo, muito fino ou ninguém.

Mais odiadores que amantes As pessoas não são boas umas com as outras

Talvez se elas fossem, nossas mortes não seriam tão tristes

No entanto, eu olho para as garotas jovens, pele, flores da temporada

Deve haver um jeito

Certamente há um jeito que nós ainda não pensamos Quem colocou esse cérebro dentro de mim?

Ele chora, exige, diz que há chance

Se nega a dizer não.

Page 93: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

DINOSAURIA, NÓS

Nascidos como isso Adentro isso

Enquanto as caras de giz sorriem

Enquanto a Srª Morte ri Enquanto os elevadores quebram

Enquanto cenários políticos dissolvem

Enquanto o empacotador do supermercado ganha um diploma universitário

Enquanto peixes oleosos cospem fora suas presas oleosas Enquanto o sol é mascarado

Nós somos

Nascidos como isso Adentro isso

Adentro essas guerras cuidadosamente loucas

Adentro a visão de janelas de fábricas quebradas de vazio Adentro bares onde as pessoas não mais conversam umas com as outras

Adentro trocas de soco que acabam como tiroteios e esfaqueamentos

Nascidos adentro isso

Adentro hospitais que são tão caros que é mais barato morrer Adentro advogados que cobram tanto que é mais barato declarar culpa

Adentro um país onde as cadeias estão cheias e os hospícios fechados

Adentro um lugar onde as massas promovem idiotas a heróis ricos Nascidos adentro isso

Andando e vivendo através disso

Morrendo por causa disso

Emudecidos por causa disso Castrados

Depravados

Deserdados Por causa disso

Enganados por isso

Usados por isso Emputecidos por isso

Tornados loucos e doentes por isso

Tornados violentos

Tornados desumanos Por isso

O coração enegrecido

Os dedos se estendem para a garganta A arma

A faca

A bomba Os dedos se estendem em direção a um deus irresponsivo

Os dedos se estendem para a garrafa

A pílula

A pólvora Nós somos nascidos adentro essa lamentável mortalidade

Nós somos nascidos adentro um governo há 60 anos em dívida

Que logo será incapaz de pagar até mesmo os juros dessa dívida E os bancos irão queimar

Dinheiro será inútil

Haverá assassinato livre e impune nas ruas

Serão armas e quadrilhas nômades Terra será inútil

Page 94: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

Comida será um rendimento decrescente

Força nuclear será tomada pela multidão

Explosões irão continuamente sacudir a Terra Homens-robôs radioativos irão espreitar uns aos outros

Os ricos e os escolhidos irão assistir de plataformas espaciais

O Inferno de Dante se fará parecer com um parque de diversões infantil O Sol não será visto e será sempre noite

Árvores irão morrer

Toda a vegetação irá morrer

Homens radioativos comerão a carne de homens radioativos O mar será envenenado

Os lagos e rios irão sumir

Chuva será o novo ouro Os corpos em apodrecimento de homens e animais irão feder no vento escuro

Os últimos poucos sobreviventes serão tomados por novas e terríveis doenças

E as plataformas espaciais serão destruídas pelo desgaste O esgotamento dos suprimentos

O efeito natural do decaimento geral

E haverá o mais bonito silêncio jamais ouvido

Nascido fora disso. O Sol ainda escondido

aguarda o próximo capítulo.

Page 95: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

VOCÊ

você é uma fera, ela disse sua enorme barriga branca

e seus pés cabeludos.

você jamais corta as unhas e tem mãos gordas

como as patas de um gato

seu nariz vermelho e brilhante

e os maiores bagos que eu já vi.

você lança esperma como

uma baleia lança água pelo buraco das costas.

fera, fera, fera, ela me beijou,

o que você quer para o

café da manhã?

Page 96: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

NA NOITE EM QUE EU IA MORRER

Na noite em que eu ia morrer Eu estava suando na cama

E eu podia ouvir os grilos

E teve uma briga de gatos lá fora E eu podia sentir minha alma descendo através do colchão

E pouco antes de bater no chão eu pulei

Eu estava quase fraco demais para andar

Mas eu andei e acendi todas as luzes E então eu voltei à cama

E cai pra baixo de novo

Eu levantei ligando todas as luzes Eu tinha uma filha de sete anos

E eu tinha certeza que ela não ia me querer morto

Caso contrário, não teria importado Mas toda aquela noite

Ninguém ligou

Ninguém veio com uma cerveja

Minha namorada não ligou Tudo o que eu podia ouvir eram os grilos e foi quente

E eu continuei trabalhando nisso

Indo pra cima e pra baixo Até que o sol entrou pela janela

Através dos arbustos

E depois eu fiquei na cama

E a alma ficou dentro e, finalmente, Eu dormir.

Agora as pessoas vêm

Batendo nas portas e janelas O telefone toca

O telefone toca de novo e de novo

Eu recebo grandes cartas na caixa de correio Odeio cartas e cartas de amor.

Mesma coisa de sempre de novo.

Page 97: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

O HOMEM COM BELOS OLHOS

Quando éramos crianças havia uma casa estranha. Todas as persianas estavam sempre fechadas.

E nós nunca ouvíamos vozes lá dentro.

E o jardim estava cheio de bambu. E nós gostávamos de brincar no bambu.

Fingindo ser Tarzan, ainda que não houvesse Jane.

E tinha um tanque muito grande

Cheio dos maiores peixes dourados que você já viu. E eles estavam domesticados.

Eles vinham para a superfície da água

E comiam pedaços de pão das nossas mãos. Nossos pais haviam nos dito:

“Nunca cheguem perto daquela casa.”

Então, claro, nós íamos. Nos perguntávamos se alguém morava lá.

Semanas se passaram e nós nunca vimos ninguém.

E um dia nós ouvimos uma voz vindo da casa.

“Sua maldita puta!” Era uma voz de homem.

Então a porta de tela da casa se abriu

E o homem caminhou para fora. Ele segurava meio litro de uísque na sua mão direita.

Ele tinha uns 30 anos.

Ele tinha um charuto na boca, precisava se barbear.

Seu cabelo estava revolto e despenteado E ele estava descalço de camiseta e calças.

Mas seus olhos eram brilhantes.

Eles abriram com o brilho e disse: “hei, pequenos cavalheiros, estão tendo um bom tempo? Eu espero...”

Logo deu uma pequena risada e caminhou de volta para casa.

Nos fomos, voltamos para o jardim dos nossos pais, e pensamos nele. Nossos pais, nós decidimos, não queriam que nós fôssemos ali

Porque queriam que nunca víssemos um homem como aquele,

Um forte e natural homem com belos olhos.

Nossos pais tinham vergonha por não serem como aquele homem. Por isso não queriam que fôssemos lá.

Mas nós voltamos naquela casa e o bambu e os peixes dourados domesticados.

Nós voltamos várias vezes durante várias semanas Mas nós nunca vimos ou ouvimos o homem de novo.

As persianas estavam fechadas, como sempre, e estava silencioso.

Então um dia quando nós voltávamos da escola nós vimos a casa. Estava queimada, não tinha sobrado nada,

Só os cimentos fumegados, negros e retorcidos.

E nós fomos ao tanque dos peixes e não havia água lá

E os gordos peixes dourados estavam ali, mortos, secando. Nós voltamos ao jardim dos nossos pais e falamos sobre isso.

E decidimos que nossos pais tinham queimado a casa,

Eles mataram, eles mataram os peixes dourados Porque eram bonitos de mais, até a floresta de bambu, tinham queimado.

Eles tinham medo do homem com belos olhos.

E nós tínhamos medo, de que em todas nossas vidas

Aconteceriam coisas assim, de que ninguém queria alguém Para ser forte e bonito dessa forma,

Page 98: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

De que os demais não permitiriam isso,

E que muitas pessoas teriam de morrer.

Page 99: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

O HOMEM AO PIANO

O homem ao piano Toca uma música

que ele não compôs,

Canta palavras que não são suas,

Em um piano

que não é seu.

Enquanto

as pessoas à mesa

Comem, bebem e conversam,

O homem ao piano

termina sem aplausos.

Então

começa a tocar uma nova canção

Que ele não escreveu

Começa a cantar palavras

que não são suas,

Em um piano

que não é seu.

E como as pessoas

às mesas Continuam a

comer, beber e conversar,

Quando

ele termina

sem ser aplaudido,

Ele anuncia pelo microfone Que vai

fazer uma pausa

de dez minutos.

Ele vai até

o banheiro masculino,

Entra

em um reservado,

tranca a porta, Senta,

puxa um baseado

e acende,

Satisfeito

de não estar

ao piano.

Page 100: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

E as

pessoas as mesas

comendo, Bebendo e conversando satisfeitas

Por ele também

não estar lá.

Assim

acontece

em quase toda a parte, Com todos e com tudo,

Enquanto ferozmente,

no interior, O

gueto negro incendeia.

Page 101: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

OS ÚLTIMOS DIAS DO GAROTO SUICIDA

Eu posso me ver agora Depois desses dias e noites suicidas

Sendo jogado fora de uma daquelas casas de repouso estéreis

Claro, isso aconteceria apenas se eu me tornar rico e famoso Por uma zangada e anormal enfermeira

Ali estou eu sentado firme em minha cadeira de rodas

Quase cego com os olhos rodando atrás da obscuridade do meu crânio

Buscando a misericórdia da morte - Não é um belo dia, Sr. Bukowski?

- Oh sim, sim

As crianças caminham ao colégio e eu sequer existo E as mulheres encantadoras caminham por aqui

Com seus quadris grandes e ardentes

Bundas calorosas e firmes, ardentes por onde as olhem Implorando para serem amadas e eu sequer existo

- É o primeiro raio de sol que temos em três dias Sr. Bukowski

- Oh sim, sim

Ali estou eu sentado firme em minha cadeira de rodas Mais branco que uma folha de papel, pálido

O cérebro se foi, o risco se foi, eu, Bukowski fui

- Não é um dia encantador Sr. Bukowski? - Oh sim, sim

Mijando em meus pijamas, babando em toda a droga da minha boca

Dois jovens colegiais passando correndo

- eh, você viu esse velho? - meu Deus, vi, ele me dá nojo

Depois de todas as ameaças que fez

Mais alguém já cometeu suicídio por mim No fim

A enfermeira pega a rosa de um arbusto e a coloca em minha mão

E eu sequer sei o que é, poderia ser meu pau Para tudo de bom que foi feito

Page 102: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

ARANHA

Então houve um tempo em New Orleans Em que eu vivia com uma gorda,

Marie, no Bairro Francês

E fiquei bastante doente. Enquanto ela estava no trabalho

Ajoelhei-me naquela tarde na cozinha e

Rezei.

Não sou um homem religioso Mas era uma tarde escura demais e eu rezei:

“caro Deus: se você me poupar,

prometo-lhe nunca mais tomar outro trago”. Fiquei ali de joelhos e foi como estar num filme

Ao terminar minha oração

As nuvens se abriram e o sol Rasgou as cortinas e deitou sobre mim.

Então me ergui e fui dar uma cagada.

Havia uma aranha enorme no banheiro da Marie.

Mas caguei do mesmo jeito. Uma hora depois comecei a me sentir muito melhor.

Dei uma volta pelo bairro e sorri para as pessoas.

Parei na mercearia e comprei uma dúzia de cervejas para Marie. Comecei a me sentir tão bem que uma hora depois

Me sentei na cozinha e abri uma das cervejas.

Esvaziei-a e depois outra

E então fui lá e matei a aranha. Quando Marie voltou do trabalho

Eu estava me sentindo muito bem

Eu lhe dei um beijo daqueles, depois Sentei na cozinha e conversamos

Enquanto ela preparava o jantar.

Ela me perguntou o que eu tinha feito naquele dia E eu lhe disse que tinha matado uma aranha.

Ela não ficou brava.

Era uma boa pessoa.

Page 103: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

ESTILO

Estilo é a resposta de tudo. É um jeito especial de fazer uma tolice ou algo perigoso.

Antes fazer uma tolice com estilo do que algo perigoso sem estilo.

Fazer algo perigoso com estilo é o que chamo de arte. Uma tourada pode ser arte.

O boxe pode ser arte.

Amar pode ser arte.

Abrir uma lata de sardinha pode ser arte. Poucos têm estilo.

Poucos mantêm o estilo.

Já vi cães com mais estilo que os homens... Apesar de que poucos cães têm estilo.

Gatos têm muito mais estilo.

Quando Hemingway estourou seus miolos, teve estilo. Há pessoas que dão estilo.

Joana D’arc tinha estilo.

João Batista

Jesus Sócrates

César

Garcia Lorca. Conheci homens na prisão com estilo.

Conheci mais homens na prisão com estilo do que fora.

Estilo faz a diferença.

O jeito de fazer. O jeito de ser feito.

Seis garças tranqüilas na beira de um lago...

Ou você, saindo nua do banheiro, sem me ver.

Page 104: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

QUANDO O ESPÍRITO SE DESVANECE, APARECE A FORMA

Quando um artista, Um poeta,

Ou qualquer coisa assim perde seu espírito...

Isso afeta tudo o que ele vai fazer, E quanto mais fracos eles ficarem,

Mais preocupados com a forma eles ficarão

E tentarão esconder o fato de que eles não estão

Mais escrevendo bem, Pela escrita formal.

Page 105: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

O BANHO

Nós gostamos de tomar banho posteriormente Eu gosto da água mais quente do que ela

Sua face é sempre macia e serena

Ela me lava primeiro, ensaboa minhas bolas Levantando e apertando-as

Enquanto lava meu pênis

- hei, essa coisa continua dura.

Então lava os pelos pubianos, A barriga, costas, pescoço, pernas

Eu sorrio, sorrio, sorrio e depois lavo ela.

Outro beijo e ela sai primeiro, enrolada na toalha, Às vezes cantando enquanto eu continuo dentro

Aumentando a temperatura da água,

Sentindo os bons momentos do milagre do amor. Linda, você trouxe isso pra mim.

Quando você se afastar,

Faça devagar e suavemente

Faça como se eu tivesse morrendo No meu sonho em vez da minha vida,

Amém.

Page 106: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

GAROTAS CALMAS E LIMPAS EM VESTIDOS DE ALGODÃO

tudo o que eu sempre conheci sempre foram putas, ex-prostitutas, loucas. Vejo homens com mulheres calmas e

gentis - vejo-os nos supermercados,

caminhando juntos na rua, eu os vejo em seus apartamentos: pessoas em

paz, vivendo juntas. Sei que essa paz

é apenas parcial, mas

existe paz, muitas horas e dias de paz.

tudo o que eu sempre conheci foram boleteiras, alcoólatras,

putas, ex-prostitutas, loucas.

quando uma vai

outra vem pior do que sua antecessora.

vejo tantos homens com garotas calmas e limpas em

vestidos de algodão garotas com rostos que não são de predadoras ou de

feras.

"nunca traga uma puta junto com você," eu digo para meus

poucos amigos, "eu me apaixonarei por ela."

"você não consegue suportar uma boa mulher, Bukowski."

preciso de uma boa mulher. Preciso de uma boa mulher

mais do que da máquina de escrever, mais do que do meu automóvel, mais do que de

Mozart; preciso tanto de uma boa mulher que posso

senti-la no ar, posso senti-la na ponta dos dedos, posso ver calçadas construídas

para seus pés caminharem,

posso ver travesseiros para sua cabeça,

posso sentir a expectativa da minha risada, posso vê-la acariciar um gato,

posso vê-la dormir,

posso ver seus chinelos no chão.

eu sei que ela existe

mas em que parte deste planeta ela está enquanto as putas continuam me encontrando?

Page 107: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

NOITE DE NATAL

noite de Natal, sozinho, num quarto de motel junto à costa perto do Pacífico -

ouviu?

eles tentaram fazer desse lugar algo espanhol, há

tapeçarias e lâmpadas, e o banheiro é limpo, há

minibarras de sabonete rosa.

não nos encontrarão por aqui:

as piranhas ou as damas ou os adoradores

de ídolos.

lá na cidade eles estão bêbados e em pânico

furando sinais vermelhos arrebentando suas cabeças

em homenagem ao aniversário de

Cristo. Isso é uma beleza.

em breve terei terminado esta garrafa de

rum porto-riquenho.

pela manhã vomitarei e tomarei banho, voltarei para casa, comerei um sanduíche à uma da tarde,

estarei no meu quarto por volta das duas,

estirado na cama, esperando o telefone tocar,

sem responder, meu feriado é uma evasão, minha razão

não é.

Page 108: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

EVENTO

hoje à noite, mais cedo, houve um incêndio na

vizinhança.

ficamos lá assistindo ao incêndio,

e quando o apagaram

não havia nada a não ser o cheiro

de fumaça e madeira queimada molhada, e então os bombeiros se foram

e todos nós voltamos para nossos pequenos quartos.

olhando pela janela eu podia ver 2 ou 3

velhas

ainda falando sobre isso.

fui até o fogão

e pus um pouco de café

no fogo e então liguei o rádio

esperando algo

novo.

Page 109: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

MANICÔMIO

Não são grandes coisas que levam um homem ao manicômio. A morte está à espreita.

Ou o assassinato, incesto, roubo, fogo, inundação.

Não. É uma contínua série de pequenas tragédias. É o que leva um triste homem ao manicômio.

Não é pela morte de seu amor...

Mas um cordão que se rompe sem tempo restante.

Com cada cordão rompido Entre centenas de cordões rompidos

Um homem, uma mulher, uma coisa entra no manicômio.

Então seja cuidadoso quando dobrar a esquina.

Page 110: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

A TRAGÉDIA DAS FOLHAS

acordei numa secura e as samambaias, mortas, nos potes as plantas amarelas igual milho;

minha mulher foi embora

e as garrafas vazias iguais corpos sangrados ao meu redor sem utilidade;

o sol ainda era bom, apesar disso,

e o bilhete da senhoria ia bem e

num tom amarelado sem demandas; o que era preciso agora

era um bom comediante, estilo antigo, um bobo

com piadas sobre a dor absurda; a dor é absurda porque existe, nada mais;

fiz a barba cuidadosamente com

uma velha lâmina, o homem que já foi jovem e

que diziam ser genial; mas

essa é a tragédia das folhas,

das samambaias mortas, das plantas mortas;

e eu entrei num corredor escuro

onde a senhoria de pé esperava, malcriada e terminal,

me mandando pro inferno,

balançando seus braços gordos e suados

e gritando gritando para receber o aluguel

por que o mundo havia falhado com nós

dois.

Page 111: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

A GERAÇÃO PERDIDA

tava lendo um livro sobre uma literata rica dos anos vinte e seu marido que

beberam, comeram e farrearam por toda a

Europa encontrando Pound, Picasso, A. Huxley, Lawrence, Joyce,

F. Scott, Hemingway, muitos

outros;

os famosos eram como brinquedinhos preciosos para eles,

e pelo que li

os famosos se permitiram tornar brinquedinhos preciosos.

durante o livro inteiro

esperei pra que só um dos famosos falasse a essa literata rica e seu

marido literato rico pra

que se mandassem

mas, aparentemente, nenhum deles o fez.

Em vez disso foram fotografados com a moça

e seu marido em várias praias

com cara de inteligente

como se tudo isso fosse parte do ato

da Arte. talvez a mulher e o marido

serem donos de uma imprensa chique

tivesse algo a ver com isso.

e foram todos fotografados juntos

em festas ou do lado de fora da livraria da Sylvia Beach.

é verdade que muitos deles foram

artistas ótimos e/ou originais,

mas tudo parecia um negócio tão precioso esnobe,

e o marido finalmente cometeu seu

tão ameaçado suicídio e a mulher publicou um de meus primeiros

contos nos anos

40 e agora já morreu, mas

eu não consigo perdoar nenhum dos dois

por suas vidas ricas idiotas

e não consigo perdoar seus brinquedinhos preciosos também

por terem sido

isso.

Page 112: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

O MUNDO CHEIO DE JOÃO

João com o cabelo solto, João exigindo dinheiro,

João da barriga grande,

João da voz alta, alta, João da troca,

João que se exibe para as garotas,

João que acha que é um gênio,

João que vomita, João que fala mal dos sortudos,

João ficando cada vez mais velho,

João ainda exigindo dinheiro, João escorregando pelo pé de feijão,

João que fala mas não faz,

João que escapa impune do assassinato, João que faz biscates,

João que fala dos velhos tempos,

João que fala e fala,

João com a mão estendida, João que aterroriza os fracos,

João, o amargurado,

João dos cafés, João implorando reconhecimento,

João que nunca tem emprego,

João que superestima totalmente seu potencial,

João que fica gritando sobre seu talento não reconhecido, João que culpa a todos.

Você sabe quem é João, você o viu ontem, você o verá amanhã, você o verá semana que vem. Querendo sem fazer, querendo de graça.

Querendo fama, querendo mulheres, querendo tudo.

Um mundo cheio de Joãos descendo pelo pé de feijão.

Page 113: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

SEJA BONDOSO

sempre nos pedem para compreender o ponto de vista

do próximo

não importa quão antiquado

tolo ou

obnóxio.

pedem para

enxergar

com bondade

todos os seus erros

suas vidas desperdiçadas, principalmente se eles são

velhos.

mas envelhecer é tudo que nós fazemos.

eles envelheceram

mal porque

viveram

fora de foco,

eles se recusaram a entender.

não é culpa deles?

é culpa de quem?

minha?

me pedem para esconder

deles

meu ponto de vista por medo de seus

medos.

envelhecer não é crime

mas a vergonha de uma vida

deliberadamente

desperdiçada

entre tantas

vidas

deliberadamente desperdiçadas

é.

Page 114: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

CONVERSA ÀS TRÊS E MEIA DA MADRUGADA

às três e meia da madrugada a porta se abre

e há passos na entrada

que trazem um corpo, e uma batida

e você repousa a cerveja

e vai ver quem é.

com os diabos, ela diz,

você não dorme nunca?

e ela entra

com o cabelo nos rolinhos

e num robe de seda estampado de coelho e passarinho

e ela trouxe a sua própria garrafa

à qual você gloriosamente acrescenta 2 copos;

o marido, ela diz, está na Flórida

e a irmã manda dinheiro e vestidos para ela, e ela tem estado procurando emprego

nos últimos 32 dias.

você diz a ela que é um cambista de jóquei e

um compositor de jazz e canções românticas,

e depois de uns dois copos ela não se preocupa com cobrir

as pernas

com a beira do robe que está sempre caindo.

não são pernas nada feias,

na verdade são pernas ótimas, e logo você está beijando uma

cabeça cheia de rolinhos,

e os coelhos estão começando a

piscar, e a Flórida é longe, e ela diz

que não somos realmente estranhos porque ela tem me visto na entrada.

e finalmente

há muito pouca coisa para dizer.

Page 115: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

TANTA SORTE

estávamos em uma mesa, homens e mulheres,

após o jantar.

de alguma maneira a conversa girou

em torno da

TPM.

uma das senhoras declarou com firmeza que

a única cura para

TPM era a

velhice.

houveram outros comentários

que eu

esqueci,

exceto por um feito por

um convidado alemão

que já foi casado, e agora é divorciado.

além disso, eu o vi

com

várias garotas

jovens e bonitas.

de qualquer maneira, após ouvir calmamente

nossa conversa

por algum tempo ele nos perguntou,

“o que é TPM?”

aqui estava alguém verdadeiramente tocado

pelos

anjos.

a luz era tão

brilhante que todos nós

desviamos

o olhar.

Page 116: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

POEMA NOS MEUS 43 ANOS

Terminar sozinho no túmulo de um quarto

sem cigarros

nem bebida — careca como uma lâmpada,

barrigudo,

grisalho,

e feliz por ter um quarto.

...de manhã eles estão lá fora

ganhando dinheiro:

juízes, carpinteiros, encanadores, médicos,

jornaleiros, guardas,

barbeiros, lavadores de carro,

dentistas, floristas, garçonetes, cozinheiros,

motoristas de táxi...

e você se vira

para o lado esquerdo

pra pegar o sol

nas costas e não

direto nos olhos.

Page 117: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

UM POEMA É UMA CIDADE

um poema é uma cidade cheia de ruas e esgotos cheia de santos, heróis, pedintes, loucos,

cheia de banalidade e bebedeira,

cheia de chuva e trovão e períodos de seca, um poema é uma cidade em guerra,

um poema é uma cidade perguntando ao relógio por quê,

um poema é uma cidade em chamas,

um poema é uma cidade rendida por armas suas barbearias cheias de bêbados cínicos,

um poema é uma cidade onde Deus anda pelado

pelas ruas como Lady Godiva, onde cães latem à noite e perseguem a bandeira;

um poema é uma cidade de poetas,

quase todos um tanto semelhantes e invejosos e amargos...

um poema é uma cidade agora,

50 milhas de lugar nenhum,

9:09 da manhã, o gosto de bebida e de cigarros,

sem polícia, sem amantes, andar pelas ruas,

este poema, esta cidade, as portas fechadas, barricadas, quase vazia,

desolada sem lágrimas, envelhecendo sem pena,

as montanhas rochosas,

o oceano como chama de lavanda, uma lua destituída de grandeza,

a pequena música que vem das janelas quebradas...

um poema é uma cidade, um poema é uma nação, um poema é o mundo...

e agora eu enfio isso debaixo do copo

para o exame detalhado do editor maluco, e a noite está noutro lugar

e débeis damas cinzentas estão na fila,

cão segue cão até o estuário,

as trombetas trazem a forca enquanto homens pequenos se gabam de coisas

que não podem fazer.

Page 118: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

CONVERSA NUM TELEFONE

Eu poderia dizer pelo rastejo do gato Do jeito que estava desanimado

Que tinha sido insano com a presa;

E quando meu carro foi pra cima dele Ele pulou no crepúsculo e fugiu

Com um pássaro na boca

Um pássaro muito grande, cinza

As asas abaixadas como um amor partido As presas na vida ainda estão lá

Mas não muitas, não muitas

O amor-pássaro partido O gato caminha na minha frente

E eu não consigo fazê-lo ir embora

O telefone toca, eu respondo uma voz, Mas eu o vejo de novo de novo,

E as asas perdidas

As asas cinzas perdidas,

E essa coisa realizada Em uma cabeça

Que não conhece misericórdia;

Eu desliguei o telefone E os lados-de-gato da sala

Vêm em cima de mim

E eu gostaria de gritar,

Mas eles têm lugares Pra pessoas que gritam;

E o gato anda

O gato anda sempre No meu cérebro.

Page 119: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

TERREMOTO

Os americanos não sabem o que é essa tragédia Um pequeno terremoto de 5.5

Pode deixá-los falando como macacos

Um pedaço do vaso chinês quebra A missão de resgate da união se cai.

6:00 AM eles sentam em seus carros,

Eles todos dirigem dando voltas.

A onde eles estão indo? Um pouco de emoção brilhando

Em suas vidas em conserva.

Estranhos se param junto a estranhos. Tagarelando medo, medo ansioso,

Risada ansiosa

Meu bebe, meu vaso de flores, Meu teto, minha conta bancária

Isso é só uma mancha, uma pluma,

E eles não podem suportar isso.

Supõem que bombardearam a cidade Como as outras cidades tem sido

Bombardeadas

Não com uma bomba atômica Mas com pequenas bombas ordinárias,

Dia após dia.

Todos os dias, como em outras cidades do mundo

Se o resto do mundo pode ver-te hoje Suas risadas colocariam o sol de joelhos

E mesmo as flores saltariam do solo

Como bullgdogs e te mandaria até onde pertences. Sempre é assim.

E a quem se importa de onde é,

Sempre e quando seja longe daqui.

Page 120: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

ORGULHOSOS, MAGROS, MORRENDO

eu vejo idosos em pensões, em supermercados e eles são magros, e eles são orgulhosos, e eles estão morrendo

eles estão famintos e eles não dizem nada

tempos atrás, entre outras mentiras eles foram ensinados de que o silêncio era bravura

agora, depois de trabalhar a vida toda,

a inflação os aprisionaram

eles olham em volta roubam um uva

mastigam-na

finalmente, fazem um pequena compra, o dia valeu a pena. outra mentira que lhes foi ensinada:

não roubarás

eles preferem a fome à roubar (uma uva não os salvará)

e em quartos minúsculos, enquanto leêm anúncios de mercado

eles sentirão fome

eles vão morrer sem fazer barulho, retirados de seus albergues

por jovens garotos loiros de cabelos compridos

que vão deslizar para dentro e se afastarão do meio fio

estes garotos,

olhos bonitos,

pensando em Vegas e bucetas e vitória é a ordem das coisas:

cada um sente o gosto de mel,

depois o da faca.

Page 121: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

TELA

Não suporto as lágrimas havia algumas centenas de imbecis

em volta de uma ganso que tinha partido uma perna

enquanto decidiam o que fazer

quando um polícia apareceu

e sacou seu revolver

e pronto, o assunto estava encerrado exceto para uma mulher

que saiu correndo de sua barraca

gritando que tinham matado seu animal de estimação mas o polícia agarrou o seu cinto

e disse-lhe

vai para o raio que te parta, queixa-se ao presidente da república;

a mulher ficou chorando desconsoladamente

e eu não suporto as lágrimas.

Arrumei a minha tela

e fui para outro campo:

os filhos da mãe haviam estragado a toda a paisagem.

Page 122: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

UM POEMA QUASE FEITO

eu vejo você bebendo numa fonte com suas minúsculas mãos azuis, não, suas mãos não são minúsculas

elas são pequenas e a fonte é na França

de onde você me escreveu aquela última carta e eu respondi e nunca mais obtive retorno.

você costumava escrever poemas insanos sobre

ANJOS E DEUS, tudo em caixa alta, e você

conhecia artistas famosos e muitos deles eram seus amantes, e eu escrevia de volta, está tudo bem,

vá em frente, entre na vida deles, não sou ciumento

porque nós nem nos conhecemos. estivemos perto uma [vez em

New Orleans, metade de uma quadra, mas nunca nos

[encontramos, nunca um contato. assim você seguiu com os famosos,

[escreveu

sobre os famosos, e, claro, descobriu que os famosos

estavam preocupados com a fama deles – não com a jovem e bela garota em suas camas, que lhes dava aquilo, e

[que acordava

de manhã para escrever em caixa alta poemas sobre ANJOS E DEUS. nós sabemos que Deus está morto, eles nos

[disseram,

mas ao ouvi-la eu já não tinha certeza. talvez

fosse a caixa alta. você era uma das melhores poetas e eu disse para os editores, “publiquem-na, publiquem-na,

[ela é louca mas é

mágica. não há mentira em seu fogo”. eu te amei como um homem ama uma mulher que jamais tocou,

[para

quem apenas escreveu, de quem manteve algumas fotografias. eu poderia

[ter te

amado mais se eu tivesse sentado numa pequena sala

[enrolando um cigarro e ouvindo você mijar no banheiro,

mas isso não aconteceu. suas cartas ficaram mais tristes.

seus amantes te traíram. criança, escrevi de volta, todos os amantes traem. isso não ajudou. você disse

que tinha um banco em que ia chorar e que ficava numa

[ponte e a ponte ficava sobre um rio e você sentava no seu banco de

[chorar

todas as noites e descia o pranto pelos amantes que

te machucaram e te esqueceram. escrevi de volta mas não [obtive

qualquer retorno. um amigo me escreveu contando do seu

[suícidio 3 ou 4 meses depois de consumado. se eu tivesse te

[conhecido

provavelmente teria sido injusto com você ou você

comigo. foi mesmo melhor assim.

Page 123: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

MELANCOLIA

A história da melancolia inclui todos nós. a mim, eu me contorço em sujos lençóis

enquanto observo as paredes azuis e o nada.

acostumei-me tanto à melancolia que a cumprimento como uma velha amiga.

Ficarei de luto por 15 minutos por ter perdido aquela ruiva,

digo isso aos deuses. eu faço isso e me sinto completamente mal.

completamente triste, então me levanto LIMPO

embora nada tenha sido resolvido.

é isso que consigo por chutar a bunda da religião. eu deveria ter chutado a bunda da ruiva

onde seus miolos, seu pão e sua manteiga estão no…

Mas, não, eu tenho me sentido triste por tudo isso: ter perdido a ruiva foi, somente, outra porrada que foi dada numa vida inteira

fracassada…

escuto os tambores no radio agora e forço um sorriso.

além da melancolia há algo de errado comigo.

Page 124: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

CANTEM COMIGO

cantem comigo, todas as tristes coisas — loucos em casas de pedra

sem portas e janelas

leprosos fumegando o amor e o cantar um sapo a tentar

o céu alcançar;

cantem comigo, todas as tristes coisas —

dedos fendidos numa forja a velha idade como uma almoço envolto

numa couraça

livros usados, pessoas usadas flores usadas, amores usados

de ti preciso

de ti preciso de ti preciso:

que fugiu

como um cavalo ou um cachorro

perdido ou morto sentimento de fato

implacável

inexorável.

Page 125: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

A RETIRADA

este momento acabou comigo. sinto-me como as tropas alemãs

batidas pela neve e pelos comunistas

andando inclinado com jornais enfiados

em rotos sapatos.

meu empenho é dificilmente terrível

talvez mais que difícil. a vitória estava tão perto

a vitória estava lá.

como se estivesse estacada em frente ao meu espelho mais jovem e mais bela

que qualquer donzela

que já vi combinando jardas e jardas de cabelos fogosos

enquanto na direção dela eu mirava meus olhos.

e quando ela para a cama veio

estava mais bonita que nunca e o amor foi muito muito bom.

onze meses

agora ela se foi partiu como chegou.

este momento acabou comigo.

é uma longa estrada que leva de volta de volta pra onde?

o cara à minha frente

cai. nele piso.

ela também o pegou?

Page 126: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

UM CORTE DURANTE O BARBEAR

nunca é completamente certo, ele disse, o modo de como as pessoas olham, a maneira de como a música soa, o jeito de como as palavras

são escritas.

nunca é completamente certo, ele disse, todas as coisas que ensinamos, todos os amores pelo qual optamos, todos as mortes que morremos, e todas as vidas que

vivemos

uma atrás de outra,

acumuladas como a História, o desperdício das espécies,

o cessar da luz e dos caminhos que aparecem

não é completamente certo, é difícil que tudo seja certo,

ele disse.

eu não sabia disso?

respondi.

Distanciei-me do espelho. era manhã, era tarde, era noite.

nada mudou estava trancado no lugar.

alguma coisa se queimou, alguma coisa se quebrou, alguma coisa restou.

Eu desci pela escadaria e entrei.

Page 127: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

CAUSA E EFEITO

os melhores, frequentemente, morrem pelas suas próprias mãos apenas para escapar,

e aqueles que são deixados para trás

nunca completamente entendem que alguém possa querer

deles

se

afastar.

Page 128: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

POEMA PARA O MEU QUADRAGÉSIMO TERCEIRO ANIVERSÁRIO

acabar solitário na sepultura dum quarto

sem cigarro

ou vinho apenas uma

lâmpada

e uma pança

cinza e peluda e

feliz

por estar numa espelunca. … pela manhã

eles estão lá fora

ganhando grana: juízes, carpinteiros

encanadores, doutores

jornalistas, policiais,

barbeiros, lavadores de carro, dentistas, floristas,

garçonetes, cozinheiros,

taxistas… e você

se vira para o lado

para que o sol que vai de encontro

aos seus olhos seja desviado

para que você sinta a luz solar

nas suas costas repousar.

Page 129: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

ÀS RAPOSAS

não sinta pena de mim, sou um competente e

satisfeito ser humano.

sinta pena de outros

que

irritados

reclamam

que

constantemente rearranjam suas

vidas

como fazem com as mobílias.

falseando atitudes e

amigos

a confusão deles

é

constante

e ela atingirá

todos aqueles

que eles encostarem.

com eles, cuidado: uma de suas palavras

favoritas é

“amor”.

e cuidado com aqueles

que apenas tomam

instruções de seu Senhor.

por eles terem falhado completamente em suas próprias

vidas.

não sinta pena de mim porque sou solitário.

e nos mais terríveis

momentos

o humor

é meu companheiro

Page 130: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

inseparável.

Sou um cachorro andando para trás

Sou um banjo quebrado

Sou um fio de telefone

cortado que liga Toledo e Ohio

Sou apenas um homem jantando

nesta noite

de setembro.

Page 131: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

MEU PAI

era de fato um homem fantástico ele fingia ser

rico embora vivesse comendo mingau e feijão, éramos fodidos

quando sentávamos à mesa para comer, ele dizia: “não é todo mundo que come uma comida dessas.”

e porque ele queria ser rico ou porque ele na verdade

pensava que era rico sempre votou nos Republicanos

e votou em Hoover contra Roosevelt

e perdeu então votou em Alf Landon contra Roosevelt

e perdeu de novo

dizendo, “não sei no que este mundo vai se transformar,

agora temos os malditos vermelhos lá de novo e os russos

estão daqui a pouco no quintal conosco!”

eu acho que foi meu pai que me fez tomar a decisão de ser

um vagabundo.

eu decidi que se um homem como ele queria ser rico então eu iria querer ser pobre.

e me tornei um vagabundo

eu vivi contando os centavos dormindo em quartos baratos

e em cima dos passeios

eu pensava que talvez os vagabundos soubessem de algo.

mas vi que todos os vagabundos queriam também ser ricos.

mas eles apenas falharam nisso.

então pego entre meu pai e os vagabundos eu não tinha para onde ir

e fui para lá correndo e devagar.

nunca votei nos Republicanos. nunca votei.

enterrei-o como uma coisa estranha da terra

como centenas de coisas estranhas

como milhões de outras coisas estranhas

desperdiçadas.

Page 132: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

METAMORFOSE

uma namorada entrou fez minha cama

o chão da cozinha ela lavou e encerou

limpou as paredes aspirou

limpou o toalete

a banheira

esfregou o chão do banheiro cortou as unhas do meu pé

meu cabelo.

então no mesmo dia

veio o encanador que arrumou

a torneira da pia consertou também a do banheiro

outro cara consertou o aquecedor

aí veio outro e o telefone ele arrumou

agora estou sentando no meio dessa perfeição tudo silencioso.

com minhas namoradas terminara

melhor me sentia quando a bagunça imperava.

levarei alguns meses para tudo voltar ao normal:

não posso nem mesmo achar uma barata para conversar.

perdi meu ritmo não posso comer

não posso dormir

a minha sujeira roubaram de mim.

Page 133: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

SHOW BIZZ

eu não posso ter isso você não pode ter isso

e nós não

alcançaremos isso

então não aposte isso

e nem mesmo pense sobre

isso

levante-se da cama

toda manhã lave-se

barbeie-se

vista-se e saia

para fora disso

porque fora disso

o que sobra

é loucura e suicídio

então

não espere o bastante

você não deve nem mesmo

esperar

então o que você faz

é

trabalhar

a partir duma base

mínima

como quando

voce sai

e durante o voltar fica feliz pela

possibilidade

de seu carro

estar no mesmo lugar

isso se os pneus

não estiverem

carecas

aí você entra

Page 134: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

e se conseguir dar a partida

você dá a partida.

e

isso é o filme mais imbecil

que você já viu porque

dele você

participa.

salário baixo

e

4 bilhões de críticos

com a mais longa estrada

que você jamais

esperou

acerca disso

um dia.

Page 135: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

VIAGEM INTERROMPIDA

fazer amor sob sol, sob o sol da manhã num quarto de hotel

em cima duma beco

onde homens pobres juntam garrafas; fazer amor sob o sol da manhã

fazer amor em cima dum carpete mais vermelho que nosso sangue,

fazer amor enquanto garotos vendem jornais

e Cadillacs, fazer amor vendo uma foto de Paris

abrindo um maço de cigarros

fazer amor enquanto homens pobres trabalham. Daquele momento para este…

talvez sejam através de anos que eles os medem

mas apenas uma sentença volta à minha mente há tantos dias

quando a vida para, levanta-se e senta-se

e espera como um trem nos trilhos.

passo no hotel às 8 e às cinco; há gatos nos becos,

garrafas e vadios,

olho para janela e reflito, Eu não mais sei onde você está,

e ando e maravilho-me como a vida

vai, corre, prossegue

e eu ainda penso em tudo isso.

Page 136: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

OS GÊNIOS DA MUTIDÃO

há traição, ódio, absurda violência nos seres humanos normais que podem alimentar qualquer exercito por

todos os dias

e os melhores entre os assassinos são os que rezam contra o homicídio

os que mais odeiam são aqueles que pregam o amor

e os que mais guerreiam são os que pregam a paz do Senhor

cuidado com os pregadores cuidado com os sábios

cuidado com aqueles que estão sempre a ler os livros

cuidado com os que ao mesmo tempo que odeiam a pobreza com orgulho festeja-a

cuidado com os afoitos bajuladores

que precisam de elogios recíprocos cuidado com aqueles que adoram rapidamente censurar

eles tem medo do que não sabem pensar

cuidado com os que procuram constantemente multidões

porque tem medo de ficarem sós cuidado com os homens e as mulheres normais

cuidado com seus amores normais

que exigem normalidade mas há talento no ódio deles

suficiente para matar vocês

matar qualquer um

não querendo solidão não entendendo a solidão

eles tentarão destruir qualquer coisa

que deles se difere não sendo capazes da arte criar

não podem entendê-la

consideram sua falha como criadores como uma falha do mundo inteiro

não são capazes de se entregarem ao amor

eles acreditam que o amor doutros é incompleto

eles então vão te odiar e o ódio deles será perfeito como

um diamante brilhante

como uma lâmina como uma montanha

como um tigre

como venenosa planta o ódio é para eles a mais nobre arte

Page 137: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

OS ALIENS

talvez você não acredite mas há pessoas

que passam a vida

sem o menor atrito ou

agonia

eles se vestem bem, comem

bem, dormem bem estão satisfeitos com a vida

em família.

eles têm momentos de melancolia

mas no geral

não são incomodados e, frequentemente,

sentem-se

muito bem quando morrem

é uma morte fácil, geralmente, dormem.

talvez você não acredite

porém essas pessoas existem. mas eu não sou

uma delas

ah não, eu não sou

uma delas eu nem chego perto

de ser

uma delas

mas elas estão

lá e eu estou

cá!

Page 138: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

SAPATOS

quando você é jovem um par

de sapatos

saltos altos femininos

apenas

sentados

bem perto

ao teu lado

sozinhos podem

incendiar

seus ossos;

quando você é velho

eles são

somente um par

de sapatos

vazios e

é

isso.

Page 139: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

ELOGIO A UMA NOBRE MULHER DOS INFERNOS

alguns cachorros quando dormem à noite devem sonhar com ossos

eu me lembro dos seus ossos

na sua carne ficavam ótimos

naquele vestido verde escuro

naquele seu salto-alto turvo,

e voce sempre me amaldiçoava quando bebia seu cabelo para baixo escorria

enquanto você parecia que explodia

mas o que te segurava: podres memórias

dum

podre passado,

e quando

você morreu

deixou meu presente roto

e desde que partiu

da minha mente há 28 anos

não saiu.

você era a única

que entendia a futilidade

dos preparativos

da vida; todos os outros estavam apenas

descontentes

com suas triviais existências reclamando

sem sentido

sobre o

que não faz sentido;

Jane, você foi

assassinada por saber demais

aqui vai um brinde

ao seu esqueleto que

dos sonhos

deste cachorro

fazem parte por inteiro.

Page 140: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

QUAL É A ULTILIDADE DE UM TITULO

eles não fazem isso os belos morrem em chamas

comprimidos fatais, veneno de rato, uma corda com um laço

que seja… eles, as armas descansam

das janelas se lançam

empurram para fora das órbitas os olhos

rejeitam o amor rejeitam o ódio

rejeitam, rejeitam.

eles não podem fazer isso os belos não podem resistir

eles são borboletas

são pombas são papagaios

eles não fazem isso

um cara desencadeia uma chama enquanto um velho, num parque, joga damas

uma chama, uma boa chama

enquanto um velho, num parque ensolarado, joga damas.

os belos são encontrados à margem dum quarto

picados por aranhas, por agulhas e pelo silêncio nunca entenderemos por que eles

partiram, eram tão

belos.

eles não fazem isso,

os belos morrem jovens e deixam os feios com suas vidas feias.

brilhante e amável: a vida, a morte e o suicídio

enquanto o homem, num parque ensolarado, joga damas.

Page 141: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

PEQUENO CONVITE

levei minha namorada para ouvir você ler seus poemas, ela disse.

sim, sim? eu perguntei.

ela é jovem e bonita, ela disse. e? eu perguntei.

ela odeia sua

barriga.

então esparramou-se no sofá tirou as botas

e falou:

não tenho pernas muito boas. tudo bem, pensei,

minhas poesias também não são

grandes coisas; ela não tinha pernas muito boas.

segundo round.

Page 142: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

É ISTO, ENTÃO

é o mesmo de antes é o mesmo doutro tempo

ou do tempo antes desse outro tempo

eis um pau eis uma boceta

e eis o problema.

por uma momento você pensa

sim, aprendi:

deixarei-a fazer aquilo

e farei isto,

não vou mais querer tudo apenas o suficiente

para viver confortavelmente

sexo de vez em quando

e apenas um pouco de amor.

agora estou esperando novamente e anos escoam rapidamente.

tenho meu rádio

as paredes da cozinha

são amarelas prossigo jogando fora as garrafas

e ouvindo

os passos

espero que a morte seja

mais leve do que isso.

Page 143: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

PUXE UMA CORDA, UMA MARIONETE SE MEXE

cada homem precisa perceber que tudo pode, subitamente,

desaparecer:

o gato, o pneu dianteiro, o trabalho,

a cama, a mulher, o quarto; todas suas necessidades

incluindo o amor,

descanse num alicerce de areia — e em qualquer causa alheia,

não se importe com a grandeza:

a morte dum garoto em Hong Kong ou uma nevasca em Omaha…

podem servir como sua ruína.

todas quinquilharias da China indo d’encontro ao chão, sua namorada entrará

e bêbado você estará

e ela perguntará:

meu deus, o que foi que aconteceu? e você dirá: não sei,

eu não sei…

Page 144: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

UM DESAFIO À ESCURIDÃO

atire no olho atire no cérebro

atire no cu

atire como uma flor numa dança

fantástico como a morte ganha tão facilmente

fantástico como muito crédito é dado para formas de vida idiotas

fantástico como a risada tem sido silenciada.

fantástico como a crueldade tem sido constantemente propagada.

preciso logo declarar minha guerra à guerra deles preciso segurar meu pedaço de chão

preciso proteger o pequeno lugar onde fiz que minha vida fosse permitida

minha vida não à morte deles

minha morte não à morte deles…

Page 145: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

DORMIR

ela era uma daquelas pequenas estava gorda, mas antes era

bela e

vinho, ela bebia bebia vinho na cama

falando, gritando e me

amaldiçoando

eu me virava para ela e dizia por favor, me deixe

dormir.

— dormir? dormir? sim seu filho da puta, sim, você nunca dorme,

você não precisa de

dormir! enterrei-a numa certa manhã

carreguei-a pelas montanhas de Hollywood

arbustos, coelhos e pedras

passando em minha frente cavei um buraco

enterrei-a de barriga

para baixo e

coloquei a sujeira de volta no carro

o sol já havia nascido

um calor estava me invadindo

as moscas zanzando preguiçosamente

eu não conseguia enxergar um palmo sequer em

minha frente

tudo estava amarelo e quente.

dirigi de volta para casa e me joguei na cama

dormi por 5 dias e 4

noites.

Page 146: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

O FECHAR DE CORTINAS

o descer das cortinas de um dos mais longos musicais já feitos, algumas pessoas bradam que já assistiram-no uma centena de vezes.

eu o vi na jornal da tv, aquele fechar de cortinas:

flores, lágrimas, gritos, um estrondoso elogio. eu não vi esse musical

mas tenho certeza que não suportaria ver algo que, com certeza,

me faria adoecer.

creia no que vou te falar, o mundo e suas pessoas com seus engenhosos espetáculos tem feito pouco por mim, apenas para mim.

deixa-as aproveitar mais um show, isso as deixará

longe de mim e assim, vai aqui meu meu estrondoso elogio.

Page 147: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

AGORA

sento-me aqui no segundo andar arqueado

com um pijama amarelo

trajado ainda tentando ser

um escritor.

alguma maldita tristeza

no 71, meus neurônios

devorados pela vida.

pilhas de livros atrás de mim,

coço meus parcos

cabelos tentando

encontrar

o vocábulo certeiro.

Page 148: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

E A LUA E AS ESTRELAS E O MUNDO

Longas caminhadas pela madrugada —

é que o é bom

para a alma:

espionar as janelas

olhando donas de casas

cansadas

tentando combater

seus bêbados e loucos maridos.

Page 149: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

SOLUCIONANDO

Van Gogh cortou a própria orelha e a deu para uma

prostituta

que com nojo

extremo

atirou-a ao vento.

Van, putas não querem orelhas

elas querem

dinheiro. Acho que agora sei por que

você foi um grande

pintor: você não compreendia

as outras coisas da vida.

Page 150: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

LIBERDADE

no dia 28 ele bebeu vinho a noite inteira, mas continuava pensando nela:

o modo de como caminhava e amava

de como lhe contou coisas que pareciam verdadeiras mas que não eram, a cor de cada um

dos seus vestidos;

dos sapatos ele sabia como eram as curvas e

as madeiras de cada salto como forma das pernas que dos calçados

se erguiam.

e ela saíra novamente quando em casa ele chegou ela voltou com aquele cheiro diferente

veio às 3 da manhã

suja como porco comendo estrume ele pegou uma faca de açougueiro

ela gritou

indo de encontro a parede da pensão

continuava linda de alguma forma no ódio de seu pútrido amor

ele terminou o copo de vinho.

aquele vestido amarelo seu favorito

ela deu outro grito.

ele pegou a faca

desatou o cinto e diante dela rasgou a roupa

e cortou as bolas.

carregou-as em suas mãos como damascos

jogou-as na privada e deu descarga

ela continuava a gritar enquanto o quarto estava de vermelho a ficar

DEUS OH DEUS!

O QUE VOCÊ FEZ?

ele se sentou ali segurando 3 toalhas entre as pernas

não ligando agora se ela sairia

ou se em casa ficaria vestindo amarelo ou verde

ou qualquer outro enfeite.

uma mão segurava a outra mão era usada para

na taça

mais vinho despejar.

Page 151: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

SIM SIM

quando Deus criou o amor Ele não ajudou a todos quando Deus criou os cachorros Ele não ajudou os cachorros

quando Deus criou as plantas foi normal

quando Deus criou o ódio nós tivemos uma utilidade aceitável quando Deus me criou Ele me criou

quando Deus criou o macaco ele estava adormecido

quando Ele criou a girafa estava bêbado

quando Ele criou os narcóticos Ele estava doido e quando Ele criou o suicídio Ele estava deprimido

quando Ele criou você deitado no colchão Ele sabia o que estava fazendo

Ele estava chapadão e doidão

e Ele criou as montanhas, os oceanos e o fogo todos no mesmo estouro.

Ele cometeu alguns erros

mas quando ele criou você deitado no colchão,

com a cabeça no travesseiro Ele gozou em cima de Seu abençoado Universo inteiro.

Page 152: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

VACAS NA AULA DE ARTE

um bom tempo é como

boas mulheres

não é sempre que acontece e quando surge

ele urge.

o homem é

mais estável: se ele está mau

há mais chances

que ele prossiga nesse caminhar e se ele está bem

com certeza isso logo se interromperá,

mas uma mulher modifica-se

pelos

filhos

pela idade

pelas

dietas conversas

pelo

sexo

luar pela

falta da luz solar

ou de bons momentos. uma mulher deve ser mantida

pelo amor

onde um homem pode tornar-se mais forte

ou ser alvo de rancor.

Page 153: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

O QUE PODEMOS FAZER?

no fundo, há nobreza na Humanidade. algum entendimento e, às vezes, atos de

coragem.

mas de modo geral, a Humanidade não parece contar com muito disso. Isso é como um enorme animal dormindo e quase nada pode fazer com que ele desperte.

quando ativado ele é o melhor em brutalidade, egoísmo, julgamentos injustos, assassinatos.

o que podemos fazer em relação a isso, Humanidade?

nada. evitar a coisa o quanto for possível

tratá-la como algo venenoso e viciante

mas tenha cuidado. leis foram decretadas para proteger essas disparidades.

isso pode matar você sem uma causa

e para escapar disso você deve ser sutil. pois poucos escapam.

você tem que traçar um plano.

nunca conheci alguém que escapasse.

conheci alguns grandes e famosos, porém eles não escaparam, pois eles se tornaram

grandes e famosos seguindo os passos de grande parte

da Humanidade. eu não escapei, mas eu não falhei em tentar de novo e sempre.

antes de minha morte, espero conseguir ter de volta o meu viver.

Page 154: BUKOWSKI, C. Poemas de Charles Bukowski

POEMA

É preciso muito desespero, descontentamento e desilusão para escrever alguns bons poemas.

Não é para todos nem escrevê-los ou mesmo lê-los.

Fontes: http://www.literaturaemfoco.com/?tag=charles-bukowski http://www.velhobukowski.blogspot.com/ http://bukowskibar.blogspot.com/ http://traducoesdeumvelhosafado.blogspot.com/