A Teologia Da Liturgia - Ratzinger 2001

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    A TEOLOGIA DA LITURGIA

    Por Lus Augusto - membro da ARS

    Uma conferncia de Sua Eminncia Joseph Cardeal Ratzinger, Prefeito da

    Congregao para Doutrina da F, proferida durante as Journees liturgiques de

    Fontgombault, de 22 a 24 de julho de 2001.

    http://www.oriensjournal.com/11librat.html

    http://www.ratzinger.us/modules.php?name=News&file=article&sid=120

    O Conclio Vaticano II definiu a Liturgia como obra de Cristo Sacerdote e

    de seu Corpo que a Igreja.

    No mesmo texto a obra de Jesus Cristo referida como a obra da redeno que

    Cristo realizou especialmente pelo Mistrio Pascal de sua Paixo, Ressurreio

    dos mortos e gloriosa Ascenso.

    Por este Mistrio, morrendo ele destruiu nossa morte e ressurgindo restaurou a

    vida. primeira vista, nessas duas sentenas, a expresso obra de Cristo parece

    ter sido usada com dois sentidos diferentes. A obra de Cristo refere-se antes de

    tudo s aes redentoras, histricas de Jesus, sua Morte e Ressurreio; por outro

    lado, a celebrao da liturgia que chamada obra de Cristo.

    Na verdade, os dois significados esto inseparavelmente unidos: a Morte e a

    Ressurreio de Cristo, o Mistrio Pascal, no so apenas eventos histricos,

    exteriores. No caso da Ressurreio isto muito claro. Est unido histria,

    penetra-a, mas transcende-a de duas formas: no ao de um homem, mas uma

    http://www.oriensjournal.com/11librat.htmlhttp://www.ratzinger.us/modules.php?name=News&file=article&sid=120http://www.ratzinger.us/modules.php?name=News&file=article&sid=120http://www.oriensjournal.com/11librat.html
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    ao de Deus, e assim leva Jesus ressuscitado para alm da histria, para aquele

    lugar em que ele est sentado direita do Pai. Mas tambm a Cruz no uma ao

    meramente humana. O aspecto puramente humano est presente nas pessoas que

    levaram Jesus para a Cruz. Para o prprio Jesus, a Cruz no primariamente uma

    ao, mas uma paixo, e uma paixo que significa que ele se conformou Divina

    Vontade uma unio, o carter dramtico do que nos foi mostrado no Jardim do

    Getsmani. Assim, a dimenso passiva de ser entregue morte transformada

    numa dimenso ativa de amor: a morte torna-se o abandono de si ao Pai, pelos

    homens. Assim, o horizonte se estende, como se faz na Ressurreio, para bemalm do aspecto puramente humano e do ter sido pregado cruz e ter morrido.

    Este elemento adicional para o mero evento histrico o que a linguagem da f

    chama de mistrio e que condensou no termo Mistrio Pascal o ncleo mais

    profundo do evento redentor. Se podemos dizer, por isto, que o Mistrio Pascal

    constitui o ncleo da obra de Jesus, ento a conexo com a liturgia fica

    imediatamente clara: precisamente esta obra de Jesus que o contedo real daliturgia. Nela, atravs da f e da orao da Igreja, a obra de Jesus

    continuamente posta em contato com a histria, a fim de nela se inserir. Assim, na

    liturgia, o evento histrico meramente humano sempre mais transcendido, e

    torna-se parte da ao divina e humana da Redeno. Nela, Cristo o verdadeiro

    sujeito operante: a obra de Cristo; mas nela ele atrai a histria para si,

    precisamente nesta ao permanente onde tem lugar a nossa salvao.

    1. O Sacrifcio colocado em questo

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    Se voltarmos at o Vaticano II, encontramos a seguinte descrio desta relao: A

    Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifcio eucarstico, se opera a obra da

    nossa Redeno, contribui em sumo grau para que os fiis exprimam na vida e

    manifestem aos outros o mistrio de Cristo e a autntica natureza da verdadeira

    Igreja.

    Tudo isso tornou-se estranho ao pensamento moderno e, apenas passados 30 anos

    do Conclio, foi posto em questo mesmo entre liturgistas catlicos. Quem hoje

    em dia ainda fala do divino Sacrifcio Eucarstico? Discusses sobre a ideia desacrifcio tem se tornado novamente bem vivas, tanto no lado catlico como no

    protestante. Qualquer um percebe que uma ideia que sempre esteve presente, sob

    vrias formas, no s na histria da Igreja, mas na histria inteira da humanidade,

    deve ser expresso de algo que bem nos diz respeito. Mas, ao mesmo tempo, as

    posies do antigo Iluminismo ainda vivem por toda parte: acusaes de mgica e

    paganismo, contrastes entre o culto e o servio da Palavra, entre o rito e o ethos, aideia de um Cristianismo que se abstrai do culto e adentra o mundo profano,

    telogos catlicos que no tem o menor desejo de serem acusados de anti-

    modernismo. Mesmo se o povo quiser, de uma forma ou de outra, redescobrir o

    conceito de sacrifcio, embarao e crtica so o resultado final. Assim, Stefan Orth,

    no vasto panorama de uma bibliografia de obras recentes voltadas para a temtica

    do sacrifcio, acreditou que poderia fazer a seguinte afirmao como uma sntese

    de sua pesquisa: "De fato, vrios Catlicos hoje ratificam o veredito e as

    concluses de Martinho Lutero, que diz que falar de sacrifcio 'o maior e mais

    terrvel horror' e uma 'impiedade detestvel': eis por que queremos evitar tudo que

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    remete a sacrifcio, incluindo todo o Cnon, e manter somente o que puro e

    sagrado. Orth, ento, acrescenta: Esta mxima foi tambm seguida na Igreja

    Catlica depois do Vaticano II, pelo menos como tendncia, e levou o a se pensar

    no culto divino sobretudo a partir da Festa da Pscoa nos relatos da ltima Ceia.

    Recorrendo a uma obra sobre o sacrifcio, editada por dois liturgistas catlicos

    modernos, ele ento disse, em termos levemente mais moderados, que realmente

    pareceu que a noo de sacrifcio da Missa ainda mais que a de sacrifcio da

    Cruz foi, na melhor das opinies, uma ideia muito aberta a incompreenses.

    Certamente no preciso dizer que eu no sou um dos numerosos catlicos que

    consideram o maior e mais terrvel horror e uma impiedade detestvel o falar do

    sacrifcio da Missa. Isso sem falar que o escritor no mencionou meu livro sobre o

    esprito da liturgia, o qual analisa detalhadamente a ideia do sacrifcio. Seu

    diagnstico continua a ser apavorante. Ele verdico? Eu no conheo esses

    numerosos catlicos que consideram uma impiedade detestvel entender aEucaristia como um sacrifcio. O segundo diagnstico, mais discreto, que afirma

    que o sacrifcio da Missa est aberto a incompreenses, , por outro lado,

    facilmente verificvel. Mesmo se algum deixar de um lado a primeira afirmao

    como um exagero de retrica, permanece um problema preocupante, o qual

    deveramos enfrentar. Uma parte considervel de liturgistas catlicos parece ter

    praticamente chegado concluso de que Lutero, mais do que Trento, que estava

    substancialmente correto no debate do sc. XVI; muito se pode perceber a mesma

    posio nas discusses ps-conciliares sobre o Sacerdcio. O grande historiador

    do Conclio de Trento, Hubert Jedin, apontou para isto em 1975, no prefcio ao

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    interessantes, chega, entretanto, concluso de que a Igreja primitiva foi melhor

    compreendida por Lutero do que pelo Conclio de Trento.

    A natureza sria dessas teorias vm do fato de que frequentemente elas so

    imediatamente postas em prtica. A tese segundo a qual a prpria comunidade

    que o sujeito da liturgia, serve como uma autorizao para se manipular a liturgia

    de acordo com a compreenso de cada um. Novas descobertas, como chamam, e

    as formas que da seguem, so difundidas com uma rapidez assustadora e com

    uma tal obedincia s modas como h muito deixou de existir s normas daautoridade eclesistica. Teorias, na rea da liturgia, so transformadas em prtica

    muito rapidamente hoje, e a prtica, por sua vez, cria ou destri maneiras de se

    comportar e pensar.

    Entretanto o problema se agravou pelo fato de que o pensamento do recente

    movimento do Iluminismo vai muito alm de Lutero: onde Lutero literalmentelevou em conta as consideraes da Instituio e fez delas, como norma normans,

    a base de seus ensaios na Reforma, as hipteses do criticismo histrico h muito

    tentam causar uma vasta eroso nos textos. Os relatos da ltima Ceia aparecem

    como o produto da construo litrgica da comunidade; procura-se um Jesus

    histrico, entre os textos, que no poderia estar pensando no dom do seu Corpo e

    Sangue e que no compreendeu sua Cruz como um sacrifcio de expiao;

    deveramos, melhor, imaginar uma refeio de despedida que incluiu uma

    perspectiva escatolgica. No s a autoridade do magistrio eclesistico decaiu aos

    olhos de muitos, mas a da Escritura tambm; em seu lugar so postas hipteses

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    pseudo-histricas mutantes, que imediatamente so substitudas por qualquer ideia

    arbitrria e pem a liturgia merc da moda. Onde, na base de tais ideias, a

    liturgia sempre mais livremente manipulada, os fiis sentem que, na verdade,

    nada celebrado, e compreensvel que eles abandonem a liturgia e, com ela, a

    Igreja.

    2. Os princpios da pesquisa teolgica

    Voltemos para a questo fundamental: correto descrever a liturgia como umsacrifcio divino, ou isto se trata de uma impiedade detestvel? Nesta discusso,

    deve-se primeiramente estabelecer os pressupostos principais que, em todo caso,

    determinam a leitura da Escritura, e assim as concluses que se tiram dela. Para o

    cristo catlico, duas linhas de orientao hermenutica essenciais se afirmam

    aqui. A primeira: confiamos nas Escrituras e nela nos baseamos, no em

    reconstrues hipotticas que vo alm dela e, de acordo com o seu prprio gosto,

    refazem uma histria em que a ideia presunosa do nosso saber o que pode ou no

    ser atribudo a Jesus tem um papel fundamental; o qual, claro, significa atribuir a

    ele apenas o que algum acadmico moderno se contenta em atribuir a um homem

    pertencente a uma poca que o prprio acadmico reconstruiu.

    A segunda que lemos a Escritura na comunidade viva da Igreja e, portanto, na

    base de decises fundamentais que lanaram os alicerces da Igreja, graas s quais

    ela, a Escritura, tornou-se historicamente eficaz. No se deve separar o texto deste

    vivo contexto. Neste sentido, a Escritura e a Tradio formam um todo

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    inseparvel, e isto que Lutero, na aurora do despertar da conscincia histrica,

    no podia enxergar. Ele acreditou que um texto s poderia ter um significado, mas

    esta univocidade no existe, e a historiografia moderna h muito abandonou esta

    ideia. Que na Igreja nascente a Eucaristia tenha sido, desde o incio, entendida

    como um sacrifcio, at num texto como a Didaqu, que de certo modo difcil e

    marginal face grande Tradio, uma chave interpretativa de primeira

    importncia.

    Mas h outro aspecto hermenutico fundamental na leitura e na interpretao dotestemunho bblico. O fato de que eu posso, ou no, reconhecer um sacrifcio na

    Eucaristia tal qual o Senhor instituiu, depende mais essencialmente da questo de

    saber o que eu entendo por sacrifcio, consequentemente no que se chama de pr-

    compreenso. A pr-compreenso de Lutero, por exemplo, em particular sua

    concepo da relao entre o Antigo e o Novo Testamento, sua concepo do

    evento e da presena histrica da Igreja, era tal que a categoria de sacrifcio, comoele via, no poderia aparecer como outra coisa a no ser uma impiedade quando

    aplicada Eucaristia e Igreja. O debate a que Stefan Orth se refere mostra o quo

    confusa e atrapalhada a ideia de sacrifcio entre quase todos os autores, e mostra

    claramente quanto se precisa fazer aqui. Para o telogo crente, claro que a

    prpria Escritura que deve ensinar-lhe a definio essencial de sacrifcio, e isto

    resultar de uma leitura cannica da Bblia, em que a Escritura lida em sua

    unidade e em seu dinamismo. Os diferentes estgios dela recebem seu significado

    final de Cristo, a quem tudo isso conduz. Por esta mesma norma a hermenutica

    que aqui se pressupe uma hermenutica de f, encontrada na lgica interna da

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    f. No bvio? Sem a f, a prpria Escritura no Escritura, mas sim uma

    coletnea desorganizada de obras literrias que no pode pretender ter qualquer

    significado normativo atualmente.

    3. Sacrifcio e Pscoa

    A tarefa a que se alude aqui excede, obviamente, os limites de uma palestra;

    permitam-me, ento, fazer uma referncia ao meu livro sobre o Esprito daLiturgia no qual procurei dar as linhas principais desta questo. O que emerge

    disso que, no seu curso atravs da histria das religies e da histria bblica, a

    ideia de sacrifcio teve conotaes que vo muito alm da rea de discusso que

    costumeiramente associamos ideia de sacrifcio. De fato, abre-se um porto para

    uma compreenso global do culto e da liturgia: estas so as grandes perspectivas

    que eu gostaria de tentar apontar aqui. Necessariamente preciso omitir tambmquestes particulares de exegese, em particular o problema fundamental da

    importncia da Instituio, na temtica da qual tentei prover alguns pensamentos

    na minha contribuio em A Eucaristia e a Misso.

    H, contudo, uma observao que no posso deixar de fazer. Na reviso

    bibliogrfica mencionada, Stefan Orth diz que o fato de se ter evitado, aps o

    Vaticano II, a ideia de sacrifcio, levou o povo a pensar no culto divino a partir da

    Festa da Pscoa nos relatos da ltima Ceia. primeira vista, esta formulao

    parece ambgua: pensa-se no culto divino nos termos das narrativas da ltima

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    Ceia, ou nos termos da Pscoa, qual as narrativas se referem como contexto

    cronolgico, sem contudo a descreverem? Seria correto dizer que a Pscoa

    Judaica, a instituio relatada em x 12, adquire um novo significado no Novo

    Testamento. a que se manifesta um grande movimento histrico que, nas

    origens, remonta ltima Ceia, Cruz e Ressurreio de Jesus. Mas o que

    mais espantoso na exposio de Orth a oposio posta entre a ideia de sacrifcio

    e a Pscoa. O Antigo Testamento Judeu priva a tese de Orth de significado, pois

    da lei do Deuteronmio em diante, a imolao de cordeiros est associada ao

    templo; e mesmo no perodo mais antigo, quando a Pscoa ainda era uma festafamiliar, a imolao dos cordeiros j tinha um carter sacrifical. Assim,

    precisamente pela tradio da Pscoa, a ideia de sacrifcio levada s palavras e

    gestos da ltima Ceia, onde est presente tambm na base de um segunda

    passagem do Antigo Testamento, xodo 24, que relata a concluso da Aliana no

    Sinai. A relatado que o povo era aspergido com o sangue das vtimas trazidas

    previamente, e que Moiss disse, nesta ocasio: Este o sangue da Aliana queJav faz convosco, de acordo com todas estas disposies (x 24,8). Assim, a

    nova Pscoa Crist expressamente interpretada nas narrativas da ltima Ceia. A

    Igreja nascente sabia que a Cruz era um sacrifcio, porque a ltima Ceia seria um

    gesto vazio sem a realidade da Cruz e da Ressurreio que nela antecipada e

    tornada acessvel por todo o tempo em seu contedo interior.

    Eu menciono esta estranha oposio entre a Pscoa e o sacrifcio, porque

    representa o princpio arquitetnico de um livro recm publicado pela Fraternidade

    So Pio X, afirmando que h uma ruptura dogmtica entre a nova liturgia de Paulo

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    VI e a precedente tradio litrgica catlica. Essa ruptura vista precisamente no

    fato de tudo ser interpretado, de agora em diante, luz do mistrio pascal, e no

    do sacrifcio expiatrio e redentor de Cristo; a categoria de mistrio pascal tida

    como o corao da reforma litrgica, e precisamente isto que parece ser a prova

    de ruptura com a doutrina clssica da Igreja. claro que h autores que so

    abertos a tal equvoco; mas que isso seja um equvoco completamente evidente

    para os que olham mais de perto. Na realidade, o termo mistrio pascal

    claramente se refere s realidade que tomaram lugar da Quinta-feira Santa at a

    manh do Domingo de Pscoa: a ltima Ceia como antecipao da Cruz, o dramado Glgota e a Ressurreio do Senhor. Na expresso mistrio pascal estes

    acontecimentos so vistos de modo sinttico, como um s evento, como a obra de

    Cristo, como ouvimos o Conclio dizer no incio, que teve lugar historicamente e

    ao mesmo tempo transcende este ponto especfico no tempo. Como este evento ,

    interiormente, um ato de culto prestado a Deus, poderia tornar-se culto divino, e

    dessa forma estar presente para todas as pocas. A teologia pascal do NovoTestamento, sobre a qual lanamos um rpido olhar, d-nos a entender

    precisamente isto: o aparente episdio profano da Crucificao de Cristo um

    sacrifcio de expiao, um ato salvador do amor reconciliador de Deus feito

    homem. A teologia da Pscoa a teologia da redeno, uma liturgia de um

    sacrifcio expiatrio. O Pastor tornou-se Cordeiro. A viso do cordeiro, que

    aparece na histria de Isaac, o cordeiro que fica preso nos arbustos e resgata o

    filho, tornou-se uma realidade; o Senhor tornou-se um Cordeiro; ele se permite ser

    preso e sacrificado, para nos libertar.

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    Tudo isto se tornou muito estranho ao pensamento contemporneo. Reparao

    (expiao) pode significar talvez algo dentro dos limites dos conflitos humanos

    e o pagamento da culpa que domina entre os seres humanos, mas sua transposio

    para o relacionamento entre Deus e o homem no pode acontecer. Isto, com

    certeza, o grande resultado do fato de que nossa imagem de Deus tem se

    obscurecido, tem se aproximado do desmo. No se pode mais imaginar que as

    ofensas humanas possam ferir a Deus, e menos ainda que elas precisem de uma

    expiao tal a que constitui a Cruz de Cristo. O mesmo se aplica substituio

    vicria: ns dificilmente podemos ainda imaginar algo deste tipo nossa imagemdo homem tornou-se por demais individualista para isso. Assim, a crise da liturgia

    teve suas bases em ideias centrais acerca do homem. No intuito de superar a crise,

    banalizar a liturgia e transform-la numa simples reunio e uma refeio fraterna

    no a soluo. Mas como podemos escapar de tais desorientaes? Como

    podemos recuperar o significado desta coisa imensa que est no corao da

    mensagem da Cruz e da Ressurreio? Numa ltima anlise, no atravs de teoriase reflexes acadmicas, mas somente atravs da converso, por uma mudana

    radical de vida. , contudo, possvel destacar algumas coisas que abrem o caminho

    para esta mudana de corao, e eu gostaria de apresentar algumas sugestes neste

    sentido, em trs etapas.

    ***

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    4. Amor, o corao do sacrifcio

    A primeira etapa dever ser uma questo preliminar sobre o significado essencial

    da palavra sacrifcio. As pessoas comumente consideram sacrifcio como a

    destruio de algo precioso aos olhos do homem; destruindo isto o homem deseja

    consagrar esta realidade a Deus, para reconhecer sua soberania. Na verdade,

    porm, uma destruio no honra a Deus. A imolao de animais ou do que querque seja no pode honrar a Deus. Se tivesse fome, no precisava dizer-te, porque

    minha a terra e tudo o que ela contm. Porventura preciso comer carne de touros,

    ou beber sangue de cabrito?... Oferece, antes, a Deus um sacrifcio de louvor e

    cumpre teus votos para com o Altssimo, diz Deus a Israel no Salmo 50(49),12-

    14. Em que, ento, consiste o sacrifcio? No na destruio, nem nisso ou naquilo,

    mas na transformao do homem, no fato de ele se conformar a Deus. Ele se tornaconforme a Deus quando ele se torna amor. Eis a razo por que o verdadeiro

    sacrifcio toda obra que permite unirmo-nos a Deus numa santa amizade, como

    afirmou Agostinho.

    Com esta chave do Novo Testamento, Agostinho interpreta os sacrifcios do

    Antigo Testamento como smbolos indicando este sacrifcio propriamente dito, e

    isto porque, diz ele, o culto tinha que ser transformado, o smbolo tinha que

    desaparecer em favor da realidade. Todas as prescries divinas das Escrituras

    que dizem respeito aos sacrifcios do tabernculo ou do templo, so figuras que se

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    verdadeiro ser. Na f crist, que completa a f de Abrao, a unio vista de uma

    forma completamente diferente: a unio de amor, na qual as diferenas no so

    destrudas, mas transformadas numa mais elevada unio dos que se amam, tal

    como se encontra, como prottipo, na unio trinitria de Deus. Considerando que,

    em Plotino por exemplo, a finitude um afastamento da unidade e, por assim

    dizer, o cerne do pecado e, portanto, o cerne de todo mal, a f crist no v a

    finitude como uma negao, mas como uma criao, o fruto da vontade divina que

    cria um parceiro livre, uma criatura que no tem de ser destruda, mas deve ser

    completada, deve inserir-se no ato livre de amor. A diferena no abolida, mastorna-se o meio para uma unidade mais elevada. Esta filosofia de liberdade, que

    est na base da f crist e a diferencia das religies asiticas, inclui a possibilidade

    da negao. O mal no um mero afastamento do ser, mas a consequncia de uma

    liberdade mal utilizada. A via da unidade, a via do amor, , pois, a via da

    converso, a via da purificao: toma a forma da cruz, passa pelo Mistrio Pascal,

    pela morte e ressurreio. Ela precisa do Mediador que, em sua morte eRessurreio, faz-se caminho, atrai-nos para si e nos completa (Jo 12,32).

    Lancemos um olhar sobre aquilo que temos dito. Em sua definio: sacrifcio

    igual a amor, Agostinho justamente enfatiza o dizer, presente em diferentes

    variaes no Antigo e no Novo Testamento, que ele toma de Osias: eu quero

    amor e no sacrifcio (6,6; Santo Agostinho, Cidade de Deus X, 5). Mas este

    dizer no coloca meramente uma oposio entre o ethos e o culto assim o

    Cristianismo seria reduzido a um moralismo. Ele se refere a um processo que

    mais que uma filosofia moral, refere-se a um processo em que Deus toma a

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    iniciativa. S ele pode despertar o homem para ir em direo ao amor. Este o

    amor com que Deus ama, o qual, somente, faz crescer nosso amor por ele. Este

    fato de ser amado um processo de purificao e transformao, no qual no

    estamos apenas abertos a Deus, mas unidos aos outros. A iniciativa de Deus tem

    um nome: Jesus Cristo, o prprio Deus que se tornou homem e que se d a ns.

    Eis porque Agostinho poderia sintetizar tudo dizendo: Tal o sacrifcio dos

    cristos: a multido um mesmo corpo em Cristo. A Igreja celebra este mistrio

    pelo sacrifcio do Altar, bem conhecido aos crentes, porque nele se mostra que,

    naquilo que ela oferece, ela mesma que oferecida (Ibid. X, 6). Qualquer umque tenha entendido isto, no mais ser da opinio de que falar do sacrifcio da

    Missa seja ao menos muito ambguo ou mesmo um terrvel horror. Pelo contrrio:

    se no nos lembramos disto, ns perdemos de vista a grandeza daquilo que Deus

    nos d na Eucaristia.

    5. O novo templo

    Agora eu gostaria de mencionar, novamente de modo bem breve, duas outras

    abordagens. Uma importante indicao dada, na minha opinio, na cena da

    purificao do templo, particularmente na forma deixada por Joo. Joo, de fato,

    relata uma frase de Jesus que no aparece nos Sinticos, exceto no julgamento de

    Jesus, na boca de falsas testemunhas, e de um jeito distorcido. A reao de Jesus

    aos mercadores e aos cambistas no templo foi praticamente um ataque imolao

    de animais, que l eram oferecidos e, portanto, um ataque forma existente de

    culto e forma existente de sacrifcio em geral. Eis porque as autoridades judaicas

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    competentes perguntaram-lhe, com boa razo, por qual sinal ele justificava uma

    atitude que s poderia ser tomada como um ataque lei de Moiss e s prescries

    sagradas da Aliana. Ento Jesus responde: Destru (dissolvei) este santurio e

    em trs dias eu o reconstruirei (Jo 2,19). Esta sbita frmula evoca uma viso que

    o prprio Joo diz que os discpulos no entenderam at a Ressurreio,

    recordando o que aconteceu, e que os levou a acreditar na Escritura e na palavra

    de Jesus (Jo 2, 22). Por isso eles agora entendem que o templo foi abolido no

    momento da crucificao de Jesus: Jesus, de acordo com Joo, foi crucificado

    exatamente no momento em que os cordeiros pascais eram imolados no santurio.No momento em que o Filho faz de si mesmo cordeiro, isto , d-se livremente ao

    Pai e, assim, a ns, um fim dado s antigas prescries de um culto que s

    poderia ser um sinal das verdadeiras realidades. O templo destrudo.

    Doravante, seu corpo ressuscitado ele mesmo torna-se o templo da

    humanidade, no qual toma lugar a adorao em esprito e verdade (Jo 4, 23). Mas

    esprito e verdade no so conceitos filosficos abstratos ele mesmo a verdadee o esprito o Esprito Santo que dele procede. Aqui tambm, torna-se, assim

    claro, que o culto no substitudo por uma filosofia moral, mas que o culto

    antigo chega a um fim, com suas substituies e com seus frequentes trgicos

    equvocos, porque a realidade mesma se manifesta, o novo templo: o Cristo

    ressuscitado que nos atrai, que nos transforma e que nos une a ele. Mais uma vez

    torna-se claro que a Eucaristia da Igreja para usar a terminologia de Agostinho

    o sacramentum do verdadeiro sacrificium o sinal sagrado pelo qual aquilo que

    significado produzido, realizado.

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    6. O sacrifcio espiritual

    Finalmente, gostaria de apontar muito brevemente um terceiro caminho no qual a passagem do culto de substituio, aquele da imolao de animais, para overdadeiro sacrifcio, a comunho com a oferta de Cristo, torna-se

    progressivamente mais clara. Entre os profetas antes do exlio, houve uma crticaextraordinariamente severa ao culto do templo, que Estvo, para o horror dosdoutores e sacerdotes do templo, resume em seu grande discurso, com algumascitaes, notadamente este versculo de Ams: Porventura, casa de Israel, vs meoferecestes vtimas e sacrifcios por quarenta anos no deserto? Aceitastes a tendade Moloc e a estrela do vosso deus Renfo, figuras que vs fizestes para ador-las! (Am 5,25ss, At 7,42). Esta crtica que os profetas fizeram forneceu o

    fundamento espiritual que permitiu a Israel percorrer o difcil momento que seseguiu destruio do Templo, quando no houve culto. Israel foi obrigado aconceber, e de modo mais profundo e novo, o que constitui a essncia do culto, daexpiao, do sacrifcio. No tempo da ditadura helenstica, quando Israel ficounovamente sem templo e sem sacrifcio, o livro de Daniel d-nos esta orao:Senhor, fomos reduzidos a nada diante das naes, fomos humilhados diante detoda a terra: tudo, devido a nossos pecados! Hoje, j no h prncipe, nem profeta,nem chefe, nem holocausto, nem sacrifcio, nem oblao, nem incenso, nemmesmo um lugar para vos oferecer nossas primcias e encontrar misericrdia.Entretanto, que a contrio de nosso corao e a humilhao de nosso esprito nos

    permita achar bom acolhimento junto a vs, Senhor, como (se ns nosapresentssemos) com um holocausto de carneiros, de touros e milhares de gordoscordeiros! Que assim possa ser hoje o nosso sacrifcio em vossa presena! Que

    possa (reconciliar-nos) convosco, porque nenhuma confuso existe para aquelesque pem em vs sua confiana. de todo nosso corao que ns vos seguimosagora, que ns vos reverenciamos, que buscamos vossa face (Dn 3,37-41).

    Assim, gradualmente amadureceu a percepo de que a orao, a palavra, ohomem em orao e ele mesmo tornando-se orao so o verdadeiro sacrifcio. Aluta de Israel poderia entrar aqui num contato frutuoso com a busca do mundohelenstico, que procurava uma maneira de deixar o culto de substituio, o daimolao de animais, no intuito de chegar ao culto propriamente dito, verdadeiraadorao, ao verdadeiro sacrifcio. Este caminho leva ideia da logike tysia dosacrifcio [consistindo] na palavra que encontramos no Novo Testamento em Rm12, 1, onde o Apstolo exorta os crentes a oferecerem-se a si mesmos como umsacrifcio vivo, santo e agradvel a Deus. isso que descrito como logikelatreia, como um servio divino de acordo com a palavra, envolvendo a razo.Encontramos a mesma coisa, em outra forma, em Hb 13,15: Por ele ofereamos a

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    Deus sem cessar sacrifcios de louvor, isto , o fruto dos lbios que celebram o seunome. Numerosos exemplos dos Padres da Igreja mostram como estas ideiasforam estendidas e se tornaram o ponto de juno entre cristologia, f eucarstica eo mistrio pascal posto em prtica existencial. Gostaria de citar, como exemplo,apenas algumas linhas de Pedro Crislogo; na verdade, ler-se-ia todo o sermo em

    sua integridade a fim de se poder seguir esta sntese de uma ponta a outra: umestranho sacrifcio, onde o corpo se oferece sem o corpo, o sangue sem o sangue!Peo-vos - diz o Apstolo - pela misericrdia de Deus, que vos ofereais comovtima viva. Irmos, este sacrifcio inspirado no exemplo de Cristo, que imolou oseu Corpo, para que os homens possam viver... Torna-te, homem, torna-te osacrifcio de Deus e de seu sacerdote... Deus procura f, no morte. Ele tem sededa tua promessa, no do teu sangue. o fervor que o apazigua, no o assassinato.

    Tambm aqui, trata-se de uma questo de algo totalmente diferente de um meromoralismo, porque o homem alcanado em todo o seu ser: o sacrifcio

    [consistindo] em palavras isto, os pensadores gregos j tinham posto em relaoao logos, prpria palavra, indicando que o sacrifcio da orao no deveria serum mero discurso, mas a transmutao do nosso ser no Logos, a nossa unio comele. O culto divino implica que ns mesmos nos tornamos seres da palavra, quenos conformamos ao Intelecto criador. Contudo, uma vez mais, claro que no

    podemos fazer isso por ns mesmos e, assim, tudo parece cair novamente nafutilidade at o dia em que a Palavra vem, o verdadeiro, o Filho, quando ele setorna carne e nos atrai para si no xodo da Cruz. Este verdadeiro sacrifcio, quenos transforma a todos em sacrifcio, ou seja, que nos une a Deus, que faz com quesejamos conformados a Deus, est, de fato, fixado e achado num evento histrico,

    mas no est situado como algo no passado atrs de ns. Pelo contrrio, torna-secontemporneo e acessvel a ns na comunidade dos crentes e na Igreja orante, noseu sacramento: isto o que significado pelo sacrifcio da Missa.

    Estou convencido de que o erro de Lutero estava fundado numa falsa ideia dehistoricidade, numa pobre compreenso de unicidade. O sacrifcio de Cristo noest situado atrs de ns como algo passado. Ele toca todos os tempos e nos

    presente. A Eucaristia no meramente a distribuio de algo que vem dopassado, mas a presena do Mistrio Pascal de Cristo, que transcende e une todosos tempos. Se o Cnon Romano cita Abel, Abrao, Melquisedec, incluindo-os

    entre os que celebram a Eucaristia, na convico de que neles tambm, osgrandes ofertantes, Cristo estava atravessando o tempo, ou talvez melhor, em suabusca avanavam eles rumo a um encontro com Cristo. A teologia dos Padres, talcomo a encontramos no Cnon, no negou a futilidade e a insuficincia dossacrifcios pr-cristos; o Cnon inclui, todavia, junto das figuras de Abel eMelquisedec, os prprios santos pagos no mistrio de Cristo. O que estacontecendo que tudo que ocorreu antes visto em sua insuficincia como umasombra, mas tambm que Cristo est atraindo tudo para si; que h, mesmo no

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    mundo pago, uma preparao para o Evangelho; que at elementos imperfeitospodem levar a Cristo, embora eles possam ainda estar necessitando de purificao.

    7. Cristo, o sujeito da liturgia

    o que me traz concluso. A Teologia da liturgia significa que Deus age atravsde Cristo na liturgia e que no podemos agir a no ser por ele e com ele. Por nsmesmos no podemos construir o caminho para Deus. Este caminho no se abreat que Deus mesmo se torne o caminho. E novamente, os caminhos humanos queno levam para Deus so descaminhos. Teologia da liturgia significa, ademais,que, na liturgia, o prprio Logos nos fala; e no fala apenas, mas vem com seucorpo e sua alma, sua carne e seu sangue, sua divindade e sua humanidade, a fimde unir-nos a ele, de fazer-nos um s corpo. Na liturgia crist, toda a histria dasalvao, mais ainda, a histria inteira da busca humana por Deus est presente,assumida e trazida sua meta. A liturgia crist uma liturgia csmica abraa

    toda a criao, que aguarda ansiosamente a manifestao dos filhos de Deus(Rm 8,19).

    Trento no errou, ele se apoiou na slida fundao da Tradio da Igreja. Continuaa ser um modelo confivel. Mas ns podemos e devemos compreend-lo num jeitomais profundo de extrair das riquezas do testemunho bblico e da f da Igreja detodos os tempos. H verdadeiros sinais de esperana de que esta compreensoaprofundada e renovada de Trento possa, particularmente por meio das IgrejasOrientais, ser mais acessvel aos cristos protestantes.

    Uma coisa fique bem clara: a liturgia no deve ser um terreno para experimentosde hipteses teolgicas. Muito rapidamente, nessas ltimas dcadas, as ideias dosexperts entraram na prtica litrgica, frequentemente ignorando a autoridadeeclesistica, atravs de comisses que tm sido capazes de disseminar, em nvelinternacional, o seu consenso momentneo, e praticamente transformaram-nasem leis para a ao litrgica. A liturgia deriva sua grandeza do que ela , no doque fazemos dela. Nossa participao , obviamente, necessria, mas como meiode nos inserirmos humildemente no esprito da liturgia e de servirmos quele que o verdadeiro sujeito da liturgia: Jesus Cristo. A liturgia no uma expresso daconscincia de uma comunidade que, em todo caso, dispersa e mutante. Ela

    revelao recebida na f e na orao, e sua medida consequentemente a f daIgreja, na qual se acolhe a revelao. As formas que so dadas para a liturgiapodem variar de acordo com o tempo e o lugar, como os ritos que so diversos.Essencial o elo com a Igreja que, de sua parte, est unida pela f no Senhor. Aobedincia da f garante a unidade da liturgia, alm das fronteiras de tempo elugar, e nos leva a experimentar a unidade da Igreja, da Igreja como ptria docorao.

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    A essncia da liturgia, por fim, est sumarizada na orao que So Paulo (1Cor16,22) e a Didaqu (10,6) nos deixaram: Maran atha eis o Senhor Vinde,Senhor! Doravante, a Parusia se cumpre na Liturgia, mas precisamente porqueela nos ensina a clamar: Vinde, Senhor Jesus, enquanto se vai ao encontro doSenhor que est vindo. Ela sempre nos leva a ouvir novamente sua resposta e a

    experimentar sua veracidade: Sim, eu venho depressa (Ap 22,17-20).

    ***Por Lus Augusto - membro da ARS