04 Manual de Psiquiatria (234-285)

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    Aps a crise aguda que o psicoterapeuta poder empregar sua tcnica.Devemos considerar essas crises de angstia como episdios "reacionais" isola-dos e sem conseqncia? Excetuando-se a angstia aguda do tipo "neurose decombate", devemos admitir que a crise aguda de angstia apenas a amplifi-cao dramtica de uma situao conflitiva anterior. Porm, o significado e onlcnncc desta situao so infinitamente variveis: trata-se, s vezes, de umestado pr-psictico cuja crise de angstia inicia a descornpensao. Mais:omumente trata-se de uma neurose mais ou menos latente. Cabe ao psicotera-peuta determinar em todos os casos a estratgia conveniente para que a crise deingstia aguda no preludie um agravamento dos distrbios da personalidade.

    BIBLIOGRAFIA

    I. EMOCOES PATOG~NICAS, ESTADOS ANSIOSOS PAROxlsTICOS

    ARTIIUS. - Les peurs pathologiques. Baillre, Paris, 1935.('IIAPMAN (A.). - Menagement of emotional Disorders. Ed. Lippincott Comp., Phi-

    ladelphie, 1962.Duvxux et LOGRB. - Les anxieux, 1917.Discussion Ia Socit de Neurologie (1909) sur le rle des mot ions.DUMAS (G.). Nouueau trait de psychologie. Alcan, Paris, 1935.J)UPR. La pathologie de t'tmagination e/ de l'motioit, Ed. Payot, 1926.Ev (Jlcnri). L'anxit morbide. tude n" 15 (tome lI, 1950). tudes psychiatriques.

    Ed. Dcscle de Brouwer, Paris, 1950. - La notion de raction, Confront. Psychiat,( 1973).

    I.AIlIIARDT (J. C.). Die schizophrenischhnlichen Emot ions psychosen. Ed. Springcr,Ilorlin, 1963.

    S,RM(IRCN (E.). In Psychiatrie der Gegenwart , 2' d. 11/1,1972, p. 141-152.

    11. AS CRISES DE PNICODURANTE ACONTECIMENTOS DE GUERRA

    vnernents sociaux et psychiatrie. Encycl. md-chir., 1955, 37720.In Trai/ de Bumke, 1930 (en allemand).

    Rupport li 111 Soe// de Mdectne Mcntate, 1917.

    Neuroses. Ed. l locber, Ncw York, 1941.ACUIC Neurouc Reuction 111 lrynumlr /',1)11'11/(1(/'1'

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    AS CRISES MANIACAS

    Chamamos de mania um estado de superexcitao das funes pslquicascaracterizado pela exaltao do humor e pelo desencadeamento das pulsesinstintivc-afetivas . A liberao excessiva e desordenada da energia manifesta-se,tambm, no terreno psquico, psicomotor e neurovegetativo.

    HISTORICO

    O termo mania nem sempre designou a sndrorne que acabamos de definir.At o sculo XIX foi empregado em um sentido muito mais amplo, abrangendo,conforme as pocas, um setor nosogrfico mais ou menos vasto, a ponto de tersido usado como sinnimo de "loucura". Entretanto, tem designado, h algumtempo, um "distrbio geral" das faculdades psquicas, com uma agitao maisou menos acentuada.

    1:. a partir dos primeiros trabalhos de classificao de Pinel (1802), deEsquirol (1816) e, principalmente, aps 1850, que a noo de mania foicompreendida como uma crise cuja forma "franca e aguda" foi integrada psicose peridica ou maniaco-depressiva pelos trabalhos sucessivos de J.-P.Fulret, Baillarger (1854), Magnan (1890) e Kraepelin (1899). Desde Kraepelin,os estudos psicanalticos de K. Abraham (1911), de Freud (1915) e depois asanlises estruturais de Binswanger (1932) e algumas hipteses fisiopatognicas(Bard, Rioch', Weathley, Hess, Foerster, Delay, David, Hcaen e Talairach,uiraud etc.) vieram se incorporar aos nossos conhecimentos da crise manaca,

    deixando subsistir ainda muitas questes sem resposta, como veremos ncapitulo que dedicaremos mais adiante psicose maniaco-depressiva.

    I. O A SSO MANIACO

    l'ollllln'nHl~ l'lIl1H1llIuch.11) dI' cll'Nl','I",II0I) rlC"',V,VII d" muniu franca 1111/11111 quC'IIl'II11t,'IIIl1I1~110 l'l,rNII dI' 1111111l'volll~'''O pllrlll'IIII1I'IllClltc tlpkll dll PHk'oIH',I('clll'lI 11111111111'1'clc'llrn.~lvll

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    A. CIHCUNSTANCIAS DE APARECIMENTO

    o acesso aparece em geral entre os 20 e 50 anos em um indivduo quetvuhn rcqcntcrncntc antecedentes similares em sua famlia e possua bitipoplculco (Kretschmcr). Em geral, j existem, tambm, informaes quanto a umHl'e~SOanterior. Enfim, uma causa desencadeante, uma emoo, por exemplo,pode ser encontrada nos dias precedentes ao aparecimento.

    B. FORMAS DE COMEO

    O incio pode ser caracterizado por uma fase depressiva (astenia, fatigabili-dadc, tristeza, falta de gosto pelo trabalho, cefalias e, principalmente, ins-nias) ou por um estado premonitrio de exaltao emocional de algumas horasou dias.

    s vezes acontece que o doente que j tenha tido diversos acessos alerte suafamlia quanto a uma prxima recada atravs de um sinal-sintoma, comporta-mento ou idias inslitas que comeam a cada nova crise: o mdico pode, porexemplo, ser advertido por uma carta, um telefonema ou uma visita pela qual odoente exprime intempestivamente seu reconhecimento, ou ento a escolha deroupas ou atitudes irrefletidas podem se constituir em sinais precursores.

    utras vezes, enfim, o incio brutal e sem prdromos: a crise irrompe demodo sbito. O doente se sente invadido por um sentimento eufrico debem-estar e de facilidade, uma necessidade irresistivel de atividade e demovimento. A insnia total. A conversao cada vez mais abundante erpida. O doente faz projetos com consideraes exageradas. Irrita-se facil-mente, emprega freqentemente palavras grosseiras, as quais no tinha ohbito de proferir e que chocam os que o rodeiam. Fuma e bebe mais do que os~\:ushbitos normais ou manifesta uma excitao sexual excessiva.

    c. O PERODO DE ESTADO

    1. A apresentao. caracterstica. O porte do doente desalinhado eextruvngnntc, chegando s vezes a se desnudar. Seu rosto animado, alegre ouIu rloso, os olhos so brilhantes, lanando olhares provocadores ou entendidos.Fuln sem cessar. No mximo de sua agitao ele declama, canta, grita, vocifera(' MIIIvoz se enrouquece. O contato com o doente , entretanto, bastante fcil,1ft que em geral est agitado mas jovial, familiar e s vezes gozador. Movimen-111\1' sem parar: a agitao pode atingir uma intensidade extrema, chegando ao('\llIdo de "furor manaco", durante o qual o doente desarruma seu quarto,11'lItllquvhrur objetos, torna-se grosseiro e sujo. Observamos que esta "apresen-11I\'no" do 11111111111'0que cru objeto, untignmente, de pitorescas descries e1('IIIlIl)ll'llfill\, 11'1/(1(,11Sl'l' 11I('110\espetnculur e IIIlIls rnru desde que se utilizum os11'1I11I1IH'lIlo~1III'IlIIU'II1t'IIIIl'ONqUI' 1I11)(lIfll-lIlII1'lIpldllllll'lIh' 11evnluu,

    2.0 Excitao psiquica e fuga de idias, O manaco d a impresso deuma acelerao de todos os processos psquicos (associao de idias, sucessodas representaes, memria etc.). Esta acelerao do ritmo do pensamento outaquipsiquismo manifesta-se por alguns distrbios caractersticos.

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    a) A acelerao das representaes mentais. Uma representao, umapalavra, uma imagem, uma idia, uma recordao, to logo so evocadas,desaparecem do campo da conscincia para serem substitudas por outras(caleidoscpio dos contedos da conscincia).

    . b) A associao de idias superficial e rpida. Ela se estabelece porligaes verbais frgeis e automticas, de uma forma bastante elementar,anloga observada no indivduo normal na fadiga e no esgotamento (assonn-cia, rimas, slogans, jogos de palavras etc.).

    c) A impotncia da ateno se traduz por uma distrao permanentedevida disperso da ateno espontnea, que incapaz de fazer uma escolha eque reage a todas as solicitaes exteriores. A ateno voluntria quaseimpossvel, no podendo o manaco nem refletir nem deter-se.

    d) As percepes no esto fundamentalmente alteradas e no conjunto omanaco percebe normalmente o mundo exterior. Entretanto, nas formas que seacompanham de uma desestruturao da conscincia mais profunda, podemosobservar a desintegrao do ato perceptivo desde a percepo prematura cdeformada (iluses), passando pelo falso reconhecimento, at a atividade aluci-natria (vozes, transmisso do pensamento, vises etc.), principalmente do tipodas pseudo-alucinaes.

    e) A orientao, habitualmente, permanece correta, porm sem impor-tncia para o indivduo que pouco se preocupa com as coordenadas trnporo-espaciais ou as integra em sua fantasia.

    j) A memria participa da excitao psquica geral, sobretudo em suasformas de evocao e de reproduo automtica. As lembranas so evoca daslurante a crise com uma grande riqueza de detalhes: os textos decorados, porexemplo, so recitados abundantemente (hipermnsia). A fixao dos aconteci-mentos durante a crise bastante deficitria.

    ' A imaginao tambm est exaltada, podendo por isto originur produ~'t)Cs imuginativas pseudodclirantcs: idias de inveno ou de I!rtllldezu, IIUSqUllb o doente nllo acreditn seriamente. Ernborn IIU Iormu que descrevemos 11/10('xl'lll dcill'lo proprlnmentc dito, podemos nhservur III1SCOrll1l1Sl'OI11dlssllhl\'no111111'prorlllldll prtldu\'t'(, slIbdt'lIrllllles, fllblllll~'flcs (' mesmo Id~llI' d('1Irll111vl'rdlldl'il'lls, ('011Il'Olllcllllo dI' IIf'IIllIlc/.II, rtj\dndll'II\,nO, pt'ru'III1I\'l\o, l'h'lIl1C~rh~

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    Irmrlltll rxplln~lv(1, r UIlIII munumnnlu trlNtr ou lipemuniu . Porm, eNtllIIPI'IlIIIIIIII representava ulndu UIlI KrullU muito heterogneo, j que Iorum('xtl'III(los dele, sun'ssivIIllIente, o estupor e 11contuso mental (Delusnuve), IIS1lIIIIIIr~stll~'l'Iesque posteriormente constltulram a psiconeurose obsessiva (Mo-1'1'1),o cstupllr cututnlco (Kahlbaum) e os dellrios crnicos de perseguio(J ,11. Fulret, LlIscKue).

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    AnllllNem\ls este sofrinwnto moral que n\l~ Jlermltlr, penetrando na COIIS-('I~ndll Infeliz do melunclco, compreend-to c lnterrog-lo melhor. O fundol~t(, constttuldc por sentimentos vitais (tambm chamados de "holotmicos" ouuindu de "endgcnos") depressivos. A qualidade da depresso do humorconstitui pura muitos autores uma particularidade sintomtica importante. Atristeza vital, montona, profunda, resistente s solicitaes exteriores, o qued 1\ relao com o melanclico endgeno um tom bastante diferente daqueleque podemos estabelecer com o deprimido neurtico, cuja dor parece menos"autntica", mais pattica, mais necessitada de conforto ou simplesmente decompaixo. A "cinestesia" penosa, o conjunto das sensaes internas que so ofundamento da experincia sensvel, est perturbada e o doente sente ummal-estar vago, difuso, um sentimento de insegurana. Tem uma impressobastante penosa de autodepreciao, de impotncia, de incapacidade, de impro-dutividadc, no apenas no campo da ao, devido inibio psquica e motora,mas tambm no terreno moral. Sente uma impresso desesperadora de anes-tesia afetiva; recrimina-se por no poder amar. como antes, por estar como que"embotado" em seus sentimentos. O pessimismo no se exprime sempre poruma idia ou um sentimento preciso, mas constitui uma orientao geral daconscincia para a infelicidade e a culpa: o futuro est bloqueado, o indivduono obter nada, seja l o que for que faa, no ser nunca perdoado, nada debom lhe acontecer. Este sentimento de depreciao bsica, que visa sobretudo110 prprio indivduo, a auto-acusao. Ele se acusa de faltas das quais a maio-riu insignificante (indelicadezas mnimas, declaraes fiscais insuficientes, fal-tus sexuais etc ..); declara ter sido sempre um homem desonesto, ter ofendido aDeus. Tem idias de indignidade: sente-se indigno de qualquer estima, deson-rudo, condenado (veremos, a propsito das idias delirantes melanclicas, osprincipais temas de auto-acusao e de autodepreciao que emergem dosentimento vital de culpa e de vergonha). A hipocondria, isto , sentir aomesmo tempo o temor e o desejo da doena, se integra de modo bastantenutural conscincia melanclica, salvo, entretanto, quanto a um ponto: naverdade ele se sente putrefato, contagioso, pestilento, no parando de afirmarque no 6 doente, mas culpado.

    4.1J O desejo e a busca da morte . So constantes na conscincia melan-clicu, A rejeio do alimento, desde a simples falta de apetite at resis'tnciamnls desesperada a qualquer alimentao, a expresso lancinante e obstinada.Porm, constantemente o melanclico procura no apenas se' abandonar morte mns tambm a procura: o suicldio obsessivo, imaginado sem cessar,(k~l'illdtl sem cessar, buscado sem cessar. Ele ao mesmo tempo consideradol'OIl)O uma obrigao, um castigo necessrio e uma soluo que podemoscompurur em geral "politica de Gribouille". A possibilidade do suicldiocoltwa qualquer nu'I(Jtlc6Uw em perigo de morte. Devemos lembrar bem estel'UIll'clto pura a preveno do suicdio atravs de uma observao constante doc\C1l'ntl',durnnte todu sun crlse e tambm durante sua convalescena. De fato, Mnem todCls os mcluncblil'os tentam sulcldar-ae, quase tlldoR pensum upen.,. 1111morte, A tenuulvn de Null'ldlo pude ocorrer .". uwlluul'r moment dA cri

    l'unw ul'uhunws de dizer, mesmo durante u cunvalescenu: 1)01' vezes elahubllmcnte preparnda c cuidadosamente dissimulada. As primeiras horas damanh silo certamente os momentos mais temveis. O raptus suicida umimpulso brutal c sbito que precipita o melanclico, pela janela ou dentro dagua, f-Io apoderar-se bruscamente de uma tesoura etc., nos momentos maisinesperados e quando parece que ele est mais calmo. O suicdio coletivo observado principalmente na mulher que mata seus filhos para lev-Ios com elana morte.

    5. Exame fisico. Os distrbios digestivos so constantes. Observamosanorexia, nuseas, estado saburroso das vias digestivas, constipao ou -epi-sdios de diarria. Os distrbios hepatobiliares , que inspiraram historicamentea etirnologia da afeco (biles negra), no tm habitualmente uma expressoclnica evidente, mas devem ser cuidadosamente pesquisados (Baruk). O examecardiovascular mostra perturbaes do pulso e da presso arterial. Segundo otipo de melancolia e esquematicamente, podemos observar a hipotonia vascularnas formas estuporosas e a hipertonia nas formas ansiosas. A amenorria habitual. O exame neurolgico mostra, s vezes, uma diminuio dos reflexos,hipotonia muscular e hipoestesia. Os distrbios neurovegetativos so freqen-tes, seja no sentido de uma sndrome vagotnica nos estados de angstiaestuporosa ou no sentido de uma reao estressante adrenalinrgica.

    11I. EVOLUAO

    A crise de melancolia evolui espontaneamente em alguns meses (geral-mente seis ou sete meses). preciso no perder de vista esta durao daevoluo espontnea, abreviada pelas teraputicas atuais, para avaliar. melhoros efeitos ou para evitar prognsticos desfavorveis quando os distrbiosmelanclicos no desaparecem ao cabo de dois ou trs meses.

    A crise geralmente termina como comeou, isto , bastante lentamente.Durante a convalescena notam-se perigosas oscilaes do humor e recadasimprevistas. dur~nte estes "hiatos de melancolia" que deveremos ser especial-mente vigilantes quanto s tendncias suicidas.

    A interveno teraputica , s vezes, espetacular, no sendo raro queassistamos surpresa quase divertida do melanclico que sai de seu pesadelo ese pergntu como pde crer estar condenado e ter sentido desejo de morrer.

    o retornn do sono e do apetlttorno .10 equllbrl.

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    Duraomdia eespontnea de6 ou 7 meses.

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    A descrio que acabamos de fazer aplica-se melancolia aguda simples,porm com este mesmo fundo clinico alguns sintomas - a inibio, a ansiedadectc, - podem predominar. Alm disso, a evoluo pode ser mais ou menosutipica.

    I. FORMAS CLlNICAS SEMIOLOGICAS

    1.0 A depresso melanclica simples. Nesta forma a inibio domina e opaciente acusa uma simples tendncia inatividade, est astnico e fatigado. Osofrimento moral est reduzido, s vezes ausente. O doente sofre de umaimpotncia penosa e de uma improdutividade intelectual; sente-se doente e temnecessidade de consolo. Os autores antigos designavam este estado com o nomede melancolia com conscincia.

    2.0 A melancolia estuporosa. A inibio psicomotora atinge aqui o seumximo. O doente est absolutamente imvel: no fala, no come, no fazqualquer gesto ou movimento. O seu rosto est fixado em uma expresso de dor.e de desespero. Esta mmica de tristeza permite o diagnstico diferencial com asoutras formas de estupor.

    3.0 A melancolia ansiosa. Esta forma se caracteriza essencialmente pelapreponderncia da agitao ansiosa, pela intensidade do medo que vivenciadocomo um verdadeiro pnico. O doente inquieto sente necessidade de mudar delugar, bate na cabea e no peito, torce as mos, lamenta-se, solua, geme esuplica. Os tormentos o levam a fugir, a procurar a morte (idias de suicdioconstantes e ativas).

    4.0 A melancolia delirante. A anlise do sofrimento moral na forma tpicanos mostrou que bem difcil estabelecer uma distino ntida entre a depres-so, a tristeza e o delrio melanclico. Nesta forma delirante o aspecto deliranteaparece, no entanto, em primeiro plano.

    As "idias delirantes" melanclicas foram magistralmente estudadas porSeglas, que observou as caractersticas seguintes: a) so de tonalidade afetivapenosa; b) so montonas e o doente repete sempre as mesmas idias delirantes;c) so pobres, isto , a idia delirante no se desenvolve em construesintelectuais: so mais ricas em emoo do que em contedo ideativo: ) sopassivas: o doente aceita com inrcia ou desespero todas as suas infelicidadescomo uma fatalidade acabrunhante; e) so divergentes ou centrfugas, isto ,est~ndem-se progressivamente para a pessoa prxima e para o ambiente; fJ sodelrios do passado (larnentaes, remorsos) ou do futuro (ansiedade, temores)que retrocedem ou avanam mais em relao aos acontecimentos presentes.

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    'lodas essns "ldlus dcllruntes" sfto ,'x/wriPnciu.v delirantes d unllstiumrlunclica, Urna vlsha tornada por um jul .ou um policial, um rudo 1111 salavlzInhu tomado pelo paciente como se fossem os policiais que vm prend-lo.As iluses so freqentes, enquanto as alucinaes "verdadeiras" so raras.Acontece muito freqUentemente que o melanclico se sinta ameaado, possudoou invadido pelas foras do mal, podendo ser observada toda a gama depseudo-alucinaes psquicas e psicomotoras (Seglas).

    Os temas delirantes da melancolia podem ser classificados em diversosgrupos:

    a) As idias de culpa. Consistem em idias de falta, de pecado e de mculaque se exprimem por um sentimento de indignidade ou por um sentimento deremorso (auto-acusao). A este delrio de culpa corresponde a espera docastigo (idias de expiao, de condenao).

    b) As idias de frustrao (idias de runa, de luto). Trata-se menos deuma falta que de uma infelicidade (a perda de um ente querido, dos bens, dafortuna).

    c) As idias hipocondriacas , de transformao e de negao corporais:' Omelanclico queixa-se de no ter um corpo como todo mundo, sente-se vazio, osintestinos esto bloqueados, o corao est gelado ou no existe mais.

    d) As idias de influncia, de dominao e de possesso. alterao e degradao do corpo se somam os sentimentos de depreciao moral: os doentessentem que seu esprito est vazio, so incapazes de querer, de agir. s vezescrem-se influenciados, possudos (demonopatia), e s vezes se sentem habita-dos por um animal (zoopatia).

    e) As idias de negao. Todas as "idias" precedentes culminam, svezes, em um tema: a negao do mundo, do corpo, da vida ou da morte. Aslndrome de Cotard (idias de condenao, de imortalidade e de negao)raramente est completa nessas melancolias agudas; porm, algumas idiasdelirantes que a compem so observadas bastante freqentemente, principal-mente as idias de negao de rgos.

    5.0 Os estados mistos manaco-depressivos. O estado misto mistura ossintomas da melancolia e os da excitao (turbulncia, perplexidade, agitao,irritabilidade etc.). Ns os descreveremos mais frente, no estudo das psicosesperidicas.

    6. Asformas monossintomticas (Logre e Longuet, 1937; J. J. Lopez-Ibor-Alifio, 1972), nas quais as crises se reduzem a um nico ou a diversos (formasoligossintomticas) sintomas ou equivalentes psicossomticos.

    11. FORMAS CLlNICAS EVOLUTIVAS

    1.0 A melancolia crnica simples. Ocorre aps uma crise aguda que seeterniza ou em seguida a diversas crises, que vo se aproximando e permanecemseparadas apenas por remisses incompletas e precrias. Quando os sintomas

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    .0 o.~dellrlos crnicos melanclicos. A organizao de um delrio crnicosecundrio melancolia um conceito clssico (Griesinger, Seglas, Lalannc,Bessire etc.). Encontraremos estas formas de depresso nos estados depressivossintomticos de um processo psictico.

    111. AS CRISESNEUROTICAS DE DEPRESSO

    Abordaremos agora o vasto grupo dos estados depressivos neurticos ourcativos tvoluon psychiat., 1955, 111, pp. 532-553) situado nos nveis deestrutura mais elevados, onde, de uma maneira geral, a experincia de tristezavivenciada est ao mesmo tempo mais integrada aos acontecimentos atuais emais relacionada com a histria conflitiva do doente. Como j dissemos, resultadisto que os traos semiolgicos, a forma de relacionamento com o doente e ascondutas teraputicas so prprias a este grupo.

    Trataremos neste mesmo pargrafo das depresses autenticamente neur-tieus e das depresses que resultam de uma descornpensao do estado-limite,pois embora o grupo destas ltimas tenha sido constitudo s custas dasdepresses neurticas propriamente ditas - as quais ele engloba quase quecompletamente para alguns autores (Bergeret) - pode ser distinguido delas pornlgurnas particularidades que j apontamos e sobre as quais voltaremos a falarmnis detalhadamente.

    I. CIRCUNSTNCIAS DE APARECIMENTO

    Estas crises depressivas ocorrem geralmente aps experincias vivenciadasl'U1I10uma frustrao: decepo, luto, perda de estima, .abandono etc. Emsuma, tanto na "frustrao do amor que se espera, quanto na do amor que sed(l, em que sempre um sofrimento no amar ou no mais poder amar"(Nncht, 1963), ou ainda em todas as situaes que fazem ressurgir um senti-mente de insegurana mais ou menos reprimido e at ento mais ou menoscompensado. Esquernaticamente, recordamos que a frustrao engendra auMressividade, a qual engendra a culpa, o temor de perder a estima e a afeiotio nutro e Ilnalmcnte a agressividade com tendncia a se voltar contra o pr6priolndlvlduo,

    Admitir este mecanismo e, por conseqncia, esta predisposio, admitirtumhm uma personalidade neurtica de base, de certo modo uma neuroseIlIfuntU que ~erlt rentivada por experincias estressants. Esta viso dus coisasfui conlrmadu por Kielhol que, partindo dos trabalhos de A. Freud, Burllnhum e SJlII/., evidenciou umu neurose In!untU em 4K docntes deprimidollh,ervlldll. durante multo temJlu o 4UO I>erhmcllllll 11 eNto IIruJlU.

    l'uru ()~ pslcnnallstus. u origem du neurose remouturla, como .1(, dlsNellloH,(10 perodo edlplano, conflito lntrapsquico de origem sexual entre as pulsooHcdlplanus e os componentes proibidores. Resulta da! o temor e a anj(stlu decnstruo. A relao do neurtico com o outro, que permanece erotzuda,tambm alterada em relao ao seu prprio ego. Resultar disto um sentimentode insegurana permanente no seu relacionamento com os outros.

    Se a origem da perturbao da personalidade anterior em seu desenvolvi-mento, provocar ento a constituio de um estado-limite. Ap6s um traumaafetivo, como por exemplo a separao da me, ser provocado um temor deperder o apoio seguro, mas no de errar sexualmente como no caso dos estadosneurticos propriamente ditos. Esta origem implica essencialmente um tipode relacionamento com o outro baseado em uma imensa necessidade dedependncia do outro, para buscar e conservar uma segurana. o tipo de'relao objetal anaclltica dos psicanalistas.

    A crise, que pode se manifestar na infncia, a depresso anaclitica descritapor Spitz em crianas de seis a oito meses separadas de sua me durante umperodo suficiente. evidente que a depresso anacltica no uma condionecessria para o desenvolvimento posterior das depresses neurticas doadulto. .

    possvel que o acontecimento estressante esteja em relao estreita com acrise depressiva e que esta relao seja compreensvel para o clnico. Trata-se,ento, de uma depresso reativa propriamente dita.

    11- AS PARTICULARIDADES SEMIOLOGICASDAS DEPRESSOES NEUROTICAS

    Faremos uma descrio comum dos sintomas da depresso neurtica e dossintomas da depresso dos estados-limites, assinalando de passagem as caracte-rsticas semiolgicas mais particulares a cada uma delas.

    A depresso vital (J. J. Lopez-Ibor), que descrevemos na depresso end-gena, reveste-se aqui de uma tonalidade afetiva muito mais prxima dosentimento de tristeza reativa normal.

    A ansiedade geralmente intensa, espetacular e, por vezes, mesmo umpouco teatral, colorida por traos neurticos subjacentes, em primeiro plano ostraos histricos. O contedo dos temas depressivos, se no est relacionadocom o acontecimento causal da crise depressiva, pelo menos muito maiscompreensvel para o observador do que os temas da melancolia endgena. Odoente recrimina-se, como na melancolia, mas ele tambm quer que o escute-mos, que ele se queixe e que ns O consolemos, necessitando pois de umarelao de dependncia e de apoio que 6 bastante caracterstlca da relaoohjctul nnucllticn do estado- limite. Puralelamente, ele acusa os outros e a sortemuito muls do que u si mesmo, Que!xlI-se desesperadamente de seu estadof!,il'll e dl' seu r~tlldll pxlqulco, de NUIIIINtenla, de MUII'"c1ll1a InNuporAvol)lIIl'Udllll li I, )llll~ qunut IlIl'1\ll~ ele ~ ntlvll, 11I111MMOMonte l'lua.llo c Imputont",

    Ansiedade enecessidade deconsolo.

  • fi lIIJA.\'

    ENte xentlmento do Implltencln parece oHtur HItUlldll bom no centro dn conscln-clu cio deprimido neurtico, que a flrtljetu em Nua uecessldade de ajuduumblMuu, exprlmlndo 11 Impotncia do mdico para cur-to, a Impotncia dosmcdlcumentos que silo prescritos para ele ete. Contudo, a necessidade que essesdoentes tm de se apoiar no outro particularmente caracterstica dos estados-

    QUADRO XI

    S CRITERIOS DA DIVISO HABITUAL ENTRE'RISE DE MELANCOLIA E ESTADO DEPRESSIVO NEUROTICO

    --Crise de melancolia Estado depressivo neurtico(tipo "endgeno ")

    Anomalias do desenvolvimentoHerana afetivo1\tlopotogcnia Fatores constitucionais Fatores situacionais

    Organognese Psicognese

    Comportamento auto-agressivo Comportamento pseudo-suicida(suicidio) _ Complexo de inferioridadeSemlologia Delrio de auto-acusaao ou de frustraoSentimentos de depresso Sentimentos complexos de angstia"vital" Conservao do sonoInsnia

    Ruptura com a realidadeProjeo na realidadeProcura do contatoAnllse Falta de contato afetivo Continuidade da crise.

    estrutural Crise separada do continuum com a organizao neurticada existncia da personalidade

    Regresso macia ao Regresso parcial aol'slcunlisc estdio oral estdio genitalI--