Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves...

122
História Contemporânea GERARDO ACERVES CONDE

Transcript of Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves...

Page 1: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

HistóriaContemporânea

GERARDO ACERVES CONDE

Page 2: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 3: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

1ª EDIÇÃO

Sobral/2016

GERARDO ACERVES CONDE

Page 4: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea4

INTA - Instituto Superior de Teologia AplicadaPRODIPE - Pró-Diretoria de Inovação Pedagógica

Diretor-Presidente das Faculdades INTA Dr. Oscar Rodrigues Júnior

Pró-Diretor de Inovação Pedagógica Prof. PHD João José Saraiva da Fonseca

Coordenadora Pedagógica e de Avaliação Profª. Sonia Henrique Pereira da Fonseca

Professor ConteudistaGerardo Acerves Conde

Assessoria Pedagógica Sonia Henrique Pereira da Fonseca Evaneide Dourado Martins Juliany Simplício Camelo

Design InstrucionalSonia Henrique Pereira da Fonseca

Revisora de Português Neudiane Moreira Félix

Analista de QualidadeAnaisa Alves de Moura

Diagramador José Edwalcyr Santos

Diagramador Web Luiz Henrique Barbosa Lima

Analista de Tecnologia EducacionalJuliany Simplicio Camelo

Produção AudiovisualFrancisco Sidney Souza de Almeida (Editor)

Operador de Câmera José Antônio Castro Braga

Page 5: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 6: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea6

Sumário

1

2

3

4

Palavra do Professor-Autor ................................................................................... 09Biografia do autor .................................................................................................. 11Ambientação ........................................................................................................... 12Trocando ideias com os autores ........................................................................... 16Problematizando .................................................................................................... 18

A Historiografia da Revolução FrancesaRevolução Francesa ...........................................................................................................................23

Neocolonialismo e ImperialismoConceito ................................................................................................................................................33As causas do novo Imperialismo .................................................................................................35Imperialismo no Extremo Oriente e no Pacífico ....................................................................36

A Questão Nacional no século XIXNacionalismo e Liberalismo no século XIX ..............................................................................41O Liberalismo no século XIX ..........................................................................................................41O Nacionalismo no século XIX......................................................................................................44A onda revolucionária: 1820 1830 e 1848 ................................................................................45As unificações da Alemanha e da Itália .....................................................................................48

Nacionalidade e minorias nacionaisNacionalidade e minorias nacionais ...........................................................................................59

Page 7: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

5

6

Mundos entre GuerrasA Primeira Guerra Mundial ...........................................................................................................65A antessala da I Guerra Mundial ..................................................................................................66As causas imediatas à Primeira Guerra Mundial ....................................................................68As alianças no conflito .....................................................................................................................70As etapas da guerra ..........................................................................................................................71Consequências da Primeira Guerra Mundial ...........................................................................72Os tratados de paz ............................................................................................................................73A Segunda Guerra Mundial............................................................................................................76As causas da Guerra ..........................................................................................................................76Antecedentes imediatos à Guerra ...............................................................................................78Guerras por etapas ............................................................................................................................80Consequências da Segunda Guerra Mundial ..........................................................................97

Tensões sociais e processo imigratórioA transição demográfica mundial ............................................................................................103As grandes migrações internacionais .....................................................................................104

Leitura Obrigatória ..............................................................................................108Revisando ..............................................................................................................110Autoavaliação .......................................................................................................112Bibliografia ...........................................................................................................114Bibliografia Web ..................................................................................................119

Page 8: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 9: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 9

Palavra do Professor-autor

Olá, caros estudantes!

Fazemos parte de uma sociedade voltada para a satisfação imediata dos desejos do aqui e do agora, onde se nega o futuro - que ainda não existe-, e se ignora o passado porque já ficou para trás. O presente nega a História. Por isso, a importância da História, e de seu intérprete, o historiador.

É importante que você, estudante da História, se coloque perante o TEMPO e os ACONTECIMENTOS com uma atitude diferente daquela que assumem os que não conhecem seu passado. Não somente por revalorizar a sua futura profissão, mas, principalmente, por recuperar a memória que nos identifica socialmente, nos constrói como membros ativos de nosso grupo humano e nos previne de repetir os mesmos erros.

Apesar das discrepâncias em torno da nomenclatura dada a esta etapa da História, é de comum acordo entre os historiadores que a História Contemporânea é a etapa mais veloz e mais dramática que a humanidade já vivenciou. Nunca houve tanta produção científica, técnica, literária e industrial. O desenvolvimento humano foi tão grande e tão veloz, que muitos sociólogos e filósofos hoje se questionam sobre o rumo que as ciências e a técnica irão tomar, e sobre seus perigos para o futuro da humanidade. A sociedade humana cresceu em saúde, esticou seu tempo de vida, diminuiu radicalmente o analfabetismo e a mortalidade infantil e aproximou-se por meio das TIC’s, superando as fronteiras. Porém, ao mesmo tempo, nunca o ser humano se colocou tão perto de sua própria extinção.

Qual foi o caminho para o ser humano olhar para sua própria dignidade, se tornar independente das ideologias e os mitos, proclamar e defender sua dignidade? Quais foram as causas pelas quais se voltou contra si mesmo? Quais os pensamentos que fundamentaram o agir das forças que levaram a humanidade ao extremo de sua aniquilação? E sobretudo, como evitar que isso volte a acontecer? Na leitura dos acontecimentos passados é possível encontrar respostas a essas perguntas. Por isso é necessário olhar para trás no tempo, sem negá-lo. Ele faz parte de nossa identidade e, ao mesmo tempo, é lição que adverte sobre as consequências futuras do agir recorrente da humanidade. Por isso é verdadeira a sentença que diz que desconhecer o passado, é condenar-se a repeti-lo.

Page 10: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea10

Portanto, preparamos este material para orientar o seu estudo, sem limitar-se a ele. Ele não esgota de forma nenhuma a tremenda quantidade de informações que a historiografia contemporânea nos oferece. No entanto, ele é uma boa síntese de alguns de seus mais importantes assuntos, escolhidos para incentivar você a construir seu próprio conhecimento. Realize suas atividades, suas leituras e assista as vídeoaulas.

O autor!

Page 11: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 11

Biografia do autor

Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifí cia. Licenciado em Ciências Eclesiásticas pela Universidade de Navarra, Espanha. Bacharel em Teologia. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelas Faculdades INTA. Licenciado em Letras Espanholas, pela Universidade Federal do Ceará. Mestrando em Gerontologia, pela Universidade Aveiro-Portugal. Atualmente é professor de Língua Espanhola e Formação Humana na Escola Profissionalizante Dom Walfrido T. Vieira e professor universitário, lecio nando várias disciplinas na área de humanas.

Page 12: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

aAMBIENTAÇÃO À DISCIPLINA

Este ícone indica que você deverá ler o texto para ter uma visão panorâmica sobre o conteúdo da disciplina.

Page 13: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 13

Olá, sejam bem-vindos à disciplina....

Imagine um indivíduo que perdeu totalmente sua memória. Ele vivenciará o drama de ter que recomeçar a viver aprendendo tudo, desde as atividades mais básicas, como segurar os talheres na hora da refeição ou fazer as necessidades fisiológicas, até as mais complexas, como comunicar-se ou ter que conviver familiarmente com quem desconhece, ou pior ainda, identificar-se a si mesmo. Perder a memória é perder a própria identidade.

Analogamente, um povo que perdeu sua memória histórica perdeu sua identidade cultural e está condenado a repetir os mesmos erros e a padecer os mesmos dramas. Crescemos sobre aquilo que já sabemos. Sem a história não há progresso. Por isso, a melhor maneira de usufruir do conhecimento, da técnica e da riqueza que a humanidade já foi capaz de criar nos últimos séculos, é conscientizar-se do que a humanidade é capaz de fazer, de bom e de ruim, e a partir da análise do que a humanidade já experimentou deduzir as consequências às quais as atitudes presentes poderão levar à sociedade.

Para isso serve a História da humanidade que é relativamente breve. Omo I e Omo II, os esqueletos de Homo Sapiens mais antigos que se conhecem, foram encontrados na Etiópia em 1967 e revelam uma data de cento e noventa e cinco mil anos. Mas essa breve existência sempre foi uma história de confrontação onde os ideais de convivência pacífica, igualdade de oportunidades, recompensa justa ao esforço pessoal e bem-estar viram-se constantemente ofuscados no drama dos diferentes conflitos em que as sociedades se embrenharam. Eles, no entanto, não ceifaram de raízes os mais íntimos anseios da humanidade pela felicidade, os quais levaram os povos a procurarem se organizar às vezes de forma acertada, e outras, de forma mortalmente equivocada.

Em seu afã, por organizar-se foi necessário justificar a autoridade dos que mandavam e fundamentar seu poder. Apelou-se à origem divina da autoridade, com mitos e com religiões, e utilizou-se a razão para organizar sistemas de governo, de administração, de aplicação da justiça e de defesa dos territórios. Entre acertos e equívocos, os pensadores das diferentes culturas influenciaram a edificação das sociedades, e com elas, o devir da História.

Um dos pontos de inflexão mais transcendentes para a humanidade aconteceu na última década do século XVIII, ao grito de igualdade, liberdade e fraternidade.

Page 14: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea14

O slogan que sobreviveria à Revolução converteu-se na sua época no compromisso coletivo de burgueses, militares, camponeses empobrecidos e miseráveis famintos dos becos parisienses, politizados pelos ideólogos revolucionários, que em seu afã por construir um novo sistema levariam suas cidades ao Terror, na tentativa de reconstruir a Nação. Nenhum daqueles personagens viram, na época, seu sonho realizado, mas, sem sabê-lo, eles construíam já os fundamentos de todas as democracias atuais, tanto na Europa, quanto nas Américas, embora tenham tido que pagar para isso o preço do sangue derramado nas cabeças decepadas dos senhores do Antigo Regime.

Na luta pela felicidade, as sociedades desenvolvidas do século XIX perceberam que as fontes de energia que utilizavam (carvão e petróleo), eram escassas. Sua superioridade técnica e econômica levou-as a pensar alto, e em nome do pretendido direito da supervivência do mais forte, lançaram-se à conquista de territórios onde pode ampliar seu espaço vital. Enquanto houve terras para conquistar, as potências suportaram-se umas às outras. Quando aquelas terminaram, as potências decidiram confrontar-se em duelo mortal.

Guerras sempre houve. Homo homini lupus (diria Plauto, dois séculos antes de Cristo, e o repetiria Hobbes, no XVII, para justificar o absolutismo da monarquia). O homem sempre foi um lobo para o homem. Todavia, o século XX foi especialmente trágico, tanto pela crueldade das mortes infringidas às pessoas, quanto pela capacidade de ampliar cada vez mais sua fatal eficácia e sofisticar sua letífica capacidade destrutiva. O resultado dos dois confrontos bélicos internacionais, acontecidos entre Agosto de 1914 e Setembro de 1945 foi o quase extermínio das sociedades europeias ocidentais. Isso evidenciou a inutilidade dos sistemas éticos tradicionais e impôs uma nova ordem mundial, a qual colocou em xeque a segurança do mundo com a ameaça real do cataclismo nuclear.

Mas o século XX findou, e entramos no novo século carregando os desafios que as duas centúrias anteriores nos deixaram em herança. As relações sociais e afetivas, as transações econômicas, a realidade como um todo, se tornaram virtuais, mas o medo diante da insegurança, o temor à fome, e os desejos mais íntimos de realização, bem-estar e felicidade, ainda continuam sendo uma realidade utópica na maioria dos povos democráticos, quanto mais naqueles onde imperam sistemas de governo absolutistas.

Este material não pode pretender extenuar tudo o que no período conhecido como Contemporaneidade a humanidade já vivenciou. Serve como marco para

Page 15: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 15

apresentar alguns dos mais significativos fatos neste período que começa com a Revolução Francesa, passa pela formação dos impérios nacionalistas, os confrontos internacionais identificados como Guerras Mundiais e se estende até a universalização do comércio e das relações que hoje caracterizam nosso tempo. Ela constitui um grande esforço sintético de vários artigos e livros acerca dos assuntos tratados. Durante sua formação constatamos a grande divergência que há nos autores acerca das cifras oficiais e de opiniões e julgamentos, sobre tudo quando se trata das Guerras Mundiais, ainda que elas se fundamentem nos registros das diversas nações beligerantes

Para agilizar a leitura, fizemos um esforço por evitar citações diretas e, ao mesmo tempo, evitar o uso indevido das referências utilizadas. Desejamos que este material inspire você a tomar a iniciativa na procura de novas leituras e possa lhe oferecer uma visão de conjunto que possa favorecer seu estudo pessoal.

O autor!

Page 16: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

tiTROCANDO IDEIAS COM OS AUTORES

A intenção é que seja feita a leitura das obras indicadas pelo(a) professor(a) autor(a), numa tentativa de

dialogar com os teóricos sobre o assunto.

Page 17: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 17

Agora é o momento de você trocar ideias com os autores

Propomos que você leia a obra 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. O autor relata a história da coroa portuguesa no Brasil, especificamente pouco antes dos franceses invadirem a península ibérica, até pouco antes da independência. Descreve os costumes da classe política, dos cidadãos, dos nativos mais conhecidos pelos portugueses e dos escravos. Sua obra é um retrato dos anos da

coroa portuguesa na Colônia.

O autor soube conjugar a pesquisa bibliográfica e documental, com a qual fundamentou sua narração, e a arte de uma escritura erudita e ágil, às vezes dramática e outras, inclusive, engraçada. Isso ajudou a fazer de 1808 um Best seller dentre os livros de divulgação do conhecimento da história do País.

GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Planeta Brasil, 2007.

Propomos também a leitura da obra 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado. Esta obra é a sequência de 1808. Nesta ocasião, o autor narra a história da política no Brasil pouco antes do Grito até a morte de Dom Pedro. Fala das diferenças socioeconômicas no Brasil de D. João, da situação em Minas Gerais e do grito no Ipiranga, a situação política na Bahía, a Constituição, a Maçonaria e sua influência no Trono, e outros

assuntos, que se tornam interessantes pelo esforço do autor por desmascarar os mitos que se propagaram na história oficial em torno dos personagens e dos fatos que construíram a independência brasileira. No entanto, 1822 ganhou à força da atitude crítica contra a autoridade, sua hipocrisia, seus desvios morais e suas alianças criminosas pelas quais foi gerado um Brasil ‘que tinha tudo para dar errado’.

GOMES, Laurentino. 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

GUIA DE ESTUDO

Após a leitura das obras, escolha uma e faça uma resenha crítica e comente com seus colegas.

Page 18: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

PLPROBLEMATIZANDO

É apresentada uma situação problema onde será feito um texto expondo uma solução para o problema

abordado, articulando a teoria e a prática profissional.

Page 19: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 19

GUIA DE ESTUDO

Baseado na situação acima reflita:Qual é o perigo da ignorância sobre a história? Se o estudante tivesse sido

branco, rico, do sexo masculino, teria tido razão em abraçar a ideologia nazista? Até onde chega o direito de expressar nossas ideologias e a partir de que

momento isso se torna apologia ao crime?

Na procura da própria identidade, os adolescentes tendem a afiliar-se a grupos, a imitar ídolos, e abraçar ideologias. Em uma Escola Estadual de Educação Profissional do Ceará, um estudante afrodescendente, morador de uma favela e homoafetivo, expôs a suástica enfeitando seu armário. Poucos dias depois colocou-se uma medalha com o emblema nazista e com o tempo declarou-se abertamente neonazista. Era lógico que não sabia o que dizia. O professor mandou-lhe pesquisar como foram tratados os militares argelinos pelos nazistas, como foram utilizados os negros nas pesquisas sobre “raças”, e qual era o fim dos pobres e os homossexuais durante a ditadura do III Reich. No dia seguinte, o estudante chamou o professor à parte, pediu-lhe perdão e chorou agradecendo-lhe ter lhe aberto os olhos.

Page 20: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

ApAPRENDENDO A PENSAR

O estudante deverá analisar o tema da disciplina em estudo a partir das ideias organizadas pelo

professor-autor do material didático.

Page 21: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 21

1A HISTORIOGRAFIA DA REVOLUÇÃO FRANCESA

CONHECIMENTOS

Conhecer a Historiografia da Revolução Francesa, considerando as grandes linhas historiográficas e as diferentes perspectivas desde as quais a Revolução francesa

tem sido estudada.

HABILIDADESIdentificar as linhas historiográficas de forma a fundamentar o julgamento pessoal

a respeito desse assunto.

ATITUDESDesenvolver um senso crítico a respeito da Revolução Francesa.

Page 22: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 23: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 23

Revolução FrancesaPoucos acontecimentos na história da humanidade foram tão significativos

quanto a Revolução Francesa. Ela é um desses fatos que por serem tão importantes geraram em torno de si, muitas controvérsias acadêmicas e políticas, prolongando-se no tempo e exigindo das pessoas uma tomada de posição em torno do modelo de sociedade pelo qual pretende-se optar. Assim, como atualmente o mundo parece continuar a estar dividido entre capitalismo e socialismo, da mesma maneira a Revolução Francesa dividiu (e atualmente é dividida) em escritores e políticos representantes de extremos opostos. A historiografia acerca da Revolução Francesa é produto da postura tomada pelos autores no meio da luta de poder, acontecido no contexto histórico social, específico no contemporâneo e subsequente à Revolução.

Em 1789 o sistema produtivo e econômico dominante era o feudalismo. Taracena (1994), menciona que nesse ano os camponeses formavam 85% da população francesa, os grãos estavam escassos e as necessidades básicas eram cada vez mais difíceis, o que fez a indústria nascente recuar.

No entanto, a aristocracia crescia. Ela possuía 30% da terra produtível, mantinha uma pesada taxa de tributos feudais e controlava a distribuição da água, a utilização dos moinhos de grão, os fornos e a distribuição de justiça para as classes populares. Nessas circunstâncias, o denominado “Antigo Regime”(sistema de governo monárquico representado na França pelos reis absolutistas Luis XIV – XVI, totalmente concentrada na figura do rei com acúmulo de riquezas) sobrevivia de um sistema social hierarquizado onde a base camponesa mantinha uma cúpula formada pela nobreza e pelo alto clero, beneficiados pela isenção de impostos e pelo revestimento dos títulos honoríficos que lhes garantiam a proteção militar da coroa. No centro do sistema encontrava-se o rei, cujo poder tinha sido fundamentado na crença da origem divina de sua autoridade. Por isso, quando a violência estourou contra o sistema político-econômico, o sistema religioso dominante também foi atingido.

A seguir, confrontaremos os autores e sua produção historiográfica com o contexto histórico-social. Porém, os limites próprios de nossa metodologia não nos permitem abranger o amplo repertório escrito acerca do tema da Revolução. Com o estouro da Revolução foi produzida literaturas de diversos gêneros: acusações, panfletos, artigos jornalísticos, charges, e discursos dos mais diversos tons e posições políticas. Porém, foi no começo do século XIX que, por várias razões, toda essa literatura se multiplicou. Entre essas razões, destacou-se o Romantismo que

Page 24: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea24

floresceu nessa época, o radicalismo com o qual a Revolução constituiu ruptura e a incerteza econômica e social que ela provocou. Mas, o que está por trás de tudo, em última instância, é o conceito de ‘nação’ que está a se formar, e com ele, o futuro da França.

O esforço fundamental dos revolucionários foi destruir a ordem social, inclusive pela via das armas. No entanto, antes de estourar o conflito armado, o grosso da população das cidades teve que ser conscientizada politicamente. A nobreza chamou a esses revolucionários de ‘sans culottes’, livremente traduzido como os “sem calção”, em referência às calças curtas usadas pela nobreza. Os revolucionários, por sua vez, utilizaram as calças próprias dos trabalhadores artesãos, compridas e mais resistentes. Eles eram a massa da população que apoiaria a facção política republicana conhecida como os jacobinos por se abrigarem em um antigo convento dominicano dedicado a Saint Jackes (São Jacob), e que promoveram a execução de Luis XVI, enfrentando-se a grupos mais moderados como os Feuillants, que se conformavam com modernizar a monarquia.

Nesse âmbito compreende-se que os escritos acerca da Revolução Francesa tenham sido produzidos dentro de um ambiente de contestação e controvérsia. Taracena (2004), cita como referência obrigatória um livro de 1790, Reflexões sobre a Revolução Francesa, cujo autor irlandês, Edmund Burke, vê na Revolução “o triunfo da demagogia (arte ou poder de conduzir o povo) e o despotismo (forma de governo onde todo o poder está concentrado em apenas um governante) sobre o contrato social”. Para ele, o povo não tinha o direito de modificar sua Constituição, e para demonstrá-lo, compara a Revolução Francesa com a inglesa, “sabiamente empírica e capaz de consolidar a herança dos costumes nacionais”. No entanto, a francesa aplicou a noção ‘tabula rasa’ para justificar o delírio selvagem de seus personagens no seu esforço por apagar os vestígios da sociedade do antigo regime.

Outro exemplo dessa corrente literária denominada conspiração é Memórias para servir à história do jacobismo, de Barruel, um sacerdote jesuíta que em 1799 pretendeu demonstrar que os jacobinos eram uma “seita devoradora que se levantava contra a ordem estabelecida”, e convidava os países europeus a refletir sobre a experiência sofrida na França.

No entanto, outra corrente historiográfica contemporânea à Revolução é a teoria da força das coisas, cujos representantes são Mallet Du Pan, Condorcet e Rabaut Sain-Etienne, os dois últimos decapitados na guilhotina, vítimas dessa mesma “força das coisas” (TARACENA, 2004). Segundo o seu pensamento, a história estava determinada a seguir seu caminho e a Revolução teria que sucumbir à ordem

Page 25: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 25

estabelecida. Frente a essa doutrina determinista, os escritos da burguesia posterior ao mês de Termidor se esforçaram por fazer um inventário da herança revolucionária, porém, descriminando suas fases violentas, sobretudo a de 1793, conhecida como a época do Terror.

A historiografia posterior a 1815 (ano da Restauração) encaixa-se numa classificação conhecida como Mitológica, e estende-se até as revoluções de 1830 e 1848. A tendência desta época, tanto para os liberais quanto para os românticos, é demonstrar historicamente a necessidade da luta violenta na Revolução. O principal representante dos liberais é o advogado Louis Adolphe Thiers, que escreveu História da Revolução (1823-1827). O advogado reuniu uma grande quantidade de documentação para justificar que os autores da Convenção tinham sido exclusivamente os burgueses, que a violência desatou-se por culpada resistência dos aristocratas à mudança e que as massas populares (das cidades e dos campos) não tinham lugar na cena histórica nem na soberania popular.

Auguste Mignet, autor ligado à corrente historiográfica Mitológica, ele destaca a necessidade das duas revoluções, a de 1789, como boa e necessária e a de 1793 como “nefasta, porém inevitável”, e reforça a “teoria das circunstâncias de ordem interno e externo” (TARACENA, 1994).

Em 1843 foram publicadas, em caráter póstumo, as anotações feitas na prisão por um orador famoso, morto na guilhotina, Antoine Pierre Barnave. Ele analisou pela primeira vez a existência da luta de classes dentro da Revolução de 1789. Barnave diz que as classes sociais dominantes na economia mantinham também o poder político e resistiam a serem removidos do poder, terminando por serem anulados ou derrubados por meio de ações políticas, expressadas “algumas vezes por uma progressão doce e insensível, outras vezes por comoções violentas” (FONTANA, Apud TARACENA, 1994, p. 4).

Na década de 1840 teve início a celebração popular da Revolução, a qual coincidiu com o apogeu do romantismo literário. Daí que, em 1847 surgiram as três obras mais famosas da historiografia da Revolução Francesa: A História da Revolução Francesa (de Louis Blanc) A História da Revolução Francesa (de Jules Michelet) e a História dos Girondinos (de Alphonse de Lamartine), que tiveram a originalidade de recuperar a tradição oral, entrevistando os descendentes dos revolucionários. Ao fazê-lo, recuperaram o papel do povo e, por sua perspectiva romântica, justificaram a violência popular pela pureza dos motivos republicanos, em detrimento das causas históricas, que serão retomadas na corrente literária seguinte, a corrente positivista.

Page 26: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea26

A derrota da revolução de 1848 e a posterior instauração do Segundo

Império vão animar, na historiografia da Revolução francesa, a refutação

das tradições e dos mitos herdados até esse momento. A erudição irá

substituir a encrespação ideológica. A obra de Alexis de Tocqueville, O

Antigo regime e a Revolução (1815), marcada pela polêmica europeia entre

a ‘liberdade democrática’ e a ‘tirania dos Césares’, entre a prática cívica

descentralizadora e o centralismo monárquico, será a que inaugure o novo

período. Tocqueville renova a historiografia revolucionária investigando

suas origens, distantes e próximos, sendo o primeiro em dar consistência

ao conceito de ‘Antigo Regime’ e ao de ‘pré-revolução’, individualizando o

período de conjuntura histórica de 1787 a 1789 e dando importância, pela

primeira vez, ao fato de que a revolução administrativa tinha precedido

à revolução política. Além do mais, insiste na importância dos ativismos

institucionais e sociológicos. (TARACENA, 1994, pg. 6).

Saiba mais:

Alexis de Tocqueville (1805-1859) foi um pensador político e estadista francês. Foi considerado um dos grandes teóricos sobre a democracia americana. Especulou sobre a natureza essencial da própria democracia, suas vantagens e perigos.

Depois de Tocqueville, seu aluno, Ernest Renan, já no auge do positivismo, diz que “pelo momento não se trata de continuar a Revolução, senão de criticá-la e de corrigir os seus erros”, e inicia um debate acerca da historiografia da Revolução, no qual sobressai Danton, radicalizando sua postura contra Robespierre e evidenciando a oposição entre jacobinos e girondinos. Danton sentenciou que a descristianização era necessária para fazer surgir o Estado Cívico, além de ser necessário concentrar o poder político diante dos perigos revolucionários. Em outras palavras, Danton justifica as propostas positivistas da desamortização e o centralismo, a ordem e o progresso.

GUIA DE ESTUDO

Sugerimos que pesquise sobre Ernest Renan, Georges Jacques Danton e Robespierre.

Page 27: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 27

A seguinte corrente historiográfica foi a denominada Científica. Esta iniciou às portas do primeiro centenário da Revolução, com a obra As Origens da França, de Henri Taine (1894). Este livro foi uma das mais sérias tentativas de construir uma história esclarecedora da luta de classes subjacente à Revolução, luta antes encoberta sob os conceitos de “Terceiro Estado” e “povo”.

Já no século XX, Jean Jaurès escreveu A História Socialista da Revolução (1901-1904), e criou a Comissão de Investigação e Publicação dos textos e documentos relativos à História econômica e social da Revolução Francesa. A esta comissão deve-se, entre outras coisas, a explicação da Revolução como um fenômeno burguês apoiado pelas massas populares, da cidade e dos campos. Este modelo, de influência marxista, explica a Revolução como uma forma de mudança das estruturas sociais e das forças de produção acontecida na metade do século XVIII, e dá importância causal à crise da produção de grãos, ao peso da carga fiscal, ao crescimento demográfico e ao surgimento de novos setores sociais.

Na metade do século XX, Fernand Braudel publicou na revista Annales o famoso artigo “Longa duração” onde diminui a importância das conjunturas sociais francesas, e explica a Revolução como um fenômeno resultante da longa duração da história francesa, produto da história da civilização material e das mentalidades sociais e políticas conviventes ao longo do tempo. Esse artigo influenciou tanto os historiadores, que durante a seguinte década a historiografia dedicou-se a trabalhar a longa duração.

Os historiadores ingleses dos anos 60 inauguraram uma historiografia crítica (atualmente denominada revisionismo) que chegou a duvidar da existência de uma verdadeira burguesia francesa pré-revolucionária, o que implicava uma posição totalmente oposta à interpretação jacobinista do século anterior. Segundo os jacobinistas a nobreza possuía uma parte importante do capital da indústria francesa, o que permitiria que os nobres progressistas e a burguesia mais acomodada entrassem em consenso. Isso poderia ter evitado a radicalização do conflito. Nessa hipótese, os críticos ingleses se questionam sobre as causas dessa radicalização, a qual de fato aconteceu. Os principais autores da linha crítica ou revisionista são Alfred Cobban, autor de O mito da Revolução francesa (1955) e G. Taylor que escreveu O capitalismo doente e as origens da Revolução.

Os autores que seguiram essa linha de pesquisa concluíram com bases sólidas, através de documentos que o compromisso entre burguesia e nobreza foi, de fato, possível, mas que não aconteceu. François Furet e Daniel Richet explicam esse fato

Page 28: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea28

pela entrada em cena das massas populares, do campo e da cidade, seduzidas pelo jacobismo, que prometiam mudanças sociais e econômicas. Isso destruiu as teorias que defendiam a ascensão da revolução burguesa e as que defendiam a teoria das circunstâncias. Segundo esta teoria, a radicalização do processo revolucionário teria acontecido pelo movimento contrarrevolucionário dos conservadores, a nobreza e os agricultores, que se coligaram com os reinos vizinhos à França para defender a monarquia. Segundo essa teoria, as massas populares teriam extravasado provocando a desordem violenta que levaram à ditadura.

Os jacobinos responderam, liderados por Seboul, que investigou sobre a história agrária e urbana da França do século XVIII, especializando-se nos movimentos sociais da Capital. Régine Robin, também do movimento jacobino, estudou o estágio de transição da burguesia da época imediatamente prévia à Revolução, que dava maior importância à renda do que à ganância capitalista. E Serge Bianchi buscou “restituir à Revolução cultural de 1791 sua verdadeira dimensão histórica, ocultada por uma historiografia que lhe era hostil” (TARACENA, 1994, p. 8).

A última corrente historiográfica, denominada contrarrevolucionária surgiu com os estudos feitos para a celebração do bicentenário da Revolução. Estes estudos concentram-se no movimento opositor o qual concentrou em suas fileiras aos aristocratas, aos católicos e aos camponeses, turma que provocou o chamado ‘genocídio franco-francês’ onde se calculam mais de cento e vinte mil mortes. Por outro lado, a corrente contrarrevolucionária nega que a Revolução tenha assentado as bases do liberalismo do século XIX.

Esta última corrente historiográfica deixa de considerar a Revolução Francesa como a mãe do Estado Civil moderno, onde se reconhecem os valores humanos, dá-se a liberdade religiosa, proíbe-se a escravidão, promovem-se as liberdades e os direitos humanos. Em contrapartida, vê na Revolução um movimento selvagem que banhou de sangue a Nação, e que foi provocado pela desunião entre os povos participantes na contenda (guerra, violência, lutas, combate).

Nessa linha de pensamento encontram-se autores como Vovelle e Eric Hobsbawm, que na obra Nações e Nacionalismos depois de 1780 ensina que os teóricos revolucionários franceses procuraram alicerçar seu sentimento nacional no critério de ‘cidadania’, e que logo passaram a insistir nos elementos culturais da uniformidade linguística, possibilitando criar uma nação de acordo à eleição de seus políticos, rompendo radicalmente com a lealdade ao sistema anterior.

Page 29: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 30: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 31: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 31

2NEOCOLONIALISMO E

IMPERIALISMO

CONHECIMENTOSCompreender a relação entre o Colonialismo e o Imperialismo dos séculos XIX e

XX e superar os preconceitos que o fundamentaram.

HABILIDADESIdentificar os elementos antropológicos, políticos, ideológicos e militares que

sustentaram o Colonialismo e o Imperialismo.

ATITUDESDesenvolver um senso crítico a respeito dos preconceitos que fundamentaram o

Colonialismo e o Imperialismo.

Page 32: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 33: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 33

ConceitoPara estudarmos sobre o Colonialismo teremos primeiro que conceituá-lo. Em

torno do conceito colonialismo existem hoje muitas polêmicas, mas há um consenso em que ele leva consigo a prática de dominação de uma nação poderosa sobre uma nação frágil, por diferentes motivações, porém quase sempre econômicas e geograficamente estratégicas. O colonialismo no fim do século XIX e começo do século XX foram motivados por essas razões, e teve como consequência a exploração de milhares de habitantes do chamado Terceiro Mundo e a deflagração dos maiores conflitos bélicos, que a humanidade já conheceu.

Veremos durante o estudo a forma como o colonialismo dos anos 1875-1914 adquiriu as características anacrônicas que o identificaram, e nas quais os governantes se autoproclamavam imperadores: Alemanha, Áustria, Rússia e Turquia proclamaram-se Império. A Grã Bretanha também, com relação à Índia. França já vinha fazendo desde a era napoleônica. Além das fronteiras europeias, os governantes da China, o Japão, Etiópia e Marrocos fizeram o mesmo, embora, antes de 1918 já tivessem desaparecido cinco desses impérios.

O imperialismo era um conceito aplicado especialmente à França no século XIX, sobretudo para se falar da era de Napoleão III. Porém, em 1869 começou a utilizar-se a expressão “imperialismo no bom sentido” para justificar a presença dos países europeus nas relações com países dentro e fora da Europa, como a presença europeia no Canadá ou o governo inglês na Irlanda. Porém, além do subterfúgio citado, essa época se caracterizou pelo esforço continuado das potências europeias por conquistar novos territórios, principalmente na África e na Oceania, dos quais extraia as riquezas naturais, o minério e as fontes de energia como o carvão e o petróleo.

Mas, não somente as grandes potências europeias empenharam-se no colonialismo imperialista, como também potências nascentes, e até então pouco influentes, como Estados Unidos e Japão, que entraram com força na carreira imperialista da época, atrás dos recursos naturais dos países conquistados e na procura de novos compradores. Diz Hobsbawm:

Para alguns Estados europeus, como Inglaterra e França, já fazia tempo

que realizavam uma política de expansão colonial. Para 1885 este processo

de expansão da civilização europeia por todo o globo sofre uma violenta

Page 34: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea34

aceleração; em poucos anos converteu-se numa autêntica carreira das

potências europeias em pós dos territórios de ultramar ainda ‘livres’, à

qual, a partir de 1894, somaram-se também Japão e os Estados Unidos

(HOBSBAWM, 1998, p. 88).

Até o momento, as potências europeias tinham deixado a iniciativa colonial para às empresas que comercializavam seus produtos, tentando reduzir o risco da intervenção militar, mas os nacionalismos estimularam a intervenção. Adquirir novos territórios tornou-se um imperativo para os países fortes, financiaram conquistas e penetraram na economia dos países subdesenvolvidos. O colonialismo levou ao imperialismo, “e entre 1876 e 1915 uma quarta parte do planeta foi distribuído e redistribuído em forma de colônias entre meia dúzia de Estados” (HOBSBAWM, 1998).

Sobre a novidade do imperialismo, Briggs comenta:

Embora os imperadores e os impérios fossem instituições antigas, o

imperialismo era um fenômeno totalmente novo. Era uma voz nova

idealizada para descrever um fenômeno novo. A análise do imperialismo,

fortemente crítico, realizado por Lênin converter-se-ia num elemento

central do marxismo revolucionário dos movimentos comunistas a partir

de 1917 e também nos movimentos revolucionários do terceiro mundo.

Efetivamente, para Lênin, o imperialismo era a etapa final e cume do

capitalismo. Para ele, a expansão do modo de produção capitalista leva

inexoravelmente a seu estágio supremo e último, (sua fase superior), o

imperialismo, em cujo interior se produz a exacerbação das contradições

do sistema que darão como fruto o triunfo das classes menos favorecidas.

A concentração monopolista dos capitais financeiros, os quais devem ser

colocados nos territórios dominados pelas principais potências, supõe o

incremento das lutas internacionais pela obtenção dos distintos mercados,

dando assim como resultado a definitiva aparição das condições necessárias

para a transformação da sociedade segundo o modelo revolucionário

socialista (BRIGGS, 1989, p.148).

Page 35: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 35

As causas do novo imperialismoO principal argumento para justificar o imperialismo era a procura de

novos mercados. Para Hobsbawm (1988), a criação da economia global penetrou progressivamente nos cantos mais distantes do mundo, “com um tecido cada vez mais denso de transações econômicas, comunicações e movimento de produtos, dinheiro e seres humanos que vinculava os países desenvolvidos entre si e com o mundo subdesenvolvido”. Se não tivesse sido por essas motivações econômicas e a necessidade de possuir lugares estratégicos para defendê-las, não teria havido interesse pelas ilhas rochosas do Pacífico ou pelas selvas impenetráveis do Congo.

As vias de transporte e comunicação possibilitaram que lugares antes marginais se tornassem mercados desejados pelas potências. O principal país investidor e também imperialista foi à Inglaterra. Ela investiu principalmente na região alta do rio Nilo e na Índia, enquanto que os impérios tradicionais de Espanha e Holanda permaneceram ainda durante um tempo na América do Sul. Portugal e Itália cresceram, embora em 1896 fracassasse a tentativa italiana de se apoderar de Abissínia (nome dado a uma região da atual Etiópia). Também Bélgica, que hipoteticamente não era um império, gerenciava o Congo (por isso chamado Congo Belga). E “até os Estados Unidos, com um absoluto histórico de anticolonialismo adquiriu colônias na década de 1890” e tirou da Espanha suas últimas colônias (BRIGGS & CALVÍN, 1997).

Territórios com minas foram os mais procurados no novo imperialismo, pois os benefícios eram tão importantes que justificavam o investimento na construção de vias ferroviárias, estradas e portos. Em segundo lugar eram almejadas as terras cultiváveis, e em terceiro lugar, quando já satisfeitas as duas primeiras prioridades, objetivavam-se os centros comerciais e financeiros. Para Hobsbawm, “a pretensão de explicar o novo imperialismo desde uma ótica não econômica é tão pouco realista quanto o intento de explicar a aparição dos partidos operários, sem ter em conta para nada os fatores econômicos” (HOBSBAWM, 1998, p. 80).

A rivalidade entre as nações imperialistas era inevitável. O nacionalismo gerava cada vez mais necessidade de conquistar territórios, e quando não houve mais terra independente a conquistar, a solução foi conquistar as colônias dos outros. Na prática, essa seria a principal causa, se não a única, das guerras mundiais, ou seja, o imperialismo esteve estreitamente unido ao capitalismo. “Todos os intentos de separar a explicação do imperialismo dos acontecimentos específicos do capitalismo na última fase do século XIX devem ser considerados como meros exercícios ideológicos, embora muitas vezes ocultos e em ocasiões agudas” (HOBSBAWM, 1998, p. 82).

Page 36: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea36

Outros autores afirmam que o imperialismo estimulou às massas, em especial os elementos potencialmente descontentes, a identificar-se com o Estado e a Nação imperial, dando assim de forma inconsciente, justificação e legitimidade ao sistema social e político representado por esse Estado. “O imperialismo ajudava a criar um bom cimento ideológico. Em alguns países alcançou uma grande popularidade nas classes médias cuja identidade social descansava na pretensão de serem os veículos elegidos do patriotismo” (BRIONES & MEDEL, 2010, p. 6).

Por outro lado, o imperialismo foi estimulado pelas ideias racistas amplamente difundidas na época, como salienta Hobsbawm: “Não pode negar-se que a ideia de superioridade e de domínio sobre um mundo povoado por gentes de pele escura em lugares remotos tinha arraigo popular e que, por tanto, beneficiou a política imperialista” (HOBSBAWM, 1998, p. 80).

Imperialismo no Extremo Oriente e no PacíficoO imperialismo também se desenvolveu em outras partes do mundo, assim

como no Japão, que na época vivia sua Revolução Industrial, precisava das minas da China, para o desenvolvimento de sua indústria, e das suas estepes (um tipo de vegetação própria de grandes planícies) para alimentar sua crescente população. A indústria bélica e a comercial encontraram-nas com o apoio do Estado, ou seja, do Imperador. Entre os anos 1894 - 1895, a guerra entre as duas nações deu a conhecer ao mundo a fortaleza do pequeno Japão e a debilidade da grande China.

No final do século, os bóxers revelaram-se. Segundo Mommsen (1971), o movimento dos bóxers foi esmagado relativamente cedo por um exército internacional, e, no entanto, ele produziu consideráveis complicações a nível mundial. A Rússia aproveitou-se da situação para reforçar sua posição na Manchúria e, caso alguma potência quisesse tirar vantagem do conflito, Inglaterra e Alemanha estavam dispostas a tomar iniciativas comuns para garantir seus interesses (MOMMSEN, 1971, apud BRIONES & MEDEL, p. 7).

Saiba mais:

Bóxers: Foi uma sociedade secreta politizada, formada por praticantes de ar-tes marciais que, cansada da ingerência das potências estrangeiras semeou o terror no norte da China, agindo principalmente contra os missionários cristãos (em 1899) e depois em Pekin, contra as delegações internacionais. Eram subsidiados pela imperatriz CiXi, da dinastia Manchú.

Page 37: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 37

Briggs & Calvin (1997), ressaltam o lado antropológico do colonialismo - imperialismo na África, na Oceania, na Ásia e no Pacífico. Entre todos os que participaram do processo de expansão, havia exploradores, botânicos, antropólogos, missionários cristãos com suas diferentes versões do evangelho e com outras coisas, como a educação, emigrantes, aventureiros, homens de negócios em busca de novos mercados e matérias primas, atravessadores, construtores, e soldados, muitos soldados “porque os anais do imperialismo estão manchados do sangue derramado no que veio ser chamado, muitas vezes de forma enganosa, ‘pequenas guerras’”. Os autores concluem: “Toda essa gama de personagens levaria exploração, a submissão e abuso de poder em nome da civilização cristão-ocidental ao terceiro mundo africano e asiático, mudando radicalmente a vida de milhões de habitantes subjugados pelo progresso” (BRIGGS & CALVIN, 1997).

Page 38: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 39: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 39

3A QUESTÃO NACIONAL

NO SÉCULO XIXCONHECIMENTOS

Compreender a relação entre o Nacionalismo e o Liberalismo dos séculos XIX e XX.

HABILIDADES Identificar os elementos antropológicos, políticos, ideológicos e militares que o

sustentaram o Nacionalismo e o Liberalismo, assim como suas consequências na queda das monarquias tradicionais e na formação da Europa Contemporânea.

ATITUDESDesenvolver um senso crítico sobre o Nacionalismo e o Liberalismo e sobre a

unificação da Alemanha e Itália.

Page 40: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 41: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 41

Nacionalismo e Liberalismo no século XIXA História está permeada de ideologias, conjunto de pensamentos ou de

doutrinas que influenciam a vida social e as orientações políticas. O nacionalismo e o liberalismo são duas ideologias conviventes que influenciaram as grandes mudanças sociais, econômicas, culturais e políticas que caracterizaram o século XIX, desde a queda do parlamentarismo norte-americano, até o triunfo da industrialização capitalista e o nascimento dos novos Estados.

A primeira metade do século XIX será identificada como a época da onda revolucionária de 1820, nome dado à série de revoluções (1820, 1830 e 1848) que enfrentaram monarquistas e liberais, e que concluíram na restauração da monarquia, porém orientada por princípios constitucionais de caráter liberal. A burguesia fará triunfar o liberalismo nestas revoluções e ficará dominando a sociedade e a produção cultural, até perder a sua índole revolucionária e ser contestada por outras duas ideologias, o marxismo e os monarquistas.

O liberalismo reagiu contra o absolutismo no momento em que a burguesia estava a se consolidar e não pretendia perder sua influência política. O nacionalismo fortaleceu-se depois da Revolução Francesa e do Império Napoleônico, que fizeram acordar a consciência nacionalista nos Estados europeus e da necessidade do equilíbrio de poder para evitar o desastre da guerra. Diante da necessidade de reorganizar as fronteiras europeias, Napoleão I é derrotado, as Nações reuniram-se na capital Austríaca entre outubro de 1814 e junho de 1815 e buscaram retornar à organização europeia anterior à Revolução. Mas nem os liberalistas, nem os nacionalistas ficaram contentes com as decisões do congresso de Viena, e a partir de 1820 enfrentaram-se violentamente contra os princípios da Restauração e, enquanto ideologias tornaram-se mais complexas.

O Liberalismo no século XIXO liberalismo é simplesmente a ideologia que defende a liberdade individual

em todos os sentidos. De forma mais estrita, o liberalismo é um conjunto de ideias políticas, intelectuais, religiosas e econômicas que refletiram os ideais burgueses do século XIX, opondo-se ao despotismo ilustrado e ao absolutismo. Porém, conforme o tempo avançou, aquela famosa definição de Benjamin Constant, deixou de ser suficiente para compreender as características específicas, que cada uma daquelas dimensões propostas por ele foi adquirindo de forma independente.

Page 42: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea42

O Liberalismo Econômico nasceu com a Revolução Industrial. Seu sustento filosófico é que a motivação para o agir do ser humano é o interesse individual, por isso apoia radicalmente a iniciativa privada e ensina que o Estado deve interferir na economia o menos possível, pois ela rege-se pelas suas próprias leis: a livre iniciativa individual, a livre competência e o livre funcionamento das leis do mercado.

O antecedente imediato do liberalismo econômico encontra-se no liberalismo agrário (ou fisiocrata) que já defendia a não intervenção do estado, a livre iniciativa e a existência das ‘leis naturais’ do mercado dos produtos agrícolas (a principal fonte de riqueza). Elas, segundo os teóricos do liberalismo agrário, permitiam a circulação dos produtos pelos quais se reparte a riqueza à sociedade toda.

O principal representante desta doutrina econômica foi o francês Quesnay, embora o liberalismo econômico tenha encontrado seu máximo desenvolvimento na Inglaterra, guiado pela escola clássica do liberalismo, formada por Adam Smith, David Ricardo, Tomas Robert Malthus e J. Stuart Mill. Seus ensinamentos levaram às transformações econômicas e políticas que colocaram a Ilha no topo do mundo no começo do século XX. O liberalismo político rege-se pelos princípios a seguir:

• A Liberdade Individual de expressão, de imprensa e religiosa, pelas quais se rejeita a censura e se defende a laicidade do Estado e do ensino, assim como a desamortização dos bens eclesiásticos.

• A Constitucionalidade: A Carta Magna de cada país deve conceder e proteger todas essas liberdades nos seus cidadãos, limitando o poder do monarca.

• A Soberania Nacional pela qual se constrói a autonomia do país e se reconhece os direitos da legítima defesa nacional, o serviço militar, etc.

• A Divisão de Poderes: Seguindo a Montesquieu, se defende a divisão e independência dos poderes legislativo, executivo e judiciário.

O liberalismo político uniu os interesses da burguesia, dos camponeses, dos operários e dos intelectuais em torno da luta comum contra o absolutismo da Restauração. No entanto, as revoluções de 1830 revelaram as contradições dessa ideologia com os interesses da grande maioria da população e evidenciaram que no sistema proposto por essa ideologia unicamente um grupo social sai favorecido: a burguesia.

Page 43: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 43

A partir de 1830, o liberalismo se dividiu em moderado (também conhecido como doutrinário) e progressista (também conhecido como democrático). Estas são suas características:

Liberalismo moderado ou doutrinário:

• Sufrágio censitário, ou seja, restrito aos cidadãos que cumprissem os requisitos para adquirirem o direito de votar (ser homem, com um determinado nível econômico e de formação, tipo de profissão, e outros).

• Soberania nacional.

• Monarquia Constitucional (com superioridade do rei sobre o Parlamento).

O liberalismo moderado ascendeu ao poder político na França com a Revolução de 1830, e seu teórico mais importante foi Tocqueville. Este liberalismo francês caracterizou-se por centrar-se nos problemas políticos e fazer apelos aos ideais da Revolução Francesa, que ainda não se consolidavam. Na Inglaterra o liberalismo moderado caracterizou-se por preocupar-se mais pelos assuntos econômicos, pois já tinha vivido sua Revolução Política em 1688 e agora estava em plena Revolução Industrial.

Liberalismo democrático ou progressista:

• Sufrágio Universal (ainda que na época fosse um direito exclusivamente masculino).

• Soberania popular.

• Monarquia Constitucional (com superioridade do Parlamento sobre o rei), ou República.

Os liberais da segunda metade do século XIX tiveram que enfrentar o dilema de permanecerem liberais e defender os direitos democráticos, ou apoiar o imperialismo, pois a realização das reivindicações liberais tocantes à ordem política, como o sufrágio, a liberdade de associação, e outros, enfrentaram-se às formas de exercício do poder que caracterizaram os nacionalismos imperialistas.

Page 44: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea44

O nacionalismo no século XIXO patriotismo nacionalista nasceu talvez na Idade Média, entre os grupos de

camponeses que, revoltados contra o feudalismo, encontraram nas suas origens uma fonte comum de identidade e de coerção social. Já no século XVIII, o nacionalismo foi, durante a Revolução Francesa, o sentimento que permitiu considerar a Pátria como uma entidade soberana, em oposição ao monarca. Durante o século XIX, o nacionalismo se desenvolveu inspirado em uma dos principais ideais da Revolução Francesa, o qual diz que todos os povos tem o direito de determinar-se a si mesmos. Ironicamente, as tropas de Napoleão disseminaram as ideias nacionalistas ao tempo que, por serem invasoras, acordaram os sentimentos nacionalistas nos povos subjugados, fazendo-os reagir contra o Império Napoleônico.

Por outro lado, o Congresso de Viena (1814-1815) tinha traçado arbitrariamente fronteiras que deixaram descontentes várias nações e tinha imposto às nações vencidas governantes absolutos. Tudo isso foi fermento para que os sentimentos nacionalistas cobrassem força.

As correntes artísticas também fortaleceram os sentimentos nacionalistas. Em concreto, o Romantismo, entre cujas características destacam sua oposição às formas estereotipadas do neoclassicismo, o racionalismo e a ilustração. Em contrapartida, defende a expressão dos sentimentos do artista na sua obra, a liberdade de criação e a ruptura dos moldes clássicos. Antropologicamente caracteriza-se também por expressar a consciência do Eu, dar a primazia ao espírito criador, valorizar a expressão dos sentimentos perante a frialdade da razão, promover a originalidade e promover os valores e ideais da terra, perdidos durante o absolutismo, como o folclore nacional e os costumes antigos, fonte da identidade nacional.

Paris e Inglaterra foram os principais centros europeus onde se desenvolveu o nacionalismo, embora tenha sido Alemanha o berço dos seus principais teóricos, Herder e Fitche. Herder foi o criador da ideia de Nação como grupo histórico (Volkstum), oposta à ideia de Estado, que é uma criação artificial. Fitche propôs nos Discursos à Nação Alemã a resistência contra Napoleão. Motivadas por essa literatura, formaram-se associações nacionalistas secretas, como a Jovem Alemanha e a Jovem Itália. Se considerarmos que o Romantismo teve, além do mais, sua origem na Alemanha, é fácil concluir que os sentimentos nacionalistas na Alemanha e nos países vizinhos cresceram facilmente.

Embora os movimentos nacionalistas se tornassem virulentos na primeira metade do século XIX, tiveram que esperar a unificação italiana (1861) e alemã

Page 45: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 45

(1871) para começarem a ter êxito, e embora tivessem surgido do liberalismo, os nacionalistas permaneceram liberais somente até depois da revolução de 1848. Iniciada a segunda metade desse século, os nacionalistas se tornaram conservadores e fundamentaram a expansão imperialista.

Para a metade do século XIX, portanto, antes dos movimentos revolucionários, o mapa europeu encontrava-se assim:

Alemanha e Itália ainda eram Estados divididos. Nove nações estavam submetidas a outras: Irlanda estava submetida à Grã Bretanha, Noruega à Suécia, Bélgica à Holanda, Scheliewig e Holstein (territórios alemães) pertenciam à Dinamarca, e Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia, à Rússia.

Havia dois impérios compostos com várias nações: O Império Austro-Húngaro (com territórios em Alemanha, Hungria, Checoslováquia, Polônia, Eslováquia, Eslovênia, Croácia, Sérvia, Romênia e Itália). E o Império Turco, limitado à região dos Bálcãs (ou seja, com territórios em Grécia, Bulgária, Sérvia, Albânia e Romênia).

A onda revolucionária: 1820, 1830 e 1848Europa enfrentou uma grave crise econômica a partir de 1816, surgida, em

parte, pela reestruturação da economia que estava a se adaptar aos tempos de paz. Os preços nos produtos agrícolas oscilaram gravemente, a indústria parou, as forças da Restauração, ainda presentes, impediram implantação dos planos econômicos dos Estados e as massas populares estavam descontentes. Os movimentos revolucionários de 1820 foram instigados pela burguesia com o intuito de promover os ideais do liberalismo e o nacionalismo em um ataque frontal contra o Antigo Regime e a Restauração. As revoltas ocorreram na Península Ibérica, na Rússia, nos Estados Pontifícios, nos Reinos de Nápoles e Sicília, no Piemonte, na Grécia e nas Colônias Espanholas.

Em 1830, as lutas antiabsolutistas iniciaram na França, também movidas pela burguesia. Rapidamente estenderam-se à Bélgica, Itália, Alemanha, Polônia, Áustria, e a Península Ibérica. A jornada revolucionária de 1830 congregou liberais e nacionalistas, a baixa burguesia, o baixo clero e as massas populares, que padeciam com a fome desde 1827.

Na França, houve vários dias de revoltas e enfrentamentos encarniçados, motivados pelas restrições à liberdade e pela fome ocasionada pela crise, Luis

Page 46: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea46

Felipe de Orleans foi entronado contrariando o Congresso de Viena e substituindo a dinastia dos Borbones. Felipe de Orleans era burguês e liberal, o que representou o triunfo do liberalismo e da grande burguesia.

Depois do triunfo liberal em Paris, os liberais belgas sentiram-se fortalecidos. Além do mais, contavam com a anuência do Congresso de Viena e com o clero católico que arengava os cristãos, em apoio aos liberais contra o rei holandês, quem enviou suas tropas contra as massas, que revidaram fazendo os militares fugirem. Bélgica declarou sua independência e instituiu um governo provisório. A nova Constituição, de caráter liberal, estabeleceu um governo parlamentar e a Nação declarou-se imparcial, como a Suíça, status que permaneceu até 1914.

Holanda reconheceu a independência da Bélgica somente em 1839, no entanto, a influência dos movimentos franceses e belgas refletiria na Europa inteira. Os nacionalistas alemães aglutinaram-se em torno da União Alfandegária, movimento prussiano que agrupou os Estados da Confederação, e que promoveu a unificação nacional. Na Itália, as cidades de Parma, Módena e Romagna rebelaram - se contra o papado. Fracassaram diante do exército austríaco, que apoiou o papa, porém ficaram à espreita do momento oportuno para o Risorgimento, que por fim terá êxito sob o comando de Garibaldi.

Ao norte da península italiana, os liberalistas venceram em Zúrich, Ginebra e Basiléia. Embora os cantones suíços não fossem unânimes em sua opção pelo liberalismo e iniciasse uma guerra civil, as famílias tradicionais terminaram perdendo seus privilégios, implantou-se a liberdade jurídica, a liberdade de imprensa e a anistia para os vencidos, que puderam retornar a sua terra.

Na Espanha também houve guerra civil. Ao morrer o rei Fernando VII, os moderados apoiaram a entronização de Isabel II. Os absolutistas queriam entronar seu irmão Carlos, e deram início às guerras carlistas. Ali perdeu o liberalismo. Os nacionalistas polacos também perderam. Eles levantaram-se contra os russos em várias ocasiões, entre 1830 e 1832. Esse último ano a repressão das tropas russas será pesada, e a Polônia ficaria novamente submetida aos russos.

Até a tradicional Inglaterra viu-se afetada pelo liberalismo. No parlamento os shigs (nome dado a ladrões de cavalos presbiterianos que viviam na Escócia) fortaleceram-se o suficiente para enfrentar os tories (salteadores fora da lei própria da região do Reino Unido) e conseguir a reforma eleitoral necessário para favorecer a burguesia e ampliar o voto censitário.

Page 47: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 47

Portanto, a onda de revoluções da década de 30 trouxe consigo a independência da Bélgica e a Constituição Suíça, mas enfraqueceu a Polônia, a qual não poderá gozar de sua independência (embora momentânea) senão até depois da 1ª Grande Guerra. Os levantamentos de 1820 semearam o liberalismo doutrinário, moderado, aliado à alta burguesia, enquanto que os de 1830 consolidaram à alta burguesia no poder e deixaram insatisfeita à baixa burguesia, que pugnava pelo liberalismo democrático.

No final dessas ondas revolucionárias, o Continente Europeu ficou dividido em dois bandos doutrinários e políticos. No oeste, a Europa liberal de Grã Bretanha, Bélgica, França, Portugal e Espanha. No oriente, Áustria, Rússia e Prússia, ainda dominando Europa central e oriental. Mas o nacionalismo continuou a fermentar, preparando as revoluções de 1848. Nesse ano, a crise agrícola, a falta de crédito, a ausência de liberdade, a influência do romantismo e o desejo de criar Estados liberais fizeram explodir uma nova onda revolucionária. Ela estourou em alguns dos países que já tinham padecido a guerra, como a França, Itália e Alemanha. Bélgica já tinha conseguido o que queria. Suíça também, e por isso ficaram em paz. Polônia estava afogada pelos russos. Não utilizou armas, porque não podia. As lutas mais fortes aconteceram nos lugares mais distantes dos ideais liberais, ou seja, na Europa dominada pelo Império Austríaco.

Os motivos das revoltas nas revoluções de 1848 obedecem às circunstâncias políticas diferentes a cada nação e estão localizados em zonas geográficas também diferentes. No oriente europeu o liberalismo democrático lutou por abolir as estruturas arcaicas da monarquia. No ocidente, a guerra substituiu às dinastias monárquicas pelas repúblicas. Ou seja, dentro do liberalismo como um todo existia um enfrentamento interno: os moderados (doutrinários) enfrentaram os democratas. A pequena burguesia, que tinha ficado descontente, e sem poder nas revoluções de 1830, conseguiu o apoio dos operários e atacou a alta burguesia doutrinária. Os democratas lutaram pela abolição do voto censitário e por estabelecer o sufrágio universal. Eles “criticam o liberalismo moderado de pregar somente uma igualdade jurídica e esquecer-se dos fortes contrastes sociais entre ricos e pobres” (LARA, 2012).

O ano de 1848 é o ano das primeiras reivindicações operárias. A Europa está se industrializando a níveis cada vez mais acelerados. As cidades estão crescendo formando bairros operários e junto com o liberalismo democrático e o nacionalismo, surge uma nova força política, ainda que incipiente: o socialismo.

Page 48: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea48

Na França, a Revolução de 1848 destronou o rei Luis Felipe e instaurou a Segunda República, de índole democrática, que será derrotada pelo nacionalismo autoritário do Segundo Império Napoleônico. Nos países mediterrâneos e no centro europeu a onda revolucionária foi mais violenta. Contudo, a historiografia da época nega que se tenham alcançado os resultados esperados, mas a partir da segunda metade de 1848 as colheitas melhoraram, o desemprego diminuiu, os burgueses ficaram sem o apoio do proletariado, que por crescer cada vez mais se fez, para os empresários e pequenos burgueses, um peso insustentável. Por outro lado, essas forças, antes unidas, ficaram sem um motivo comum que as aglutinasse, impossibilitando-lhes chegarem ao poder e constituir um Estado soberano e autônomo.

No entanto, as revoluções de 1848 não podem considerar-se um fracasso explícito, pois conseguiram alguns avanços sociais como o sufrágio universal (masculino) na França, a abolição da servidão e a libertação dos camponeses no Império Austríaco, a experiência piemontesa italiana, antecedente da unificação do País, o fortalecimento do Estado Prussiano e o Parlamento de Frankfurt.

As unificações da Alemanha e da ItáliaO momento mais forte dos nacionalismos aconteceu na metade do século

XIX. Uma de suas consequências mais notáveis foi a da formação de Nações a partir da unificação de Estados. Isso aconteceu na Alemanha e na Itália, que ainda tinha algumas regiões sob o domínio austríaco.

O nacionalismo alemão já vinha se formando desde a existência do Sacro Império, na Idade Média (o I Reich), mas na Itália não existiu nenhum projeto unificador importante senão até o século XIX. No entanto, o reino de Piemonte e Sardenha conseguiu dirigir a unificação da Itália. O mesmo sucedeu com o Reino de Prússia que promoveu a unificação Alemã. Ambos os acontecimentos foram possíveis porque se deram alguns elementos que possibilitaram essas uniões. Lara (2010) cita:

• O impacto da Revolução Francesa e do Império Napoleônico.

• As diversas concepções do nacionalismo, surgidas entre 1815 e 1870.

• A expansão econômica em ambos os casos e a união comercial como prelúdio da unificação política, no caso alemão.

• A disposição de um exército moderno e o agir de políticos audazes.

Page 49: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 49

Desde 1815 a Península Italiana estava dividida em oito Estados: O reino de Piemonte e Sardenha, ao Norte; os Estados de Lombardia e Veneza submetidos ao Império Austro-Húngaro; Parma, Módena e Toscana, sob o domínio da Áustria; os Estados Pontifícios, regidos pelo Papa, e o reino das duas Sicílias, sob a dinastia dos Bourbons.

A unificação não foi um processo fácil, mas doloroso e sujeito à oposição dos monarquistas e dos impérios austríaco, russo e prussiano, a Santa Aliança-, cuja intervenção fez fracassar todas as tentativas de unificação realizadas entre 1815 e 1849 (a chamada ‘primeira fase da unificação’). As lideranças das primeiras tentativas, exiladas em Paris e Londres, cultivam o sentimento nacionalista e começam a planejar o Risorgimento, movimento que nos anos trinta e quarenta se concretizaria em diferentes projetos para lograr a reunificação. Mazzini e Garibaldi projetaram a formação da República Unitária; Gioberti, a República Federal e Victor Manoel e Cavour o projeto de uma Monarquia Constitucional.

No norte, o reino de Piemonte e Sardenha é o território mais liberal, pois contava com uma burguesia crescente. As revoluções de 1848 tinham deixado para os Piemonteses uma Constituição Liberal, mas a insurreição contra os austríacos fracassou em Lombardia e Veneto, assim como as tentativas de unificar Nápoles e de tomar do Papa os territórios pontifícios.

Saiba mais:

Santa Aliança - Acordo político assinado em 26 de setembro de 1815 pelos impérios Russo (Alexandre I), Austríaco (Francisco I) e Prussiano (Frederico Guilherme III), logo depois da derrota definitiva de Napo-leão. Essa aliança objetivou frear as ideias liberais francesas e inglesas e fazer manter as monarquias absolutistas na Europa enfrentando a onda revolucionária.

Na segunda fase da unificação (1859-1861) destacam personagens como Vítor Manoel II (Rei de Sabóia) e seu ministro, o Conde Cavour, que planejou a unificação de forma muito realista, pois percebeu que esta não seria concretizada sem a anterior expulsão dos austríacos, o apoio diplomático da França e o crescimento econômico da região do Piemonte.

O levantamento contra Áustria iniciou em 1859. Com a expulsão de seus exércitos dos territórios de Lombardia, esta se unificou ao território de Piemonte. Porém não foi possível vincular Veneza.

Page 50: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea50

Em 1860 o centro da Itália (Parma, Módena e Toscana) uniu-se ao Piemonte (no norte) pacificamente, através da realização de plebiscitos populares e da formação de um parlamento comum. França apoiou politicamente a adesão, em troca dos territórios de Niza e Saboya, cedidos no Tratado de Turim.

O resto do território, na parte meridional, conseguirá sua unificação a partir de 1960 até 1961. Os liberais, com mais de mil soldados comandados por Garibaldi e Cavour, avançaram para Sicília. Esses militares eram, na maioria, descendentes da burguesia italiana, e estavam decididos a apoiar aos sicilianos contra o rei Francisco II. Garibaldi entrou em Nápoles e destituiu a dinastia Bourbon em setembro de 1860, anexando as duas Sicílias (A ilha de Sicília e o reino de Nápoles, no sul da Itália). Ao mesmo tempo, um exército de voluntários vindos do Piemonte atravessou os Estados Pontifícios e chegou ao sul da Itália, anexando a região de Marcas e da Úmbria.

Garibaldi não conseguiu chegar a Roma, mas os representantes dos Estados já anexados enviaram a Turim seus representantes, formando o primeiro parlamento do novo reino, o qual proclamou a Vítor Manoel II, da dinastia dos Saboya, como rei da Itália. Cavour tornou-se ministro de governo e terá a difícil tarefa de consolidar a unificação, fazer desenvolver a economia interna e procurar o reconhecimento internacional do novo reino.

A terceira fase do processo de unificação da Itália (1861-1870) se caracterizou pela incorporação de Veneza e a solução do conflito com o Vaticano, a chamada questão Romana. A unificação de Veneza deu-se dentro do contexto da guerra austro-prussiana. Itália apoiou à Prússia e quando ela venceu em Sadowa, Itália tomou posse de Veneza para si, expulsando os austríacos definitivamente da Península.

A questão romana foi mais complicada. O novo reino da Itália, com apoio quase unânime da população, se apossou da Cidade de Roma como sua capital. Mas o Papa Pio IX desejava conservar a autonomia da Igreja e a soberania sobre Roma e o Lácio. Napoleão III apoiou o Papa, buscando ganhar para si o apoio dos católicos franceses. A solução veio como resultado da guerra entre Prússia e a França, onde Napoleão III teve que abdicar (outubro de 1870). Já sem o perigo do exército francês apoiando o Papa, o exército italiano invadiu Roma, e em 2 de outubro de 1871 a Cidade Eterna foi proclamada capital do Reino.

O Papa, que tinha protestado perante o mundo dizendo sentir-se prisioneiro dos italianos no Vaticano, não verá solucionada sua questão. Seu sucessor, Pio XI, será o responsável de assinar o tratado de Letrão diante de Mussolini, em fevereiro de 1929.

Page 51: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 51

A unificação da Alemanha foi possível pela comunhão de várias circunstâncias: A presença da dinastia Hohenzollern, o reino de Prússia, os junkers prussianos, a burguesia industrial e força de Bismarck.

Como foi visto nesta unidade, ao estudar a unificação italiana, a Alemanha também foi dividida em três fases:

A primeira fase da unificação alemã (1815-1848) foi motivada pela anterior ocupação francesa, a qual fez desenvolver a consciência nacional na região prussiana. Como consequência do Congresso de Viena, o território alemão ficou dividido em 39 Estados, os quais formaram a Confederação Germânica. Eles eram os reinos de Baviera, Hannover, Saxônia, Wutemberg e Prússia, o Império Austríaco, 29 ducados e principados (chamados também grandes ducados), e quatro Cidades Livres.

O século XIX foi favorável ao desenvolvimento alemã. Economicamente desenvolveu-se através da construção das vias férreas e a organização de bancos e associações. O nacionalismo germano tinha sido semeado pelos intelectuais e políticos do tamanho de Schiller, Arndt, Kleist e Fichte, de tal forma que, apesar da grande variedade de fronteiras, todos os territórios souberam reconhecer o valor comum que os unia: a língua.

Os centros acadêmicos alemães, principalmente Bonn, Jena, Heidelberg e Kiel converteram-se em centros propagadores do idealismo e do nacionalismo de tal forma que os intelectuais terminaram por abraçar essas ideias e difundi-las entre os jovens estudantes. Nesse ambiente, Áustria foi, aos poucos, ficando fora do jogo político, cedendo espaço para Prússia, que a partir de 1815 promoveu o crescimento econômico e a unificação alemã:

“(Prússia) toma a iniciativa de agir com suas lideranças e sua burguesia,

protestante e intelectual, a favor da consolidação política e do progresso

socioeconômico com a aspiração à unidade, e iniciando um desenvolvimento

econômico que haverá de abranger vários aspectos: o inicio da

industrialização em regiões como o Ruhr, Silesia e Berlim, o incremento do

transporte ferroviário, e especialmente com a União Alfandegária, que cria

uma zona de livre comércio com os Estados alemães” (LARA, 2010, p. 13).

Page 52: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea52

A segunda fase da unificação alemã estende-se desde 1848 até 1862, e correspondem à fase bélica do processo. Os levantamentos iniciam mais ou menos simultaneamente em Baviera, Baden, Hannover, Saxônia e Prússia, onde os liberais conseguiram algumas concessões e cátedras nos ministérios.

Em maio de 1848 o Parlamento de Frankfurt, que já estava integrado por representantes eleitos nos diferentes Estados alemães e que eram majoritariamente nacionalistas liberais e democratas moderados, encontrava-se ideologicamente dividido.

A unidade alemã era assunto comumente aceito, porém havia diferentes posições contraditórias acerca da forma em que essa unificação devia acontecer. Em um grupo estavam os partidários da “Grande Alemanha”, que incluía Áustria. Em outro, os partidários da “Pequena Alemanha”, que excluía Áustria e pugnava pelo predomínio da Prússia. Em um grupo estavam os partidários de um Estado autoritário. No outro, os que queriam um governo liberal. E entre os que queriam um Estado liberal as opiniões se dividiam: “Censitário ou democrático, centralizado ou federal, império eletivo ou hereditário” (LARA, 2010). No meio dessa variedade de opiniões, o Parlamento viu-se incapaz de organizar a almejada união alemã, e ficou sem autoridade moral perante os Estados.

Nesse ambiente produziram entre dezembro de 1848 e maio de 1849 novos levantamentos armados promovidos por milícias armadas advindas do ambiente popular, dos campos e das cidades, e inclusive participaram de movimentos operários influenciados por Marx, de tal forma que o Parlamento chegou a ser dissolvido em maio de 1849. Desde esse ano, até 1862, Alemanha viverá um período de paz e de crescimento econômico e industrial no qual Prússia irá congregando através de diversas iniciativas, as forças dispersas do nacionalismo, o liberalismo e a unificação econômica. Entre 1851 e 1852 essa união econômica estará consolidada (zollverein).

Saiba mais:

Zollverein é o nome da aliança aduaneira que teve como meta a liberdade alfandegária para os 39 estados alemães, o que favoreceu a liberdade entre as suas fronteiras internas facilitando assim o maior comércio e uma maior estrutura para os processos industriais, excluindo a Áustria, que era rival da Prússia.

Page 53: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 53

A unificação política e geográfica (terceira fase da unificação alemã) haveria de esperar até 1871, e haverá de realizar-se sob o comando de Bismark, chanceler de Guilherme I, entronado em 1861.

O projeto político de Bismark tinha um objetivo fundamental: realizar a união alemã beneficiando a Prússia e excluindo a Áustria. Para fazer isso, Bismark teve que rodear-se de ministros fortes, capazes de suportar a oposição, reorganizar e fortalecer o exército e agir diplomaticamente para conseguir a neutralidade da Prússia, da França e da Rússia, e neutralizar a Áustria, colocando Prússia a frente do Estado Alemã Unificado. Bismark conseguirá tudo isso entre 1864 e 1871, a custa de três guerras sucessivas:

• A guerra dos ducados (1864): Em 1 de fevereiro de 1864 Bismarck, comandando os exércitos de Prússia, com o apoio do imperador austríaco Francisco José, decide invadir dois ducados dinamarqueses, Schleswig-Holstein e Saxônia-Lauenburgo, que tinham sido unidos por Dinamarca no Protocolo de Londres (1852). A guerra foi relativamente rápida, e encerrou-se em 30 de outubro do mesmo ano, com o tratado de Viena, que cedeu a administração dos territórios ocupados as duas potências. Prússia e Áustria tentaram administrar conjuntamente o território, conforme os acordos que assinaram na Convenção de Gastein, em 14 de agosto de 1865, porém as divergências ideológicas-políticas levariam ambos os países a guerra.

• A guerra Áustro-Prusiana (1866): O papel diplomático de Bismark nesta guerra foi decisivo, pois ele conseguiu a neutralidade da Rússia, da França e da Inglaterra, e conseguiu o apoio da Itália contra os austríacos, porque eles mantinham a posse da Venécia. Bismark invadiu o lado austríaco de Hostein e venceu seu exército numa só batalha, em Sadowa (Königgrätz, para os alemães). Apesar de breve (14 de junho a 23 de agosto), esta batalha significou para Prússia passar a ser o Estado preponderante e supremo na confederação germânica.

• A guerra entre França e Prússia (1870-1871): Foi a guerra europeia mais importante desde as guerras napoleônicas e uma das causas da primeira Guerra Mundial. Iniciou em 19 de julho de 1870 e terminou em 10 de maio de 1871.

Com a França seccionada e humilhada a guerra franco-prussiana ocorreu assim: depois da vitória em Sadowa, Bismarck estendeu rapidamente seu domínio

Page 54: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea54

aos territórios do norte da Alemanha, consolidando o controle alfandegário em toda a fronteira mediante o Zollparlament (o Parlamento de Alfândega), o que preocupou o Imperador Napoleão III. Ele mobilizou o exército, ameaçando a Bismark para que não anexasse os territórios do sul da Alemanha (Baviera, Wurtemberg y Baden) nos quais a França tinha influência e interesses econômicos, em Luxemburgo. Mas, apesar das tensões, a guerra não foi declarada senão até a famosa manobra de Bismark, quem de fato tinha interesse no conflito bélico, e publicou na imprensa o resumo manipulado de um telegrama do rei prussiano, que provocou a guerra.

Acontece que o trono espanhol estava vazio, e o General Prim procurava candidatos ao trono, mas os franceses pediram que o candidato alemão (Leopoldo de Hohenzollern-Sigmarigen) renunciasse a sua candidatura. O rei Guilherme se opôs a isso e escreveu um telegrama a Bismark expondo sua posição, porém Bismark o manipulou excluindo os parágrafos que o faziam politicamente e diplomaticamente, correto, resultando em um texto depreciativo que exaltou a ira do imperador da França. Ele declarou aguerra em 19 de julho.

Os franceses, que já estavam posicionados na fronteira, foram os primeiros a movimentar-se adentrando nos territórios fronteiriços, porém os alemães revidaram e, em menos de uma semana, já tinham recuperado os territórios invadidos, e fizeram recuar a França, a qual se viu surpreendida com o apoio maciço de todos os Estados alemães, inclusive os do sul. Os alemães foram ocupando França, derrotando seus exércitos em Froeschwiller-Woerth, Mars-la-Tour, Saint-Privat-la-Montagne, Loigny e em 1 de setembro, em Sedan.

A batalha de Sedan foi a mais importante e decisiva. Depois de perder em Loignny os franceses somente contavam com a companhia comandada pelo Marechal Patrice de MacMahon e uma outra companhia sitiada em Metz. MacMahon, no lugar de retirar-se a Paris, tratou de liberar Metz. Napoleão III estava dirigindo a batalha. O exército francês dirigiu-se para o Norte, rumo à Bélgica, com a intenção de girar e chegar a Metz, mas os alemães descobriram seus planos e os interceptaram.

Os dias 30 e 31 de agosto houve intensos combates nas zonas de Meuse e Bazielles. O exército francês estava exausto, e retirou-se à cidade amuralhada de Sedan. No passo, os aldeãos ironizavam dos soldados. Já, atrás das muralhas, os 120 mil soldados franceses começaram a passar fome. Os alemães tinham sitiado a cidade. A única saída possível, onde ainda havia tropas francesas, era por La Moncelle, mas os alemães tinham bloqueado a rota com mais de 400 canhões. A cavalaria francesa arremeteu três vezes contra ela, porém tanta coragem não foi

Page 55: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 55

suficiente para desbloquear a saída. Napoleão III mandou deter a carnificina, e para evitar a população morrer de fome, entregou-se aos prussianos. Para essa época já tinham morrido 3.000 franceses e 2.300 alemães, e ainda morreriam mais dentre os mais de 20.000 feridos.

Mas a rendição de Napoleão III não significou o fim da guerra. Quando a notícia da rendição chegou a Paris, uma revolta popular derrocou o 2º Império e instaurou a 3ª República. Comandados pelo General Moltke, os prussianos avançaram até Paris, onde se detiveram. Os republicanos tinham se petrechado formando barricadas nas ruas para defender sua cidade, e para não sacrificar a vida de seus homens em uma guerra urbana de guerrilhas, o General Moltke não atacou a cidade, mas a submeteu a um sitio que duraria até as reservas dos franceses terminarem, quatro meses depois. Quando os cidadãos começaram a morrer de fome, o General Louis Trochu e o governo republicano renderam-se aos prussianos, ainda que contra a vontade popular. Era o dia 10 de maio de 1871.

Entretanto, França foi obrigada a pagar 5.000 milhões de Francos pela guerra, foi proclamado o II Império Alemã, o rei Guilherme foi coroado Imperador do Reich, Bismark ascendeu a Chanceler e Alemanha anexou os territórios de Alsacia e Lorena. Tudo isso aconteceu, para humilhação dos franceses, no palácio de Versalhes.

A guerra franco-prussiana abriu as portas à chamada Paz Armada e aos Blocos de Alianças. Além do mais, em Paris, ainda antes da guerra terminar, formar-se-ia um governo revolucionário apoiado pelos socialistas e pelos anarquistas que formariam a Comuna de Paris.

Saiba mais:

Paz Armada - Foi um período prolongado de paz relativa, entre 1870 e 1914, onde apenas houve alguns conflitos rápidos como a guerra entre russos e turcos (1878), chineses e japoneses (1894), mexicanos e nor-te-americanos (1898), a guerra dos boers na África do Sul (1880-81).

A Comuna de Paris foi um breve governo operário formado por um grupo de deputados que se fez com o poder com ocasião da invasão prussiana à França. Durou de 26 de março a 28 de maio de 1871, quan-do foi derrotado pelas forças de Thiers, vinte mil adeptos à Comuna foram executados.

Page 56: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 57: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 57

4NACIONALIDADE E MINORIAS

NACIONAISCONHECIMENTO

Entender as principais etnias, seu lugar de origem e sua localização na Europa, como meio de compreensão do nacionalismo que levaram aos grandes conflitos

armados no século XX.

HABILIDADESIdentificar as principais etnias, sua origem e sua localização na Europa.

ATITUDESPosicionar-se criticamente sobre as etnias da Europa e os conflitos armados.

Page 58: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 59: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 59

Nacionalidade e minorias Nacionais

Resulta básico distinguir às minorias nacionais (sociedades distintas e potencialmente autogovernadas incorporadas a um Estado mais amplo) dos grupos étnicos (imigrantes que abandonaram sua comunidade nacional para incorporar-se a outra sociedade). As minorias nacionais e os grupos étnicos distinguem-se dos grupos que costumam chamar-se novos movimentos sociais – associações e movimentos de gays, mulheres, pobres, ambientalistas e portadores de deficiências – que foram marginalizados dentro de sua própria sociedade nacional ou de seu grupo étnico (KIMLICKA, 1996, apud DÁVILA, 2008, p. 19).

As minorias nacionais ocupam territórios históricos, reclamam politicamente esse território e diferenciam-se étnica e linguisticamente do grupo majoritário e dominante. Nesse sentido, aproximam-se do que se conhece como uma ‘nação sem Estado’, sobretudo quando o conceito ‘Nação’ está ligado a critérios culturais, e não sociais ou político-administrativos. A questão das minorias nacionais, diz Dávila (2008), não é homogênia, e se manifesta de forma diferente nos contextos particulares de cada país.

Durante o período de paz havido entre a I e a II Guerras Mundiais, surgiram muitos conflitos ligados às reivindicações das minorias nacionais e aos movimentos nacionalistas que não tinham conseguido seus objetivos até a I Guerra, principalmente na região centro-oriental da Europa, e mais especificamente na região dos Bálcãs, com os croatas, os eslovacos, os ucranianos e os macedônios. Porém, entre 1914 e 1939, as chamadas minorias étnicas estavam assim distribuídas na Europa oriental: Na Polônia havia ucranianos, rutênios, judeus, bielorrussos, alemães e lituanos. Na Checoslováquia moravam alemães (como grupos minoritários), húngaros, rutênios, eslovacos e judeus. Na Hungria viviam alemães judeus, eslovacos, croatas e romenos. Na Romênia também havia uma população alemã, húngaros, albaneses e eslovacos. Na Bulgária viviam turcos e judeus e na Estônia, Letônia e Lituânia as minorias nacionais estavam constituídas por russos, alemães, polacos e judeus, fundamentalmente (LARA, 2015).

Tão grande heterogeneidade étnica provocou no período havido entre as grandes guerras, diversos tipos de problemas. O primeiro deles foi que as minorias étnicas foram as grandes prejudicadas nos tratados de paz e nas divisões fronteiriças resultantes deles. Outro grave problema para as minorias, às vezes resultante do

Page 60: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea60

primeiro, foi a grande separação das minorias com relação a seu Estado natal, situação agravada pela disseminação nas regiões europeias. E por último, é digno ressaltar que, depois da paz de Versalhes surgiram governos autoritários na Europa oriental que, a partir dos anos ’20 vitimaram às minorias com sua política repressiva.

Lara (2015) ressalta os exemplos das minorias em Polônia e na União Soviética.

[...] na terceira década do século XX apareceram uma série de lideranças das minorias nacionais, partidárias de soluções antidemocráticas, que agravaram a crise econômica e devaluaram ainda mais a democracia liberal dos Estados da Europa Central. Tudo isso levaria as minorias a radicalizarem suas posturas para conseguir seus objetivos, e procuraram o apoio dos Estados-madre. Assim, na Polônia, as relações entre o Estado e as minorias étnicas pioraram entre 1919 e 1926, até o golpe de Estado de Pilsudski, em maio de 1926, cujo governo tentou estabelecer pactos entre os partidos e as minorias. Deste modo, os partidos representativos dessas nacionalidades se incluíram no Bloco Legislativo da Cooperação

não Partidarista com o Governo, até que em 1928 decidiram formar seu próprio Bloco de Minorias. Isso provocou que em 1930 o governo de Varsóvia empregasse a violência contra a atividade pública desses partidos e a situação somente melhoraria depois da morte de Pilsudski, em 1935. Não obstante, a repressão contra as minorias étnicas se reavivaria a partir de 1937. [...] A maioria das minorias nacionais da URSS ficou sob controle dos Volcheviques em 1922, pela ação combinada do Exército Vermelho e o Partido Comunista em cada nacionalidade. Assim, embora a Constituição de 1924 defina à URSS como um Estado Federal, exerceu-se uma cruel repressão contra todas as tentativas separatistas. Assim, nos anos ’30, a política soviética de ‘nacionalidades’ se alicerçou no equilíbrio da firmeza e a tolerância onde o Estado agia como árbitro entre a maioria e as minorias étnicas (LARA, 2015, p. 19).

Nem todas as minorias étnicas europeias apresentaram os mesmos níveis de conscientização com relação à sua nacionalidade, estrutura social e unidade. Essa é a razão pela qual nem todas as minorias ficaram uniformemente integradas aos Estados onde elas radicavam. No entanto, a tendência geral entre todas elas foi a de criar partidos étnicos, fundar associações culturais, promover a preservação da língua-mãe mediante a fundação de escolas nacionalistas e o apoio econômico da Nação-mãe (quando este existia).

Page 61: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 62: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 63: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 63

5MUNDO ENTRE GUERRAS

CONHECIMENTOConhecer os antecedentes, as causas imediatas, as principais etapas e

consequências das Guerras Mundiais acontecidas no século XX, conhecendo os principais nomes e os acontecimentos que marcaram o andamento das Guerras.

HABILIDADESIdentificar as etapas, consequências e alianças das Guerras Mundiais e os fatos que

marcaram os acontecimentos entre as Guerras.

ATITUDESPosicionar-se criticamente em relação as grandes Guerras Mundiais.

Page 64: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 65: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 65

A Primeira Guerra MundialO continente europeu sempre teve uma história agitada. O Século XIX tinha

findado trazendo progresso cultural e bem-estar material a Europa. Os avanços científicos refletiam-se no prolongamento da vida e até os operários tinham deixado de sofrer a fome e a dor que tinham padecido no início do século. Embora ainda estivessem na pobreza, os sindicatos e os partidos socialistas esforçavam-se por garantir um mínimo de condições e de proteção social. No começo do século XX, Europa encontrava-se no ápice de seu poder e os Estados europeus repartiam o mundo entre si com seus impérios coloniais. A civilização europeia servia de modelo de civilização em todas as partes do Globo. Ainda que a Rússia e a Áustria-Hungria carecessem de liberdade política, o povo vivia em condições mais ou menos civilizadas.

De fato os povos europeus nunca tinham vivido melhor do que no começo do século XX. Porém, esse crescimento econômico e social acompanhou o desenvolvimento da chamada segunda revolução industrial, a qual se caracterizou por uma série de mudanças que desafiaram as nações a conseguir territórios onde expandir-se e satisfazer suas necessidades. Essas mudanças referem-se aos novos tipos de energia (petróleo e eletricidade); novos setores de produção (químico, siderúrgico e de alimentação); novas formas de organização laboral taylorismo, a concentração dos capitais em torno das grandes agrupações monopolizadoras e a crescente globalização da economia.

Saiba mais:

Taylorismo: Refere-se à forma de produção em série, idealizada pelo economista F. Taylor († 1815), na qual se cortam gastos e se aprimora o tempo e a matéria prima com o trabalho especializado e repetitivo, movido à base de metas que os operários devem alcançar em um pe-ríodo predeterminado de tempo.

Ao mesmo tempo surgiram novas potências industriais, Estados Unidos e Japão, que se aliaram à Grã Bretanha, à França e à Alemanha. A Alemanha, sempre mais competitiva e com uma indústria mais moderna, se colocou como líder incontestável em setores de produção como o siderúrgico e o químico, ao tempo que se converteu em um acérrimo competidor comercial da Inglaterra, tanto na Europa (Bélgica, Holanda e Rússia) quanto nas colônias.

Page 66: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea66

Essa foi a causa de cultivo que elevaria progressivamente as tensões entre os países e os levariam a investir na indústria bélica.

Porém a competição entre exportadores alemães e ingleses era muito dura

em quase todos os mercados europeus (...) Em 1898, as compras efetuadas

por França na Alemanha chegavam apenas a três quintos das que eram

efetuadas por ela na Grã Bretanha. Em 1913, as importações alemãs e

inglesas encontravam-se quase no mesmo nível. Na Bélgica, onde em

1898, eram mais importantes as importações inglesas que as alemãs, agora

as alemãs ultrapassavam em 200 milhões de francos belgas às inglesas. Os

holandeses compraram, em 1913, 1.051 milhão de florins em mercancias

alemãs, e somente 356 milhões em mercancias inglesas. Na Itália, onde o

comércio inglês tinha conservado clara preponderância até final do século

XIX, a situação tinha se invertido; as importações alemãs (626 milhões de

liras) ultrapassavam 50 milhões de liras em 1912 às importações inglesas.

Na Rússia, as importações alemãs chegaram a quadriplicar as importações

inglesas. Por último, a supremacia do comércio alemã sobre o inglês, desde

1890 na Romênia e desde 1901 na Sibéria, chegou em 1911 a Bulgária

(RENOUVIM, 1990).

Durante o século XIX a Grã Bretanha e a França tinham dividido entre si a maior parte do mundo, e no início do século XX o poderio econômico alemã superou àquelas duas potências. No entanto, esse poderio não lhe tinha garantido mais territórios dos que possuía em Togo, Camarões e alguns arquipélagos no Pacífico. Justificando sua necessidade de expandir-se territorialmente na Europa e na ultramar, Alemanha não ocultava suas ânsias expansionistas, para desagrado das potências tradicionais, suas competidoras, que trataram de impedir Alemanha de se expandir. Em torno dessa tensão aconteceram alguns episódios conhecidos como a antessala da I Guerra Mundial. Foram os episódios das crises dos Bálcãs e de Marrocos.

Page 67: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 67

A antessala da I Guerra MundialBanhada pelo Mar Adriático, o Mar Egeu e o Mar Negro, ao sudeste da Europa,

encontra-se uma região montanhosa chamada Penísula Balcânica. Atualmente dividem sua administração Albânia, Bósnia-Herzegovina, Bulgária, Croácia, Eslovênia, Grécia, Itália, Kossovo, Macedônia, Montenegro, România Servia e a região europeia de Turquia, Istambul. Na península fala-se ainda hoje uma grande variedade linguística, sendo a mais comum a língua eslava (búlgaro, servo-croata, esloveno e macedônio), mas também, fala-se a língua grega, a albanesa, a romana e outras línguas latinas como a moldávia. Em algumas regiões fala-se o húngaro, o alemão, o turco o romani (dialetos falados por ciganos) e outras línguas ciganas. Ainda há judeus que falam o yiddish, o dialeto que falavam os judeus na Espanha, antes de sua expulsão (em 1492).

Atualmente é fácil pensar nas dificuldades que podem surgir quando tantas culturas, línguas e religiões convivem em um espaço tão pequeno. Imaginar que cada uma dessas culturas pretenda formar um Estado independente, ou que alguém pretenda uni-las basta uma só autoridade, permite-nos deduzir que como resultado somente pode surgir o caos.

No entanto, foi o que aconteceu na primeira década do século XX, entre 1907 e 1909, quando Sérvia pretendeu a união de todas as minorias para formar a União dos estados Eslavos do Sul, Yugoslávia. Aproveitando a instabilidade, Rússia e Áustria interferiram. Rússia pretendeu anexar a seu território uma saída ao Mar Mediterrâneo, e deu apoio a Sérvia. Áustria-Hungria, que na época não tinha mais colônias, pretendia estender-se para o sul. A tensão entre as duas potências aumentou por causa de Bósnia, que se incorporou a Áustria aliando-se a Alemanha, que por sua vez exigiu do Czar o reconhecimento dessa união. Quatro anos mais tarde haveria guerra entre os povos da Península Balcânica.

A primeira crise no Marrocos (1904-1906) estourou pelas pretensões francesas de criar um protetorado em Marrocos, ao que se opuseram Espanha e Alemanha, que também tinham interesses nesse território. Alemanha viu a oportunidade de deter a expansão colonial francesa e de obter ainda ganâncias territoriais, em tanto que a Inglaterra apoiou à França em troca dela renunciar a apropriar-se do Egito. Espanha, por outro lado, obteve o apoio da França para ficar com uma parte do território marroquim. A grande perdedora nessa divisão foi Alemanha, que se levantou para garantir a independência dos governos locais contra o imperialismo francês.

Em março de 1905 o imperador Guilherme II visitou o Tanger, e a tensão cresceu ainda mais entre alemães e franceses, a ponto de ficarem próximos da

Page 68: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea68

guerra. Para evitá-la, em 1906 se realizou a Conferência de Algeciras. Nela, as potências participantes admitiram a independência do Marrocos e reconheceram a soberania do Sultão Muley Hafiz e a tutela francesa. Em contra partida, acordaram o livre comércio em Marrocos de todas as nações assinantes e permitiram a Espanha controlar o norte da cordilheira do Rif (o Marrocos espanhol).

O conflito internacional podia ter iniciado já nesta crise, pois França e o Reino Unido tinham assinado em 1904 o pacto conhecido como Entente Cordiale. Três anos depois, a Rússia passaria a formar parte dele, formando a que haveria de chamar-se mais tarde, a Tríplice Entente.

A segunda crise marroquina aconteceu em 1911, quando França transgrediu o Tratado de Algeciras. Para fazer valer seus direitos, Alemanha enviou o navio de guerra Panther para atacar no porto de Agadir. Pressionada por Inglaterra, que queria evitar o conflito, França cedeu a Alemanha parte do Congo em troca do direito de agir em Marrocos. Ainda que o conflito não tivesse explodido nesse momento, a porta de entrada à Grande Guerra já tinha sido aberta.

As causas imediatas à Primeira Guerra MundialAs causas imediatas do conflito bélico encontram-se na disputa territorial

das potências europeias que estão a dividir-se o mundo. Mas de forma sintética podemos enumerar alguns acontecimentos mais marcantes:

• O desejo da França por recuperar os territórios de Alsacia e Lorena, arrebatados por Alemanha em 1871, e o crescente repúdio popular francês às políticas de germanização desses territórios.

• A Polônia está dividida entre Rússia, Áustria e Prússia. A administração austríaca tolera o nacionalismo polaco, porém não a prussiana, que impõe a germanização de seu território. Por sua parte, Rússia apoia o nacionalismo polaco para que toda Polônia se unificasse e se unisse ao território russo. Mas Pilsundski, o líder polaco dos nacionalistas, agia no território austríaco contra a Rússia, gerando a desconfiança desse império.

• As guerras balcânicas: Na primeira guerra balcânica (1912), Sérvia, Bulgária, Grécia e Montenegro associaram-se para derrocar o império turco. Depois da guerra, Grécia assumiu Creta e as ilhas do Mar Egeu. Sérvia ficou com Macedônia, e Bulgária procurou uma saída pelo território Turco rumo ao mar

Page 69: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 69

Egeu. Na segunda guerra balcânica (1913) Bulgária atacou Sérvia e esta foi defendida por Grécia, România, Montenegro e Turquia. No fim do conflito, Albânia se tornou independente e Bulgária perdeu parte de seu território para Grécia e România. Alemães, austríacos, italianos e russos apoiaram uma ou outra nação, alimentando o ódio e as rivalidades entre eles.

• Diante dessas rivalidades, as nações entraram numa carreira armamentista sem precedentes: direcionaram a produção industrial à produção de armas e de artefatos bélicos; aumentaram o tempo para o serviço militar obrigatório para três anos e elevaram o orçamento do exército. De entre todas as nações a se armarem, sobressaiu Alemanha. Ela criou uma frota maior do que a frota Inglesa, e construíram submarinos. Tal fato fez entrar os franceses e os ingleses em pânico.

• O crescimento da indústria alemã e a substituição dos produtos ingleses pelos alemães no mercado europeu e colonial.

• O dia 28 de junho de 1914, o sérvio Gavrilo Princip, um jovem membro de um grupo liberal radical assassinou o arquiduque herdeiro ao trono austríaco, Francisco Ferdinand de Habsburgo e a sua esposa, em Sarajevo. O imperador alemão Kaisser Guilherme II, o Chanceler Bethmann-Hollwed e o exército viram nessa ação uma boa oportunidade para modificar a situação pela via militar, e instigaram Áustria a que respondesse de forma rápida e contundente. O governo austríaco ocultou sua atividade tentando influenciar a opinião pública inglesa para que o país se negasse a entrar em guerra contra Alemanha. O dia 23 de julho, Áustria lançou um ultimato a Sérvia em termos tão rigorosos que tiveram que rejeitá-lo. Áustria pretendia passar por um processo diplomático no qual esperaria a resposta de Sérvia, romperia relações, e mobilizaria o exército. Mas Alemanha pressionou para que a declaração de guerra fosse imediata, e esta aconteceu no dia 28 de julho de 1914, um mês depois do atentado.

De entrada, os alemães ficaram confiantes, pensando em que a vitória viria rápida e contundente, como na guerra com a França, em 1870, quando Guilherme I, rei da Prússia e seu Ministro Chefe de Governo Otto Von Bismarck conseguiram derrocar a Napoleão III e unificaram a Alemanha arrebatando dos franceses os territórios de Alsácia e Lorena. Mas os alemães não faziam ideia de que todas as potências, unidas por alianças militares, responderiam à agressão. A verdade é que o conflito se generalizou imediatamente: a Rússia interveio em favor da Sérvia contra a Áustria. Alemanha declarou guerra a Rússia e a França, e quando os alemães invadiram Bélgica, a Inglaterra entrou no conflito.

Page 70: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea70

Contudo, logo depois da guerra franco-prussiana, os alemães tinham idealizado o plan Schlieffen, com a ideia pré-concebida de atacar a França antes que os russos tivessem tempo de organizar-se, e assim, neutralizados os franceses, os alemães pudessem centralizar seus esforços contra os russos. Esse projeto, idealizado em 1891 pelo Geral Moltke comprova que os alemães eram conscientes de que em qualquer momento um conflito de índole internacional poderia estourar, e, no entanto, quando precisaram por em prática esse plano de ataque, não o aplicaram com exatidão e nem contaram com a resistência persistente dos franceses, no entanto o plano fracassou.

Por outro lado, a França também tinha um plano de ataque caso fosse invadida, o Plano XVII do Geral Joffre, que consistia em colocar-se na ofensiva a todo custo, porém tiveram que colocar-se na defensiva para frear o rápido avanço alemão, e também fracassaram na tentativa de fazer uma guerra rápida.

Perante o fracasso dos dois planos, a guerra tornou-se uma total carnificina onde se tentava vencer o inimigo destroçando os exércitos na frente de batalha, desgastando sua resistência nas trincheiras ou nas cidades sitiadas e dividindo suas forças abrindo frentes secundárias de ataque.

As alianças no conflitoOs dois grupos em combate constituem as duas alianças nas que se dividem

os países da Europa beligerante. Alemanha e Austrio-Hungria, contra a Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia). Logo depois de estourado o conflito, Sérvia, Bélgica e Japão uniram-se à Entente em 1914; Itália, em 1915; Romênia e Portugal, em 1916 e Grécia e os Estados Unidos, em 1917, ano da saída da Rússia, que teve sua própria revolução. Apoiando à Tríplice Aliança (Áustria-Hungria, Alemanha e Turquia), Bulgária entrou no conflito em 1915.

O tamanho da população das nações em conflito fez a diferença desde o começo da guerra, pois a Tríplice Entente e seus aliados somavam mais de 238 milhões de habitantes, enquanto que os aliados ao Império Austro-Húngaro chegavam somente a 120 milhões, e eles tiveram que dividir-se, lutando em duas frentes.

Estrategicamente, a Tríplice Aliança formava um bloco compacto, no centro da Europa. Por isso são conhecidos como Impérios Centrais, enquanto que seus inimigos estavam dispersos pelo resto da Europa. Cada um desses dois blocos fará alianças com outros países para aumentar seu poderio militar em troca de possessões territoriais. Por exemplo, o Japão entrará na guerra em 1914 com a intenção de ficar

Page 71: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 71

com as fábricas alemãs na Ásia. Itália lutou pelos aliados com a promessa de adquirir territórios na costa Austríaca, e assim, todos os países europeus estarão imersos na sangria da guerra, exceto os Países Escandinavos, Suíça, Holanda e Espanha, que permaneceram neutros.

As etapas da guerraA guerra de movimentos (até dezembro de 1914): Na frente ocidental os

alemães tentaram chegar à França através da Bélgica, segundo o plano Schiliefen, mas os franceses ofereceram uma resistência acérrima no rio Marne, paralisando a ofensiva alemã e iniciando a guerra de trincheiras. Na frente oriental, os russos foram derrotados pelos alemães em Tanneber, porém Áustria foi derrotada em Lemberg deixando Sérvia para a Entente.

A guerra de posições (dezembro e 1914 a fevereiro de 1916): Ao frear seu avanço para França, os alemães e os franceses entravam o combate nas trincheiras. Esta é uma guerra de desgaste, onde se põe a prova não só a resistência dos soldados refugiados nas trincheiras, mas também a capacidade dos exércitos de abastecer seus homens. É um tipo de batalha sanguinária, que dizima as tropas submetidas ao fogo da metralhadora, e que impõe sofrimentos desumanos como a morte por inanição, por desidratação, por disenteria, gangrena, congelamento ou cansaço.

A principal batalha de trincheiras aconteceu em Verdún, onde os franceses detiveram o avanço alemão, enquanto que os ingleses ganhavam a batalha naval de Jutlandia e os alemães fracassavam na sua tentativa de impedir que a Entente conseguisse um passo através da Turquia até a Rússia.

O ano de 1917: Neste ano mudou radicalmente a história da guerra. Estados Unidos entrou na disputa com o pretexto da Alemanha ter afundado alguns de seus navios no Atlântico. A intenção da Alemanha era cortar os subministros da Inglaterra e da França. A entrada norte-americana desestabilizou os impérios centrais, pois os americanos chegaram a Europa com homens, material e munição. No leste, a Rússia saiu da guerra em novembro, depois da Revolução Bolchevique ter vencido, e assinou a paz como o Tratado de Brest-Litovsk.

O fim da guerra (1918): A saída da Rússia fortaleceu os alemães que puderam centralizar seus esforços na frente ocidental. Os aliados europeus, comandados pelo Geral Foch tiveram que concentrar-se em resistir, até a entrada dos norte-americanos, que forçaram a derrota alemã em Montdiedier, a rendição dos Generais Hindemburg e Ludendorff e a fugida do Kaiser Guilherme II.

Page 72: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea72

No dia 9 de novembro os alemães proclamam a República de Weimar, e no dia11 de novembro firmou-se o armistício no bosque de Compiègne, último lugar tomado pelos alemães antes da chegada norte-americana.

A guerra nos bastidores: Os governos procurarem a guerra e investirem nela não significa que os cidadãos também desejem e apoiem o conflito. A União Sagrada foi o nome que os governos deram ao movimento político-repressivo responsável por calar a desistência interior, caçar os possíveis traidores e reprimir partidos e sindicatos que pudessem se opor à guerra dentro dos próprios países.

Como mecanismo para promover e exaltar o patriotismo e elevar a moral dos cidadãos, assim como para destroçar a moral dos inimigos, os países praticaram a guerra de propaganda. O endividamento para os países beligerantes foi comum. França, por exemplo, endividou-se inicialmente com 2.500 milhões de francos e no final da guerra, já devia 75.000 milhões, principalmente aos Estados Unidos.

A guerra também paralisou a economia, pois os países tiveram que centralizar todos seus esforços produtivos para abastecer as frentes. Para realizá-lo, os estados assumiram o controle da economia, fortaleceram a indústria armamentista, e organizaram o racionamento dos alimentos para alimentar a população.

Consequências da I Guerra MundialAs consequências da guerra foram dramáticas em todos os âmbitos. Houve

muitas mortes, elas contabilizaram-se aos milhões (mais de 10 milhões). Alemanha perdeu 1.800.000 homens 12% de sua população masculina com idades entre 15 e 50 anos. Grã Bretanha, 750.000 soldados. Rússia, mais de 3.000.000 soldados. Com eles devemos considerar ainda a quantidade de soldados de outros países mortos e a quantidade dramática de civis massacrados. Milhões de pessoas feridas e incapacitadas para o trabalho e outros milhões obrigados a migrar fora de suas cidades; incontáveis famílias divididas e destruídas pela guerra; órfãos vagando solitários pelas cidades, pessoas mutiladas, crianças órfãs, fome e doenças advindas da insalubridade, grupos ressentidos e radicalizados de ex-combatentes, inadaptados à vida civil e desempregados foram também dramas humanitários resultantes do confronto.

Economicamente as percas também foram gigantes. Os bombardeios tiveram como alvos estratégicos a infraestrutura ferroviária, as estradas, os centros de produção e as fábricas, as pontes e os centros de governo. França e Inglaterra foram os países mais devastados, perdendo até 30 % de suas riquezas. Alemanha perdeu 22%.

Page 73: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 73

Todos os países aliados endividaram-se com os Estados Unidos. Para poder pagar as contas e reconstruir seus países, os governos decretaram racionamento e a inflação cresceu na Europa junto com a fome dos seus habitantes.

A guerra trouxe importantes transformações sociais como, por exemplo, o acesso das mulheres a empregos antes considerados como exclusivos dos homens, pois o esforço da guerra incluiu a aceleração da produção armamentista e de produtos para os combatentes, na qual as mulheres tiveram que preencher a ausência dos homens que estavam no front. Isso possibilitou que, ao chegar à paz, as mulheres tivessem mais acesso ao mundo laboral.

Politicamente também houve consequências importantes, como a queda da hegemonia europeia e o surgimento de outras potências, como Estados Unidos, Japão e pouco depois, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Os tratados de paz

Os tratados de paz foram preparados e impostos pelos vencedores: o presidente Clemenceau impôs-se intransigentemente sobre Alemanha, pois a França fora o país mais prejudicado pela guerra. Lloyd George fará o mesmo em nome da sua Inglaterra, porém com menos dureza. O Presidente Orlando, da Itália e o presidente Wilson, dos Estados Unidos também imporão suas próprias condições para os alemães, porém com maior flexibilidade.

Wilson, aliás, é o responsável por construir os princípios em torno dos quais haverão de serem preparados os diferentes tratados de paz. O documento que ele apresenta chama-se Os Quatorze Pontos de Wilson. Ali destaca sua crítica ao sistema de alianças secretas que levara à guerra, a necessidade do livre trânsito pelas águas internacionais e da redução dos obstáculos ao comércio marítimo internacional. Os pontos mais importantes são os que dizem relação à formação de novos Estados sob o critério da língua e à necessidade de potencializar os regimes democráticos. Onde houvesse 55% da população falante de uma língua predominante, haveria de formar-se um novo Estado, prévia realização de um referendo popular.

Vamos agora entender um pouco sobre os Tratados de Versalhes, Saint-Germain, Neuilly, Trianon, Sevres, Sociedade das Nações.

Page 74: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea74

A paz com Alemanha – O tratado de Versalhes (28-06-1919): Foi o mais importante dos tratados assinados, e o mais humilhante para o país vencido, pois Alemanha foi considerada a única responsável pela guerra. Territorialmente, Alemanha perdeu Alsacia e Lorena para os franceses, Eupen e Malmedy para os Belgas, uma parte da Prússia Oriental, Danzig e Memel para a Polônia ter saída ao mar.

Militarmente Alemanha também foi punida. O Exército alemão não poderia ter mais de 100.000 homens, ficaria abolida a obrigatoriedade do serviço militar. Também se criou uma zona de segurança administrada pelos aliados, a zona do Rio Rihn, para garantir a segurança da França que, além do mais, durante 15 anos teria direito para explorar a zona carbonífera do Sarre.

Alemanha foi obrigada também a pagar uma indenização de guerra que sobre passou os 220 milhões de marcos, metade dos quais devia pagar a França. Como Alemanha não conseguiu pagar, a França invadiu a região carbonífera do Ruhr. É lógico que, diante da humilhação desse tratado, chamado pelos alemães de Edito de Versalhes, os ânimos aumentaram e a vontade de vingança cresceu. No Tratado de Versalhes estava-se semeando a semente da Segunda Guerra.

A paz com Áustria – O tratado de Saint-Germain (10-09-1919): Na realização deste tratado, os aliados consideraram a possibilidade real deste país se unir a Alemanha, pois falavam a mesma língua. Por isso as punições geográficas foram bem mais radicais do que as impostas a Alemanha, e o país foi reduzido a um pequeno território povoado por oito milhares de pessoas. A esta política deu-se o nome de Anschuluss, e apesar de ser apoiada no seu objetivo pelas nações vencedoras, criou tensões na distribuição dos territórios, pois França e Itália viram-se desfavorecidos.

Galítzia (A Galícia dos Cárpatos) foi entregue à Polônia. Boemia e Moravia passaram ao novo Estado de Checoslováquia, um país formado artificialmente para cercar Alemanha pelo sul. O território da Bucovina passou a fazer parte da Romênia, Itália ficou com o Trentino e Istria, situada ao norte da Itália, porém de população alemã. A Yugoslávia, nascida da Servia, foi dividida entre Eslovênia, Bósnia e Dalmácia.

A paz com Bulgária – O tratado de Neuilly (27-11-1919): A punição para Bulgária foi ceder territórios da Macedônia para Iugoslávia, principalmente a costa norte com o Mar Negro. Dobruja foi cedida a Romênia, e os territórios do Egeu ficariam com Grécia e com Turquia, deixando a Bulgária sem saída para o mar.

Page 75: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 75

A paz com Hungria – O tratado de Trianon (04-06-1920): O império austro-húngaro foi desmembrado e Hungria foi considerada um território independente da Áustria, ficando reduzida a um pequeno território povoado por pouco mais de sete milhões de habitantes, pois teve que ceder Croácia para Yugoslávia, Transilvânia para a România e Eslováquia para Checoslováquia.

A paz com Turquia – O tratado de Sevres (11-08-1920): Turquia foi, depois da Alemanha, o país com maior perda territorial. Ela reduziu-se praticamente à cidade de Istambul e suas proximidades. Seus territórios na Ásia (Síria, Mesopotâmia –a atual Irak- e Arábia) passaram a ser administrados por França e Inglaterra. Armênia conseguiu sua independência e Esmirna passou a ser parte do território grego. Grécia, além do mais, exigiu de Turquia o direito à livre navegação nos estreitos do Bósforo e Dadanelos, para ter acesso ao mar Negro.

Pouco tempo depois, Mustafá Kemal Ataturk proclamou a República Leiga de Turquia, expulsou os gregos de Esmirna e exterminou os armênios, tudo para fundar uma nova Turquia, que será reconhecida internacionalmente no tratado de Lausanne, em 1923.

A Sociedade das Nações (SDN): Sua fundação foi proposta no ponto 14, do escrito do presidente Wilson, e sua realização foi incluída no Tratado de Versalhes. A antecessora da ONU tinha o objetivo de evitar qualquer outro conflito armado através da intervenção de uma Assembleia que julgaria e decidiria sobre os litígios internacionais e de um Conselho formado por nove países, cinco fixos e quatro eleitos pela Assembleia. Além do mais, a SDN teria uma comissão representativa no Tribunal Internacional da Haya.

Outros objetivos da SDN eram administrar o corredor de Danzig e gerenciar colaborações econômicas e humanitárias a nível internacional. A SDN não sobreviveu à década dos vinte.

A Segunda Guerra MundialA Segunda Guerra Mundial (GM II) é o maior conflito bélico que a humanidade já

padeceu enquanto número de países envolvidos, custo econômico e material, custo em vidas humanas ceifadas e dramas humanitários ocasionados diretamente pela guerra. A impossibilidade de abranger todos os detalhes dos enfrentamentos em todos as frentes havidos ao longo dos anos em que este conflito aconteceu (1939-1945), obriga-nos a centralizar nosso estudo em uma visão geral que possa nos mostrar as causas da Guerra, seu início e primeiras etapas, a universalização do conflito na divisão das frentes, a derrota do eixo na Europa, a Derrota do Japão e as consequências do Conflito.

Page 76: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea76

As causas da GuerraOs vencedores, principalmente Churchill, não duvidaram em fazer recair toda

a culpa da Segunda Guerra Mundial sobre as costas de Hitler. De fato, a invasão do corredor de Danzig para reunificar Alemanha, ou da neutral Bélgica para atacar à França, provam que a primeira agressora foi a Alemanha. No entanto, a mobilização tão grande de tropas e o esforço bélico das nações não podem justificar-se unicamente no direito à legítima defesa. Ao redor do maior massacre já conhecido pela humanidade há interesses econômicos, políticos e ideológicos que levaram as nações a se armar contra as outras levando ao extermínio 85 milhões de seres humanos, 50 deles, civis desarmados.

Economicamente, é necessário lembrar que o mundo capitalista vinha ressurgindo da crise da quebra da bolsa de 1929, quando o mercado viu-se incapaz de sair por si só da crise e os governos apelaram às políticas intervencionistas para impulsionar a economia. O Estado converteu-se no principal investidor, aumentando o gasto público proposto pelo economista John Maynard Keynes. A crise começou a aliviar-se com o Plano New Deal de Franklin Delano Roosevelt.

Saiba mais:

Plano New Deal: (Novo Acordo) Foi o conjunto de ações planejadas e aco-metidas pelo governo de Roosevelt, entre 1933 e 1937 para recuperar o país da grande recessão iniciada em 1929. Consistiu basicamente no inves-timento na construção de obras públicas e criação de emprego, destruição de excedentes agrícolas, redução de horário laboral, aumento do salário e controle estadual sobre a produção industrial e os preços dos produtos.

Na Europa, o crescimento econômico iniciou na Alemanha, guiado por seu ministro de economia, Hjalmar Schacht, que também era seguidor do Keynismo. No final dos anos 30, o intervencionismo tinha se alastrado pela Europa, mas não somente na construção da infraestrutura e no oferecimento de serviços, como defendia Keynes, mas orientando-se na produção de armamentos. O investimento na carreira armamentista anterior à GM II devolveu o crescimento econômico aos países que se envolveram nela.

Politicamente, Alemanha está sendo ideologizada por grupos de extrema direita, antimarxistas e antissemitas, que promovem os sentimentos de revanche e ódio contra os inimigos da Nação Alemã. Sobretudo é necessário considerar a

Page 77: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 77

um insignificante ex-combatente da GM I, Adolf Hitler, que passou a fazer parte de um pequeno partido político ao qual devia espionar, e por sua afinidade ideológica e seus grandes dotes como orador, chegou a presidir. O partido, já sob seu comando, passou a chamar-se Nacional Socialista dos Operários Alemães, Partido NAZI, por suas siglas germânicas, e chegou a ter maioria no parlamento presidido democraticamente pelo octogenário Paul Von Hindemburg, quem nomeou Hitler como Chanceler.

Pouco depois, presidência e chancelaria unificar-se-iam sobre o título de Führer, que significa Líder, deixando a Hitler como única autoridade. Hitler, que tinha tentado um golpe de estado para assumir o poder, conseguiu pelo voto e aclamação populares o que não tinha conseguido pelas armas, cinco anos depois de cumprir sua cômoda sentença e de ter escrito seu livro Minha Luta (MeinKampf). Nesse livro ele justifica seu nacionalismo e seu belicismo, anuncia sua intenção de expandir o território em nome do Lebensraum (espaço vital), propõe seu projeto de nação e promove seu antissemitismo, propondo a “solução final”.

Hitler representa as gerações veteranas da GM I, seus traumas e humilhações, mas também, seu ódio e o sentimento de revanche que acompanha a lembrança do tratado de Versalhes, que tinha humilhado e afundado a Alemanha na miséria. Embora, na prática, a imposição das sentenças do tratado se tenha suavizado durante os anos 20, Alemanha continuava a ser a grande perdedora.

Também com relação ao tratado de Versalhes, Itália estava descontente, pois as promessas feitas pelos ingleses e os franceses de ceder a região costeira da Dalmácia (na Iugoslávia) não se tinham concretizado. Na península italiana começaram a surgir grupos nacionalistas de extrema direita que reclamavam pelo fato de verem ainda incompleta a Nação Italiana por causa das mentiras e enganos dos franceses e os ingleses.

Ideologicamente ainda é forte o nacionalismo, sobretudo na Alemanha e no Japão, que estão vivenciando verdadeiras revoluções industriais e precisam de matéria prima e espaço vital (lebensraum). A superioridade econômica destes países sobre o seus vizinhos justificaria, para os partidários das ideologias racistas, o direito de se impor, e inclusive de decidir sobre a vida e a morte dos indivíduos. Esta forma radical de nacionalismo está presente em filósofos como Nietzsche e sua ideia do Super-Homem, ou no Germanismo de Fichte ou de Haushofer. Essas ideologias fundamentaram o expansionismo germânico.

Por sua parte, no Japão, a sua superioridade industrial justificou suas ideias de superioridade racial. Seu objetivo expansionista foi criar a “esfera de coprosperidade asiática”, um império asiático dirigido por Japão e sem a influência das potências europeias.

Page 78: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea78

Na Alemanha e no Japão, a convicção pseudocientífica da existência de superioridade de raças justificará atitudes aberrantes como a higiene racial (o extermínio de pessoas com deficiência e de indivíduos diferentes aos marcados pelos padrões estipulados) eugenesia (permitir nascer somente aos que respondem a padrões predeterminados) e a limpeza étnica (o extermino em massa de grupos culturais).

Estes pensamentos justificaram os diferentes holocaustos, e ainda antes deles, a ascensão ao poder dos governos totalitaristas que os promoveram levando o mundo à catástrofe.

Saiba mais:

Falamos de holocaustos indicando que não somente os judeus pade-ceram a perseguição e a morte em massa, mas também outros grupos étnicos. Por exemplo, os chineses, em Xangai e em Nanquim foram sistematicamente massacrados pelos japoneses; as mulheres estupra-das, os bebês atravessados por baionetas, centenas de pessoas foram enterradas vivas, milhares foram submetidas a crudelíssimas vexações e a mortes espantosas. Ciganos, negros, homossexuais, portadores de deficiências físicas e mentais, também foram vítimas sistemáticas das ideologias xenófobas, incluso dentro das fronteiras alemãs, na Europa e na Ásia.

Antecedentes imediatos à GuerraNo Pacífico: Japão era um arquipélago com pouco território habitável,

densamente povoado e sem matéria prima suficiente para manter seu ritmo de crescimento; com um bom governo (militarizado) e a sagrada autoridade do imperador unificando a população em torno dos ideais nacionalistas.

A China era um país com um enorme e riquíssimo território, porém com profundas divisões políticas, sociais, econômicas e culturais. Geograficamente estava fragmentado, e uma sucessão de conflitos pelo poder tinha sumido à população na fome. As ideologias liberais, tradicionalistas (monárquicas) e comunistas também dividiam à população. Japão precisava invadir China para satisfazer suas necessidades de matérias primas e terra cultivável, e iria se aproveitar da situação instável da China, porém o comércio com Inglaterra e com os Estados Unidos faziam inviável para o Japão declarar abertamente a guerra à China. Isso somente aconteceria em 1937, depois do

Page 79: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 79

“incidente” da ponte de Marcopolo. Até então, os diferentes enfrentamentos entre ambos países eram tratados com o subterfúgio de “incidente”. Os mais importantes “incidentes” foram à invasão de Manchúria e o já mencionado “Incidente da Ponte de Marco Polo”.

A invasão de Manchúria: Em 18 de setembro de 1931, perto da cidade de Mukden, uma explosão causada pelo próprio exército japonês danificou a via férrea de uma empresa japonesa em Manchúria. Japão viu nesse incidente um ato de sabotagem e com esse pretexto invadiu a Manchúria Chinesa. Um ano depois uniu a seu território criando o Estado de Manchukuo. A Sociedade das Nações condenou imediatamente o ato, porém Japão simplesmente saiu da Sociedade e deu as costas ao mundo.

A ponte de Marco Polo: É o nome que os ocidentais deram à ponte Lugou, que foi construída em 1192 e cuja beleza fora descrita por Marco Polo em seus diários. As tropas do governo central chinês, presidido por Chiang Kai-shek encontravam-se à beira do rio Yonding, resguardando a ponte que dá acesso à cidade de Pequim. Se o Japão tomasse a ponte, a cidade cairia. Já haviam acontecido diferentes escaramuças. Na última delas, um grupo de soldados japoneses que fazia exercícios militares foi atacado por um grupo de voluntários chineses, e um dos soldados, Shimura Kikohiro, não tinha voltado à base. Seu comandante, o Major Ichiki mandou um telegrama ao comandante chinês avisando que alguns soldados entrariam na cidade para procurar Shimura. Mas a autorização foi negada. Perante isso, Ichiki mandou a artilharia bombardear a cidade. Os chineses defenderam-na com coragem, porém submeteram-na aos japoneses quando, vindos de Manchúria, os reforços japoneses sitiaram a cidade por todos os lados. Então a II guerra sino-japonesa foi declarada abertamente.

Depois da batalha na ponte de Marco Polo, Japão bombardeou e ocupou Xangai, Nanquim e as cidades do sudoeste, onde cometeram incontáveis crimes de Lessa Humanidade sem nenhum controle nem pudor. Sob os slogan “Lembrai Nanquim”, as diversas forças políticas e ideológicas uniram-se. Chian Kai-shek foi obrigado a assinar um pacto com os comunistas. As fábricas foram desmontadas e transladadas ao interior. A população formou incontáveis caravanas em êxodo a fugir dos japoneses. Eles queimavam tudo a seu passo para obrigar o inimigo a estender suas líneas de suprimento, mas ao mesmo tempo organizaram suas tropas para resistir ao invasor. A II guerra sino-japonesa somente terminaria em 1945, estendendo-se, portanto, desde antes da Segunda Guerra Mundial até seu final, com a rendição incondicional do Japão aos aliados.

Na Alemanha: Em 1933, o partido nazista assumiu o poder. O seu braço armado, a S. A. ou “Camisas Marrões”, tinha crescido. Esse grupo paramilitar tinha a incumbência de desestabilizar o comum dos partidos, de boicotar seus comícios, e de hostilizar os

Page 80: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea80

judeus e as minorias étnicas na Alemanha. Eles chegaram a ser mais numerosos do que o exército profissional, diminuído em seu número e poderio desde o tratado de Versalhes. Hitler, já proclamado Führer (líder), o desconsiderou. Primeiro rearmou o exército na região da Renana, em 1936, depois ocupou Áustria em 1938 e recompôs o exército de forma geral.

Na Itália: Os fascistas de Mussolini invadiram Abissínia em 1935, com o apoio de Hitler. Na Espanha, Francisco Franco iniciou a guerra civil que derrocou a República, que era socialista, e se instalou na liderança de uma ditadura de direita que sobreviveria à Grande Guerra, até a morte do “Caudilho”, em 1975. Hitler e Mussolini treinariam táticas e experimentariam suas novas armas nessa guerra fratricida.

A pesar da atitude belicosa de Alemanha e Itália, seus líderes foram benevolentemente julgados por ocidente, pois estavam tendo êxito no seu esforço por conter os movimentos revolucionários comunistas. De fato, Mussolini fez de mediador nos Acordos de Munich, onde os ingleses (liderados por Chamberlain), e os franceses (representados por Daladier) aceitaram a divisão parcial de Checoslováquia para apaziguar a Hitler. Mas, Hitler não respeitou o acordo e invadiu Checoslováquia em sua totalidade, enquanto Mussolini se fazia com a Albânia.

Temeroso da aliança formada entre Alemanha e Itália, a URSS firmou um tratado de paz com o Japão. Entretanto, Hitler simulou um ataque na fronteira com o protetorado polaco de Danzig, e com esse pretexto invadiu o Corredor e a Polônia. Com Churchill como primeiro ministro na Inglaterra, perante essa atitude, Inglaterra e França declararam guerra à Alemanha. A Segunda Guerra Mundial na Europa tinha começado.

A Guerra por etapasÉ muito comum considerar o início da Guerra desde a perspectiva europeia,

com a invasão da Polônia por parte de Hitler. Ela começou como vimos no apartado anterior, desde 1937, com a invasão da China por parte do Japão, pois apesar do conflito não ter se internacionalizado nesse momento, já fazia parte do cenário bélico que se estenderia até a rendição do Japão perante os aliados, em 1945.

O início da Guerra na Europa

Na Europa, a Segunda Guerra Mundial começa quando Hitler invadiu o Corredor de Danzig. Este era um território livre, que tinha sido desmembrado da Prússia e anexado à Polônia depois da Primeira Guerra Mundial para lhe dar uma saída ao Mar Báltico. Hitler tinha pedido ao governo de Varsóvia uma via férrea e uma estrada que atravessassem o Corredor, porém essas condescendências foram rejeitadas. Temerosa

Page 81: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 81

de ser invadida, Polônia pediu ajuda a Inglaterra. Chamberlain propôs uma associação entre a Rússia, a França e a Inglaterra para apoiar Polônia, caso houvesse uma invasão, porém Varsóvia tinha rejeitado a associação por considerar que a Rússia poderia pretender unir esse território a suas Repúblicas.

No entanto, Hitler soube aproveitar essa situação política e desdenhou a possibilidade de que Inglaterra e França interviessem. Para Hitler, Danzig não merecia uma guerra mundial. Sendo assim, Alemanha assinou um tratado de paz com a URSS, e isso possibilitou que o Führer tivesse a tranquilidade de invadir Polônia, mantendo protegida sua fronteira no leste. A primeira bala da Guerra na Europa foi disparada em 1 de Setembro de 1939, na fronteira entre Alemanha e Danzig, dando início ao Plano de Invasão da Polônia, que recebeu o nome de Caso Branco.

Saiba mais:

O tratado de paz, assinado em 24 de agosto de 1939 entre Alemanha e URSS recebeu o nome de Tratado Molotov-Ribbentrop, sobrenomes dos Ministros do Exterior da União Soviética e da Alemanha Nazi, que o assinaram. Ele comprometia aos dois países a não se atacarem mu-tuamente durante cinco anos e garantia que a URSS não intervisse na defesa da Polônia. Em contra partida, a URSS ficaria com a parte leste desse país e Alemanha não interferiria na futura invasão soviética à Finlândia. A divisão de Estônia, Lituânia e Romênia também foi pla-nejada. Economicamente, o pacto Molotov-Ribbentrop estabelecia as bases para as relações comerciais entre Alemanha e a URSS. A primeira receberia petróleo do Cáucaso e trigo da Ucrânia, em troca, a segunda receberia armamento e ouro alemães.

A resistência polaca foi corajosa, porém, escassa e inútil. Os soldados polacos enfrentaram os tanques alemães com lanças e montados a cavalo. Foram massacrados. Os alemães utilizaram em seu ataque a tática da guerra relâmpago (Blitzkrieg), e sua eficácia surpreendeu ao mundo. A guerra relâmpago consistia no exercício combinado de diferentes táticas de ataque. Primeiramente, a artilharia e a aviação (Luftwaffe) bombardeavam indiscriminadamente o alvo; depois, já sobrecarregadas as linhas defensivas, os tanques blindados e outras forças mecanizadas atacavam, para por último dar lugar à invasão da infantaria (Wehrmacht), a qual ‘limpava o terreno”.

No dia 17 de Setembro de 1939, a União Soviética invadiu a parte leste da Polônia, sob o pretexto de garantir o bem dos cidadãos ucranianos que lá viviam.

Page 82: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea82

O exército polaco, já destroçado pelos alemães, não conseguiu montar nenhuma resistência. Milhares de polacos foram deportados a campos de trabalho na Sibéria, onde morreram de exaustão, de fome e de frio.

A Guerra de Brincadeira

A seguinte fase da guerra recebeu vários nomes: Guerra de brincadeira, Guerra araque, Guerra de mentira, Drôle de Guerre, Phony war, ou Sitzkrieg. Todos esses nomes fazem referência à situação subsequente à atitude nazista. Os países europeus estavam abismados, temerosos da guerra. Alemanha tinha suas fronteiras desprotegidas e, no entanto, os aliados preferiram esperar pela eficácia da Linha Maginot, pensando que os alemães não entrariam na França pela Bélgica. Os confrontos se limitaram a pequenas escaramuças e bombardeios de artilharia, entretanto, todos reforçaram seu arsenal bélico e treinaram seus exércitos.

Enquanto a Guerra de mentira acontecia, os soviéticos estavam a invadir Finlândia. Os finlandeses resistiram aos soviéticos mais do que eles esperavam, e contra-atacaram, mas a superioridade numérica dos soviéticos, derrotou Finlândia, a qual, não obstante, garantiu preservar sua independência, apesar de ter perdido parte de seu território para a URSS.

A Guerra entre 1940 e 1941

Em abril de 1940 os finlandeses firmaram a paz com os soviéticos e pouco depois a Alemanha invadiu Noruega e Dinamarca, utilizando novamente a tática da guerra relâmpago. Atacaram com força total. A Guerra de mentira tinha terminado e iniciava o Plano Amarelo.

O exército alemão (Wehrmacht) surpreendeu os aliados entrando na França através da Bélgica pelo bosque das Ardenas, evitando a Linha Maginot, uma fortificada rede subterrânea de defesa na fronteira entre França e Alemanha que se acreditava ser impenetrável pela força de seu concreto e do calibre de sua artilharia. Bélgica era território neutral, e os aliados não contaram com que Hitler pudesse invadi-la para chegar a França. Mas Hitler a invadiu e, fazendo um movimento de pinça cercou os aliados com as divisões Panzer de Guderian e Rommell. Os britânicos conseguiram fugir para Dunkerque, onde ficaram parados enquanto que os franceses se dispersaram em seu território.

Page 83: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 83

Os alemães deixaram partir os ingleses, pois sabiam que o mar os cercava, e não teriam escapatória. Depois foram atrás deles. Afortunadamente, antes dos alemães chegarem à praia onde os ingleses já esperavam serem mortos, Churchill mandou que todos os barcos capazes de chegar a Dunkerque fossem lá resgatar os soldados. Esta foi a Operação Dínamo. A aviação alemã afundou vários barcos e a infantaria ainda teve tempo de colocar a praia sobre forte fogo de artilharia, provocando mais de cem mil baixas aliadas, mas a Operação Dínamo salvou mais de trezentos mil soldados aliados, quase todos ingleses, com barcos pesqueiros, iates de lazer, veleiros, desportivos, lanchas de remo e tudo o que conseguiu atravessar o Canal Inglês. Para os ingleses essa operação de salvamento tinha sido uma exitosa operação de resgate que elevou a popularidade de Churchill, ainda que, humildemente, ele reconhecesse que a guerra não se ganharia fugindo.

Por outro lado, os soldados franceses tinham sido derrotados por não estarem bem posicionados, apesar de serem um exército maior em número e terem maior quantidade de veículos blindados. No entanto, foram ineficazes, pois tinham sido distribuídos no apoio a toda a infantaria, enquanto que os alemães os concentraram formando as poderosas Divisões Panzer.

A vitória alemã já parecia segura quando a Itália tomou partido por Hitler, e declarando a guerra a França, tentou invadi-la pela fronteira dos Alpes. Mas não teve êxito, e foi derrotada. No entanto, os franceses terminaram assinando sua rendição em 22 de Junho, no mesmo vagão de trem em que os alemães tinham assinado sua rendição no final da Primeira Guerra Mundial. Hitler, que tinha consumado sua vingança contra a humilhação de Versalhes, mandou levar o vagão para Alemanha, onde foi explodido. Enquanto isso, a União de Repúblicas Socialistas Soviéticas invadia os Países Bálticos.

O triunfo da Alemanha sobre França significou o fim da III República Francesa. Os alemães colocaram no poder a um herói da Primeira Guerra Mundial, o colaboracionista Marechal Pétain, depois da Segunda Guerra Mundial foi condenado a morte por traição. Pétain instituiu o regime autoritário de Vichy, porém o geral De Gaulle, insatisfeito, fugiu da Inglaterra, onde comandaria a resistência da chamada França Livre. Os guerreiros de De Gaulle, que não aceitaram a autoridade de Pétain foram recuperando ao longo da guerra, grande parte das colônias francesas.

Para Alemanha, o triunfo sobre a França possibilitou a concentração do esforço bélico pela conquista da Inglaterra. Por ela ser uma ilha e ainda manter o domínio marítimo, Hitler não quis invadir, desembarcando em suas costas, mas definiu que a conquista da Inglaterra viria pelo ar. Era a Operação Leão Marinho,

Page 84: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea84

e seu comandante seria Hermann Göering, um aviador herói da Primeira Guerra Mundial, e braço forte de Hitler. A batalha da Inglaterra foi, principalmente, a luta entre a aviação alemã (Luftwaefe) e a britânica. Os caças que combateram nos céus do Canal da Mancha, o Atlântico e o Mar do Norte foram os Spitfire britânicos e os Messerschmitt alemães.

O êxito inglês na defesa aérea de seu território fez Hitler desistir de invadir Inglaterra, embora não de destruí-la com suas bombas incendiárias, e, no final da guerra, com seus mísseis balísticos V1 e V2. Mas, Churchill não podia supor que Hitler havia renunciado a invadir as Ilhas britânicas pelo mar. Sobretudo, quando ao norte da África, no território Francês da Argélia, encontravam-se ancorados os buques de guerra da Marina Francesa, e estes, obedientes ao governo colaboracionista de Pétain, podiam ser tomados por Alemanha para, com eles, invadir Inglaterra.

Diante dessa situação Churchill deu um ultimato aos comandantes dessa frota (Gensour e Darlan): ou entregavam seus navios aos comandantes ingleses (Somerville e Pound) e partiam com eles a portos dos aliados para desarmar-se, ou seriam atacados e afundados. Os ingleses atacaram ao anoitecer do dia 3 de julho de 1940, concretizando a chamada Operação Catapulta, que dizimou a vida de mais de mil marinheiros franceses, e se não tivesse sido pela posição conciliadora de Pétain, os franceses teriam declarado a guerra aos britânicos, pois os almirantes da frota gala converteram-se em colaboracionistas depois dessa afronta. As forças armadas francesas tinham se dividido ainda mais.

Em setembro de 1940, Alemanha, Itália e Japão firmaram o pacto tripartite, configurando o que seria conhecido como “O Eixo Berlim-Roma-Tókio”. Japão acabava de invadir a Indochina, arrebatando os franceses. Mas, nesse pacto, Hitler, Mussolini e Hiroito dividiram entre si os territórios de influência e prometeram defender-se de ataques exteriores, salvo que se tratasse de países já em confronto (Inglaterra e a França livre) ou de ataques da URSS, país ao qual todas as potências temiam, e com quem Hitler tinha assinado um pacto de paz, antes da invasão a Polônia, e o Japão antes da invasão à China.

Encorajado pelo êxito da Guerra Relâmpago alemã, Mussolini mandou invadir Grécia, porém, novamente fracassou, pois os gregos se fortificaram, resistiram e contra-atacaram. No mar, a armada italiana foi vencida pela armada inglesa, a qual tinha o apoio de suas bases em Gibraltar, Malta e Alexandria, e elas lhe garantiram a soberania britânica do Mar Mediterrâneo.

Page 85: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 85

A Guerra entre 1941 e 1942

Nos três primeiros meses de 1941, a Alemanha concentrava seus esforços em apoiar a Itália em sua luta contra os britânicos no norte da África. No deserto da Líbia, o General Erwin Rommel, já conhecido por seus êxitos no comando das divisões Panzer, ganhara o sobrenome que lhe acompanhou na fama: “A raposa do deserto”. Sob seu comando, as Desert Korpos alemãs quase conseguiram expulsar os soldados ingleses e os da Commonwealth do norte da África, fazendo-os retroceder até o Egito, porém os ingleses conseguiram expulsar os italianos do Leste da África.

Saiba mais:

O General Erwin Rommel foi famoso por sua destreza no comando dos Panzers alemães, mas também com sua postura ética e de cava-leiro diante do inimigo derrotado. Ele negou-se a executar as ordens de Hitler (Kommandobefehl) de executar sumariamente a todos os co-mandos capturados ou que se rendessem. No final de seus dias, Hitler obrigou-o a suicidar-se para que sua família não sofresse represálias pelo atentado que sofrera em 20 de julho de 1944, na falha tentativa de assassiná-lo chamada Operação Valquíria.Commonwealth: Refere-se à Mancomunidade (Britânica) de Nações.

Em abril do mesmo ano, os alemães entraram nos Bálcãs para ajudar os italianos contra os gregos, que resistiam nas montanhas. Os alemães e italianos tiveram a ajuda dos húngaros, os romenos e os búlgaros, e graças a sua ajuda, a wehrmatch conseguiu invadir Iugoslávia e Grécia. Esses povos pró-germanos nos Bálcãs viam as tropas fascistas como seus libertadores, pois odiavam aos judeus, aos ciganos e aos comunistas soviéticos tanto quanto os alemães. De fato, nos Bálcãs, essas etnias também foram vítimas da perseguição e extermínio sistemáticos da parte de seus compatriotas pró-germanos.

Em maio, já com os portos e os aeródromos gregos sob seu comando, os alemães realizaram uma invasão relâmpago da ilha grega de Creta, com a divisão de paraquedistas, enquanto que os aliados durante os meses de junho, julho e agosto, conquistaram Irak (que tinha tomado partido a favor dos alemães), Síria e Irã.

Até então, Alemanha tinha evitado lutar em duas frentes, confiada no pacto de paz com Stalin (quem lhe fornecia trigo, petróleo e minerais para sua indústria

Page 86: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea86

bélica) e na eficácia da tática da guerra relâmpago. Mas essa dependência da Rússia tinha se tornado insuportável para o Führer, que odiava os comunistas.

Em 22 de junho de 1941 teve início a sangrenta Operação Barba-rosa, a maior campanha militar da história da humanidade. Ciente da grandiosidade da fronteira soviética Hitler concentrou mais de três milhões de soldados na invasão. Mussolini tinha advertido a Hitler da invencibilidade do enorme território soviético, mas Hitler confiou na tática da guerra relâmpago e no fator surpresa para lhe segurar o êxito. De fato, os primeiros dias da invasão, foram feitos prisioneiros mais de dez mil soldados russos. Quase todos morreram de fome e frio, abandonados pelos seus captores nas prisões. As tropas alemãs foram especialmente cruéis nesta invasão, especialmente contra os judeus e os ciganos. Segundo J. Goldhage (1997), somente o primeiro dia da invasão morreram mais de 35.000 judeus, executados com tiros na nuca depois de terem cavado suas covas.

Uma das linhas de pesquisa que este autor utiliza para provar que os alemães eram conscientes do programa de extermínio judaico em contra do argumento de sua ignorância, primeiro, e da obrigatoriedade de obedecer as ordens, depois, é que os soldados que realizaram essas primeiras matanças não eram militares profissionais, senão voluntários, pais de família, trabalhadores e inclusive pequenos empresários não acostumados a matar, que chegavam a vomitar ao ver o sangue e os miolos dos que eram executados, e que, diante da possibilidade real de desistirem dessa missão e dedicar-se a serviços burocráticos, a maioria deles continuou a realizar as matanças sistemáticas. Goldhage confirma com documentos oficiais, que somente uma pequena minoria desse pelotão, recusou à oferta de seus comandantes de serem transferidos. A grande maioria sentiu-se a vontade para caçar judeus nas planícies russas.

Ayen (2010) menciona que o exército alemão atacou em três frentes, avançando em três direções diferentes para o interior da URSS. As tropas do norte, comandadas por Leev, entraram a Lituânia para tomar Leningrado. O exército central, comandado por Von Bock, entrou pela Bielorússia para tomar Moscou, e os exércitos do sul, comandados por Rudstedt, entraram por Ucrânia para tomar Stalingrado.

Os altos comandos alemães contavam por terminar a guerra antes de o inverno chegar a essas terras. A história mostrava que o inverno russo era um tremendo aliado dos exércitos nacionais contra os invasores. Mas ter dividido suas tropas em um território tão amplo e contra um exército tão combatente defendendo sua própria terra, custou a guerra a Hitler. De fato, os últimos meses de 1941 foram especialmente frios, e as tropas alemãs não estavam preparadas para resistir, ao

Page 87: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 87

mesmo tempo, as temperaturas inferiores a 40º negativos, a contra ofensiva dos russos, a falta de alimentos (quanto mais se distanciavam da fronteira oeste, mais distante e difícil se tornava o reabastecimento) e os Órgãos de Stalin, aquela mortífera bateria de mísseis que aterrorizava os soldados nas trincheiras pelo som que faziam os foguetes ao serem disparados.

Tudo isso, mais a entrada em combate das tropas siberianas, acostumadas a lutar no frio e a se movimentar na neve, as decisões equivocadas do alto comando alemão, possibilitaram que Leningrado fosse libertada, do mortal cerco em que se encontrava, e que o General Zhúkov conseguisse frear o avanço alemão em Moscou.

No entanto, deveria esperar até julho de 1942 para a realização do Plano Azul, nome da operação na qual Alemanha invadiu os campos de petróleo do Cáucaso e tentou tomar Stalingrado, cuja defesa estava a cargo do general Zhukov. Esta batalha foi especialmente sangrenta. A ordem de resistir até a morte tinha vindo diretamente de Hitler, para a Wehrmacht nazista, e de Stalin para o Exército Vermelho. Desistir, implicava na execução sumária nos dois bandos. A fome e o frio afetavam aos dois exércitos e aos civis, encurralados nas ruínas de sua cidade. Mas a vitória na tomada ou na defesa da cidade de Stalin seria significativa para o vencedor.

A ofensiva alemã iniciou no verão de 1942 com um bombardeio da Luftwaffe seguido pelo ataque das tropas terrestres, que entraram na cidade tomando casa por casa, na chamada guerra de ratos (Rattenkrieg), e chegaram à beira do rio Volga, que serviu de linha de defesa para os soviéticos frearem o avanço alemão. Essa foi a estratégia exitosa do General Zhukov. Em novembro do mesmo ano, os alemães estavam mais desgastados que os soviéticos, e estes contratacaram. A fome e o frio sentenciaram os duzentos e cinquenta mil soldados alemães à derrota. Eles se renderam com seu general, Friedrich Paulus, contrariando as ordens suicidas de Hitler de lutar sem dar um passo atrás, em fevereiro de 1943. A derrota alemã na frente russa marcou o início do fim do Terceiro Reich.

A Guerra entre 1942 e 1943

Dois meses depois da vitória em Stalingrado, os russos começaram a romper o cerco sobre Leningrado, enfrentando à Divisão Azul, uma tropa de voluntários espanhóis, mandados para apoiar à Alemanha nazista contra o comunismo, apesar da suposta “neutralidade” do general Franco, que estava obrigado a corresponder ao eixo por seu apoio na guerra civil que o tinha colocado como “Generalíssimo” ao derrocar o governo republicano. A batalha aconteceu em Krasny Bor. Ela começou

Page 88: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea88

com um intenso bombardeio da artilharia soviética sobre as linhas de defesa alemãs (neste caso, espanholas), seguida pelo ataque da infantaria, com baioneta calada no fuzil, contra os homens que tinham saído de seus esconderijos durante o bombardeio e que procuravam reagrupar-se com o resto dos sobreviventes.

Os espanhóis, refugiados agora nos buracos deixados pela explosão dos mosteiros, defenderam suas linhas até esgotar suas munições. Depois combateram corpo a corpo, até serem esmagados pela superioridade numérica dos soviéticos. A Divisão Azul estava composta por seis mil soldados voluntários espanhóis; as forças russas em Krasny Bor por quarenta e seis mil. No final do dia, quatro mil espanhóis tinham sido mortos.

Algumas semanas mais tarde, os soviéticos realizaram a matança de Katyn. O Gueto Judio de Varsóvia revoltou-se contra as forças alemãs e contra as deportações aos campos de trabalho, pois já tinham tomado conhecimento de que na realidade eram campos de extermínio. Os alemães agiram com total virulência contra as revoltas, que terminaram com o Gueto totalmente destruído e um saldo de mais de vinte e cinco mil civis mortos. Portanto, tinha se tornado evidente que os alemães estavam perdendo força e o controle sobre os territórios ocupados.

Saiba mais:

Matança de Katyn: Baixo o comando de Lavrenti Beria, chefe da Po-licia Secreta, quase vinte e dois mil polacos foram assassinados pe-los comunistas soviéticos. Aproximadamente seis mil eram militares e policiais, o restante eram professores, músicos, artistas, historiadores, cientistas, sacerdotes cristãos, proprietários rurais e empresários.

Enquanto a Operação Urano acontecia em Stalingrado, os aliados desembarcara no Norte da África desenvolvendo as ações planejadas pela Operação Torch. Eram comandados pelo General Eisenhower. O primeiro que fizeram foi ocupar Argélia, tomando-a dos franceses colaboracionistas de Pétain. Os soldados que não se renderam passaram a formar parte das tropas da França Livre, de De Gaulle. Hitler, encolerizado pela traição, mandou invadir o território francês que estava sobre o governo de Vichí. Com suas forças divididas, as tropas germano-italianas de Al Alamayn (Cidade costeira do Mediterrâneo, situada ao norte de Egito) foram derrotadas, e alguns meses depois, expulsos definitivamente do norte da África.

Page 89: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 89

O ano de 1943 foi o ano dos bombardeios aéreos sobre a Europa controlada por alemães, e sobre o próprio território alemão. Os americanos e os ingleses alternam-se para bombardear Alemanha, de dia e de noite. Campos aéreos, estradas, ferrovias, pontes, portos, campos de treinamento militar, fábricas, bodegas, oficinas, refinarias, e tudo o que se relacionasse com a indústria armamentista, foi objeto de constantes bombardeios. Depois, as próprias cidades foram vítimas dos ferozes bombardeios aliados.

Tendo assegurado a derrota da Alemanha (era só questão de tempo), os aliados concentraram sua força no Oceano Pacífico. A primeira grande batalha do Pacífico foi a batalha de Guadalcanal, que iniciou em agosto de 1492 e durou sete longos meses.

A partir dessa batalha, os norte-americanos assumiram a estratégia de tomar ilha por ilha e arquipélago por arquipélago aos japoneses. Eles colocaram-se à defensiva, concentrando suas forças nas ilhas mais importantes. Inclusive ilhas vulcânicas secas e improdutivas, porém com uma pista de pouso para reabastecimento podiam significar a diferença entre o êxito numa missão aérea e a morte. Os comandos militares não dariam praticamente nenhuma ajuda aos soldados que guardavam essas ilhas, mas deixaram para eles a ordem de lutar até o último homem. Fiéis a seu imperador, os soldados japoneses cumpririam com heróica e doentia abnegação essa ordem, provocando cruéis batalhas em cada uma das ilhas que defendiam, e inclusive suicidando-se a golpe de faca ou se sacrificando deitando-se sobre granadas para evitarem a vergonha de serem presos.

Entretanto, Hitler ainda sonhava com a vitória e culpava a seus generais das derrotas sofridas na frente russa. Querendo retomar a iniciativa, decidiu atacar com toda a força seus carros de combate Panzer e Tiger, no Kursk. A inteligência russa soube, e Stalin mandou esperar os alemães concentrando na área a força total de seus T-34, menos resistentes, porém mais ágeis e velozes que os tanques russos. O resultado foi a maior e mais sangrenta batalha de tanques da história, que terminou sem um ganhador definido.

Saiba mais:

Batalha de Kursk: Denominada de Operação Cidadela nela participa-ram mais de três milhões de soldados, mais de três mil tanques e quase quatro mil e quinhentos aviões. Foi a primeira vez que os soviéticos conseguiram derrotar os alemães no verão, e significou o começo do avanço do exército vermelho rumo a Berlim.

Page 90: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea90

No entanto, os russos iniciaram depois dessa batalha o contrataque, desbordando as linhas germânicas pelo sul, enquanto que as forças aliadas invadiam a Sicilia na sanguinolenta operação Husky, na qual o General Patton começou a criar fama internacional. Consequência desta batalha foi que o Grande Conselho Fascista destituísse a Mussolini e fizesse os italianos assinarem o armistício. Os alemães reagiram invadindo Itália e, depois de conquistar Nápoles, resgataram a Mussolini. Este, apoiado por Hitler, criou a República Social Italiana. Mas a situação defensiva à que o Eixo tinha passado, já era evidente.

Diante isto, Franco seria o vencedor e mudou o status da Espanha, de “beligerante” a “neutral”. Além do mais, pressionado pelos aliados, o “El Generalísimo” deixou de mandar os minérios que a Alemanha lhe comprava para a fabricação de suas armas. Isso, e a progressiva reconquista soviética sobre o território ocupado pelos nazistas, fizeram a indústria bélica alemã colapsar.

De 28 de novembro a primeiro de dezembro de 1943, as lideranças dos aliados reuniram-se no Teerã. Stalin, Roosevelt e Churchill, definiram nessa conferência as fronteiras da Alemanha e da União Soviética após a guerra, e cederam-lhe aos soviéticos a Estônia, a Letônia e a Lituânia. Também se definiu o futuro da Polônia e planejaram ações para o desembarque aliado na Europa, que seria chamado Dia D, embora a decisão de realizar-se especificamente por Normandia fosse tomada em Washington, em maio do mesmo ano, durante a Conferência de Trident. Pouco depois, em dezembro de 1943, nos Bálcãs o General Tito criou um Governo Provisório Comunista, arrebatando terreno aos alemães.

A Guerra em 1944

Alemanha estava mais debilitada. Hitler sonhava que a guerra teria um inevitável triunfo germano. No entanto, as derrotas se sucederam. Na Itália, entre os meses de janeiro e maio, os aliados venceram em Anzio e em Montecasino, e um mês mais tarde chegaram a Roma, enquanto que os russos pressionaram na frente leste, liberando Leningrado e chegando até Romênia e Eslováquia.

O dia 6 de junho deu início o desembarque de Normandia, o Dia D, com o qual começava a Operação Overlord, sob o comando do General Eisenhower. Com a chegada aliada à França, criou-se o segundo frente europeu exigido por Stalin, para cercar os nazistas e pressioná-los reduzindo seus territórios de influência desde o leste e desde o oeste, exprimindo-os até cercá-los no seu próprio território.

Page 91: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 91

No leste, os soviéticos desencadearam para esse fim a Operação Bagratião, em 22 de junho. Eles atacaram com quase dois milhões de soldados os oitocentos mil alemães que formavam a força central alemã, evitando que estes reagissem ao assalto aliado nas costas francesas. Lá desembarcaram mais de oitocentos mil soldados aliados, quase todos norte-americanos, mas também havia ingleses, franceses e canadenses. Prévio ao Dia D, os aliados tinham realizado a Operação Bodyguard que consistiu em ativar várias operações de distração militar e de transmissão de informações falsas, para enganar aos alemães acerca do lugar e o momento reais do desembarque. No entanto, os alemães não tinham sido pegos totalmente de surpresa, pois Erwin Romell tinha previsto uma invasão nessas praias, e as tinha fortificado com a construção do Muro Atlântico. A defesa foi encarniçada.

No dia do desembarque (06 de junho de1944) o tempo era chuvoso, a maré traiçoeira, e a chuva de metralha e de morteiros alemães, colocados nas partes mais altas das praias foram eficazes, e provocou mais de vinte cinco mil mortes entre os aliados somente no primeiro dia de combate (BEEVOR, 2009). Mas os aliados conseguiram tomar alguns espaços nas praias e, a partir dali, expandir-se até o porto de Cherburgo (em 26 de junho) e a cidade de Caen (em 21 de julho).

O progresso aliado continuou, cidade a cidade, fazendo retroceder os alemães, cada vez mais debilitados. Em 15 de agosto iniciou a Operação Dragão, com a intenção de avançar pelo sul da França até Paris, que foi libertada o dia 25 do mesmo mês. No dia 30, enquanto os alemães fugiam pelo Vale do Rio Sena, dava-se por concluída a Operação Overlord.

Uma semana depois da liberação da França, os aliados retomariam o controle sobre Bruxelas. Animados, iniciaram a Operação Market Gardem (17 a 25 de setembro de 1944), com a qual tentaram liberar Holanda dos nazistas e entrar na Alemanha. Esta campanha tinha um alcance estratégico tão importante quanto o desembarque em Normandia. Ela consistia na combinação de duas operações simultâneas nas quais se realizou a maior aerotransportação bélica de todos os tempos, até esse momento.

Trinta e cinco mil soldados aliados pularam sobre território holandês com a dupla missão de tomar as pontes e abrir um corredor para os blindados avançarem até o rio Rim. Quase todas as pontes foram tomadas, porém o avanço aliado esbarrou na última ponte, a ponte de Arnherm, onde a contra ofensiva alemã exterminou a 1ª Divisão Aerotransportada britânica e causou muitas outras perdas aos norte-americanos, provocando-lhes maiores das que sofreram em Normandia. A maior operação aerotransportada dos aliados se converteria assim na sua mais dura derrota e na última das grandes vitórias táticas de Hitler.

Page 92: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea92

Em Julho, no frente leste, os russos tinham iniciado a ofensiva nos Países Bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia). Percebendo a proximidade dos russos, os polacos sublevaram-se contra os alemães em Varsóvia, na chamada Operação Tempestade, a qual foi uma corajosa tentativa dos civis polacos de se libertarem dos nazistas, mas fracassaram, e os alemães não tiveram compaixão contra os vencidos. Bombardeios indiscriminados e fuzilamentos deixaram mais de duzentas mil vítimas civis e a cidade reduzida a escombros. Em janeiro de 1945, os soviéticos entraram nas ruínas da cidade e poucos meses depois fundaram nelas a República Popular de Polônia. Não salvaram os polacos porque seu presidente, no exílio, era oposto ao comunismo, e os deixaram morrer sob a selvajeria nazista, enquanto contemplavam o massacre desde as periferias da cidade.

Nos meses finais de 1944 a Alemanha estava praticamente derrotada. No entanto, ela não se rendia. Goebbels, o ministro de propaganda nazista, continuava a induzir muitos cidadãos alemães que a Alemanha ainda podia vencer, que render-se aos aliados seria muito pior que morrer na luta e que a culpa das derrotas era dos generais que já estavam sendo substituídos. Por outro lado, a temida SS (Tropa de Elite), a guarda pessoal do Führer, esmagava qualquer tentativa de rebelião e punia com o enforcamento os cidadãos que expressavam suas dúvidas sobre a vitória ou que se negassem a sair para lutar nas ruas, acusando-os de traição, já fossem idosos, crianças ou mulheres.

Mas, o desencantamento em torno da figura do Führer e a dúvida sobre o êxito de suas decisões obstinadas e maníacas já tinha se semeado também nos altos cargos do governo nazista, ao ponto de atentarem sua morte. Dos atentados contra a vida de Hitler, o mais famoso foi o acontecido na Operação Valquíria.

O dia 20 de julho de 1944, o Coronel Claus Von Stauffenberg, um veterano das Afrikan korps, colocou sob a mesa de Hitler uma mala com explosivos. Os comandos militares estavam reunidos no refugio pessoal de Hitler, a Toca do Lobo (Wolfsschance), nos bosques da Prússia Ocidental, porém um dos generais recolocou a mala, que ele considerou perdida, atrás de uma das bases da dura mesa em torno da qual se encontravam reunidos, sem perceber que se tratara de uma bomba. Esse fato salvou a vida de 20 das 24 pessoas que estavam na sala, entre as quais se encontrava Hitler. Stauffenberg, que tinha pedido permissão para ausentar-se da sala, foi logo comunicar que Hitler estava morto.

Traído por seu cúmplice, O General Fromm, foi fuzilado e suas cinzas derramadas no campo. Porém a SS não se conformou em fuzilar Stauffenberg, mas foi ao fundo da investigação, a qual chegou ao próprio Fromm. No seu cofre, a SS encontrou um documento onde se planejava o governo após a morte de Hitler, e lá estava seu

Page 93: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 93

nome. Centenas de participantes da resistência alemã morreram para saciar a sede de vingança do Fürher.

Apesar da evidência da eminente derrota, muitos dos generais e políticos do regime nazista permaneceram fiéis a Hitler. Alguns pelo medo às represálias, outros por uma sincera esperança no triunfo, alimentada pelo êxito tecnológico dos científicos alemães, que chegaram a desenvolver armas muito avançadas para seu tempo, e que mantiveram no mais absoluto secreto, como os mísseis V1 e V2 e os aviões de propulsão a jato, ME-262. Eles foram utilizados nos meses de junho e julho de 1944, e tiveram grande êxito, porém foi um triunfo que veio de forma tardia, pois Alemanha já lutava por se defender dentro de suas próprias fronteiras, e estava sendo bombardeada, dia e noite pelos aliados que, além do mais, tomaram rapidamente as bases e os aeroportos militares de onde eles eram lançados.

Diante do avanço dos russos na região báltica, os alemães retrocederam e ficaram isolados na Península da Curlandia. Entre os meses de novembro de 1944 e outubro de 1945, em Memel, comandados pelo Marechal Góvorov (que tinha comandado os soviéticos em Leningrado), os soviéticos lançaram a ofensiva que terminaria com a rendição dos alemães, comandados pelo General Carl Hilpert. Dos duzentos mil soldados alemães mais de cinquenta mil morreram. O resto foi feito prisioneiro dos soviéticos. Como botim de guerra, eles ficariam com mais de 300 tanques, 70 aviões e mais de mil canhões. Isso dá-nos uma ideia da força que os alemães ainda possuíam, apesar desse grupo ter ficado isolado das forças principais. Depois da derrota dos alemães em Curlândia, os Finlandeses, seus aliados, assinaram a paz com a União Soviética.

Assim como na Curlândia, os Alemães passam a ficar à defensiva, saindo dos territórios antes ocupados por eles. Por onde eles passavam, arrasavam tudo, explodiam vias férreas, estradas e pontes, queimavam granjas e roçados, destruíram qualquer tipo de objeto e de lugar que pudesse servir aos aliados, enquanto recuavam rumo a seu território. Às vezes, também como na Curlandia, ficavam isolados e sacrificavam selvagemente muitas vidas civis para continuar a retirada.

No entanto, isso aconteceu nos Bálcãs, em Bucareste, na Bulgária e na Iugoslávia, onde os russos entraram em contato com as forças de Tito e expulsaram os alemães da Grécia na Operação Debrecen. Com eles fora do Arquipélago, os grupos de resistência antinazista, tanto da direita a quanto da esquerda, passaram a enfrentar-se entre si. Ao mesmo tempo, os guerrilheiros comunistas do Ministro albanês Enver Hoxha liberaram Albânia dos alemães. Hoxha ficaria no poder e instalaria um governo comunista autônomo, que terminaria isolando-se da URSS, da China e do mundo.

Page 94: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea94

No último mês de 1944, quando todos os aliados pensavam que os alemães se renderiam, Hitler ordenou retomar a iniciativa. Sob seu comando direto, o General Rundestedt lançou todas as reservas na contra ofensiva, tentando o mesmo êxito que a guerra relâmpago tinha tido, em 1940. O bosque das Ardenas tornou a arder. Novamente os aliados não esperavam que Hitler atacasse nesse lugar montanhoso cheio de bosque, mas entrou com força total e sacrificou a vida dos norte-americanos que defenderam o bosque com rebeldia e bravura. Eles terminaram sendo salvos pelos reforços, porque os alemães ficaram sem combustível para continuar o seu avanço, tornando-se alvos fáceis da aviação aliada. Essa foi a última ofensiva alemã.

Durante essa campanha aconteceram os massacres de Malvedy, onde quase duzentos soldados americanos prisioneiros foram assassinados, e os civis do povoado de Stabelot foram massacrados pelos alemães em fuga.

Enquanto isso, no Golfo de Leyte, Filipinas, em 24 de outubro de 1944 aconteceu a maior batalha naval da história moderna, onde se utilizaram pela primeira vez de forma sistemática os ataques suicidas camikaze (Vento Divino). Leyte era importante estrategicamente porque era uma ilha central de Filipinas, pois os americanos podiam estender-se por todo o arquipélago e cortar o subministro de petróleo a Japão.

Doze bombardeiros e 16 caças despegaram do SS Enterprise para inspecionar o Golfo da ilha de Leyte, onde havia suspeitas de estarem ancorados dois super acoraçados. O Bushashi e o Yamato, os maiores do mundo. Os bombardeiros do Enterprise esperavam destruí-los. Os japoneses, porém, tinham dividido suas frotas. Uma parte veio do sul, simulando ir a impedir o desembarque dos americanos na ilha de Leyte. Essa frota estava comandada pelo almirante Nishimura. Os americanos morderam o anzol e foram à sua caça, dividindo suas forças. Quando viram alguns navios e destrutores se dirigindo a Leyte, eles atacaram e algumas bombas, atingiram o o alvo, porém, não destruíram os navios, os quais seguiram navegando rumo a Leyte.

O comandante Fred Bakutis, líder dos bombardeios Hell-Cats do Enterprise pensou ter destruído os navios, e deu por finalizada a batalha. Para piorar as coisas, ele avisou a seus superiores do SS Enterprise que tinha destruído os navios inimigos e pouco depois caiu no mar, sem combustível. Do norte vinham, escoltados por mais 26 navios de guerra, os superacoraçados. O Musashi tornou-se o alvo principal dos bombardeios, e acabou afundando no fim do dia. O almirante Takeo Kurita fingiu fugir, e o almirante Halsey caiu na armadilha, enganado pelo aviso de que do norte, vinham os porta-aviões japoneses. Quando foi à caça dos porta-aviões, Musashi retornou, pegando por surpresa a frota desprotegida de Leyte, onde não havia acoraçados americanos protegendo o desembarque.

Page 95: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 95

Evans, um capitão de corveta (navio de combate), mandou atacar a força japonesa com seus torpedos, os quais tinham somente um alcance de 8 km, e por isso teve que ir ao encontro da grande frota japonesa. Seguindo sua iniciativa, os pequenos destrutores e porta-aviões que estavam ancorados em Leyte, também atacaram. Os japoneses, que eram superiores em armamento e quantidade de marinheiros, terminaram fugindo desconcertados depois de perderem 4 porta-aviões, 3 acoraçados, 10 cruzeiros, 11 destrutores e mais de treze mil combatentes. O dia 7 de dezembro foi, na prática, o final da frota japonesa, e a partir desse dia, mandara seus camicases desde o solo.

A Guerra em 1945

Enquanto pais de família, operários, e a juventude do mundo continuavam a se explodir mutuamente, as lideranças dos países em guerra se reuniram para coordenar as ações militares e planejar o futuro do mundo do pós-guerra. De 04 a 11 de fevereiro aconteceu a Conferência de Yalta, no Palácio de Livadia, na Crimeia. Nela, Stalin, Roosvelt (que já estava visivelmente debilitado, e que morreria pouco depois da conferência), e Churchill acordaram a instalação de sistemas democráticos nos países liberados dos nazistas, acertaram a ocupação dos territórios com os quais ficaria a URSS, o isolamento da Espanha franquista, a extinção da SDN e a criação da ONU, entre outros acordos.

Com os russos combatendo na Prússia Oriental e na Polônia, os alemães encontravam-se já tentando sobreviver no seu próprio território. Varsóvia e o campo de Extermínio de Auschwitz foram liberados no mês de janeiro. Em fevereiro a cidade de Dresde foi bombardeada pelos aliados. Sua total destruição deixaria mais de cem mil civis mortos.

Os combates se sucediam um a um, sem descanso, e na medida em que os alemães perdiam terreno para os aliados, os comandantes nazistas executavam a todos os que se opuserem a empunhar as armas. A tática de “terra queimada” destruiu os vilarejos, as vias de trem e as pontes que estavam sendo perdidas pelos alemães. No entanto, diante da ordem de Hitler de destruir tudo e não deixar nada para os aliados, o General Speer negou-se a cumprir a ordem em um heróico ato de humanismo para com seus compatriotas.

No mês de março aconteceu a Operação Varsity, a maior operação aerotransportada da história (até então tinha sido a fracassada Operação Market Gardem), com a qual os aliados ultrapassaram o Rio Rim e empreenderam a marcha rumo a Berlim, o coração da Alemanha Nazista.

Page 96: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

No mês de abril, os aliados recuperaram Viena, derrocaram o General Model e os exércitos do Ruhr e liberaram os campos de Buchenwald e Bergen-Belsen. Entretanto, os mandos militares tinham conversado para desespero do General Paton, que os russos tomariam Berlim. E o avanço aliado comandado por Paton se deteve por falta de combustível e um erro tático dos altos comandos militares americanos.

No dia 28 de abril de 1945, na Itália, os partisans (membros de uma tropa irregular) prenderam a Benito Mussolini e Clara Petacci, enquanto tentavam fugir para Suíça. Depois de um juízo sumário, ambos foram executados, seus corpos mutilados e expostos na praça de Loreto, junto com seus colaboradores fascistas Bombacci, Pavolini e Starace.

O Ataque definitivo a Berlim, por parte do exército vermelho, começou em 20 de abril de 1945 com um bombardeio ao centro da cidade perpetrado pelo exército bielorusso comandado pelo Mareshal Georgy Zhukov, enquanto que os ucranianos dirigidos pelo general Ivan konev invadiam a cidade pelo sul. Durante as semanas anteriores eles vinham avançando em direção da capital alemã em média 40 km por dia. Os soldados estavam esgotados, porém o orgulho nacional, a adrenalina dos combates e a sede de vingar os crimes que os alemães tinham realizado em sua terra os fez lutarem com vigor durante os dias que durou a batalha, tomando rua por rua e casa por casa, até a rendição incondicional das forças alemãs, acontecida no dia 8 de maio de 1945.

Mas a rendição da Alemanha não significou o fim do holocausto para os prisioneiros nos campos de concentração. Segundo J. Goldhage (1997), ele continuou com as marchas da morte. Cientes de que os aliados tomariam os campos, os guardas iniciaram uma série de “transferências” sem destino, fazendo andar os presos sem descanso, sem alimento nem água, no meio da intempérie, até caírem mortos de inanição ou até serem sumariamente assassinados, pelos guardas que queriam se ver livres deles.

Com a Alemanha submetida, os líderes aliados reuniram-se em Potsdam, caminho de Berlim. Roosvelt tinha morrido e Truman estava representando os norte-americanos. Em Potsdam os aliados estabeleceram as novas fronteiras alemãs e polacas. Alemanha perdeu território para Polônia e Polônia perdeu território para a URSS no lado leste; planejaram-se ações de dessnazificação de forma levar a juízo os chefes nazistas por crimes de guerra, entre outros acordos. O julgamento dos nazistas aconteceria em Nuremberg, entre 20 de novembro de 1945 e 05 de outubro 1946.

Page 97: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

A guerra na Ásia, no entanto, ainda continuava. Entre fevereiro e março de 1945 aconteceu a sangrenta batalha de IwoJima, onde o General Kuribayashi defendeu a ilha com seus mais de vinte mil homens cavando túneis e cavernas desde onde suportaram o feroz bombardeio dos destrutores norte-americanos e fizeram frente aos fuzileiros navais com bravura. A falta d’água e de munição, no entanto, os sentenciou à derrota.

Saiba mais:

A Guerra na Ásia o suicídio coletivo foi sistemático entre os japoneses, e não somente foi cometido pelos militares, mas também pelos civis, como ficou evidente nas ilhas Ryukyu, em Saipan, em Okinawua e em outras ilhas onde, perante a chegada iminente dos americanos, eles se jogavam dos alcantilados, se enforcavam ou se mutilavam mutuamente com pedras, inclusive cometendo matricídios. Mais de trinta mil civis morreram desse jeito durante a Guerra do Pacífico. Lawrence Rees, no livro El Holocausto Asiático, p.133-187, prova que foram os próprios soldados japoneses os que incentivaram e inclusive forçaram esses suicídios, e que nas ilhas onde os militares não estavam nenhum civil se suicidou.

Quando os tiros cessaram somente duzentos japoneses haviam sobrevivido. Muitos deles tinham se suicidado com sua própria espada, a tiro de pistola e inclusive fazendo explodir uma granada sobre seus ventres. A importância dessa ilha era eminentemente estratégica, pois além do mato baixo e seco, as rochas e a areia, não havia nenhuma riqueza na ilha. Mas era uma ilha central no arquipélago, com um pequeno aeroporto, onde os americanos poderiam recarregar combustível em seus aviões e poderiam decolar para realizar bombardeios sobre Tókio. O maior deles aconteceu no mês de março, causando mais de oitenta mil vítimas civis.

Em 11 de abril de 1945, alguns dias antes do suicídio de Hitler, morreu Roos-velt. Seu sucessor, H. Truman, deu continuidade ao trabalho iniciado por Roosvelt, por iniciativa de Einstein, sobre a energia atômica aplicada à industria bélica no Projeto Manhattan.

Saiba mais:

Acesse e leia a carta de Einstein a Roosevelt em: https://pt.wikisource.org/wiki/Carta_de_Albert_Einstein_para_Franklin_Delano_Roosevelt

Page 98: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea98

Os japoneses tinham, além da bravura destemida de combater, algumas características culturais que dificultavam sua rendição, sobretudo a vergonha de serem derrotados e a afeição fanática por seu imperador, a quem consideravam de origem divina. Por isso preferiam morrer a entregar-se. Convencido de que a guerra iria se prolongar indefinidamente no Pacífico, e que iria custar ainda mais vidas americanas, Truman decidiu utilizar a bomba atômica contra Japão e dizimar definitivamente sua resistência.

Com as cidades de Hiroshima (6 de agosto) e Nagasaki (9 de agosto) pulverizadas pela energia atômica, e os russos invadindo Manchúria (apesar do pacto de paz com os japoneses), o imperador, que até então tinha deixado a seus generais o poder de tomar as decisões, interferiu destituindo o governo e anunciando a seus cidadãos que iria se render aos aliados. O imperador mandou a seu ministro Mamoru Shigemitsu assinar o armistício em seu nome. Ele foi vestido de fraque e chapéu de copa para assinar o documento de rendição incondicional a bordo do destrutor SS Missouri, diante do general americano Richard Sutherland, o dia 02 de setembro de 1945.

O conflito bélico mais sangrento e mortífero da história tinha sido clausulado com a explosão da energia mais poderosa que a humanidade conhecia na época. Mas ao mesmo tempo ela abria um período de tensões, suspeitas e ameaças que continuaram a assolar a humanidade até meio século depois: A guerra fria.

Consequências da Segunda Guerra Mundial

Com exceção das cidades norte-americanas, as urbes importantes dos países que mais diretamente participaram na Guerra foram arrasadas pelos constantes bombardeios aéreos e de artilharia. Os objetivos desses bombardeios deixaram de ser militares. Os ataques às populações civis, centros urbanos e econômicos, se tornaram sistemáticos durante todo o conflito.

Ayén (2010) menciona que a Segunda Guerra Mundial cobrou a vida de mais de 45 milhões de soldados. Vitimou mais de 22 milhões de russos, 13 milhões de chineses, 7 milhões de alemães, e 6 de polacos. Os Iugoslavos tiveram 2 milhões de perdas. Os Japoneses, 2 milhões. Franceses, britânicos, italianos tiveram juntos mais de dois milhões de mortos. Os americanos, (só) um quarto de milhão de falecidos. Isso sem contabilizar o resto de países involucrados em todos os continentes do Globo. Outros autores falam de 85 milhões de vítimas, e ainda outros de mais de 130 milhões, considerando as vítimas chinesas da invasão japonesa, porém sem

Page 99: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 99

contabilizar ainda os que vieram a falecer ao longo do tempo como consequência das feridas da guerra, a fome que se alastrou e as doenças trazidas pela insalubridade.

Ao olhar para essas cifras temos hoje o risco de pensar somente em números e estatísticas comparativas. Mas a humanidade não deve esquecer que atrás de cada um desses dígitos há um pai de família que deixou de levar o alimento para casa. E não foram somente os militares que morreram, civís eram executados sumariamente ou morriam soterrados nos bombardeios. Mulheres eram estupradas por soldados bêbados, relatavam que preferiam um bombardeiro acima de suas casas do que um russo dentro delas. Crianças eram assassinadas a golpe de baioneta depois de verem morrer fuzilados seus pais. Centenas de milhares de civis morreram de inanição, desidratação, extenuação e frio nos campos de concentração e nas prisões de prisioneiros de guerra. A Segunda Guerra Mundial foi verdadeiramente o pior drama humanitário que o mundo já conheceu.

Ideologicamente o fim da Guerra significou a queda da ideologia nazista e seu racismo mortal. Mas deixaria lugar a outros dois sistemas ideológicos tanto ou mais escuros que ele: o capitalista e o comunista. Um, apoiando a ideia da liberdade e da defesa da democracia parlamentar, e outro apoiando a ideologia da igualdade e da justiça social. Sobre eles, a história se responsabilizaria por desmascarar a falsidade escondida atrás de cada um desses sistemas, sobretudo atrás do sistema comunista, que deixaria atrás de si uma estela de morte e de retraso generalizado nos países onde ele se instalou.

Economicamente, a guerra favoreceu aos norte-americanos, que ficaram como a potência hegemônica indiscutível, com o 50% do PIB mundial e o 60% das reservas mundiais de ouro (AYÉN, 2010). Por isso intervieram diretamente no desenho econômico e político mundial do pós-guerra, planejado na Conferência de Bretton Woods, de 1944. Nela criou-se um novo sistema monetário regulado pelas instituições bancárias internacionais lá criadas (O Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, o GATT por suas siglas em inglês).

Durante a guerra, e com o fim de derrotar os nazistas, os aliados tinham deixado os soviéticos tomarem conta do leste europeu, permitindo a Stalin unir a seu território grande parte das nações conquistadas por ele aos nazistas. Mas a situação nas Repúblicas Soviéticas e os excessos criminosos de Stalin e os diferentes partidos comunistas mundiais já eram conhecidos dos aliados, e por isso a reconstrução de Europa foi um desafio que comprometeu os norte-americanos, que passaram ajudar em massa a Europa e o Japão para se reconstruírem e desenvolverem. O Plano Marshall

Page 100: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea100

ajudou assim a mostrar a superioridade do modelo capitalista sobre o comunista e alcançou para as democracias ocidentais um nível de vida e prosperidade nunca antes experimentado que passou a chamar-se estado de bem-estar (AYÉN, 2010).

Politicamente, os soviéticos passaram a instalar regimes comunistas nos países que liberaram os nazistas, sobretudo a partir do golpe de Praga de 1948, que fez Truman reagir e intervir militarmente para evitar a expansão comunista. Seu pensamento e as estratégias utilizadas se consagraram com o nome de Doutrina Truman, e esta foia o fundamento da intervenção norte-americana em Grécia, na China, na Coréia e o Vietnam. As primeiras intervenções contra o comunismo aconteceram na Grécia e na China, onde as ideologias capitalista e comunista de cada nação foram apoiadas cada uma por uma potência. Em 1949 os aliados ocidentais criaram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para apoiar-se militarmente contra a URSS, começando assim a Guerra Fria.

Page 101: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 101

Page 102: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 103: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 103

6TENSÕES SOCIAIS E PROCESSO

IMIGRATÓRIOCONHECIMENTOS

Compreender os conceitos relacionados à transição demográfica e as grandes migrações internacionais, contextualizando-as historicamente.

HABILIDADESIdentificar as grandes migrações internacionais e as causas da queda das taxas de

mortalidade.

ATITUDESPosicionar-se criticamente a respeito da migração no período pós-guerra e as

migrações da atualidade.

Page 104: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 105: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 105

A transição demográfica mundialA Revolução Industrial no começo do século XIX conheceu uma explosão

demográfica nunca antes vista de 1,5% ao ano. Isso aconteceu pelo crescimento da taxa de natalidade, procurado nos ambientes urbanos como meio de aumentar a renda familiar, pois as indústrias costumavam contratar mão de obra infantil. A taxa de mortalidade despencou devido à modernização do campo e à consequente estabilização da produção agrícola. Mais produtos agrícolas significavam menos fome e mais saúde. Porém também contribuíram novos hábitos de higiene como a construção de esgotos, o uso do sabão, o banho frequente, a vacina contra a varíola, o uso de medidas de assepsia nos hospitais e outras medidas que começaram a fazer-se comuns nessa época, sobretudo na Inglaterra, onde a Revolução Industrial tinha sido mais marcante, e nos outros países a se industrializar.

Um pastor inglês chamado Thomas Malthus responsabilizou o aumento populacional da pobreza e das doenças na Inglaterra, pois, enquanto que a produção de alimentos crescia aritmeticamente, a população crescia de forma exponencial, tornando inviável o bem-estar social. No entanto, durante o transcurso da Segunda Guerra Mundial, boa parte da população europeia foi dizimada, e as teorias bicentenárias de Malthus foram no momento engavetadas nesse Continente.

Finalizada a Segunda Guerra Mundial foi a vez dos países subdesenvolvidos observarem cair suas taxas de mortalidade, e começaram a sair do centenário atraso no qual se encontrava com relação ao uso de medicamentos preventivos, como as vacinas. Assim a profilaxia contra a difteria, a malária, o tifo e o sarampo passou a ser imposto pelos governos, por força de lei, inclusive enfrentando às populações que se revoltaram e, em alguns casos, se armaram contra os agentes de saúde, que queriam impor a vacina (por exemplo, no Rio de Janeiro, em 1904, na chamada Revolta da Vacina).

A queda da mortalidade nas nações subdesenvolvidas provocou uma explosão demográfica nesses países. Esta foi superior à explosão demográfica da Revolução Industrial, provocando um aumento de 2% por ano nas décadas de 1950 a 1970 de 3% na década 1980 (MAGNOLI-ARAÚJO, 2005).

Com esse aumento, as teorias de Malthus foram aplicadas a América, com uma resalva: enquanto que na Europa Malthus dizia que a natureza era culpada do aumento da população (e dos pobres), na América os Neo-malthusianos ensinaram que os pobres eram os culpados de sua própria pobreza e da pobreza de seus países, pois as creches, o sistema de saúde e de auxílios sociais desvia os investimentos que

Page 106: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea106

deveriam ser feitos no crescimento da nação. O remédio para isso seria o controle da natalidade, sem a qual não há crescimento econômico-social. Levados por essa filosofia econômica, as Fundações Ford e Rockefeller ofereceram-se para subsidiar o esforço dos países subdesenvolvidos no controle de sua natalidade (MAGNOLI-ARAÚJO, 2005).

Ecologicamente o papel parece se inverter, pois o 20% da população (presente nos países desenvolvidos) consome 80% dos recursos do planeta, enquanto que o 80% da população do planeta (subdesenvolvida ou em vias de desenvolvimento) fica com o resto. Esse tem sido o tema a tratar nas diversas Conferências sobre a População Mundial ocorrida desde 1974 (México), em Bucareste (1984), e no Cairo (1994), quando a população mundial já atingia 5,5 bilhões de habitantes. A China e a Índia são até hoje os países mais populosos do mundo, talvez com quase três bilhões de pessoas entre os dois gigantes.

A discussão entre neomalthusianos e religiosos oculta as grandes

transformações recentes na dinâmica demográfica mundial. Apesar dos

preceitos religiosos e, em muitos casos, da ineficiência dos programas

de planejamento familiar; todas as grandes regiões subdesenvolvidas do

mundo apresentam diminuição de suas taxas de incremento demográfico

nas últimas décadas. A estabilidade demográfica é uma questão de tempo

[...] A América Latina constitui o mais notório exemplo dessa tendência.

Nesse caso, o acelerado processo de urbanização, que rompeu os vínculos

tradicionais entre o meio rural e as pequenas cidades, vem provocando

uma redução rápida e constante das taxas de natalidade, desde a década

de 1970. Na África subsaariana, porém [...]só recentemente observam-se

os primeiros sinais de redução nas taxas de crescimento natural na região,

embora continuem sendo as taxas mais elevadas do planeta (MAGNOLI-

ARAÚJO, 2005, p. 462).

As grandes migrações internacionaisAs migrações internacionais não se referem à mudança de países de indivíduos

ou famílias, mais ao fluxo de populações que atravessam fronteiras, legal ou ilegalmente. As maiores migrações internacionais acontecem atualmente na procura de fontes de trabalho, como por exemplo, no caso dos mexicanos e de outros sul-

Page 107: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 107

americanos que atravessam a fronteira do México com os Estados Unidos para buscar emprego nos campos e nas fábricas americanas e canadenses. No entanto, os momentos em que aconteceram as maiores ondas migratórias foram simultâneas as situações de intenso crescimento demográfico e estavam ligadas à industrialização, à integração econômica dos países e ao desenvolvimento dos meios de transporte (MAGNOLI e ARAÚJO, 2005).

Isso aconteceu, principalmente, na segunda metade do século XIX durante a Revolução Industrial e nos períodos pós-guerra, depois da I e da II Guerra Mundial, principalmente na Europa, onde fazia falta mão de obra para a reconstrução do país e a recuperação da indústria.

Magnoli e Araújo (2005) afirmam:

Durante o século XIX, a Europa foi a mais importante zona de repulsão

demográfica do globo. [...] O crescimento populacional se acelerou,

em virtude da queda das taxas de mortalidade. A revolução técnica

na agricultura, acompanhada pela concentração fundiária, produziu

excedentes demográficos no meio rural. A industrialização destruiu o

artesanato e a pequena manufatura doméstica, gerando excedentes no

meio urbano (MAGNOLI E ARAÚJO, 2005, p. 464).

Da Europa migraram muitos trabalhadores rumo ao Canadá, os Estados Unidos (que recebeu três quartos desses trabalhadores), e alguns países centro e sul-americanos, como México, Chile, Brasil e Argentina. Do Velho Continente também houve grandes migrações para Nova Zelândia, para Austrália Etiópia, Argélia e África do Sul. Essas migrações somente terminariam com a grande depressão econômica de 1929 e o advento da Primeira Guerra Mundial.

As Guerras Mundiais também provocaram um grande fluxo de migrantes, o maior jamais visto, porém não de cidadãos na procura de emprego e sim de refugiados em busca de preservar a própria vida. Populações inteiras fugiam dos bombardeios alemães na Bélgica, na França, na Polônia, nos Bálcãs e outras nações dominadas pelo III Reich. As cidades que recebiam os refugiados não suportavam o enorme volume de novos habitantes que chegavam, inclusive, dobrando sua população, desestabilizando a economia das cidades, já ferida pelo esforço da guerra.

Page 108: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea108

Depois da Segunda Guerra Mundial, o fluxo migratório recomeçou, mas nessa vez, ao inverso. A Europa, que precisava reconstruir-se, converteu-se no centro econômico para o qual os migrantes olhavam como meta na procura de emprego, e os países atrasados na industrialização foram a fonte da mão de obra, apesar das fronteiras linguísticas e culturais.

Magnoli e Araújo (2005) salientam que os movimentos migratórios tornaram-se cada vez mais intensos na época da paz, e que “correntes populacionais deslocam-se em direção a todas as zonas onde há demanda de força de trabalho”: O Canadá, Austrália, e em menor escala, a Nova Zelândia continuam a figurar entre as principais zonas de atração de migrantes, mas atualmente recebem mais asiáticos do que europeus (MAGNOLI-ARAÚJO, 2005, p. 464).

Os mesmos autores também afirmam que desde 1970 o Oriente Médio é um foco de imigração de trabalhadores do petróleo, do transporte e da construção civil oriundos do Egito, Síria, Jordânia e a Palestina, povos com crescimento demográfico importante, sem muita estrutura e em permanente estado de tensão pela ocupação israelita de seus territórios.

Um detalhe importante a considerar é a disseminação das ideologias e das religiões que acompanham os migrantes. Na Europa e na América as diversas religiões do cristianismo foram espalhadas pelos migrantes. Da mesma forma, na Região do Golfo Pérsico, junto com a língua comum, a religião islâmica favoreceu esse fluxo. Isso evidencia-se na presença de grande quantidade de africanos vindos do norte do continente e da Ásia meridional, onde o Islã prevalece.

Na África, o principal foco de imigração é África do Sul, principal Polo Industrial de todo o Continente. Mas também os países exportadores de frutas tropicais, como Guine e os países petroleiros da costa do Oceano Atlântico recebem grande quantidade e imigrantes.

Ásia, o continente com maior quantidade de excedente populacional, exporta mão de obra para todo o mundo, principalmente para os Estados Unidos, o ocidente europeu, os países petroleiros do Golfo Pérsico, Japão, Coréia do Sul, Taiwan e Singapura.

Japão, que já padeceu o fluxo de seus cidadãos para os Estados Unidos e para outros países - dentre eles Brasil, durante o século XIX, necessitou da mão de obra coreana durante a Segunda Guerra Mundial. Ao terminar a guerra, no entanto, os descendentes desses trabalhadores tornaram-se um grupo étnico descriminado, que até hoje não conseguiu ser reconhecida sua cidadania.

Page 109: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 109

Os conflitos étnicos, ligados a movimentos nacionalistas e muitas vezes segregacionistas, eram constantes em todas as nações que receberam grandes fluxos migratórios: de forma semelhante aos coreanos no Japão, eram tratados os Irlandeses no leste e os Mexicanos no sul dos Estados Unidos, os Egípcios na Arábia Saudita, os Vietnamitas e os Filipinos na China e os Muçulmanos na França ou na Alemanha. A imigração sempre teve o perigo de gerar e alimentar ideologias xenófobas

Page 110: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

LLEITURA OBRIGATÓRIAEste ícone apresenta uma obra indicada pelo(a)

professor(a) autor(a) que será indispensável para a formação profissional do estudante.

e

Page 111: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 111

GUIA DE ESTUDO

Após a leitura das obras, escolha uma e faça uma resenha crítica e poste na sala virtual.

Sugerimos que você leia a monografia com o título A Alemanha no período de entre guerras: Um estudo sobre a hiperinflação e a ascensão do nazismo de Moreira, pois ele estuda a situação vivida pela Alema-nha entre as duas guerras mundiais (entre 1918 e 1939). O autor aborda da visão histórica do período e o caminho percorrido pelo povo alemão até a formação da atual Alemanha, também a as-censão do nazismo ao poder e do Tratado de Versalhes.

MOREIRA Sbrocco, Fernando. A Alemanha no período de entre-guerras. Um estudo sobre a hiperinflação e a ascensão do nazismo.

Disponível em: http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/121089/sbrocco_fm_tcc_

arafcl.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Propomos a leitura da obra ‘Formação do Brasil Contem-porâneo’, na qual o autor se fundamenta sempre que pode em estatísticas e documentos oficiais e em outras diferentes fontes de primeira e segunda mão, o que enriquece a obra. Ele está bem informado e fundamentado. Sua linguagem é objetiva, po-rém, em ocasiões, excessivamente técnica. Contudo, é uma ex-celente obra de consulta acerca das motivações econômicas dos países coloniais, o povoamento do Brasil, a construção de suas vias de comunicação, sua formação econômica, social e política.

PRADO JUNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. 23ª. ed. São Pau-lo: Brasiliense, 2006.

Page 112: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

RsREVISANDO

É uma síntese dos temas abordados com a intenção de possibilitar uma oportunidade

para rever os pontos fundamentais da disciplina e avaliar a aprendizagem.

Page 113: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 113

Quando o Rei Luis XVI declarou o Estado em bancarrota, instalou os Estados Gerais em 5 de maio de 1788. A última vez que essa espécie de parlamento medieval tinha sido convocado foi em 1614, onde os diferentes ‘braços’ (representantes da nobreza, do clero e da população) votaram de forma separada para definir ações para salvar a economia. Paris em 1788 ardia na disputa de diferentes grupos políticos. O mais importante deles foi o partido de Robespierre, que era o partido dos republicanos radicais, o jacobino, que terminaria por decapitar o rei.

Por trás das primeiras seções dos Estados Gerais, os deputados do clero e da nobreza começaram a se reunir. Perseguindo o perigo, o rei mandou que as reuniões se fizessem por separado, ao que o conde de Mirabeau respondeu aos berros: “O que é que manda o rei? Aqui o rei não tem nada que mandar! Nós somos o povo! Só abandonaremos nosso posto se formos obrigados pelas armas!”. Com essa sentença, a democracia declarava a guerra ao absolutismo, os Estados Independentes converteram-se em uma Assembleia Nacional e se decretava o destino da monarquia francesa e do futuro do mundo.

Daquele momento até nossos dias, a história se acelerou substancialmente, sobre tudo na segunda metade século XX e, cada vez mais, nos três primeiros quinquênios de nosso século. Por isso é impossível tratar de todos os grandes acontecimentos vividos e sofridos pela humanidade no período da história denominado História Contemporânea ou Contemporaneidade. Neste material você encontrará as linhas principais de estudo acerca de alguns dos fenômenos mais importantes deste imenso período histórico: A revolução francesa desde a perspectiva da literatura produzida em torno dela; os nacionalismos, colonialismo, o liberalismo e a situação das minorias nacionais do século XX.

Como consequência dessas ideologias, desataram-se as Guerras Mundiais do século XX. Elas são repassadas durante o estudo, também numa visão geral. Acerca delas são expostos seus antecedentes, suas causas imediatas, as fases pelas quais elas se desenvolveram e as consequências dos conflitos. Mas essas divisões são meramente metodológicas e pretendem ajudar o estudante a contextualizar cronologicamente os acontecimentos.

Dois fenômenos históricos são apresentados nesta disciplina. O primeiro é o fenômeno da transição demográfica mundial e das migrações internacionais dos séculos XIX-XXI. Acerca do segundo fenômeno, a divisão intelectual do trabalho, sua visão capitalista e sua leitura marxista.

Page 114: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

AvAUTOAVALIAÇÃO

Momento de parar e fazer uma análise sobre o que o estudante aprendeu durante a disciplina.

Page 115: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 115

1. Qual era o sistema econômico dominante em 1789?

2. Descreva qual era o principal objetivo dos revolucionários franceses.

3. Descreva sobre as causas do novo imperialismo.

4. O que defende o Liberalismo?

5. Quais os princípios regidos pelo Liberalismo político?

6. Quais as características do Liberalismo moderado e do Liberalismo democrático?

7. Comente sobre a onda Revolucionária (1820, 1830 e 1848)

8. Comente sobre a unificação da Alemanha e Itália.

9. Comente sobre Hitller e Mussolini.

10. Comente as causas e consequências da Primeira Guerra Mundial.

11. Comente as causas e consequências da Segunda Guerra Mundial

12. Comente sobre a imigração internacional.

Page 116: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

BbBIBLIOGRAFIA

Indicação de livros e sites que foram usados para a construção do material didático da disciplina.

Page 117: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 117

AYEN Sánchez, Francisco. La Segunda Guerra Mundial. Causas, Desarrollo y repercusiones. Proyecto Clio 36.Costa Rica, 2010. ISSN: 1139’6237. Disponível em hpp:clio.redirirs.es. Acesso em 15–11 –15.

BEEVOR, Antony. D-Day:The Battle for Normandy. New York, Viking Ed., 2009. ISBN; 978-0-670-02119-2.

BRIONES Quiroz, Félix – MEDEL Toro, Juan Carlos. El Imperialismo del s. XIX. Rev. Tiempo y Espacio 25/2010. ISSN: 0716-9671.

BRIGS, Asa – CLAVIN, Patrícia. História Contemporânea de Europa, 1789-1989, Barcelona, Crítica, 1997, p. 133.

DÁVILA Figueroa, Ruth A., Minorías nacionales e integración de la Unión Europea, Aproximación teórico metodológica. Em: Revista de Investigación Social. Ano IV, Núm. 7. 2008. UNAM, México. D. F., p. 16-36.

GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Planeta Brasil, 2007.

GOMES, Laurentino. 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

HOBSBAWM, Eric. La era Del Imperio, 1875-1914. Ed. Crítica, Buenos Aires, 1998.

__________. La era de La Revolución, 1789-1989. Buenos Aires, Ed. Crítica, 1998.

__________. La era del Capital, 1848-1875. Ed. Crítica. Buenos Aires, 1998.

__________. Era dos Extremos. O breve século XX, 1914-1991. Companhia das Letras, São Paulo, 1995.

Page 118: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

| História Contemporânea118

JONAH Goldhage, Daniel. Os Carrascos Voluntários de Hitler. O Povo Alemã e o Holocausto. Companhia das Letras, 1997.

LARA Fernández, Rosa María. Liberalismo y nacionalismo en la Europa del siglo XIX, proyecto CLIO 36, ISBN: 1139-6237.

__________. Naciones, estados y nacionalismos em Europa desde 1915 hasta 1945. ISBN: 84-9822-031-9, Madri, 2015. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=7l3RL6UdjSIC&printsec=frontcover&dq=Naciones,+estados+y+na-cionalismos+em+Europa+desde+1915+hasta+1945&hl=ptBR&sa=X&redir_es-c=y#v=onepage&q=Naciones%2C%20estados%20y%20nacionalismos%20em%20Europa%20desde%201915%20hasta%201945&f=false Aceso em 17/02/16.

MAGNOLI, Demétrio – ARAÚJO, Regina. Geografia: A construção do mundo. Geografia geral e do Brasil. Ed. Moderna, São Paulo, 2005.

MOMMSEN, Wlfgang. La época del imperialismo: Europa 1885-1918. Vol. 28. Ed. Siglo XXI, 1971.

PRADO JUNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 23. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.

Page 119: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 120: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências
Page 121: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências

História Contemporânea | 121

Bibliografia Web

FERREIRO, Ruth. La cuestión nacional y los problemas de las minorías en Europa del Este, Em: Papeles del Este, 1 (2001): 1-7. Disponível em: www.researchgate.net/profile/Ruth_Ferrero/publication/27592745 Acesso em 24/11/15.

JVOVELLE, Michel. A Revolução Francesa e seu Eco. Acessível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v3n6/v3n6a03.pdf Acesso em 15/02/2016.

MACMAHON, Robert J. (Traduzido por Rosaura Reichemberg). Guerra Fria, Disponível em: http://www.lpm.com.br/livros/Imagens/guerra_fria_encyclopaedia_trecho.pdf Acesso em 15/02/2016.

RENOUVIM Pierre, História das relações internacionais, Tomo II: Siglos XIX e XX. Editorial Akal, 1990 (2ª. Ed.). Versão informatizada Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/183161994/Renouvin-Historia-de-Las-Relaciones-Internacionales-Tomo-II#scribd. Acesso em 07/11/15.

ROUSSO, Henry. História do Tempo presente. Florianópolis, v. 1. N. 1, p. 201-216, jan/jun 2009. Disponível em: http://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/705/608 Acesso em 15/02/16.

SBROCCO, Fernando Moreira. A Alemanha no período de entre guerras: Um estudo sobe a hiperinflação e a ascensão do nazismo. Araraquara � S.P, 2011. Disponível em: http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/121089/sbrocco_fm_tcc_arafcl.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em 17/02/16.

TARACENA, Arturo. El debate historiográfico en torno a la Revolución Francesa. Ciclo de Cinema e História. Universidade de Costa Rica, 1994. Disponível em: dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4796620.pdf Acesso em 25/02/16.

Page 122: Contemporânea · 2020. 5. 2. · istória Contemporânea 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifícia. Licenciado em Ciências