Anna Hartmann Cavalcanti - Nietzsche e a História

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    Nietzsche e a Hist6riaAnna Hartmann Cavalcanti

    IntroducaoNietzsche trabalha, em sua critica a modemidade, corn urn modele oculto. Emuito dificil compreender seus textos sem estar atento a este modelo presente

    em todas as linhas de sua critica e com 0 qual dialoga ern silencio e de formadispersa. A cada capitulo urn novo elemento surge ou e retomado, elemento queindica seu modelo silencioso. Assim tarnbem ocorre com a Segunda Considera-~ao Extemporanea na qual Nietzsche trabalha a historia. 0 texto permanecemisterioso ate 0 seu ultimo capitulo, quando Nietzsche revela 0 modelo sem 0qual e incompreensivel sua critica a modernidade, Pois nolo se trata de uma cri-tica que dialoga a partir dos mesrnos criterios modernos, afasta-se deles e osobserva de fora. E ficamos nos perguntando 0que pede ser a Hist6ria, ou mes-mo 0 conhecimento depois de Nietzsche ter retirado a possibilidade decompreende-los a partir dos criterios da modcmidade filosofica. 0 que pode sera historia, se esta nao e urn conhecimento? 0 que pode ser urn conhecimento, secste nao e analitico e reflexive? Para compreender 0que Nietzsche nos propoee precise esclarecer da onde ele fala. Como filologo e profundo conhecedor daCrecia antiga, Nietzsche ressalta imimeras vezes, durante toda sua obra, scu en-tusiasmo por esta epoca. Mas e importante ressaltar que se a Crecia se tornoupara ele, assim como para inumeros pensadores, urn modelo, nolo foi no sentidode retoma-la na modernidade, 0 que equivaleria a alimentar a ilusao de urn pas-sado perdido. 0 que importa a Nietzsche sao os efeitos que urn tal passado,interpretado corretamente, possa provocar na juventude de seu tempo. Nessesentido a Crecia e urn modelo; urn modelo de alto ideal de cultura, capaz de fa-zer renascer urn ideal sufocado pela educacao modema.A primeira parte deste trabalho se propoe a esbocar a imagem do modelo gre-go tal como Nietzsche 0 interpretou. Em seguida veremos como Nietzscheencontra, nesse modele, urn valor da hist6ria bastante distinto daquele de suaepoca.

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    1. A Crecia como Cultura AutenticaNo capitulo 10 da Segunda Consideracao, Nietzsche vai buscar na hist6ria

    e na cultura grega antiga ltcoes eapazes de auxiliar a juventude em sua tarefa decriar uma eultura autentica, Estabelece uma relacao entre mistura de estilos dacultura alema da epoca e a Crecia em urn dado momento de sua historia, mos-trando como a cultura greg a foi, por muito tempo, uma mistura de formasestrangeiras. No entanto, 0 grande valor da Crecia foi ter aprendido a organi-zar 0 caos e elaborar uma cultura propria e original capaz de se libertar eenriquecer a cultura de seus antepassados. Nesta ideia de organizar 0 caos es-t a 0 valor que Nietzsche atribui a cultura grega: a capacidade de eriar provenientede uma forma saudavel de se relacionar com 0 tempo passado e futuro. Foipela capacidade de entrar em si mesma, esquecendo e elaborando 0 passado, re-fletindo e buscando 0 futuro, que a cultura grega pede ser criadora.A relacao com 0 passado supoe 0 que Nietzsche chamou de forca plastica:

    [ . . . J a faculdade de crescer por si mesmo, de transformar e assimilar todo 0 pas-sado, e 0 heterogeneo [...J , de reconstruir as formas destrufdas.1Esta capacidade de se apropriar do passado eo que permite ao mesmo tem-po que a cultura dele se libere. Todo ato eriador supoe uma suspensao sobre 0tempo, uma atmosfera vaporosa na qual 0 novo possa surgir. Criar supoe es-se poder de assimilacao e liberacao do passado, poder estar fora do tempo e se

    situar em uma atmosfera nao-historica. Da mesma maneira, Nietzsche identifi-ca em toda cultura saudavel urn instinto criador que em sua epoca ele associoua juventude. Este instinto se volta para 0 futuro sempre que algo presente 0 im-pede de crescer e, a partir de si proprio e de suas necessidades, vai amadurecendouma imagem e urn ideal de futuro.o que permitiu aos gregos organizer 0caos foi essa capacidade de esquecere assimilar 0 passado no momenta em que uma mistura caotica de estilos invadiasua cultura e, ao mesmo tempo, voltar-se para si pr6prios em direcao ao futuro.Parece que Nietzsche une 0 passado e 0 futuro a partir de urn mesmo principio;o que orienta como urn sinal 0momento de esquecer 0 passado, orienta tambema formacao de uma atmosfera fertil na qual os homens possam amadurecer umaimagem do futuro. Este prindpio e a vida e e esta que orienta os homens aexpansao e ao crescimento. Se entre 0 passado e 0 futuro se forma urn intervalode tempo que Nietzsche chamou de nao-historico e porque a vida precisa, paraprosseguir seu crescimento, de se renovar. A vida e ela mesma esse instintocriador eo valor que Nietzsche atribui a cultura grega esta na afirmacao desteprincipio:

    L.. J a ideia de uma cultura que e uma natureza nova e enriguecida, [ ...J cult~-ra concebida como a uniao da vida e do pensamento, da aparencia e do querer .1 Nietzsche, F., Da Utilidade e dos Inconvenientes da HisI6ria para a Vida, em ConsideraedesExtemporaneas, Lisboa, ed. Presenca/Martins Fontes, 1980, p. 108.2 Nietzsche, F., op. cit; p. 205.

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    A cultura e 0 ate de aperfeicoar a natureza, de modelar esse texto originarioe portanto de eriar. A cultura cria a partir da natureza e e porque ela e uma na-tureza aperfeicoada, que manifesta seu sentido estetico. Oaf toda a importanciado nao-historico para Nietzsch~, este e condicao da criacao.Como nos mostrou Andler , foi na cultura grega que Nietzsche viu pelaprimeira vez a possibilidade de uma aplicacao social da teoria de Lamarck eDarwin. 0 carater agonfstico da cultura grega, manifesto em suas atividadesculturais, mostra como e possivel disciplinar os instintos sem anula-los e comotais instintos podem ser aperfeicoados pela cultura. Tarnbern a dissimula

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    trata-se disso: se a Ciencia falhar em seu sentido de orientacao cabe it filosofiaindicar qual 0 valor do conhecimento e reorienta-lo na afirrnacao da vida. Ate-rapeutica e recolocar a historia em seu lugar, utiliza-la como fonte de experienciae nao como urn sab;r que enfraquece e se afasta da vida.Segundo Andler f Nietzsche compreende a memoria como forma de adapta-t;ao que marcou a superioridade dos homens sobre os animals. Se tal memoria eurn recurso da vida, 0 sentido historico, como forma da memoria, pode orientaros impasses humanos em sua existencia presente. Tanto a historia pode ser uti!ao presente, fortalecendo crencas ou liberando a vida dos antigos obstaculos, co-mo pode impelir ao futuro a partir de seus ensinamentos.Foi esse sentido de utilidade que Nietzsche desenvolveu em sua nocao de his-toria tradicionalista e critica.A virtude da historia tradicionalista e mergulhar no tempo encontrando nelepressentimentos do futuro, ter a sensibilidade de ver no passado tudo 0 que per-mitiu as geracoes presentes naseerem:

    1 . . . 10 prazer de saber que nao se e urn ser I . . . l arbitrario e fortuito, mas que severn de urn passado que se e herdeiro ... 8Para se conservarm, os homens criararn habitos que perrnitiram, atraves deuma grande luta, a perrnanencia da especie. Em nome desse prindpio da vida,cria-se uma relacao de heranca e gratidao entre geracoes. Assim surge, entre 0passado eo presente, urn fio de continuidade que !ortalece a crenca das geracoesem si mesmas atraves de seu sentido de heranca. E ainda esse sentido que, unin-do-as fortemente a urn passado, permite que a historia possua urn valoreducativo. Assim como antes os oraculos orientavam os homens, a historia, ba-seada em urn rigoroso conhecimento do passado, agora orienta-os, Mas issos6 se toma possivel parque a identidade entre 0 passado e 0 presente se cons-troi sobre urn forte sentimento de vida, permitindo que a conservacao do passadoseja util ao presente.

    A hist6ria tradicionalista degenera logo que a vida presente deixa de a animare vivificar, I . . . J e deparamos com 0 espetaculo repugnante de uma furia ce~ade colecionador, empenhada em desenterrar tudo 0 que existiu no passado.Conservar nao possui 0 sentido de copiar e colecionar, mas ate mesmo de rom-per e superar, pais a propria tradicao carrega em si a necessidade de revo]uc;aolO.Nesse sentido, 0 passado esta a service do presente, a tradicao e util na me-dida em que e fonte de experiencia e fortalecimento, Mas no momento em quea presente deve voltar-se ao futuro e a pr6pria tradicao que vern em seu auxflio.Na hist6ria critica e a pr6pria tradicao que e posta em questao, Aqui a vidaprecisa da ac;ao, precisa destruir algo que a impede de crescer, precisa voltar-separa 0 futuro. Quando 0 passado chega a sufocar os hom ens e preciso dele se li-

    7 Idem, voL 1, pp. 513-516.8 Nietzsche F., op. cit; p. 127.9 Idem, p. 128.10 Andler refere-se a essa questao com a seguinte frase: E a pr6pria tradi

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    bertar e reconhecer a necessidade de criar uma nova natureza, E precisamen-te ai que a hist6ria se torna litH e mostra quantas modificacoes ja ocorreram eforarn possfveis. Formar uma segunda natureza e sempre uma iniciativa pengo-sa pois eondenar as geracoes passadas nao apaga nossa origem nelas. A hist6riaportanto tern 0 papel de auxiliar a construcao dessa nova natureza sem a qualcorre-se 0 risco de permaneeer preso ao passado.nPodemos relacionar aqui a historia tradicionalista e a critica, pois se a tarefada primeira e eonservar a mem6ria do passado na medida em que este auxilia avida, e a da segunda 0 trabalho negativo de romper com 0 passado, e urn instin-to eonstrutivo que leva a ultima a destruir e, ao mesmo tempo, retornar aopassado para dele retirar licoes, Mesmo tendo que ser destruido, 0passado per-manece com sua funcao edueadora orientando os homens na formacao de umasegunda natureza. Se a mem6ria tradicionalista eonserva 0passado para se for-talecer, e uma mesma utilidade da mem6ria que vira em auxflio dos homens,quando e necessario se modifiear. Em ambos os casos nao e tanto 0 passado quee conservado, mas tudo 0 que nele permite a vida e seu crescimento. E como ex-pcriencia que 0 passado serve a vida. Esta nocao parece, a primeira vista, estarinvertida pois 0passado, isto e , culturas desaparecidas, e 0que permite as gera-c;5es presentes nascer e ao mesmo tempo e 0 que constitui uma rica fonte deexperiencia a todo 0 futuro. Isto porque 0 ponto de vista a partir do qual Nietzs-che ve 0 passado e bastante distinto do moderno; nao ha essa distancia queimpede qualquer experiencia eleva 0 homem moderno a fazer do passado Cien-cia, ja que nada mais pode aprender com ele, E porque esse homem moderno ecetico em relacao ao futuro que 0 passado deixa de ter urn sentido positive namodernidade.Estranho dialogo que Nietzsche elabora entre 0 passado, 0 presente e 0 futu-ro. A vida presente tem sua origem no passado e dele se serve comofortalecimento e experiencia, Mas exatamente porque esse passado pode se cris-talizar no presente e impedir seu erescimento e que 0presente precisa do futuroe euriosamente vai busca-lo no passado. Parece haver no passado uma riquezade experiencia, mas sobretudo ha a possibilidade da experiencia, Ao criticar ashistoriadores modemos, Nietzsche descreve a sua pratica de dissecadores; 0acontecimento ou a acao se torna hist6ria a partir da dissecacao do ate passadoe do impedimento de seu efeito por meio da consideracao analitica.12 Tornar ahist6ria Ciencia e aniquilar seus efeitos, aniquilar portanto a mem6ria que podevir em auxflio da vida. Mas 0 que e uma experiencia passada capaz de suscitarefeitos? Certamente nao se trata apenas de ensinamentos, mas de um princfpioda vida: 0 passado ensina que a vida eo que esta em perrnanente erescimento ee esta experiencia que suscita efeitos. Efeitos nao de retomada do passado, masde seu principio. A unica identidade entre as tres dimens6es temporais e dadapor esta experiencia, sem a qual 0 passado nao possui mais vida, nern efeitos. Epode assim tornar-se um objeto de conhecimento frio e objetivo.11 A continuidade entre 0 cristianisrno e a denda, que Nietzsche desenvolve no capitulo 8 daSegunda Consideracao, parece ser uma fonna de perrnanecer preso ao passado, j s . que 0ceticisrno, irnpedlndo a crenca no futuro, anula a possibilidade de amadurecirnento de urn novoideal.12 Nietzsche, F., op. cit" Cap. 8.

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    3. A Hist6ria como Obra de ArteNietzsche refere-se ainda a urn terceiro tipo de historia: 0monumental. Esta

    e a historia dos grandes momentos do passado, onde se funda para Nietzsche acrenca na humanidade:[ . . . J crer que para mim um desses momentos altos do pa~Sfdo continua vivo eluminoso, eo fundamento da crenca na humanidade [...J 1

    o valor da humanidade esta justamente na capacidade de atingir tais rnornen-tos, de aperfeicoar e elevar a natureza. Mas se essa e uma capacidade humana,ela nao se realiza necessariamente. Nietzsche se refere a uma luta entre dois ti-pos de humanidades onde tudo aquila que vive fora da atmosfera de grandezaprotesta, Na Genealogia da Moral, Nietzsche desenvolve uma dupla nocao dehumanidade que tern como referenda a vida: 0 tipo ativo e 0 reativo. Tarnbemneste ensaio ele parece diferenciar dois tipos de individuo e cultura de formabastante semelhante a Genealogia. 0 que diferencia os tipos eo ponto de vistaa partir do qual veem a vida: as grandes homens pouco se preocupam com a fi-nitude da existencia, na medida que tomam par tarefa a ft,andeza da especiehumana atraves de uma obra, uma arte, [...] uma criacao 4 0 segundo tipo eo homem angustiado pela brevidade da vida, para quem importa a conserva-

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    aos que possuem como tarefa religar 0 fio partido da humanidade com sua gran-deza. Esta hist6ria torna-se modelo de ac;ao; nso se busca retomar urn passadoperdido, mas obter ensinamentos que reorientem a cultura para a vida. A dimen-sao interessante da Hist6ria Monumental e 0fato de 0passado ser ainda modelede superacao, Alem de reorientar para a vida, ele ensina a transformar numapratica superior 0 que aprenderam16. Elevar-se sobre 0 pr6prio passado e in-tensiflca-lo e a tarefa da hist6ria monumental. E e somente neste sentido que 0passado pode ser compreendido como modelo para ac;ao,na medida em que porseu tipo proprio de cultura, a aC;aoe superacao (ver Parte 1).Aprender com 0passado ja e supera-lo, aprender sua lic;ao e tornar-se seu herdeiro.

    S e nos fossemcs apenas epigonos, como poderfamos, considerando esta cultu-ra como heranca (a cultura grega) que nos esti ~estinada, continuar a nao sernada de mais digno e grande do que epigonos?lSer herdeiro da Crecia antiga toma imposslvel ser apenas seu epfgono. Estaheranca supoe a ac;ao.Ao longo do ensaio, 0valor da hist6ria monumental cresce na medida em quevai se esdarecendo a existencia de dois tipos de homens e os elementos de umacultura autentica: a grandeza e a etemidade. 0 valor da hist6ria monumentalnos indica qual e 0modele a seguir e com c1areza Nietzsche vai propondo quetornemo-nos seus herdeiros. A partir dar, e possivel esclarecer a relacao diretaentre 0 passado e 0 futuro e esta vivacidade que Nietzsche da ao passado.

    Na perspectiva de heranca, 0 passado toma-se 0 local de nascimento de urnate ideal de cultura, cultura esta que por seu principio de criacao marca em seunascimento uma experiencia de conteiido etemo e portanto uma experiencia quese lanca acirna da pr6pria temporalidade. Nietzsche a chamou de supra-histori-ca. Urn passado que con tern urn tipo de experiencia capaz de iluminar 0 futuroe isso nolo tanto no sentido de seus feitos, mas de seu proprio principio, ja nolopode ser exatarnente 0 passado, 0 seu grau de influencia, a identidade que seuprincipio e capaz de criar entre as tres dimens5es temporais abole a temporali-dade para lancar-se na etemidade. Passado, presente e futuro se ligam entre sicomo herdeiros e, ao mesmo tempo, tal ligacao significa afirmar a superacao co-mo relacao de heranca, e e este principio criador que os iguala e os situa naeternidade. E e esta que caracteriza tambem 0valor da hist6ria:

    A missao da hist6ria e servir de intermedio entre eles, permitir 0 nascimentodo homem de genio e dar-lhes forcas, 0 objetivo da humanidade nao esta noseu termo, mas nos seus exemplares superiores.18Nesse sentido, 0 valor da hist6ria e 0valor da hist6ria monumental. E por-que esta possui urn carater supra-hist6rico que e capaz de orientar e iluminar 0futuro. Nietzsche assim definiu 0 supra-historico:

    16 Idem, p. 123.17 Idem, p. 176.18 Idem, p. 187.

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    ( J forcas que afastam 0olhar do devir e0orientam para aquilo que confereao devir urn carater de eternidade e de significacao igual ao da arte e da reli-giao.19E pelo mesmo motivo que deve tornar-se modele. Esta e a tarefa do filologoque Nietzsche entende como cientista artista (ver nota 2, p. 290). Se a opoe aofilologo de seu tempo e porque nao se trata de restituir, mesmo por urn senti-mento exato, 0 que foi a Grecia. Nolo se trata de imita-la. 0 conhecimento naodeve tanto explicar quanta ter a capacidade de julgar. Nao devemos pois copiarnem explicar 0passado, mas utilizar sua experiencia para sermos capazes de su-pera-lo.A filologia e Ciencia e Arte da vida na medida ern que transforma a hist6riaem obra de arte e a utiliza para a ac;ao.Tomar obra de arte e fazer do seu ensi-namento urn modelo e urn conhecimento a service da vida.

    BibliografiaAndler , C. Nietzsche, sa vie et sa pe nse e. Paris, Gallimard, 1958, vol. 3, pp. 159-2 94.Kaufman, S. Os Conceitos de Cultura nas Extcmporancas ou a Dupla Dissimulacao, Em NietzscheHoje1, sao Paulo, B ra silie n se , 1 98 5.Art and History ... Em Nietzsche; Philosopher, Psychologist, Antichrist, Princeton, PrincetonUniversity P re ss , 4 a. ed., 1974.Nietzsche, F . Da Utilidade e dos Inconvenientes da Hist6ria para a Vida, Em ConsideragfiesExtemporaneas, Lisboa, Ed. Presenca/Martins Fontes, 1980-,

    19 Idem, p. 201.